Characterization of the reproductive behavior of the short-snouted seahorse (Hippocampus hippocampus)
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2022 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | eng |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10400.1/19471 |
Resumo: | Os cavalos-marinhos (género Hippocampus) são peixes teleósteos pertencentes à família Syngnathidae, juntamente com as marinhas e dragões-marinhos. Os membros da família Syngnathidae destacam-se de outros peixes ósseos por exibirem cuidados especializados uni parentais que são assegurados pelos machos. Estes mantêm os embriões numa bolsa incubadora, e fornecem todos os cuidados parentais pós-fertilização. O elevado grau de especialização no cuidado parental faz de Syngnathidae a família com maior diversidade de espécies dentro da ordem Gasterosteiformes, na qual está incluída. A criação de cavalos-marinhos em cativeiro tornou-se essencial para a conservação das populações selvagens, uma vez que a elevada pressão antropogénica atualmente exercida, aliada à sua biologia peculiar, tem levado a um risco acrescido de extinção das populações naturais. Os cavalos-marinhos são caracterizados pela sua baixa fertilidade, cuidado parental duradouro, aparente estratégia monogâmica, baixa mobilidade, ocupação de pequenas áreas e uma dispersão esparsa ao longo da costa (Foster & Vincent, 2004). Todas estas características conferem a estas espécies um elevado grau de vulnerabilidade a perturbações antropogénicas. Problemas como a destruição de habitats, sobre-pesca, captura para aquariofilia e medicina tradicional (principalmente a Chinesa) e como souvenirs (Vincent, 1996) ocorrem muitas vezes de forma interligada contribuindo para a diminuição das populações destas espécies e devem invariavelmente ser tidos em consideração ao realizar esforços globais para sua conservação. O presente estudo permitiu caracterizar o comportamento reprodutivo do cavalo-marinho-de-focinho-curto, Hippocampus hippocampus, uma das duas espécies europeias de cavalos-marinhos que ocorrem na Ria Formosa, sul de Portugal. A informação recolhida permitiu ainda detalhar o comportamento de corte, o efeito das proporções de sexos e o potencial reprodutivo de ambos os sexos de H. hipocampus. O comportamento reprodutivo foi estudado em termos de atividade da fêmea, interação de "novos" machos com a fêmea, medição do "time-out" reprodutivo de cada um dos sexos na presença do sexo oposto e observação do comportamento após a postura inicial do macho. Para superar as dificuldades associada à recolha de informação sobre o comportamento de corte desta espécie no meio selvagem, o estudo foi realizado com exemplares adultos de H. hippocampus, pertencentes a um grupo de adultos reprodutivos, mantidos em cativeiro na Estação Experimental de Aquicultura do Ramalhete localizada na Ria Formosa. O período experimental teve uma duração de 3 meses, com início em maio coincidente com a época reprodutiva em ambiente natural. Antes do início da experiência, ambos os sexos foram mantidos num mesmo tanque, em contacto visual, mas separados através por uma rede plástica, de forma a manter o isolamento reprodutivo até o início das observações. Os indivíduos foram transferidos para um tanque de observação após começarem a apresentar comportamentos típicos de corte. Os resultados aqui apresentados mostraram semelhanças e diferenças comparativamente ao descrito para outras espécies de cavalo-marinho. O período de corte de H. hippocampus é caracterizado por comportamentos conspícuos realizados principalmente no período da manhã, sendo bastante menos frequentes no período da tarde. Como observado para o H. whitei (Vincent & Sadler, 1995), estes comportamentos mantiveram-se durante a gravidez do macho, apesar de ocorrerem com menor frequência. Até ao acasalamento, o H. hippocampus necessita de um longo período de corte composto por várias interações diárias entre os indivíduos predispostos. Em contraste, H. fuscus (Vincent, 1994a) necessita de apenas duas manhãs de comportamento de corte, acasalando no terceiro dia consecutivo. No rácio sexual 1♀:1♂, através do qual se definiu o comportamento padrão da espécie, observou-se uma inversão dos papeis sexuais convencionais, com a fêmea a assumir a iniciativa na maioria dos comportamentos de corte observados. Nos demais rácios sexuais 1♀:3♂ e 3♀:1♂, a proporção de machos e de fêmeas influenciou os papeis de cada sexo durante o período de corte. Assim, no rácio 3♀:1♂ observou-se novamente uma inversão dos papeis convencionais, sendo a fêmea o sexo mais ativo durante a corte. Por outro lado, no rácio 1♀:3♂ foram observados papéis sexuais tradicionais, onde o macho compete pela fêmea. O comportamento de corte segue um padrão ritualizado, que se inicia com a abordagem dos indivíduos do sexo oposto e onde ocorre uma rápida mudança da cor original que no H. hippocampus passa de verde-escuro/castanho-escuro, para um amarelo suave/creme, mantendo uma faixa escura no dorso. Em seguida, os indivíduos entrelaçam as caudas, dando início a um comportamento sincronizado, que se assemelha a uma dança. Na maioria das vezes, foi a fêmea que interrompeu este comportamento, afastando-se do macho. Após o início do período de corte, os indivíduos realizam comportamentos específicos que demonstram a sua predisposição para o acasalamento, sendo estes o “Bombeamento” (Pumping) realizado pelo macho e o “Apontar” (Pointing) por parte da fêmea. De acordo com Vincent (1994b), são as fêmeas que impõem os longos períodos de corte, pois o comportamento de “Bombeamento” é exibido antes do “Apontar”. Os resultados aqui apresentados demonstram uma correlação negativa entre o número de indivíduos e o tempo despendido em comportamentos de corte, sugerindo que a competição pelo acasalamento pode acelerar o processo reprodutivo. Os partos revelaram-se processos descontínuos, que, apesar de terem início durante a noite, por vezes prolongavam-se durante o dia ou mesmo vários dias consecutivos. O número de juvenis por gestação foi relativamente pequeno comparado ao observado em estudos anteriores para esta espécie (Boisseau, 1967; Otero-Ferrer et al., 2010; Cabo, 1979; Foster & Vincent, 2004). Uma vez que o alimento vivo utilizado na alimentação dos indivíduos em estudo foi capturado diretamente da Ria, a sua qualidade não era controlável, podendo desempenhar um papel importante na explicação das posturas de menores dimensões. Embora estudos anteriores tenham classificado a estratégica reprodutiva de Hippocampus spp. como sendo estritamente monogâmica, o mesmo não foi observado para este estudo. Após o término de cada parto, observou-se que os machos recebiam sempre ovos de diferentes fêmeas. Isso deve-se ao fato de as fêmeas apresentarem menor potencial reprodutivo do que os machos, fazendo com que o vínculo do casal termine após o ciclo reprodutivo. A intensidade e a variação da competição para o acasalamento podem ser explicadas através da teoria da razão sexual operacional (OSR), pois, conforme observado, prevê que o nível de competição entre indivíduos do mesmo sexo aumente com a escassez de potenciais parceiros. Nas situações em que um dos sexos predomina sobre o outro, o sexo em maior número compete mais intensamente pelo sexo oposto devido à existência de potenciais competidores e à limitação de potenciais parceiros reprodutivos. Assim, machos e fêmeas podem demostrar tanto escolha como competição por um parceiro, dependendo do rácio sexual operacional de uma determinada população em um determinado momento. A informação obtida neste estudo permitiu uma melhor compreensão sobre o comportamento reprodutivo do H. hippocampus, que até à data era assumido como sendo idêntico ao descrito para outras espécies de cavalo-marinho. Assim, com base nesse conhecimento, protocolos adequados podem ser desenvolvidos para o cultivo e manutenção dessa espécie em cativeiro, servindo também como ferramenta de gestão e conservação em seu ambiente natural. |
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A criação de cavalos-marinhos em cativeiro tornou-se essencial para a conservação das populações selvagens, uma vez que a elevada pressão antropogénica atualmente exercida, aliada à sua biologia peculiar, tem levado a um risco acrescido de extinção das populações naturais. Os cavalos-marinhos são caracterizados pela sua baixa fertilidade, cuidado parental duradouro, aparente estratégia monogâmica, baixa mobilidade, ocupação de pequenas áreas e uma dispersão esparsa ao longo da costa (Foster & Vincent, 2004). Todas estas características conferem a estas espécies um elevado grau de vulnerabilidade a perturbações antropogénicas. Problemas como a destruição de habitats, sobre-pesca, captura para aquariofilia e medicina tradicional (principalmente a Chinesa) e como souvenirs (Vincent, 1996) ocorrem muitas vezes de forma interligada contribuindo para a diminuição das populações destas espécies e devem invariavelmente ser tidos em consideração ao realizar esforços globais para sua conservação. O presente estudo permitiu caracterizar o comportamento reprodutivo do cavalo-marinho-de-focinho-curto, Hippocampus hippocampus, uma das duas espécies europeias de cavalos-marinhos que ocorrem na Ria Formosa, sul de Portugal. A informação recolhida permitiu ainda detalhar o comportamento de corte, o efeito das proporções de sexos e o potencial reprodutivo de ambos os sexos de H. hipocampus. O comportamento reprodutivo foi estudado em termos de atividade da fêmea, interação de "novos" machos com a fêmea, medição do "time-out" reprodutivo de cada um dos sexos na presença do sexo oposto e observação do comportamento após a postura inicial do macho. Para superar as dificuldades associada à recolha de informação sobre o comportamento de corte desta espécie no meio selvagem, o estudo foi realizado com exemplares adultos de H. hippocampus, pertencentes a um grupo de adultos reprodutivos, mantidos em cativeiro na Estação Experimental de Aquicultura do Ramalhete localizada na Ria Formosa. O período experimental teve uma duração de 3 meses, com início em maio coincidente com a época reprodutiva em ambiente natural. Antes do início da experiência, ambos os sexos foram mantidos num mesmo tanque, em contacto visual, mas separados através por uma rede plástica, de forma a manter o isolamento reprodutivo até o início das observações. Os indivíduos foram transferidos para um tanque de observação após começarem a apresentar comportamentos típicos de corte. Os resultados aqui apresentados mostraram semelhanças e diferenças comparativamente ao descrito para outras espécies de cavalo-marinho. O período de corte de H. hippocampus é caracterizado por comportamentos conspícuos realizados principalmente no período da manhã, sendo bastante menos frequentes no período da tarde. Como observado para o H. whitei (Vincent & Sadler, 1995), estes comportamentos mantiveram-se durante a gravidez do macho, apesar de ocorrerem com menor frequência. Até ao acasalamento, o H. hippocampus necessita de um longo período de corte composto por várias interações diárias entre os indivíduos predispostos. Em contraste, H. fuscus (Vincent, 1994a) necessita de apenas duas manhãs de comportamento de corte, acasalando no terceiro dia consecutivo. No rácio sexual 1♀:1♂, através do qual se definiu o comportamento padrão da espécie, observou-se uma inversão dos papeis sexuais convencionais, com a fêmea a assumir a iniciativa na maioria dos comportamentos de corte observados. Nos demais rácios sexuais 1♀:3♂ e 3♀:1♂, a proporção de machos e de fêmeas influenciou os papeis de cada sexo durante o período de corte. Assim, no rácio 3♀:1♂ observou-se novamente uma inversão dos papeis convencionais, sendo a fêmea o sexo mais ativo durante a corte. Por outro lado, no rácio 1♀:3♂ foram observados papéis sexuais tradicionais, onde o macho compete pela fêmea. O comportamento de corte segue um padrão ritualizado, que se inicia com a abordagem dos indivíduos do sexo oposto e onde ocorre uma rápida mudança da cor original que no H. hippocampus passa de verde-escuro/castanho-escuro, para um amarelo suave/creme, mantendo uma faixa escura no dorso. Em seguida, os indivíduos entrelaçam as caudas, dando início a um comportamento sincronizado, que se assemelha a uma dança. Na maioria das vezes, foi a fêmea que interrompeu este comportamento, afastando-se do macho. Após o início do período de corte, os indivíduos realizam comportamentos específicos que demonstram a sua predisposição para o acasalamento, sendo estes o “Bombeamento” (Pumping) realizado pelo macho e o “Apontar” (Pointing) por parte da fêmea. De acordo com Vincent (1994b), são as fêmeas que impõem os longos períodos de corte, pois o comportamento de “Bombeamento” é exibido antes do “Apontar”. Os resultados aqui apresentados demonstram uma correlação negativa entre o número de indivíduos e o tempo despendido em comportamentos de corte, sugerindo que a competição pelo acasalamento pode acelerar o processo reprodutivo. Os partos revelaram-se processos descontínuos, que, apesar de terem início durante a noite, por vezes prolongavam-se durante o dia ou mesmo vários dias consecutivos. O número de juvenis por gestação foi relativamente pequeno comparado ao observado em estudos anteriores para esta espécie (Boisseau, 1967; Otero-Ferrer et al., 2010; Cabo, 1979; Foster & Vincent, 2004). Uma vez que o alimento vivo utilizado na alimentação dos indivíduos em estudo foi capturado diretamente da Ria, a sua qualidade não era controlável, podendo desempenhar um papel importante na explicação das posturas de menores dimensões. Embora estudos anteriores tenham classificado a estratégica reprodutiva de Hippocampus spp. como sendo estritamente monogâmica, o mesmo não foi observado para este estudo. Após o término de cada parto, observou-se que os machos recebiam sempre ovos de diferentes fêmeas. Isso deve-se ao fato de as fêmeas apresentarem menor potencial reprodutivo do que os machos, fazendo com que o vínculo do casal termine após o ciclo reprodutivo. A intensidade e a variação da competição para o acasalamento podem ser explicadas através da teoria da razão sexual operacional (OSR), pois, conforme observado, prevê que o nível de competição entre indivíduos do mesmo sexo aumente com a escassez de potenciais parceiros. Nas situações em que um dos sexos predomina sobre o outro, o sexo em maior número compete mais intensamente pelo sexo oposto devido à existência de potenciais competidores e à limitação de potenciais parceiros reprodutivos. Assim, machos e fêmeas podem demostrar tanto escolha como competição por um parceiro, dependendo do rácio sexual operacional de uma determinada população em um determinado momento. A informação obtida neste estudo permitiu uma melhor compreensão sobre o comportamento reprodutivo do H. hippocampus, que até à data era assumido como sendo idêntico ao descrito para outras espécies de cavalo-marinho. 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Os cavalos-marinhos são caracterizados pela sua baixa fertilidade, cuidado parental duradouro, aparente estratégia monogâmica, baixa mobilidade, ocupação de pequenas áreas e uma dispersão esparsa ao longo da costa (Foster & Vincent, 2004). Todas estas características conferem a estas espécies um elevado grau de vulnerabilidade a perturbações antropogénicas. Problemas como a destruição de habitats, sobre-pesca, captura para aquariofilia e medicina tradicional (principalmente a Chinesa) e como souvenirs (Vincent, 1996) ocorrem muitas vezes de forma interligada contribuindo para a diminuição das populações destas espécies e devem invariavelmente ser tidos em consideração ao realizar esforços globais para sua conservação. O presente estudo permitiu caracterizar o comportamento reprodutivo do cavalo-marinho-de-focinho-curto, Hippocampus hippocampus, uma das duas espécies europeias de cavalos-marinhos que ocorrem na Ria Formosa, sul de Portugal. A informação recolhida permitiu ainda detalhar o comportamento de corte, o efeito das proporções de sexos e o potencial reprodutivo de ambos os sexos de H. hipocampus. O comportamento reprodutivo foi estudado em termos de atividade da fêmea, interação de "novos" machos com a fêmea, medição do "time-out" reprodutivo de cada um dos sexos na presença do sexo oposto e observação do comportamento após a postura inicial do macho. Para superar as dificuldades associada à recolha de informação sobre o comportamento de corte desta espécie no meio selvagem, o estudo foi realizado com exemplares adultos de H. hippocampus, pertencentes a um grupo de adultos reprodutivos, mantidos em cativeiro na Estação Experimental de Aquicultura do Ramalhete localizada na Ria Formosa. O período experimental teve uma duração de 3 meses, com início em maio coincidente com a época reprodutiva em ambiente natural. Antes do início da experiência, ambos os sexos foram mantidos num mesmo tanque, em contacto visual, mas separados através por uma rede plástica, de forma a manter o isolamento reprodutivo até o início das observações. Os indivíduos foram transferidos para um tanque de observação após começarem a apresentar comportamentos típicos de corte. Os resultados aqui apresentados mostraram semelhanças e diferenças comparativamente ao descrito para outras espécies de cavalo-marinho. O período de corte de H. hippocampus é caracterizado por comportamentos conspícuos realizados principalmente no período da manhã, sendo bastante menos frequentes no período da tarde. Como observado para o H. whitei (Vincent & Sadler, 1995), estes comportamentos mantiveram-se durante a gravidez do macho, apesar de ocorrerem com menor frequência. Até ao acasalamento, o H. hippocampus necessita de um longo período de corte composto por várias interações diárias entre os indivíduos predispostos. Em contraste, H. fuscus (Vincent, 1994a) necessita de apenas duas manhãs de comportamento de corte, acasalando no terceiro dia consecutivo. No rácio sexual 1♀:1♂, através do qual se definiu o comportamento padrão da espécie, observou-se uma inversão dos papeis sexuais convencionais, com a fêmea a assumir a iniciativa na maioria dos comportamentos de corte observados. Nos demais rácios sexuais 1♀:3♂ e 3♀:1♂, a proporção de machos e de fêmeas influenciou os papeis de cada sexo durante o período de corte. Assim, no rácio 3♀:1♂ observou-se novamente uma inversão dos papeis convencionais, sendo a fêmea o sexo mais ativo durante a corte. Por outro lado, no rácio 1♀:3♂ foram observados papéis sexuais tradicionais, onde o macho compete pela fêmea. O comportamento de corte segue um padrão ritualizado, que se inicia com a abordagem dos indivíduos do sexo oposto e onde ocorre uma rápida mudança da cor original que no H. hippocampus passa de verde-escuro/castanho-escuro, para um amarelo suave/creme, mantendo uma faixa escura no dorso. Em seguida, os indivíduos entrelaçam as caudas, dando início a um comportamento sincronizado, que se assemelha a uma dança. Na maioria das vezes, foi a fêmea que interrompeu este comportamento, afastando-se do macho. Após o início do período de corte, os indivíduos realizam comportamentos específicos que demonstram a sua predisposição para o acasalamento, sendo estes o “Bombeamento” (Pumping) realizado pelo macho e o “Apontar” (Pointing) por parte da fêmea. De acordo com Vincent (1994b), são as fêmeas que impõem os longos períodos de corte, pois o comportamento de “Bombeamento” é exibido antes do “Apontar”. Os resultados aqui apresentados demonstram uma correlação negativa entre o número de indivíduos e o tempo despendido em comportamentos de corte, sugerindo que a competição pelo acasalamento pode acelerar o processo reprodutivo. Os partos revelaram-se processos descontínuos, que, apesar de terem início durante a noite, por vezes prolongavam-se durante o dia ou mesmo vários dias consecutivos. O número de juvenis por gestação foi relativamente pequeno comparado ao observado em estudos anteriores para esta espécie (Boisseau, 1967; Otero-Ferrer et al., 2010; Cabo, 1979; Foster & Vincent, 2004). Uma vez que o alimento vivo utilizado na alimentação dos indivíduos em estudo foi capturado diretamente da Ria, a sua qualidade não era controlável, podendo desempenhar um papel importante na explicação das posturas de menores dimensões. Embora estudos anteriores tenham classificado a estratégica reprodutiva de Hippocampus spp. como sendo estritamente monogâmica, o mesmo não foi observado para este estudo. Após o término de cada parto, observou-se que os machos recebiam sempre ovos de diferentes fêmeas. Isso deve-se ao fato de as fêmeas apresentarem menor potencial reprodutivo do que os machos, fazendo com que o vínculo do casal termine após o ciclo reprodutivo. A intensidade e a variação da competição para o acasalamento podem ser explicadas através da teoria da razão sexual operacional (OSR), pois, conforme observado, prevê que o nível de competição entre indivíduos do mesmo sexo aumente com a escassez de potenciais parceiros. Nas situações em que um dos sexos predomina sobre o outro, o sexo em maior número compete mais intensamente pelo sexo oposto devido à existência de potenciais competidores e à limitação de potenciais parceiros reprodutivos. Assim, machos e fêmeas podem demostrar tanto escolha como competição por um parceiro, dependendo do rácio sexual operacional de uma determinada população em um determinado momento. A informação obtida neste estudo permitiu uma melhor compreensão sobre o comportamento reprodutivo do H. hippocampus, que até à data era assumido como sendo idêntico ao descrito para outras espécies de cavalo-marinho. Assim, com base nesse conhecimento, protocolos adequados podem ser desenvolvidos para o cultivo e manutenção dessa espécie em cativeiro, servindo também como ferramenta de gestão e conservação em seu ambiente natural. |
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