Regeneração Urbana e Comensalidade: O Caso da Zona Velha do Funchal

• Autor(a) principal: Gomes, Carlos Diogo Velosa
• Data de Publicação: 2023
• Tipo de documento: Dissertação
• Idioma: por
• Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
• Texto Completo: http://hdl.handle.net/10451/58537
• topic: Regeneração Urbana; Comensalidade; Capital Espacial; Estabelecimentos da Restauração; Turistificação; Geografia

A degradação do património social, cultural, económico e físico dos centros históricos, que se registou desde a segunda metade do século XX, motivou a emergência de políticas públicas com vista à regeneração urbana destas áreas. O seu desenvolvimento deu-se num paradigma de introdução de estratégias urbanas de abordagem top-down evoluindo para uma abordagem bottom-up, envolvendo diretamente os stakeholders no processo de decisão baseada na implementação de atividades âncora, com o objetivo de atrair pessoas e atividades económicas para os centros históricos. Fenómenos socioespaciais, como a turistificação dos centros históricos, levaram à transformação dos espaços de consumo direcionados para a procura turística, nomeadamente, os estabelecimentos da restauração. Neste contexto, a investigação teve como objetivo central compreender a relação causal do processo de comensalidade nos estabelecimentos de restauração e, consequentemente, a influência do processo de comensalidade no desenvolvimento do processo de regeneração urbana. Inserido dentro deste contexto teórico, adotou-se como caso de estudo a Zona Velha do Funchal. A metodologia passou pela desconstrução do processo de regeneração urbana, realizado segundo: a) a análise das etapas do processo retratado pela comunicação social (local e regional); b) análise documental do arquivo municipal; e c) a realização de entrevista a intervenientes com um papel crucial no processo. Posteriormente, o processo de comensalidade foi alvo de análise através de: a) o levantamento funcional da área de estudo; b) entrevistas semiestruturadas aos comerciantes do ramo da restauração; e c) observação participante e não participante. Os resultados demonstraram que o desenvolvimento do processo de comensalidade nos estabelecimentos de restauração foi importante na atração de novos consumidores (locais e turistas), na transformação parcial do ambiente vivido no espaço público e a promoção do processo de regeneração urbana baseada na colaboração de stakeholders públicos e privados. Neste sentido, destaca-se o restaurante “A Romana”, na década de 60 e 70, pelo seu caráter inovador e pelo seu ambiente atrativo, sendo considerado uma pedra basilar na transformação da área. O desenvolvimento da transformação urbana por parte dos atores públicos (Governo Regional da Madeira e a Câmara Municipal do Funchal), dominou o processo de regeneração urbana até 2010, marcando uma abordagem de intervenção top-down. O investimento privado focou-se em atividades no setor turístico, salientando-se os estabelecimentos de restauração, com a abertura de diversas tipologias (restaurantes, bares, snack-bares e tascas), consolidando-se como um polo gastronómico da cidade. Como consequência da intempérie de 20 de fevereiro de 2010, introduziu-se uma nova fase de regeneração urbana, realçando-se o desenvolvimento de atividades culturais (Arte de Portas Abertas) e de bares centrados na tradicional poncha, complementando uma nova vertente do processo de comensalidade, de caráter informal. As conclusões da investigação permitem afirmar que o processo de comensalidade não se constitui meramente como um pilar fomentador do processo de regeneração urbana, mas também contribuiu para a consolidação da restauração como âncora de sustento de atratividade de consumidores e de atividades comerciais.