The Socio-economic importance of the invasive West African Giant Land Snail (Archachatina marginata) in São Tomé Island

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Pereira, Ana Rita Canhão
Data de Publicação: 2021
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: eng
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10451/51280
Resumo: Tese de Mestrado, Biologia da Conservação, 2021, Universidade de Lisboa, Faculdade de Ciências
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spelling The Socio-economic importance of the invasive West African Giant Land Snail (Archachatina marginata) in São Tomé IslandBenefíciosCiências sociais na conservaçãoEspécies exóticas invasorasPequenos estados insulares em desenvolvimentoProdutos florestais não lenhososTeses de mestrado - 2021Domínio/Área Científica::Ciências Naturais::Ciências BiológicasTese de Mestrado, Biologia da Conservação, 2021, Universidade de Lisboa, Faculdade de CiênciasO fenómeno da globalização tem levado à homogeneização dos biomas da Terra, através da quebra de barreiras físicas que tem promovido a dispersão das espécies exóticas invasoras (EEI). Esta dispersão tem ocorrido a um ritmo alarmante, e muitas destas EEI têm efeitos nefastos tanto na biodiversidade, como nos serviços dos ecossistemas, na saúde humana e nas atividades económicas. Com a tendência crescente de movimentos globais de pessoas e bens, o número e os impactos das EEI deverá aumentar exponencialmente no futuro. Combater os seus impactos tem sido uma prioridade chave, não apenas na conservação, mas também em áreas como a medicina e a economia. Tem sido dada especial atenção aos ‘hotspots de invasão’, locais onde os impactos negativos são mais severos, devido às sinergias entre EEI e outras ameaças, incluindo a intensificação da agricultura, o desenvolvimento urbano e as alterações climáticas. Estes locais tendem a ser ecossistemas isolados, como as ilhas, especialmente as mais antigas, montanhosas, tropicais ou subtropicais. Embora o reconhecimento das implicações negativas dos EEI seja consensual, a escolha das medidas de gestão é frequentemente controversa e contestada. Isto porque, a mesma espécie exótica pode ter impactos negativos nalguns sectores, e simultaneamente benefícios noutros. É por isso indispensável que haja uma abordagem holística dos impactos aquando da escolha das medidas de gestão. No entanto, isso não acontece com a frequência desejada e frequentemente as avaliações são tendenciosas, destacando apenas certos efeitos negativos ou certos sectores e, por vezes, baseando-se mais em preconceitos do que em evidências científicas. Uma avaliação de impactos deficiente pode levar à escolha de medidas de gestão desadequadas, e até contraproducentes, ecologicamente, economicamente e socialmente. Como tal, é necessário abandonar o foco biocêntrico no estudo das invasões biológicas, e integrar a multidisciplinariedade na avaliação de impactos. Nomeadamente, é de extrema importância ouvir a voz das pessoas que convivem com as EEI, para compreender que impactos experienciam e de que forma interagem com estas espécies, promovendo ou diminuindo a sua distribuição. Este estudo tem por objetivo principal, compreender qual a importância duma espécie invasora, o búzio-vermelho (Archachatina marginata), para a população da ilha de São Tomé (São Tomé e Príncipe, África central). Em estudos anteriores, foi destacado o efeito negativo desta espécie invasora no búzio-d’Obô (Archachatina bicarinata), uma espécie ameaçada restrita às ilhas de São Tomé e Príncipe, alertando para a urgência em travar o declínio deste. De forma a contribuir para uma avaliação mais holística, pretendemos ouvir a voz dos santomenses sobre esta espécie, tendo como objetivos específicos: (1) obter informações sobre as características do comércio de búzio-vermelho, nomeadamente através da identificação de atores-chave; e (2) avaliar os potenciais fatores determinantes da apanha, venda e compra da espécie, tanto ao nível do agregado familiar como ao nível da comunidade. Desta forma, contribuir para informar futuras decisões de gestão relativas a esta espécie, bem como ajudar a elaborar recomendações sobre como incorporar as dimensões humanas na gestão das EEI. Foram entrevistadas 672 pessoas em 20 comunidades dispersas pela ilha. Para garantir uma amostra robusta, representativa da diversidade de São Tomé, as comunidades foram escolhidas através de uma amostragem aleatória estratificada, com base no tipo de comunidade e na sua dimensão. Os entrevistados foram escolhidos aleatoriamente, apenas um por agregado. A posteriori, as comunidades foram classificadas quanto à sua posição geográfica. Os resultados revelam um consumo generalizado de caracol, que parece ser essencial na vida quotidiana dos habitantes. A espécie é consumida pelo menos uma vez por semana na dieta de quase metade dos agregados, demonstrando que, apesar da introdução relativamente recente da espécie, os habitantes se adaptaram à sua presença. A maioria dos agregados compra o caracol que consome, o que indica a sua acessibilidade monetária. Além disso, a apanha é feita principalmente em áreas mais próximas da floresta nativa, pouco acessíveis à maioria das pessoas. A grande maioria do consumo de búzio-vermelho em São Tomé é sustentada pelos vendedores, que são uma parte diminuta da população, e que na sua maioria também coletam, obtendo o recurso com custos reduzidos. Os resultados indicam que o búzio-vermelho desempenha um papel importante na vida dos santomenses, transversal aos contextos económico, social e nutricional. Primeiro, foi demonstrada a importância económica, tanto de forma direta, através da venda do produto, gerando rendimentos, como indiretamente, permitindo reduzir as despesas domésticas através do consumo de caracol, mitigando a pobreza. Segundo, foi realçada a importância social, uma vez que beneficia sobretudo membros vulneráveis da sociedade, tais como crianças, mulheres, agregados familiares mais pobres e comunidades rurais, criando oportunidades de emprego, e uma fonte de rendimento independente. Terceiro, dada a frequência com que os santomenses consomem esta espécie, é também relevante a sua importância nutricional. Tanto pelas suas características nutricionais, uma vez que é pobre em gordura, rico em proteínas e contém ferro e quase todos os aminoácidos essenciais, como pela sua acessibilidade monetária e disponibilidade, competindo com proteínas animais de fonte doméstica e substituindo o peixe, a proteína mais consumida na ilha, quando este é mais escasso, nomeadamente na época das chuvas. Para o futuro, é necessário perceber de que forma esta espécie está a reagir à pressão exercida pela apanha. Equacionamos que o atual consumo elevado e disperso na ilha toda pode estar a exercer pressão no tamanho da população, servindo de controlo mesmo que apenas parcial. Atendendo aos fortes impactos ecológicos que são esperados desta espécie, não consideramos aconselhável deixar que a sua população seja controlada apenas pela procura. São precisas medidas mais concretas se pretendemos controlar a espécie e os seus impactos negativos, e ao mesmo tempo, assegurar que não são prejudicadas as pessoas que atualmente dependem dela. Atendendo a dispersão e abundância da espécie, a possível erradicação torna-se inviável. Além disso, a importância da espécie para a população sugere que a total erradicação não seria bem aceite pela população e que prejudicaria vários grupos vulneráveis. Parece não haver recursos disponíveis para desenvolver um projeto desta envergadura. Assim sendo, recomendamos medidas de controlo localizadas em áreas prioritárias, tais como o Parque Natural do Obô, onde abundam espécies em perigo de extinção, como o búzio-d’Obô, onde esta espécie invasora ainda não é muito frequente e onde os potenciais efeitos negativos sobre os beneficiários humanos seriam minimizados. O método exato de controlo terá de ser estudado com mais detalhe. Quanto ao futuro do comércio, é difícil determinar até que ponto as condições atuais irão persistir, uma vez que as circunstâncias ecológicas da ilha estão em mudança e os agregados familiares demonstram grande capacidade de adaptar as suas estratégias de subsistência. Uma diminuição do consumo de caracóis parece improvável a curto prazo, tendo em conta que, de acordo com os fatores identificados neste estudo, a crise social e económica causada pela pandemia COVID-19 deverá aumentar as taxas de desemprego, reduzir os rendimentos e consequentemente aumentar a dependência desta espécie. Com a tendência crescente de movimentos globais de pessoas e bens, as ilhas estão a receber cada vez mais espécies invasoras, ao mesmo tempo que as populações humanas continuam a mostrar adaptabilidade à sua presença, retirando benefícios destas. Neste contexto as avaliações holísticas e multidisciplinares de impactos, serão cada vez mais importantes para identificar medidas de controlo de EEI que minimizem o prejuízo de populações humanas.Globalization is serving as a gateway for invasive alien species (IAS), through increased global movement of people and goods. Once established, IAS have harmful effects on biodiversity, ecosystem services, human health and economic activities. Isolated ecosystems, such as islands, are often particularly prone to these impacts, namely due to synergistic interactions with other threats. As the spread of IAS is expected to grow exponentially in the future, countering its consequences has been recognized as a key-priority. However, the management of these species is often controversial. The choice of management measures must be based on holistic assessments of the effects of IAS, but is often biased towards negative effects, relying more on prejudice than on scientific evidence. These situations can have catastrophic or expensive results and can lead to social conflicts. The need to enhance integration of social dimensions in IAS management decisions has been increasingly recognized but still given relatively limited attention. This is particularly relevant since people have been shown to adapt to the presence of the IAS, optimizing potential benefits at various levels, namely economic, nutritional and social. Using the invasive West African Giant Land Snail (Archachatina marginata) in São Tomé Island (São Tomé and Príncipe, Central Africa) as a case study, household surveys (N=672) in 20 communities across the island were conducted to understand the importance of this species for human population. Previous studies have shown the negative impact of this species on the threatened Obô Giant Land Snail (Archachatina bicarinata), alerting for the urgent need for controlling the spread of the invasive snail, but a better understanding of the local reliance on this species is needed to assess impacts in an integrated way. Our findings suggest that the invasive snail plays an important role in the life of Santomeans. It is economically important, directly through sales, generating income, and indirectly, by providing a cheap source of protein, mitigating poverty. It is socially important by creating job opportunities and ensuring an independent source of income for vulnerable members of society, such as children, women, poorer households and rural communities. It is also of nutritional importance due to its rich protein content. This study provides new insights into the snail trade in São Tomé, relevant for management of this invasive species. The widespread consumption of the species may be controlling its abundance, even if just partly. Considering the potential negative ecological impacts of the species, we consider advisable that the species is not just controlled by demand, and suggest that more effective strategies are adopted, to minimize its impacts on native biodiversity, while accounting for the positive impacts of this species on human populations. Localized controls in natural areas seem to be the most appropriate management measure, namely in the Obô Natural Park, where endangered species abound, where the invasive snail is not yet frequent, and where the potential negative effects of controls on human beneficiaries would be minimized. Regarding the future of snail trade in São Tomé, it is difficult to determine the extent to which current conditions will persist, as households are constantly adapting their livelihood strategies to changing circumstances. According to the drivers identified in this study, an increase of pressure may be expected from increased unemployment rates and reduced income, resulting from the social and economic crisis caused by the COVID-19 pandemic. This study shows it is imperative to integrate the perspective of human populations on species management plans. Humans often benefit from IAS, and this dimension needs to be considered, to promote synergies and minimize conflicts.Nuno, AnaLima, Ricardo Faustino deRepositório da Universidade de LisboaPereira, Ana Rita Canhão2022-07-31T00:31:13Z202120212021-01-01T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10451/51280TID:202933814enginfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2023-11-08T16:55:53Zoai:repositorio.ul.pt:10451/51280Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T22:02:35.868228Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
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