A fúria de Aquiles: a tradição e relevância na literatura latina da Antiguidade Tardia
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2023 |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10451/62017 |
Resumo: | A fúria de Aquiles é a característica mais proeminente da sua personalidade. Μῆνις (“fúria”), que é a primeira palavra do proémio da Ilíada de Homero, é apresentado como tema de toda a epopeia (cf. 1–7). A recepção de Aquiles na literatura grega e latina conheceu uma série de etapas desde Homero até à Antiguidade Tardia. Durante a Antiguidade Tardia, o texto de Homero assumiu um papel significativo como texto didáctico, e o leitor habituou-se a examiná-lo de diferentes perspectivas, o que implicou uma reavaliação das acções e da conduta de Aquiles, incluindo a sua fúria. O papel de Aquiles na cultura e na literatura latinas durante a Antiguidade Tardia ilustra que ele funcionou tanto como exemplum positivo como negativo. Esta ambivalência da sua representação literária é omnipresente na literatura latina da Antiguidade Tardia. Em alguns relatos das acções e palavras de Aquiles, o seu famoso temperamento está ausente; em outros textos, as suas irascibilidade e crueldade estão sublinhadas; e em outros ainda, o uso da violência é retratado tanto negativamente como positivamente por autores latinos, por vezes até pelo mesmo autor. Tanto os aspectos favoráveis como negativos de Aquiles e a sua fúria que aparecem nas obras da Antiguidade Tardia são ligados às aspirações da elite romana e aos valores enfatizados pelos autores cristãos. Aquiles é utilizado como modelo favorável e até mesmo como contraste negativo para o imperador ou para o seu representante quando ele enfrenta o inimigo. Apesar do irascível carácter e da conduta de Aquiles serem vistos negativamente em termos cristãos, a sua reputação como guerreiro feroz parece ter sintetizado, ainda que paradoxalmente, o tipo de carácter forte que apelou à elite romana na luta por manter a sua ascendência, face aos confrontos militares e políticos com os vizinhos bárbaros. |
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A fúria de Aquiles: a tradição e relevância na literatura latina da Antiguidade TardiaThe anger of Achilles: its tradition and relevance in the latin literature of Late AntiquityFúria de AquilesLiteratura latinaAntiguidade TardiaRecepção de AquilesFury of AchillesReception of AchillesLatin literatureLate AntiquityA fúria de Aquiles é a característica mais proeminente da sua personalidade. Μῆνις (“fúria”), que é a primeira palavra do proémio da Ilíada de Homero, é apresentado como tema de toda a epopeia (cf. 1–7). A recepção de Aquiles na literatura grega e latina conheceu uma série de etapas desde Homero até à Antiguidade Tardia. Durante a Antiguidade Tardia, o texto de Homero assumiu um papel significativo como texto didáctico, e o leitor habituou-se a examiná-lo de diferentes perspectivas, o que implicou uma reavaliação das acções e da conduta de Aquiles, incluindo a sua fúria. O papel de Aquiles na cultura e na literatura latinas durante a Antiguidade Tardia ilustra que ele funcionou tanto como exemplum positivo como negativo. Esta ambivalência da sua representação literária é omnipresente na literatura latina da Antiguidade Tardia. Em alguns relatos das acções e palavras de Aquiles, o seu famoso temperamento está ausente; em outros textos, as suas irascibilidade e crueldade estão sublinhadas; e em outros ainda, o uso da violência é retratado tanto negativamente como positivamente por autores latinos, por vezes até pelo mesmo autor. Tanto os aspectos favoráveis como negativos de Aquiles e a sua fúria que aparecem nas obras da Antiguidade Tardia são ligados às aspirações da elite romana e aos valores enfatizados pelos autores cristãos. Aquiles é utilizado como modelo favorável e até mesmo como contraste negativo para o imperador ou para o seu representante quando ele enfrenta o inimigo. Apesar do irascível carácter e da conduta de Aquiles serem vistos negativamente em termos cristãos, a sua reputação como guerreiro feroz parece ter sintetizado, ainda que paradoxalmente, o tipo de carácter forte que apelou à elite romana na luta por manter a sua ascendência, face aos confrontos militares e políticos com os vizinhos bárbaros.The anger of Achilles is the most prominent characteristic of his personality. Mfjvis (“anger”), which is the first word of the proem of Homer's Iliad, is mentioned as being the theme of the entire poem (cf. 1-7). The reception of Achilles in Greek and Roman literature had a number of stages to go through from Homer to Late Antiquity, during which Homer's text assumed a significant role as a didactic text and the reader was educated to examine it from different perspectives, which involved a reassessment of Achilles' actions and conduct, including his anger. Achilles' role in Roman culture and literature during Late Antiquity illustrates that he functioned as both positive and negative exempla. This literary ambivalence of his representation is omnipresent in Late Antique Latin literature. In some accounts of Achilles' actions and words, his famous temper is absent; in other texts, his irascibility and cruelty are stressed; and in yet others his use of violence is portrayed both negatively and positively by Latin writers, sometimes by the same author. Both the favourable and negative aspects of Achilles and his anger that appear in Late Antique Latin works are linked to the aspirations of the Roman elite and the values emphasized by Christian writers. Achilles is employed as a favorable model and even as a negative foil for the emperor or one of his representatives when he confronts the enemy. Despite aspects of Achilles' irascible character and conduct being viewed negatively in Christian terms, his reputation as a fierce warrior seems to have encapsulated, 1f somewhat paradoxically, the type of strong character that appealed to the Roman elite in the struggle to maintain their ascendancy in the face of military and political confrontations with their barbarian neighbours.Este trabalho é financiado por fundos nacionais através da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), I.P.Universidade de AveiroRepositório da Universidade de LisboaDominik, William J.2024-01-22T17:49:43Z2023-11-222023-11-22T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/articleapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10451/62017por1645-927Xhttps://doi.org/10.34624/fb.v0i19.347952183-4709info:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2024-01-29T01:19:50Zoai:repositorio.ul.pt:10451/62017Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-20T01:58:30.680397Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse |
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A fúria de Aquiles é a característica mais proeminente da sua personalidade. Μῆνις (“fúria”), que é a primeira palavra do proémio da Ilíada de Homero, é apresentado como tema de toda a epopeia (cf. 1–7). A recepção de Aquiles na literatura grega e latina conheceu uma série de etapas desde Homero até à Antiguidade Tardia. Durante a Antiguidade Tardia, o texto de Homero assumiu um papel significativo como texto didáctico, e o leitor habituou-se a examiná-lo de diferentes perspectivas, o que implicou uma reavaliação das acções e da conduta de Aquiles, incluindo a sua fúria. O papel de Aquiles na cultura e na literatura latinas durante a Antiguidade Tardia ilustra que ele funcionou tanto como exemplum positivo como negativo. Esta ambivalência da sua representação literária é omnipresente na literatura latina da Antiguidade Tardia. Em alguns relatos das acções e palavras de Aquiles, o seu famoso temperamento está ausente; em outros textos, as suas irascibilidade e crueldade estão sublinhadas; e em outros ainda, o uso da violência é retratado tanto negativamente como positivamente por autores latinos, por vezes até pelo mesmo autor. Tanto os aspectos favoráveis como negativos de Aquiles e a sua fúria que aparecem nas obras da Antiguidade Tardia são ligados às aspirações da elite romana e aos valores enfatizados pelos autores cristãos. Aquiles é utilizado como modelo favorável e até mesmo como contraste negativo para o imperador ou para o seu representante quando ele enfrenta o inimigo. Apesar do irascível carácter e da conduta de Aquiles serem vistos negativamente em termos cristãos, a sua reputação como guerreiro feroz parece ter sintetizado, ainda que paradoxalmente, o tipo de carácter forte que apelou à elite romana na luta por manter a sua ascendência, face aos confrontos militares e políticos com os vizinhos bárbaros. |
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