Comportamentos de risco e excesso de peso na adolescência: revisão da literatura
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Data de Publicação: | 2012 |
Outros Autores: | , |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10400.23/368 |
Resumo: | A adolescência é uma fase de maior vulnerabilidade para o envolvimento em comportamentos de risco. Paralelamente, o excesso de peso pode ter implicações pessoais e inter-pessoais que podem pôr em causa o bem-estar psicológico dos adolescentes e potenciar o envolvimento em comportamentos de risco. Objectivo: Analisar estudos sobre comportamentos de risco (ferimentos auto-infligidos e consumo de substâncias) num contexto de obesidade ou sobrepeso na adolescência, observando o papel que certas variáveis psico-sociais podem ter na sua moderação. Métodos: Pesquisa de livros e em bases de dados de artigos científicos sobre o tema. Resultados: Os resultados das investigações que procuram associações entre o excesso de peso na adolescência e o cometimento de ferimentos auto-infligidos e/ou consumo de substâncias são pouco consistentes. Alguns estudos mostram que os adolescentes obesos apresentam mais comportamentos de risco, ao passo que outros mostram que o excesso de peso e a obesidade nos jovens parecem estar associados a uma frequência menor ou idêntica deste tipo de comportamentos nos seus pares de peso saudável. Existem evidências de que a regulação emocional, a participação em actividades sociais e o suporte social proporcionado pelos pares e família podem moderar estes comportamentos de risco nos adolescentes com excesso de peso. Conclusão: O excesso de peso não é necessariamente um factor de risco para que os adolescentes cometam ferimentos auto-infligidos ou enveredem por padrões de consumo de álcool e tabaco mais problemáticos, podendo no entanto existir factores psico-sociais que tornem os adolescentes com excesso de peso mais vulneráveis a este tipo de comportamentos. (Discussão) A investigação sobre a associação entre o excesso de peso e o desenvolvimento de comportamentos de risco é reduzida. O número de estudos torna-se ainda mais escasso se reduzirmos os estudos existentes à população adolescente. Relativamente aos ferimentos auto-infligidos, a investigação tem vindo a estudar a relação entre suicídio e obesidade, mas pouco se sabe sobre a prevalência dos vários tipos de comportamentos auto-infligidos e dos perfis de auto-regulação mais frequentes na população jovem obesa. Apesar disso a presença de ferimentos auto-infligidos na adolescência demonstra que é independente da condição de excesso de peso. No entanto outros estudos mostram que o excesso de peso pode traduzir-se em maior vulnerabilidade para cometer ferimentos auto-infligidos. A ausência de resultados consensuais a este nível alerta para o facto de ser urgente explorar esta relação ao mesmo nível do que já foi efectuado no âmbito das perturbações alimentares como a bulimia e a anorexia nervosa. Diversos autores têm encontrado níveis elevados de co-ocorrência da bulimia nervosa e de ferimentos auto-infligidos, tendo ambos sido conceptualizados como estratégias mal-adaptativas de regulação emocional ou de lidar com a insatisfação com a imagem corporal. Nesta linha comprova-se que as dificuldades de auto-regulação também podem ser comuns à obesidade, tornando-se fundamental aprofundar a sua ligação aos ferimentos auto-infligidos. Reflectindo sobre o impacto do sobrepeso no consumo de álcool, surge uma grande diversidade de resultados. Se por um lado encontramos estudos que reforçaram uma relação directa entre o IMC dos adolescentes e o consumo de substâncias, por outro outras investigações mais recentes apontam na direcção contrária. Esta incongruência pode dever-se a aspectos sócio-demográficos específicos da amostra seleccionada para cada estudo (como o sexo e a idade), ou a outros factores de ordem psico-social. Quanto ao consumo de tabaco as investigações mais recentes indicam um aumento do seu consumo nos jovens com excesso de peso em relação aos jovens de peso saudável. A ideia partilhada pelos adolescentes de que o uso de tabaco faz perder peso pode explicar a maior prevalência do uso de tabaco nos adolescentes com excesso de peso em relação a adolescentes com peso normal. A literatura refere ainda que as dificuldades de integração no grupo de pares, sentidas por vezes pelos adolescentes obesos, podem levar a um maior envolvimento nestes comportamentos. Factores como o estado emocional, o suporte familiar, o grau de participação em actividades sociais e a relação com os pares podem assim exercer uma influência negativa ou positiva na prevalência dos comportamentos de risco nos adolescentes com excesso de peso. Também aqui os resultados dos estudos empíricos não permitem dados conclusivos. (...) (Conclusão) O excesso de peso por si só não é necessariamente um factor de risco para o cometimento de ferimentos auto-infligidos e para o consumo de substâncias. No entanto existem factores demográficos e psico-sociais que podem interferir nesta relação, podendo tornar os adolescentes com excesso de peso mais ou menos vulneráveis à adopção destes comportamentos. Os profissionais de saúde desempenham aqui um papel importante na educação para a saúde, podendo alertar os adolescentes para as consequências deste tipo de comportamentos, principalmente os associados ao excesso de peso. |
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O número de estudos torna-se ainda mais escasso se reduzirmos os estudos existentes à população adolescente. Relativamente aos ferimentos auto-infligidos, a investigação tem vindo a estudar a relação entre suicídio e obesidade, mas pouco se sabe sobre a prevalência dos vários tipos de comportamentos auto-infligidos e dos perfis de auto-regulação mais frequentes na população jovem obesa. Apesar disso a presença de ferimentos auto-infligidos na adolescência demonstra que é independente da condição de excesso de peso. No entanto outros estudos mostram que o excesso de peso pode traduzir-se em maior vulnerabilidade para cometer ferimentos auto-infligidos. A ausência de resultados consensuais a este nível alerta para o facto de ser urgente explorar esta relação ao mesmo nível do que já foi efectuado no âmbito das perturbações alimentares como a bulimia e a anorexia nervosa. Diversos autores têm encontrado níveis elevados de co-ocorrência da bulimia nervosa e de ferimentos auto-infligidos, tendo ambos sido conceptualizados como estratégias mal-adaptativas de regulação emocional ou de lidar com a insatisfação com a imagem corporal. Nesta linha comprova-se que as dificuldades de auto-regulação também podem ser comuns à obesidade, tornando-se fundamental aprofundar a sua ligação aos ferimentos auto-infligidos. Reflectindo sobre o impacto do sobrepeso no consumo de álcool, surge uma grande diversidade de resultados. Se por um lado encontramos estudos que reforçaram uma relação directa entre o IMC dos adolescentes e o consumo de substâncias, por outro outras investigações mais recentes apontam na direcção contrária. Esta incongruência pode dever-se a aspectos sócio-demográficos específicos da amostra seleccionada para cada estudo (como o sexo e a idade), ou a outros factores de ordem psico-social. Quanto ao consumo de tabaco as investigações mais recentes indicam um aumento do seu consumo nos jovens com excesso de peso em relação aos jovens de peso saudável. A ideia partilhada pelos adolescentes de que o uso de tabaco faz perder peso pode explicar a maior prevalência do uso de tabaco nos adolescentes com excesso de peso em relação a adolescentes com peso normal. A literatura refere ainda que as dificuldades de integração no grupo de pares, sentidas por vezes pelos adolescentes obesos, podem levar a um maior envolvimento nestes comportamentos. Factores como o estado emocional, o suporte familiar, o grau de participação em actividades sociais e a relação com os pares podem assim exercer uma influência negativa ou positiva na prevalência dos comportamentos de risco nos adolescentes com excesso de peso. Também aqui os resultados dos estudos empíricos não permitem dados conclusivos. (...) (Conclusão) O excesso de peso por si só não é necessariamente um factor de risco para o cometimento de ferimentos auto-infligidos e para o consumo de substâncias. No entanto existem factores demográficos e psico-sociais que podem interferir nesta relação, podendo tornar os adolescentes com excesso de peso mais ou menos vulneráveis à adopção destes comportamentos. Os profissionais de saúde desempenham aqui um papel importante na educação para a saúde, podendo alertar os adolescentes para as consequências deste tipo de comportamentos, principalmente os associados ao excesso de peso.Sociedade Portuguesa de PediatriaRepositório Científico do Hospital de BragaRosa, MFGonçalves, SAntunes, H2012-12-14T14:31:16Z2012-01-01T00:00:00Z2012-01-01T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/articleapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10400.23/368porActa Ped Port. 2012; 43(3):128-34info:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2022-09-21T09:01:59Zoai:repositorio.hospitaldebraga.pt:10400.23/368Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T15:54:48.102554Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse |
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Alguns estudos mostram que os adolescentes obesos apresentam mais comportamentos de risco, ao passo que outros mostram que o excesso de peso e a obesidade nos jovens parecem estar associados a uma frequência menor ou idêntica deste tipo de comportamentos nos seus pares de peso saudável. Existem evidências de que a regulação emocional, a participação em actividades sociais e o suporte social proporcionado pelos pares e família podem moderar estes comportamentos de risco nos adolescentes com excesso de peso. Conclusão: O excesso de peso não é necessariamente um factor de risco para que os adolescentes cometam ferimentos auto-infligidos ou enveredem por padrões de consumo de álcool e tabaco mais problemáticos, podendo no entanto existir factores psico-sociais que tornem os adolescentes com excesso de peso mais vulneráveis a este tipo de comportamentos. (Discussão) A investigação sobre a associação entre o excesso de peso e o desenvolvimento de comportamentos de risco é reduzida. O número de estudos torna-se ainda mais escasso se reduzirmos os estudos existentes à população adolescente. Relativamente aos ferimentos auto-infligidos, a investigação tem vindo a estudar a relação entre suicídio e obesidade, mas pouco se sabe sobre a prevalência dos vários tipos de comportamentos auto-infligidos e dos perfis de auto-regulação mais frequentes na população jovem obesa. Apesar disso a presença de ferimentos auto-infligidos na adolescência demonstra que é independente da condição de excesso de peso. No entanto outros estudos mostram que o excesso de peso pode traduzir-se em maior vulnerabilidade para cometer ferimentos auto-infligidos. A ausência de resultados consensuais a este nível alerta para o facto de ser urgente explorar esta relação ao mesmo nível do que já foi efectuado no âmbito das perturbações alimentares como a bulimia e a anorexia nervosa. 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Quanto ao consumo de tabaco as investigações mais recentes indicam um aumento do seu consumo nos jovens com excesso de peso em relação aos jovens de peso saudável. A ideia partilhada pelos adolescentes de que o uso de tabaco faz perder peso pode explicar a maior prevalência do uso de tabaco nos adolescentes com excesso de peso em relação a adolescentes com peso normal. A literatura refere ainda que as dificuldades de integração no grupo de pares, sentidas por vezes pelos adolescentes obesos, podem levar a um maior envolvimento nestes comportamentos. Factores como o estado emocional, o suporte familiar, o grau de participação em actividades sociais e a relação com os pares podem assim exercer uma influência negativa ou positiva na prevalência dos comportamentos de risco nos adolescentes com excesso de peso. Também aqui os resultados dos estudos empíricos não permitem dados conclusivos. (...) 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