A Europa no século XX: bosquejo de “cartografia” intelectual (III)

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Alves, Pedro
Data de Publicação: 2005
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/11144/1686
Resumo: Acabámos de ver a influência marxista no pensamento político da primeira metade do século XX. Simetricamente, com Carl Schmitt (1888-1985), uma outra argumentação contra a democracia e o mundo “burguês” estava sendo desenvolvida. Ela está directamente ligada ao afundamento da vida pública na Alemanha nazi. Em 1921, Schmitt publica o seu ensaio Die Diktatur. Trata-se de um libelo contra a república de Weimar em que se afirma que a vontade de um povo é mais bem corporizada na figura do ditador que no poder legislativo, sempre exposto à conciliação e ao compromisso. É o princípio do Führer (ou do Duce) que aqui desponta. A sua lógica é a subversão do espaço público e a redução dos cidadãos a uma massa indiferenciada. Esta visão havia de ganhar consistência na obra de 1932, Der Begriffdes Politischen. O stato totalitario, de Mussolini, é aí uma referência, bem como a ideia de que o fenómeno político é anterior ao Estado e que ele emerge autenticamente quando há um confronto com um “inimigo” – “os cumes da grande política são os momentos em que há percepção nítida do inimigo enquanto tal”. Com o “outro”, com o “diferente”, está aberta a possibilidade da coexistência e do respeito recíproco. Locke havia falado da tolerância como princípio axial da vida política. Mas se o outro só surge na esfera política sob a figura do “inimigo” (Feind), se esse é o seu modo de se dar, não haverá, então, nem conciliação nem comunidade possível. Se a ordem política emerge deste confronto, é todo o pensamento clássico – de Hobbes a Kant, passando pelo abade de Saint-Pierre – sobre a Paz como desígnio último da política que se desmorona completamente.
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