O Rio Cambongo-Negunza e os seus afluentes: um exemplo da complexidade de padrões de drenagem em Angola
Autor(a) principal: | |
---|---|
Data de Publicação: | 2006 |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | https://doi.org/10.18055/Finis1447 |
Resumo: | Foi escolhida a bacia do rio Cambongo-Negunza, situada na zonacentro-litoral de Angola, como exemplo da complexidade das redes hidrográficasnaquele país. Desde as suas nascentes em maciços da Montanha Marginal (altitudesde mais de 2 000m), o rio desce pela escadaria de aplanações até ao mar, ao qualchega por um troço de vale encaixado em rochas sedimentares. Revela nos diversossectores, não só ele, mas também a maioria dos seus afluentes, traçados impostospor estruturas tectónicas – fracturas e falhas, geralmente em redes ortogonais. Longostroços quase rectilíneos do Cambongo-Negunza são outros testemunhos dessas influências (Cretácico-Quaternário).A superfície de aplanação litoral, incluindo as praias levantadas (altitudes decerca de 40 a 100m), rasoirando terrenos da Orla Sedimentar e do Maciço Antigo,sobe para leste, gradualmente, até um limite topográfico bem marcado, o da base(altitudes de cerca de 280 a 300m) dos contrafortes ocidentais de uma crista quartzítica NNE-SSW de perfil transversal dissimétrico – a serra do Engelo, com altitudes entre 1 400 e 1 700m –, também ela com falhas, sublinhadas por nascentes deáguas termais.Daquela superfície litoral, na faixa das rochas cristalinas emergem alguns relevos residuais com características de inselberge ou montes-ilhas, que levantam váriosproblemas, como o da extensão, para ocidente, das formações quartzíticas e do seudesmantelamento, o comportamento dos mesmos materiais nos processos complexosda génese e evolução da extensa linha regional de escarpas N-S contra as quais terminam as superfícies aplanadas da orla litoral. Nos calcários próximos da costa o rioCambongo-Negunza tem um percurso subterrâneo, por galerias e grutas de grandesdimensões, exsurgindo pouco antes da pequena planície terminal. Não longe do seuvale são observáveis dolinas de vários tamanhos e superfícies lapiezadas. As condi-ções climáticas revelam semi-aridez: a precipitação anual é inferior a 700mm, a evaporação é elevada, a cobertura vegetal é a de um mosaico de savanas, estepes e balcedos xerofíticos, com árvores dispersas ou sem elas.Entre a serra do Engelo e os maciços da Montanha Marginal estende-se amplaárea de afloramentos de rochas graníticas e afins, por vezes cobertas por rególitosde espessuras variadas. As altitudes da aplanação geral estão entre 1 100 e 1 200m. A área está coberta por bosques e savanas de árvores baixas, arbustos e capins altossobre solos pouco espessos e muito variáveis, embora os fersialíticos sejam os maisvulgares. As temperaturas médias rondam os 22ºC e a precipitação anual é de cercade 1 400mm. Em muitos locais são visíveis horizontes de lateritização ou bauxitização e couraças expostas.Acima daquela superfície de aplanação elevam-se, abundantes, os relevos residuais do tipo inselberg, isolados ou agrupados; ligados ou não aos traçados geomé-tricos das redes hidrográficas, com predomínio dos quadriculados, traduzindo a acomodação dos cursos de água, grandes e pequenos, permanentes e temporários, afracturas e falhas. É de notar que a maioria dos inselberg não está na proximidadedas vertentes escarpadas da Montanha Marginal, limites leste da superfície de 1 100--1 200m, mas bem mais para o lado ocidental, da crista quartzítica do Engelo. Omesmo sucede em bacias vizinhas, como a do Cuvo-Queve a norte e a do CubalQuicombo a sul. Vales de fractura e relevos residuais mereceram explanações de pormenor, com indicação de critérios para o seu estudo.Mais uma vez houve a preocupação de correlacionar os vários factores de dinâ-mica externa (dito de modo simplificado, meteorização e erosão em sentido lato) ede dinâmica interna (geologia e tectónica) para explicar a génese e evolução das formas do relevo. Por isso mesmo o estudo termina com breves considerações para umaexplicação geocronológica dinâmica. |
id |
RCAP_bc57dc1999c85464c7fcd0a3f5fed8f6 |
---|---|
oai_identifier_str |
oai:ojs.revistas.rcaap.pt:article/1447 |
network_acronym_str |
RCAP |
network_name_str |
Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
repository_id_str |
7160 |
spelling |
O Rio Cambongo-Negunza e os seus afluentes: um exemplo da complexidade de padrões de drenagem em AngolaArtigosFoi escolhida a bacia do rio Cambongo-Negunza, situada na zonacentro-litoral de Angola, como exemplo da complexidade das redes hidrográficasnaquele país. Desde as suas nascentes em maciços da Montanha Marginal (altitudesde mais de 2 000m), o rio desce pela escadaria de aplanações até ao mar, ao qualchega por um troço de vale encaixado em rochas sedimentares. Revela nos diversossectores, não só ele, mas também a maioria dos seus afluentes, traçados impostospor estruturas tectónicas – fracturas e falhas, geralmente em redes ortogonais. Longostroços quase rectilíneos do Cambongo-Negunza são outros testemunhos dessas influências (Cretácico-Quaternário).A superfície de aplanação litoral, incluindo as praias levantadas (altitudes decerca de 40 a 100m), rasoirando terrenos da Orla Sedimentar e do Maciço Antigo,sobe para leste, gradualmente, até um limite topográfico bem marcado, o da base(altitudes de cerca de 280 a 300m) dos contrafortes ocidentais de uma crista quartzítica NNE-SSW de perfil transversal dissimétrico – a serra do Engelo, com altitudes entre 1 400 e 1 700m –, também ela com falhas, sublinhadas por nascentes deáguas termais.Daquela superfície litoral, na faixa das rochas cristalinas emergem alguns relevos residuais com características de inselberge ou montes-ilhas, que levantam váriosproblemas, como o da extensão, para ocidente, das formações quartzíticas e do seudesmantelamento, o comportamento dos mesmos materiais nos processos complexosda génese e evolução da extensa linha regional de escarpas N-S contra as quais terminam as superfícies aplanadas da orla litoral. Nos calcários próximos da costa o rioCambongo-Negunza tem um percurso subterrâneo, por galerias e grutas de grandesdimensões, exsurgindo pouco antes da pequena planície terminal. Não longe do seuvale são observáveis dolinas de vários tamanhos e superfícies lapiezadas. As condi-ções climáticas revelam semi-aridez: a precipitação anual é inferior a 700mm, a evaporação é elevada, a cobertura vegetal é a de um mosaico de savanas, estepes e balcedos xerofíticos, com árvores dispersas ou sem elas.Entre a serra do Engelo e os maciços da Montanha Marginal estende-se amplaárea de afloramentos de rochas graníticas e afins, por vezes cobertas por rególitosde espessuras variadas. As altitudes da aplanação geral estão entre 1 100 e 1 200m. A área está coberta por bosques e savanas de árvores baixas, arbustos e capins altossobre solos pouco espessos e muito variáveis, embora os fersialíticos sejam os maisvulgares. As temperaturas médias rondam os 22ºC e a precipitação anual é de cercade 1 400mm. Em muitos locais são visíveis horizontes de lateritização ou bauxitização e couraças expostas.Acima daquela superfície de aplanação elevam-se, abundantes, os relevos residuais do tipo inselberg, isolados ou agrupados; ligados ou não aos traçados geomé-tricos das redes hidrográficas, com predomínio dos quadriculados, traduzindo a acomodação dos cursos de água, grandes e pequenos, permanentes e temporários, afracturas e falhas. É de notar que a maioria dos inselberg não está na proximidadedas vertentes escarpadas da Montanha Marginal, limites leste da superfície de 1 100--1 200m, mas bem mais para o lado ocidental, da crista quartzítica do Engelo. Omesmo sucede em bacias vizinhas, como a do Cuvo-Queve a norte e a do CubalQuicombo a sul. Vales de fractura e relevos residuais mereceram explanações de pormenor, com indicação de critérios para o seu estudo.Mais uma vez houve a preocupação de correlacionar os vários factores de dinâ-mica externa (dito de modo simplificado, meteorização e erosão em sentido lato) ede dinâmica interna (geologia e tectónica) para explicar a génese e evolução das formas do relevo. Por isso mesmo o estudo termina com breves considerações para umaexplicação geocronológica dinâmica.Centro de Estudos Geográficos2006-08-01T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/articlehttps://doi.org/10.18055/Finis1447por2182-29050430-5027Amaral, Ilídioinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2022-09-05T14:38:49Zoai:ojs.revistas.rcaap.pt:article/1447Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T15:11:53.452470Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse |
dc.title.none.fl_str_mv |
O Rio Cambongo-Negunza e os seus afluentes: um exemplo da complexidade de padrões de drenagem em Angola |
title |
O Rio Cambongo-Negunza e os seus afluentes: um exemplo da complexidade de padrões de drenagem em Angola |
spellingShingle |
O Rio Cambongo-Negunza e os seus afluentes: um exemplo da complexidade de padrões de drenagem em Angola Amaral, Ilídio Artigos |
title_short |
O Rio Cambongo-Negunza e os seus afluentes: um exemplo da complexidade de padrões de drenagem em Angola |
title_full |
O Rio Cambongo-Negunza e os seus afluentes: um exemplo da complexidade de padrões de drenagem em Angola |
title_fullStr |
O Rio Cambongo-Negunza e os seus afluentes: um exemplo da complexidade de padrões de drenagem em Angola |
title_full_unstemmed |
O Rio Cambongo-Negunza e os seus afluentes: um exemplo da complexidade de padrões de drenagem em Angola |
title_sort |
O Rio Cambongo-Negunza e os seus afluentes: um exemplo da complexidade de padrões de drenagem em Angola |
author |
Amaral, Ilídio |
author_facet |
Amaral, Ilídio |
author_role |
author |
dc.contributor.author.fl_str_mv |
Amaral, Ilídio |
dc.subject.por.fl_str_mv |
Artigos |
topic |
Artigos |
description |
Foi escolhida a bacia do rio Cambongo-Negunza, situada na zonacentro-litoral de Angola, como exemplo da complexidade das redes hidrográficasnaquele país. Desde as suas nascentes em maciços da Montanha Marginal (altitudesde mais de 2 000m), o rio desce pela escadaria de aplanações até ao mar, ao qualchega por um troço de vale encaixado em rochas sedimentares. Revela nos diversossectores, não só ele, mas também a maioria dos seus afluentes, traçados impostospor estruturas tectónicas – fracturas e falhas, geralmente em redes ortogonais. Longostroços quase rectilíneos do Cambongo-Negunza são outros testemunhos dessas influências (Cretácico-Quaternário).A superfície de aplanação litoral, incluindo as praias levantadas (altitudes decerca de 40 a 100m), rasoirando terrenos da Orla Sedimentar e do Maciço Antigo,sobe para leste, gradualmente, até um limite topográfico bem marcado, o da base(altitudes de cerca de 280 a 300m) dos contrafortes ocidentais de uma crista quartzítica NNE-SSW de perfil transversal dissimétrico – a serra do Engelo, com altitudes entre 1 400 e 1 700m –, também ela com falhas, sublinhadas por nascentes deáguas termais.Daquela superfície litoral, na faixa das rochas cristalinas emergem alguns relevos residuais com características de inselberge ou montes-ilhas, que levantam váriosproblemas, como o da extensão, para ocidente, das formações quartzíticas e do seudesmantelamento, o comportamento dos mesmos materiais nos processos complexosda génese e evolução da extensa linha regional de escarpas N-S contra as quais terminam as superfícies aplanadas da orla litoral. Nos calcários próximos da costa o rioCambongo-Negunza tem um percurso subterrâneo, por galerias e grutas de grandesdimensões, exsurgindo pouco antes da pequena planície terminal. Não longe do seuvale são observáveis dolinas de vários tamanhos e superfícies lapiezadas. As condi-ções climáticas revelam semi-aridez: a precipitação anual é inferior a 700mm, a evaporação é elevada, a cobertura vegetal é a de um mosaico de savanas, estepes e balcedos xerofíticos, com árvores dispersas ou sem elas.Entre a serra do Engelo e os maciços da Montanha Marginal estende-se amplaárea de afloramentos de rochas graníticas e afins, por vezes cobertas por rególitosde espessuras variadas. As altitudes da aplanação geral estão entre 1 100 e 1 200m. A área está coberta por bosques e savanas de árvores baixas, arbustos e capins altossobre solos pouco espessos e muito variáveis, embora os fersialíticos sejam os maisvulgares. As temperaturas médias rondam os 22ºC e a precipitação anual é de cercade 1 400mm. Em muitos locais são visíveis horizontes de lateritização ou bauxitização e couraças expostas.Acima daquela superfície de aplanação elevam-se, abundantes, os relevos residuais do tipo inselberg, isolados ou agrupados; ligados ou não aos traçados geomé-tricos das redes hidrográficas, com predomínio dos quadriculados, traduzindo a acomodação dos cursos de água, grandes e pequenos, permanentes e temporários, afracturas e falhas. É de notar que a maioria dos inselberg não está na proximidadedas vertentes escarpadas da Montanha Marginal, limites leste da superfície de 1 100--1 200m, mas bem mais para o lado ocidental, da crista quartzítica do Engelo. Omesmo sucede em bacias vizinhas, como a do Cuvo-Queve a norte e a do CubalQuicombo a sul. Vales de fractura e relevos residuais mereceram explanações de pormenor, com indicação de critérios para o seu estudo.Mais uma vez houve a preocupação de correlacionar os vários factores de dinâ-mica externa (dito de modo simplificado, meteorização e erosão em sentido lato) ede dinâmica interna (geologia e tectónica) para explicar a génese e evolução das formas do relevo. Por isso mesmo o estudo termina com breves considerações para umaexplicação geocronológica dinâmica. |
publishDate |
2006 |
dc.date.none.fl_str_mv |
2006-08-01T00:00:00Z |
dc.type.status.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/publishedVersion |
dc.type.driver.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/article |
format |
article |
status_str |
publishedVersion |
dc.identifier.uri.fl_str_mv |
https://doi.org/10.18055/Finis1447 |
url |
https://doi.org/10.18055/Finis1447 |
dc.language.iso.fl_str_mv |
por |
language |
por |
dc.relation.none.fl_str_mv |
2182-2905 0430-5027 |
dc.rights.driver.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/openAccess |
eu_rights_str_mv |
openAccess |
dc.publisher.none.fl_str_mv |
Centro de Estudos Geográficos |
publisher.none.fl_str_mv |
Centro de Estudos Geográficos |
dc.source.none.fl_str_mv |
reponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação instacron:RCAAP |
instname_str |
Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação |
instacron_str |
RCAAP |
institution |
RCAAP |
reponame_str |
Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
collection |
Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
repository.name.fl_str_mv |
Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação |
repository.mail.fl_str_mv |
|
_version_ |
1799129989046599681 |