A filosofia existencial de Karl Jaspers

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Perdigão, Antónia
Data de Publicação: 2001
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10400.12/6552
Resumo: O estatuto da filosofia é o de Filosofia da Existência (Existenzphilosophie). É, por isso, imprescindível manter numa abertura constante e em permanente tensão os seus dois extremos: a Razão e a sua universalidade, e a Existência e a sua singularidade incomunicável. Quanto ao espaço da filosofia, ele é o da verdade mais universal, do acolhimento mais amplo e da 556 decisão mais ousada, no sentido de tudo compreender e transcender, ou tudo compreender transcendendo. Por último, o sentido da filosofia é o de servir de base à vida. Revela-se a todo e a cada homem que nasceu para o descobrir e para se decidir livremente a procurá- -lo com um coração puro e consciente de que esta é a única forma de o poder encontrar, uma vez que ele não é constringente nem pode, ao contrário da verdade, ser universal. Fiel à Existência e ao seu pensamento, Karl Jaspers nunca aceitou a denominação de «existencialista» porque nunca defendeu um «existencialismo», o que equivaleria a reduzir tudo à existência, transformandoa num valor absoluto e aniquilando desse modo o seu sentido. A Existência não é absoluta, é a Existência possível. Uma superação constante de si mesma feita de luta, fracasso e fé filosófica. A Existência não é um valor nem um conceito. É liberdade, comunicação, historicidade: o compromisso fundamental do eu-consigo-mesmo,-com-o(s)-outro(s)- -e-com-o-mundo. O pensamento, por seu lado, só tem sentido na fidelidade autêntica a essa Existência que é, no seu âmago, cifra da Transcendência. O valor dessa fidelidade concentra-se na decisão constante pela escolha, apesar do fracasso e da culpa. Uma fidelidade que se prolonga até à morte, onde se esgotam as possibilidades do Dasein. No seu conjunto, a obra de Karl Jaspers dá-nos, pela sua autenticidade e pela sua humanidade, uma chave hermenêutica para as várias oscilações do ser-no- -mundo enquanto projecto existencial. Dá-nos, acima de tudo, um caminho para a mudança de atitude capaz de converter a derrota em vitória e de transformar a insuficiência e a decepção em élan e em certeza existencial, de transformar a morte em vida. Palavras-chave: Filosofia da Existência, Dasein, Existência, Transcendência, inquietação existencial, situações- limite, liberdade, escolha(er), comunicação, historicidade, fracasso, fé filosófica.
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Revela-se a todo e a cada homem que nasceu para o descobrir e para se decidir livremente a procurá- -lo com um coração puro e consciente de que esta é a única forma de o poder encontrar, uma vez que ele não é constringente nem pode, ao contrário da verdade, ser universal. Fiel à Existência e ao seu pensamento, Karl Jaspers nunca aceitou a denominação de «existencialista» porque nunca defendeu um «existencialismo», o que equivaleria a reduzir tudo à existência, transformandoa num valor absoluto e aniquilando desse modo o seu sentido. A Existência não é absoluta, é a Existência possível. Uma superação constante de si mesma feita de luta, fracasso e fé filosófica. A Existência não é um valor nem um conceito. É liberdade, comunicação, historicidade: o compromisso fundamental do eu-consigo-mesmo,-com-o(s)-outro(s)- -e-com-o-mundo. O pensamento, por seu lado, só tem sentido na fidelidade autêntica a essa Existência que é, no seu âmago, cifra da Transcendência. O valor dessa fidelidade concentra-se na decisão constante pela escolha, apesar do fracasso e da culpa. Uma fidelidade que se prolonga até à morte, onde se esgotam as possibilidades do Dasein. No seu conjunto, a obra de Karl Jaspers dá-nos, pela sua autenticidade e pela sua humanidade, uma chave hermenêutica para as várias oscilações do ser-no- -mundo enquanto projecto existencial. Dá-nos, acima de tudo, um caminho para a mudança de atitude capaz de converter a derrota em vitória e de transformar a insuficiência e a decepção em élan e em certeza existencial, de transformar a morte em vida. Palavras-chave: Filosofia da Existência, Dasein, Existência, Transcendência, inquietação existencial, situações- limite, liberdade, escolha(er), comunicação, historicidade, fracasso, fé filosófica.ABSTRACT: The status of philosophy is that of the Philosophy of Existence (Existenzphilosophie). It is, therefore, extremely important to maintain open and in permanent tension its two extremes: Reason and its universality, Existence and its incommunicable singularity. In relation to the space of philosophy, it is that of the most universal truth, of the vaster reception and of the most bold decision as to understand and transcend everything or understand everything transcending. Finally, the sense of philosophy is to be the basis to life. It reveals itself to all and each man who was born to discover it and decides freely to seek it with a pure heart and conscious that this is the only way he can find it, since it is not constricted nor can, contrary to the truth, be universal. Faithful to Existence and its thought, Karl Jaspers never accepted the denomination of «existencialist» because he never defended «existencialism», that would mean reduce everything to existence transforming it into an absolute value and therefore annihilating its sense. Existence is not absolute, it is the possible Existence. It is a constant surpass of itself made of struggle, failure and philosophical faith. Existence is not a value nor a concept. It is freedom, communication, historicity: the fundamental compromise of the «I»-with-itself,-with-others-andwith- the-world. Thought, on the other hand, only has sense in a truly faithfulness to that Existence that is, in its essence, cipher of Transcendency. The value of that faithfulness concentrates on the constant decision of choice, despite failure and blame. A faithfulness that extends itself until death, where Dasein’s possibilities end. In its whole, Karl Jaspers’ work gives us, due to its authenticity and humanity, a hermeneutical key to the various oscillations of the being-in-the-world as an existential project. It gives us, above all, a way to a change of attitude capable of converting failure into victory and of transforming insufficiency and deception into élan and in existential certainty, death into life.Instituto Superior de Psicologia AplicadaRepositório do ISPAPerdigão, Antónia2018-07-26T12:05:26Z2001-01-01T00:00:00Z2001-01-01T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/articleapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10400.12/6552porAnalise Psicológica, XIX(4), 539-557.0870-8231info:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2022-09-05T16:42:17Zoai:repositorio.ispa.pt:10400.12/6552Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T15:24:23.917181Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
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description O estatuto da filosofia é o de Filosofia da Existência (Existenzphilosophie). É, por isso, imprescindível manter numa abertura constante e em permanente tensão os seus dois extremos: a Razão e a sua universalidade, e a Existência e a sua singularidade incomunicável. Quanto ao espaço da filosofia, ele é o da verdade mais universal, do acolhimento mais amplo e da 556 decisão mais ousada, no sentido de tudo compreender e transcender, ou tudo compreender transcendendo. Por último, o sentido da filosofia é o de servir de base à vida. Revela-se a todo e a cada homem que nasceu para o descobrir e para se decidir livremente a procurá- -lo com um coração puro e consciente de que esta é a única forma de o poder encontrar, uma vez que ele não é constringente nem pode, ao contrário da verdade, ser universal. Fiel à Existência e ao seu pensamento, Karl Jaspers nunca aceitou a denominação de «existencialista» porque nunca defendeu um «existencialismo», o que equivaleria a reduzir tudo à existência, transformandoa num valor absoluto e aniquilando desse modo o seu sentido. A Existência não é absoluta, é a Existência possível. Uma superação constante de si mesma feita de luta, fracasso e fé filosófica. A Existência não é um valor nem um conceito. É liberdade, comunicação, historicidade: o compromisso fundamental do eu-consigo-mesmo,-com-o(s)-outro(s)- -e-com-o-mundo. O pensamento, por seu lado, só tem sentido na fidelidade autêntica a essa Existência que é, no seu âmago, cifra da Transcendência. O valor dessa fidelidade concentra-se na decisão constante pela escolha, apesar do fracasso e da culpa. Uma fidelidade que se prolonga até à morte, onde se esgotam as possibilidades do Dasein. No seu conjunto, a obra de Karl Jaspers dá-nos, pela sua autenticidade e pela sua humanidade, uma chave hermenêutica para as várias oscilações do ser-no- -mundo enquanto projecto existencial. Dá-nos, acima de tudo, um caminho para a mudança de atitude capaz de converter a derrota em vitória e de transformar a insuficiência e a decepção em élan e em certeza existencial, de transformar a morte em vida. Palavras-chave: Filosofia da Existência, Dasein, Existência, Transcendência, inquietação existencial, situações- limite, liberdade, escolha(er), comunicação, historicidade, fracasso, fé filosófica.
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