Anemia de células falciformes e hemoglobina fetal : avaliação da HbF e das cadeias G gama/A gama da HbF num grupo de crianças angolanas antes e após o tratamento com hidroxiureia
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Data de Publicação: | 2022 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10451/63150 |
Resumo: | Tese de mestrado, Análises Clínicas, 2022, Universidade de Lisboa, Faculdade de Farmácia. |
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Anemia de células falciformes e hemoglobina fetal : avaliação da HbF e das cadeias G gama/A gama da HbF num grupo de crianças angolanas antes e após o tratamento com hidroxiureiaInstituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge [Relatório de estágio]AnemiaCélulas falciformesHemoglobina SHemoglobina fetalHidroxiureiaTeses de mestrado - 2022Ciências da SaúdeTese de mestrado, Análises Clínicas, 2022, Universidade de Lisboa, Faculdade de Farmácia.A anemia de células falciformes (ACF) é uma anemia hereditária autossómica recessiva caracterizada pela presença de hemoglobina S (HbS) em homozigotia, encontrando-se entre as doenças genéticas mais comuns. Os dados da Iniciativa de Anemia Falciforme em Angola, entre 2011 e 2018, indicam que das 323930 crianças submetidas à triagem neonatal da ACF, 7748 (2,39%) possuem a doença e 58043 (17,91%) são portadoras do traço falciforme. Estima-se que surjam anualmente mais de quinze mil novos casos da doença em Angola 1. O evento primário da patogénese da ACF é a polimerização da HbS que ocorre quando desoxigenada, resultando na distorção do glóbulo vermelho (GV) e na diminuição da sua flexibilidade. A sua fisiopatologia resulta direta ou indiretamente da obstrução vascular devida à presença de células falciformes, com consequente enfarte tecidular. A hipoxia tecidular causada pela vaso-oclusão na microcirculação e a consequente lesão multiorgânica, constitui a principal causa de morbilidade e mortalidade nesta doença. Apesar de ser uma doença monogénica, o seu fenótipo clínico é heterogéneo, variando de relativamente moderado a muito grave. Alguns doentes apenas apresentam sintomas moderados associados à anemia hemolítica crónica, enquanto que outros sofrem de crises dolorosas de repetição e lesões graves multiorgânicas. Este facto deve-se à influência modificadora tanto de fatores ambientais, como de fatores genéticos. Entre estes últimos salienta-se o nível de expressão da hemoglobina fetal (HbF), não só por diminuir a concentração da HbS no interior do GV, mas também pelo facto de inibir a sua polimerização. Na ACF a concentração da HbF varia entre 0,1% e 30%, com uma média de 8% 2. Os níveis de HbF aumentados conferem grandes benefícios clínicos e encontram-se associados a uma progressão da doença mais suave e com menos complicações clínicas. A hidroxiureia (HU) é um fármaco muito explorado em relação ao seu efeito indutor da síntese da cadeia de γ-globina e consequente aumento dos níveis de HbF, efeito este promissor para tratar a ACF. A resposta dos doentes à HU é altamente variável e, aproximadamente 30% dos doentes com ACF não respondem ao tratamento 3. Realizou-se um estudo exploratório com 36 crianças angolanas com ACF, 19 do género feminino e 17 do género masculino, cuja média de idade foi de 7 anos. O presente trabalho teve como objetivo avaliar os níveis de HbF antes e após 6 e 12 meses de tratamento com HU, utilizando como amostra sangue hemolisado. As cadeias Gγ e Aγ pré-tratamento foram também analisadas. Fez-se ainda uma avaliação da concordância entre os métodos cromatográficos de troca iónica e fase reversa para a quantificação de HbF, através da análise de Bland-Altman. A HbF pré-tratamento e após 6 e 12 meses de tratamento foi determinada 8 pelo método de cromatografia líquida de troca iónica (IEX-HPLC) e as cadeias de globina Gγ e Aγ pré-tratamento foram determinadas por cromatografia líquida de fase reversa (RPHPLC). Os dados foram tratados estatisticamente. A média da HbF nas 36 crianças com ACF avaliadas, no pré-tratamento foi de 6,3%, após 6 meses de tratamento foi de 14,7% e após 12 meses de tratamento foi de 12,9%. Em 2,8% dos doentes verificou-se um aumento mínimo dos níveis de HbF após 6 meses de tratamento com HU. Os níveis de HbF após 6 meses de tratamento duplicaram em 47,2% dos doentes, triplicaram em 27,8% dos doentes e 22,2% dos doentes apresentaram níveis de HbF aumentados em quatro vezes ou mais. Após 6 meses de tratamento, 50% dos doentes adquiriram um nível de HbF entre 10% e 20%, enquanto que apenas 19,4% dos doentes apresentaram esses níveis de HbF na fase de pré-tratamento, e 22,2% dos doentes obtiveram níveis de HbF ≥20%. Em nenhum dos 36 doentes se detetou níveis de HbF ≥20% no pré-tratamento. Após 12 meses de tratamento, a percentagem de doentes que mantiveram e/ou alcançaram níveis de HbF entre 10% e 20% foi de 52,8% e, dos que alcançaram níveis de HbF acima ou iguais a 20% foi de 11,1%. Os resultados evidenciaram que a HU foi eficaz na elevação dos níveis de HbF logo após 6 meses de tratamento. Após 12 meses de tratamento verificou-se uma estabilização ou ligeira diminuição nos níveis de HbF. Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas no aumento do nível de HbF, após tratamento com HU, entre os géneros feminino e masculino, nem entre os grupos etários de 3 a 7 e 8 a 11 anos. Na fase de pré-tratamento nas 36 crianças, obteve-se uma média da cadeia Gγ de 38,17% e da cadeia Aγ de 61,83%. A análise preliminar das cadeias de globina mostrou em 4 amostras a relação Gγ/Aγ >1, enquanto 32 amostras mostraram valor compatível com o padrão do adulto de relação <1. Relativamente à avaliação dos dois métodos cromatográficos IEX-HPLC e RP-HPLC para quantificação da HbF, a análise de Bland-Altman demonstrou que a média das diferenças entre os métodos é 0,3 unidades, o que significa que há concordância de resultados. Conclui-se, que a HU é um fármaco eficaz na elevação dos níveis de HbF, logo nos 6 primeiros meses de tratamento e, portanto, pode contribuir positivamente para o tratamento da ACF na população em estudo, uma vez que a HbF é um dos principais moduladores da gravidade da doença. A avaliação da concordância entre os métodos cromatográficos para a quantificação da HbF mostrou que ambos são adequados para o fim pretendido.Sickle cell disease (SCD) is an autosomal recessive hereditary anemia characterized by the presence of hemoglobin S (HbS) in homozygosity, being among the most common genetic diseases. Data from the Sickle Cell Anemia Initiative in Angola, between 2011 and 2018, indicate that of the 323,930 children undergoing neonatal screening for SCD, 7,748 (2.39%) have the disease and 58,043 (17.91%) are carriers of the sickle cell trait. It is estimated that more than fifteen thousand new cases of the disease are born annually in Angola 1. The primary event in the pathogenesis of SCD is the polymerization of HbS that occurs when deoxygenated, resulting in red blood cell distortion (RBC) and decreased flexibility. Its pathophysiology results directly or indirectly from vascular obstruction due to the presence of sickle cells, with consequent tissue infarction. Tissue hypoxia caused by vaso-occlusion in the microcirculation and the consequent multiorgan damage is the main cause of morbidity and mortality in this disease. Despite being a monogenic disease, its clinical phenotype is heterogeneous, ranging from relatively moderate to very severe. Some patients only have mild symptoms associated with chronic hemolytic anemia, while others suffer from recurrent painful attacks and severe multiorgan damage. This fact is due to the modifying influence of both environmental and genetic factors. Among the latter, the expression level of fetal hemoglobin (HbF) stands out, not only because it reduces the concentration of HbS inside the RBC, but also because it inhibits its polymerization. In SCD the concentration of HbF varies between 0.1% and 30%, with an average of 8% 2. The increased levels of HbF confer great clinical benefits and are associated with a smoother progression of the disease and with fewer clinical complications. Hydroxyurea (HU) is a drug widely explored in relation to its effect inducing the synthesis of the γ-globin chain and consequently increasing the levels of HbF, an effect that is promising to treat ACF. The response of patients to HU is highly variable and approximately 30% of patients with SCD do not respond to treatment 3. An exploratory study was carried out with 36 Angolan children with SCD, 19 female and 17 male, whose mean age was 7 years. The present study aimed to evaluate HbF levels before and after 6 and 12 months of treatment with HU, using hemolyzed blood as a sample. Pretreatment Gγ and Aγ chains were also analyzed. An evaluation of the agreement between the ion exchange and reversedphase chromatographic methods for the quantification of HbF was also carried out, using the Bland-Altman analysis. HbF pre-treatment and after 6 and 12 months of treatment was determined by ion exchange liquid chromatography (IEX-HPLC) method and pre-treatment Gγ and Aγ globin chains were determined by reversed-phase liquid chromatography (RP10 HPLC). Data were treated statistically. The mean HbF in the 36 children with SCD evaluated was 6.3% before treatment, 14.7% after 6 months of treatment and 12.9% after 12 months of treatment. In 2.8% of patients, there was a minimal increase in HbF levels after 6 months of treatment with HU. HbF levels after 6 months of treatment doubled in 47.2% of patients, tripled in 27.8% of patients, and 22.2% of patients had fourfold or greater HbF levels. After 6 months of treatment, 50% of patients acquired an HbF level between 10% and 20%, while only 19.4% of patients had such HbF levels in the pre-treatment phase, and 22.2% of patients obtained HbF levels ≥20%. None of the 36 patients had HbF levels ≥20% pre-treatment. After 12 months of treatment, the percentage of patients who maintained and/or reached HbF levels between 10% and 20% was 52.8% and HbF levels above or equal to 20% was 11.1%. The results showed that HU was effective in raising HbF levels after 6 months of treatment. After 12 months of treatment, there was a stabilization or slight decrease in HbF levels. No statistically significant differences were found in the increase in the level of HbF, after treatment with HU, between females and males, nor between ages 3 to 7 and 8 to 11 years. In the pre-treatment phase in the 36 children, an average of the Gγ chain of 38.17% and of the Aγ chain of 61.83% was obtained. Preliminary analysis of globin chains showed a Gγ/Aγ ratio>1 in 4 samples, while 32 samples showed a value compatible with the adult standard of ratio <1. Regarding the evaluation of the two chromatographic methods IEX-HPLC and RP-HPLC for HbF quantification, the Bland-Altman analysis showed that the average of the differences between the methods is 0.3 units, which means that there is agreement of results. It is concluded that HU is an effective drug in the elevation of HbF levels, in the first 6 months of treatment and, therefore, can contribute positively to the treatment of SCD in the study population, since HbF is one of the main modulators of disease severity. The evaluation of the agreement between the chromatographic methods for the quantification of HbF showed that both are suitable for the intended purpose.Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge.Silva, Isabel Cristina Gomes Falcão de Bettencourt Moreira daMiranda, Armandina MadeiraRepositório da Universidade de LisboaAlmeida, Priscilla Silva de2024-03-04T15:57:32Z2022-06-222022-04-292022-06-22T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10451/63150TID:203082257porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2024-03-11T01:19:53Zoai:repositorio.ul.pt:10451/63150Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-20T03:14:29.618662Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse |
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