O complexo mustierense em Portugal

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Cardoso, João Luís
Data de Publicação: 2006
Tipo de documento: Artigo
Idioma: eng
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10400.2/3257
Resumo: O Mustierense é o único tecno-complexo do Paleolítico Médio reconhecido e caracterizado em Portugal. Alguns dos conjuntos industriais referidos neste trabalho foram, contudo, incluídos na designação mais genérica de Paleolítico Médio, por falta de elementos de pormenor. As estações de ar livre referenciadas parecem corporizar, nuns casos, face à enorme quantidade de vestígios, estacionamentos intensivos e prolongados, de tipo residencial, favorecidos pela abundância de matérias-primais disponíveis. É o caso das estações dos arredores de Lisboa e das existentes na margem esquerda do estuário do Tejo. Nenhuma foi objecto de escavações em extensão, impossibilitando a confirmação desta situação, por um lado e, por outro, o conhecimento da organização interna do espaço habitado. Outras estações de ar livre, implantadas em terraços fluviais, ocupam áreas menores e configuram actividades cinegéticas especializadas, talvez de carácter sazonal: é o caso de Santo Antão do Tojal, onde provavelmente se capturou o elefante, da Foz do Enxarrique, especializada na caça ao veado e de Vilas Ruivas, onde os restos faunísticos não se conservaram. Naquela última estação, foram identificadas estruturas habitacionais, atribuídas a pára-ventos (wind-breaks), ou a tapumes de caça (hunting-blinds), associadas a lareiras e a possíveis buracos de poste; estes testemunhos juntam-se às lareiras identificadas na Gruta da Buraca Escura e no sítio de ar livre de Santa Cita. As grutas revelam por vezes estratigrafias extensas, denunciando permanências prolongadas e recorrentes, o que configura a situação de corresponderem a sítios de tipo residencial, sem prejuízo de também se conhecerem grutas com ocupações episódicas, relacionadas com actividades cinegéticas ou de exploração de recursos geológicos. A Gruta da Oliveira e a Gruta Nova da Columbeira estão no primeiro caso. Evidencia-se a alternância da sua ocupação por carnívoros e pelo homem. A variedade dos recursos cinegéticos identificados mostra uma economia de subsistência não especializada, capturando-se presas de grande, médio e pequeno porte. Entre as últimas encontra-se o coelho, espécie endémica, então muito abundante, cuja caça era acompanhada pela da tartaruga terrestre, a qual atinge expressão significativa na Gruta Nova da Columbeira. Os recursos aquáticos constituíam parte significativa da dieta em grutas próximo do litoral, como a Gruta de Ibn Amar, sobre o estuário actual do rio Arade e a Gruta da Figueira Brava. Nesta última, a importância desse contributo alimentar é evidenciada pela diversidade e abundância das espécies de moluscos identificados, acompanhados de crustáceos e até de mamíferos marinhos, como a foca e o golfinho. O facto de a componente de pesca e recolecção não se ter reconhecido em grutas fora da linha de costa actual evidencia a área relativamente limitada de captação de recursos inerente a cada gruta, sem prejuízo de os seus habitantes, dentro dos respectivos territórios, conhecerem um alto grau de mobilidade, o qual é sublinhado pela diversidade de recursos explorados. Esta situação também se aplica à utilização dos recursos geológicos. Com efeito, nota-se que as matérias-primas mais utilizadas, são o quartzo, o quartzito e o sílex, em percentagens variáveis consoante a sua própria disponibilidade na envolvência imediata das grutas, não ultrapassando um raio superior a 10 km. Noutros casos, como na Gruta da Figueira Brava e na Gruta do Escoural, observou-se uma incidência muito forte na utilização do quartzo filoneano, apesar da sua má qualidade, em virtude de ser a rocha disponível no território adjacente. Do ponto de vista tecnológico e tipológico, os três conjuntos reconhecidamente datados do Mustierense Final do território português mais importantes: Gruta da Oliveira; Gruta Nova da Columbeira e Gruta da Figueira Brava, não evidenciam qualquer indício de evolução para indústrias do Paleolítico Superior notando-se, ao contrário, um reforço das suas características mustierenses. Os mais antigos materiais mustierenses estratigrafados provêm da Gruta da Furninha, datados de ca. 80 Ka calBP, encontrando-se associados a hiena raiada (Hyaena hyaena prisca). Trata-se de espécie de clima quente, já então uma relíquia a nível europeu, compatível com a ocorrência, no cordão conglomerático formado ao longo do litoral da serra da Arrábida a 5-8 m de altitude, contemporâneo daquele depósito, de Patella safiana, espécie de águas quentes, que actualmente não ultrapassa a latitude do litoral atlântico marroquino, acompanhada de Pectunculus bimaculatus, de distribuição mediterrânea. Desconhece-se a evolução paleoclimática entre a época de formação do depósito fossilífero da Furninha e cerca de 45 Ka calBP. Tal é a cronologia obtida pelo radiocarbono para as jazidas de interesse paleontológico de Vale de Janela, no litoral da Estremadura e de São Torpes, no litoral alentejano. Apesar de existirem em ambas as jazidas espécies de clima temperado mais fresco e húmido que o mediterrânico, é de salientar a manutenção do género Myrica, de características termófilas. Com efeito, a tendência para um clima temperado fresco é compatível, para a referida época, com a presença de cabra montês nos níveis mustierenses inferiores da Gruta da Oliveira, anteriores a 43/42 Ka calBP. A partir desta época o clima parece tormar-se progressivamente mais quente, assumindo características mediterrâneas: tal é indicado pelo desaparecimento da cabra montês na Gruta da Oliveira, acompanhada (Nível 8) de associação de roedores de características mediterrâneas datada de ca. 38/37 Ka calBP, compatível com a presença de Cepaea nemoralis na Lapa dos Furos, ca. de 40 Ka calBP. A partir de 36 Ka calBP as condições climáticas parecem modificar-se progressivamente no sentido do arrefecimento: a cabra montês reaparece nas cadeias montanhosas atlânticas de baixa altitude (Gruta Nova da Columbeira e Gruta da Figueira Brava); o arrefecimento climático, corresponde a condições um pouco mais frias que as existentes actualmente na zona, mas comparáveis às do litoral cantábrico, é comprovado pelo conjunto de indicadores disponíveis na Gruta da Figueira Brava, o mais completo até ao presente reunido. Mas a presença, até ca. 34-31 Ka calBP, na Gruta Nova da Columbeira, da tartaruga terrestre, espécie ali abundante, que requeria temperaturas da ordem dos 20 a 30 graus centígrados ao longo do Verão, para a incubação dos ovos, indica que o arrefecimento clumático não poderia ter sido muito acentuado. Por outro lado, a microfauna do Nível K da gruta do Caldeirão, com Allocricetus bursae, demonstra a progressão até ao ocidente peninsular das condições estépicas cerca de 35 Ka calBP. Tais condições prevaleciam aquando do surgimento na região, talvez ca. 35-34 Ka calBP, das primeiras indústrias do Paleolítico Superior, pertencentes já a um estádio evoluído do Aurignacense. É neste quadro paleoclimático particular ao ocidente e sudoeste peninsular que se devem entender sobrevivências tardias de certas espécies, como o elefante antigo, presente na Foz do Enxarrique cerca de 33,6 Ka calBP o qual, oferecendo condições geográficas favoráveis, favoreceu também a tardia presença dos últimos Neandertais e, com eles, do Mustierense Final no território português.
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Outras estações de ar livre, implantadas em terraços fluviais, ocupam áreas menores e configuram actividades cinegéticas especializadas, talvez de carácter sazonal: é o caso de Santo Antão do Tojal, onde provavelmente se capturou o elefante, da Foz do Enxarrique, especializada na caça ao veado e de Vilas Ruivas, onde os restos faunísticos não se conservaram. Naquela última estação, foram identificadas estruturas habitacionais, atribuídas a pára-ventos (wind-breaks), ou a tapumes de caça (hunting-blinds), associadas a lareiras e a possíveis buracos de poste; estes testemunhos juntam-se às lareiras identificadas na Gruta da Buraca Escura e no sítio de ar livre de Santa Cita. As grutas revelam por vezes estratigrafias extensas, denunciando permanências prolongadas e recorrentes, o que configura a situação de corresponderem a sítios de tipo residencial, sem prejuízo de também se conhecerem grutas com ocupações episódicas, relacionadas com actividades cinegéticas ou de exploração de recursos geológicos. A Gruta da Oliveira e a Gruta Nova da Columbeira estão no primeiro caso. Evidencia-se a alternância da sua ocupação por carnívoros e pelo homem. A variedade dos recursos cinegéticos identificados mostra uma economia de subsistência não especializada, capturando-se presas de grande, médio e pequeno porte. Entre as últimas encontra-se o coelho, espécie endémica, então muito abundante, cuja caça era acompanhada pela da tartaruga terrestre, a qual atinge expressão significativa na Gruta Nova da Columbeira. Os recursos aquáticos constituíam parte significativa da dieta em grutas próximo do litoral, como a Gruta de Ibn Amar, sobre o estuário actual do rio Arade e a Gruta da Figueira Brava. Nesta última, a importância desse contributo alimentar é evidenciada pela diversidade e abundância das espécies de moluscos identificados, acompanhados de crustáceos e até de mamíferos marinhos, como a foca e o golfinho. O facto de a componente de pesca e recolecção não se ter reconhecido em grutas fora da linha de costa actual evidencia a área relativamente limitada de captação de recursos inerente a cada gruta, sem prejuízo de os seus habitantes, dentro dos respectivos territórios, conhecerem um alto grau de mobilidade, o qual é sublinhado pela diversidade de recursos explorados. Esta situação também se aplica à utilização dos recursos geológicos. Com efeito, nota-se que as matérias-primas mais utilizadas, são o quartzo, o quartzito e o sílex, em percentagens variáveis consoante a sua própria disponibilidade na envolvência imediata das grutas, não ultrapassando um raio superior a 10 km. Noutros casos, como na Gruta da Figueira Brava e na Gruta do Escoural, observou-se uma incidência muito forte na utilização do quartzo filoneano, apesar da sua má qualidade, em virtude de ser a rocha disponível no território adjacente. Do ponto de vista tecnológico e tipológico, os três conjuntos reconhecidamente datados do Mustierense Final do território português mais importantes: Gruta da Oliveira; Gruta Nova da Columbeira e Gruta da Figueira Brava, não evidenciam qualquer indício de evolução para indústrias do Paleolítico Superior notando-se, ao contrário, um reforço das suas características mustierenses. Os mais antigos materiais mustierenses estratigrafados provêm da Gruta da Furninha, datados de ca. 80 Ka calBP, encontrando-se associados a hiena raiada (Hyaena hyaena prisca). Trata-se de espécie de clima quente, já então uma relíquia a nível europeu, compatível com a ocorrência, no cordão conglomerático formado ao longo do litoral da serra da Arrábida a 5-8 m de altitude, contemporâneo daquele depósito, de Patella safiana, espécie de águas quentes, que actualmente não ultrapassa a latitude do litoral atlântico marroquino, acompanhada de Pectunculus bimaculatus, de distribuição mediterrânea. Desconhece-se a evolução paleoclimática entre a época de formação do depósito fossilífero da Furninha e cerca de 45 Ka calBP. Tal é a cronologia obtida pelo radiocarbono para as jazidas de interesse paleontológico de Vale de Janela, no litoral da Estremadura e de São Torpes, no litoral alentejano. Apesar de existirem em ambas as jazidas espécies de clima temperado mais fresco e húmido que o mediterrânico, é de salientar a manutenção do género Myrica, de características termófilas. Com efeito, a tendência para um clima temperado fresco é compatível, para a referida época, com a presença de cabra montês nos níveis mustierenses inferiores da Gruta da Oliveira, anteriores a 43/42 Ka calBP. A partir desta época o clima parece tormar-se progressivamente mais quente, assumindo características mediterrâneas: tal é indicado pelo desaparecimento da cabra montês na Gruta da Oliveira, acompanhada (Nível 8) de associação de roedores de características mediterrâneas datada de ca. 38/37 Ka calBP, compatível com a presença de Cepaea nemoralis na Lapa dos Furos, ca. de 40 Ka calBP. A partir de 36 Ka calBP as condições climáticas parecem modificar-se progressivamente no sentido do arrefecimento: a cabra montês reaparece nas cadeias montanhosas atlânticas de baixa altitude (Gruta Nova da Columbeira e Gruta da Figueira Brava); o arrefecimento climático, corresponde a condições um pouco mais frias que as existentes actualmente na zona, mas comparáveis às do litoral cantábrico, é comprovado pelo conjunto de indicadores disponíveis na Gruta da Figueira Brava, o mais completo até ao presente reunido. Mas a presença, até ca. 34-31 Ka calBP, na Gruta Nova da Columbeira, da tartaruga terrestre, espécie ali abundante, que requeria temperaturas da ordem dos 20 a 30 graus centígrados ao longo do Verão, para a incubação dos ovos, indica que o arrefecimento clumático não poderia ter sido muito acentuado. Por outro lado, a microfauna do Nível K da gruta do Caldeirão, com Allocricetus bursae, demonstra a progressão até ao ocidente peninsular das condições estépicas cerca de 35 Ka calBP. Tais condições prevaleciam aquando do surgimento na região, talvez ca. 35-34 Ka calBP, das primeiras indústrias do Paleolítico Superior, pertencentes já a um estádio evoluído do Aurignacense. É neste quadro paleoclimático particular ao ocidente e sudoeste peninsular que se devem entender sobrevivências tardias de certas espécies, como o elefante antigo, presente na Foz do Enxarrique cerca de 33,6 Ka calBP o qual, oferecendo condições geográficas favoráveis, favoreceu também a tardia presença dos últimos Neandertais e, com eles, do Mustierense Final no território português.Considering the available data, the Mousterian period is the only techno-complex from the Middle Paleolithic identified and characterized in Portugal. However, some of the sites referred in this work should be simply attributed to the Middle Paleolithic due to the lack of detailed elements. The site of Vale do Forno 8 probably represents the transition between the final Upper Paleolithic and the early Middle Paleolithic. The open-air sites such as the ones in the outskirts of Lisbon and on the left margin of the Tagus estuary, where vestiges are extremely abundant and the permanence for long periods correspond to sites of residential character. None of these sites were subject to extensive excavations in order to confirm this type of settlement and further knowledge of the social organization of the inhabited spaces. Other open-air sites located in fluvial terraces present smaller areas of occupation and were probably related to game activities, maybe seasonal in nature. This was the case of Santo Antão do Tojal, were elephants and horses were eventually captured, of Foz do Enxarrique were red deer was almost exclusive and of Vilas Ruivas, were faunal remains were not preserved but remains of wind-breaks or hunting blind structures were found associated with fireplaces and post-holes. Fireplaces were also found in Gruta da Buraca Escura and on the open-air site of Santa Cita. Caves such as Gruta da Oliveira and the Gruta Nova da Columbeira show long stratigraphic sequences and prolonged settlements, of residential type, though a few other caves also show temporary settlements related to game activities or the exploitation of geological resources. In most cases, there is an alternance of the cave occupation by humans and large carnivores. Food subsistence of humans was non-specialized, capturing large, mid and also small preys such as the rabbit, an abundant endemic species. The terrestrial turtle was also captured, especially in Gruta Nova da Columbeira. Aquatic resources were a significative part of the food supply in caves close to the coast such as Ibn Amar over the Arade estuary and Gruta da Figueira Brava, over the sea, where a lot of different species of mollucs, crustaceans and sea mammals such as seal and dolphin were present. In the caves some few kilometers from the coast, like Gruta Nova da Columbeira, recollection or fishing activities were not present. It means that the resource exploitation areas around the settlements were small. The same reasoning is applicable to the geological resources, in which the raw materials such as quartz, quartzite and flint were used in quantities according to their availability in the surrounding cave area, never more than in a 10 km around the settlements. In some cases e.g. Gruta da Figueira Brava and Gruta do Escoural, filonean quartz was extensively used in spite of its bad quality because of its abundance in the cave surroundings. In Lisbon region, where the distance between sites did not surpasse 30 km, there is also a strong relationship between the types of materials used and their availability, indicating the opportunistic and local origin of the production, even if mobility was high within each the exploited area. From both technical and typological points of view, the Final Mousterian represented by the assemblages of Gruta da Oliveira, Gruta Nova da Columbeira and Gruta da Figueira Brava, showed no evidence of transition to the Upper Paleolithic but rather a “mousterianisation” of the lithic industry was observed. The food supplies used and the species captured reflected the paleoclimatic conditions that took place. The eldest materials dated Mousterian were collected in Gruta da Furninha, from ca. 80 Ka calBP, and are related to the stripped hyaena (Hyaena hyaena prisca), a species of warm climate coexisting with the warmwater species Patella safiana and Pectunculus bimaculatus which existed in the 5-8 m a.s.l. marine conglomerate level observed in Forte da Baralha, in the littoral of the Arrábida Ridge. Presently these species do not occur at latitudes higher than the Mediterranean or the Atlantic Moroccan coast. After the formation of the fossil deposits of Gruta da Furninha, the palaeoclimatic evolution is not known until ca. 45 Ka calBP, represented by the palaeontological sites of Vale de Janela in the Estremadura littoral and São Torpes in the Alentejo littoral. In both sites there were found species related to a cool and wet temperate climate, but Myrica also occurs, a termophilic genus. A climate cooler than the Mediterranean is in agreement with the presence of the mountain goat in the upper Mousterian levels of gruta da Oliveira dating before 43/42 Ka calBP. Afterwards, the climate became progressively warmer and Mediterranean-type: the mountain goat disappeared from Gruta da Oliveira and Mediterranean rodents are present in the Level 8 of that cave, dating from 38/37 Ka calBP, while Cepaea nemoralis appeared in Lapa dos Furos, dating from 40 Ka calBP. From 36 Ka calBP on, there was a climatic cooling and the mountain goat reappears in low altitude mountain ranges (Gruta Nova da Columbeira and Gruta da Figueira Brava). In fact, the weather conditions were probably cooler than in the present and comparable to those in the cantabrian region, as suggested by the findings in Gruta da Figueira Brava. But the presence of the land turtle, which was abundant in Gruta Nova da Columbeira (up to 34-31 Ka calBP) demands summer temperatures ca. 20-30 ºC for egg hatching. On the other hand, the microfauna from Level K in Gruta do Caldeirão, including Allocricetus bursae, shows how steppic conditions migrated to the western part of the Iberian Peninsula and prevailed when the first industries of the Upper Paleolithic occurred, an evolved phase of the Aurignacian, about probably 35-34 Ka calBP. Within this particular paleoclimatic framework of the western and southwestern parts of the Peninsula, it is possible to accept the survival of population remains of some species including the ancient elephant which is present in Foz do Enxarrique about 33.6 Ka calBP, and also the last Neanderthals and their Late Mousterian industry.Repositório AbertoCardoso, João Luís2014-06-04T11:15:28Z20062006-01-01T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/articleapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10400.2/3257engCardoso, João Luís - O complexo mustierense em Portugal [Em linha]. "Zephyrus". ISSN 0514-7336. 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description O Mustierense é o único tecno-complexo do Paleolítico Médio reconhecido e caracterizado em Portugal. Alguns dos conjuntos industriais referidos neste trabalho foram, contudo, incluídos na designação mais genérica de Paleolítico Médio, por falta de elementos de pormenor. As estações de ar livre referenciadas parecem corporizar, nuns casos, face à enorme quantidade de vestígios, estacionamentos intensivos e prolongados, de tipo residencial, favorecidos pela abundância de matérias-primais disponíveis. É o caso das estações dos arredores de Lisboa e das existentes na margem esquerda do estuário do Tejo. Nenhuma foi objecto de escavações em extensão, impossibilitando a confirmação desta situação, por um lado e, por outro, o conhecimento da organização interna do espaço habitado. Outras estações de ar livre, implantadas em terraços fluviais, ocupam áreas menores e configuram actividades cinegéticas especializadas, talvez de carácter sazonal: é o caso de Santo Antão do Tojal, onde provavelmente se capturou o elefante, da Foz do Enxarrique, especializada na caça ao veado e de Vilas Ruivas, onde os restos faunísticos não se conservaram. Naquela última estação, foram identificadas estruturas habitacionais, atribuídas a pára-ventos (wind-breaks), ou a tapumes de caça (hunting-blinds), associadas a lareiras e a possíveis buracos de poste; estes testemunhos juntam-se às lareiras identificadas na Gruta da Buraca Escura e no sítio de ar livre de Santa Cita. As grutas revelam por vezes estratigrafias extensas, denunciando permanências prolongadas e recorrentes, o que configura a situação de corresponderem a sítios de tipo residencial, sem prejuízo de também se conhecerem grutas com ocupações episódicas, relacionadas com actividades cinegéticas ou de exploração de recursos geológicos. A Gruta da Oliveira e a Gruta Nova da Columbeira estão no primeiro caso. Evidencia-se a alternância da sua ocupação por carnívoros e pelo homem. A variedade dos recursos cinegéticos identificados mostra uma economia de subsistência não especializada, capturando-se presas de grande, médio e pequeno porte. Entre as últimas encontra-se o coelho, espécie endémica, então muito abundante, cuja caça era acompanhada pela da tartaruga terrestre, a qual atinge expressão significativa na Gruta Nova da Columbeira. Os recursos aquáticos constituíam parte significativa da dieta em grutas próximo do litoral, como a Gruta de Ibn Amar, sobre o estuário actual do rio Arade e a Gruta da Figueira Brava. Nesta última, a importância desse contributo alimentar é evidenciada pela diversidade e abundância das espécies de moluscos identificados, acompanhados de crustáceos e até de mamíferos marinhos, como a foca e o golfinho. O facto de a componente de pesca e recolecção não se ter reconhecido em grutas fora da linha de costa actual evidencia a área relativamente limitada de captação de recursos inerente a cada gruta, sem prejuízo de os seus habitantes, dentro dos respectivos territórios, conhecerem um alto grau de mobilidade, o qual é sublinhado pela diversidade de recursos explorados. Esta situação também se aplica à utilização dos recursos geológicos. Com efeito, nota-se que as matérias-primas mais utilizadas, são o quartzo, o quartzito e o sílex, em percentagens variáveis consoante a sua própria disponibilidade na envolvência imediata das grutas, não ultrapassando um raio superior a 10 km. Noutros casos, como na Gruta da Figueira Brava e na Gruta do Escoural, observou-se uma incidência muito forte na utilização do quartzo filoneano, apesar da sua má qualidade, em virtude de ser a rocha disponível no território adjacente. Do ponto de vista tecnológico e tipológico, os três conjuntos reconhecidamente datados do Mustierense Final do território português mais importantes: Gruta da Oliveira; Gruta Nova da Columbeira e Gruta da Figueira Brava, não evidenciam qualquer indício de evolução para indústrias do Paleolítico Superior notando-se, ao contrário, um reforço das suas características mustierenses. Os mais antigos materiais mustierenses estratigrafados provêm da Gruta da Furninha, datados de ca. 80 Ka calBP, encontrando-se associados a hiena raiada (Hyaena hyaena prisca). Trata-se de espécie de clima quente, já então uma relíquia a nível europeu, compatível com a ocorrência, no cordão conglomerático formado ao longo do litoral da serra da Arrábida a 5-8 m de altitude, contemporâneo daquele depósito, de Patella safiana, espécie de águas quentes, que actualmente não ultrapassa a latitude do litoral atlântico marroquino, acompanhada de Pectunculus bimaculatus, de distribuição mediterrânea. Desconhece-se a evolução paleoclimática entre a época de formação do depósito fossilífero da Furninha e cerca de 45 Ka calBP. Tal é a cronologia obtida pelo radiocarbono para as jazidas de interesse paleontológico de Vale de Janela, no litoral da Estremadura e de São Torpes, no litoral alentejano. Apesar de existirem em ambas as jazidas espécies de clima temperado mais fresco e húmido que o mediterrânico, é de salientar a manutenção do género Myrica, de características termófilas. Com efeito, a tendência para um clima temperado fresco é compatível, para a referida época, com a presença de cabra montês nos níveis mustierenses inferiores da Gruta da Oliveira, anteriores a 43/42 Ka calBP. A partir desta época o clima parece tormar-se progressivamente mais quente, assumindo características mediterrâneas: tal é indicado pelo desaparecimento da cabra montês na Gruta da Oliveira, acompanhada (Nível 8) de associação de roedores de características mediterrâneas datada de ca. 38/37 Ka calBP, compatível com a presença de Cepaea nemoralis na Lapa dos Furos, ca. de 40 Ka calBP. 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Por outro lado, a microfauna do Nível K da gruta do Caldeirão, com Allocricetus bursae, demonstra a progressão até ao ocidente peninsular das condições estépicas cerca de 35 Ka calBP. Tais condições prevaleciam aquando do surgimento na região, talvez ca. 35-34 Ka calBP, das primeiras indústrias do Paleolítico Superior, pertencentes já a um estádio evoluído do Aurignacense. É neste quadro paleoclimático particular ao ocidente e sudoeste peninsular que se devem entender sobrevivências tardias de certas espécies, como o elefante antigo, presente na Foz do Enxarrique cerca de 33,6 Ka calBP o qual, oferecendo condições geográficas favoráveis, favoreceu também a tardia presença dos últimos Neandertais e, com eles, do Mustierense Final no território português.
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