O limiar da tradição no moçarabismo conimbricense : os Anais de Lorvão e a memória monástica do território de fronteira (Séc. IX-XII)

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Gouveia, Mário Nuno Campos de
Data de Publicação: 2008
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10362/115840
Resumo: A presente Dissertação tem como objectivo o estudo dos processos de construção memorialística sobre a fronteira ocidental, a Sul do Minho, do reino de Astúrias-Leão na Alta Idade Média. O seu principal objecto de análise é um texto de tipologia analística fixado no mosteiro de S. Mamede de Lorvão, em 1118, no abaciado de Eusébio, num contexto de oposição do colectivo religioso à reforma litúrgica romana difundida com o apoio da monarquia, no quadro do concílio de Burgos, e de uma provável resistência da comunidade moçárabe conimbricense à difusão da ideologia apostólica compostelana. Para a análise das concepções subjacentes à obra em epígrafe concorrem não só os textos de análoga tipologia fixados em St.º Tirso de Riba de Ave, S. Salvador de Grijó e St.ª Cruz de Coimbra, entre 1079 e 1169, sob condicionalismos que nos permitem individualizá-los da produção memorialística laurbanense; mas também os actos da prática reunidos no Livro dos testamentos, códice em cujo fólio de guarda se escreveram os anais de Lorvão e onde se encontram hoje compilados, sob a forma de cópias, os diplomas que a comunidade produziu entre os séculos X e XII, atestando os direitos, privilégios e garantias que foi adquirindo, sobretudo por doação régia e condal, num quadro de desenvolvimento proporcionado pelo despoletar da crise da monarquia leonesa. O processo de fixação da memória monástica é analisado à luz das formas de composição e estruturação do discurso, postas em evidência através do levantamento crítico comparado das categorias narrativas que dão forma à analística portucalense no seu conjunto. As conjunturas e as estruturas que assistiram à fixação dos anais de Lorvão, na sua relação com a acção de dois dos mais significativos patronos da comunidade monástica, Hermenegildo Guterres, presor e conde de Coimbra, e Gonçalo Moniz, seu principal benfeitor, são também alvo de especial atenção, na medida em que nos permitem compreender o processo de formação e consolidação do domínio monástico. De uma forma global, as seis efemérides que configuram o texto, quando associadas a uma listagem contendo os nomes dos três reis leoneses com os quais o colectivo religioso manteve contactos institucionais desde a sua fundação, tal como com outra alusiva aos dez abades que governaram a comunidade naquela diacronia, permitem-nos compreender a formação de um imaginário monástico em que o passado é visto como tempo de afirmação de um ideal a recuperar e salvaguardar num contexto presente de crise. A revitalização do passado distante permite à comunidade recordar-se de um tempo em que reino e fronteira, simbolicamente representados pela monarquia asturiano-leonesa, por um lado, e pelos fundadores das famílias condais conimbricense e portucalense, por outro, são duas realidades cooperantes, proporcionando-lhe a recriação de um ideal assente sobre ritos comemorativos dos momentos de ordenação ou morte dos respectivos abades, vistos como factor de coesão e identificação comunitárias.
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