Desvantagem sociocultural e a adaptação escolar de populações étnicas minoritárias em contextos multiculturais

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Ferreira, Antonio Jorge Saraiva
Data de Publicação: 1998
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10400.12/513
Resumo: Dissertação de Mestrado em Psicologia Educacional
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spelling Desvantagem sociocultural e a adaptação escolar de populações étnicas minoritárias em contextos multiculturaisDissertação de Mestrado em Psicologia EducacionalAs sociedades modernas que caracterizam o espaço europeu em que coexistimos têm sofrido um processo de multiculturalização crescente que está subjacente a um conjunto de fenómenos mais ou menos identificáveis. Neles, podemos destacar os movimentos migratórios (internos e externos) e a acentuada influência dos meios de comunicação. Esta realidade associada à complexificação do tecido social e à permanente mudança social traduz-se na formação de um ambiente caracterizado por referências cada vez mais plurais que trazem novas dificuldades na construção da identidade. Esta problemática, pode ser constatada em alguns dos estigmas que afectam estas sociedades como sejam o da violência, o racismo e/ou a xenofobia; o aumento dos níveis de pobreza e exclusão social, etc Parece que a Humanidade chegou a um momento da sua História em que se afigura necessário uma reconstrução social cujos alicerces devem ser constituídos por um novo quadro de valores onde a tolerância e a solidariedade têm um papel fundamental. Para que tal mudança seja exequível torna-se absolutamente necessário uma transformação profunda da Educação enquanto mecanismo formador das consciências individuais e sociais. Nesta linha de pensamento a Educação Intercultural pode constituir um modelo organizador de tais objectivos. Estamos a referir-nos a uma educação capaz de integrar a diversidade de referências que fazem parte da(s) cultura(s) das populações que acedem à escola, de promover a formação de um conjunto de (novas) competências necessárias à afirmação pessoal e social de cada indivíduo, preferencialmente organizadas em torno de uma matriz atitudinal que desenvolva o sentido da justiça e da democracia e do respeito pela diferença. Trata-se de um modelo educativo que pode III trazer benefícios para todas as crianças e jovens que, obrigatoriamente, deve ter uma preocupação particular com os indivíduos provenientes de grupos socioculturais desfavorecidos. Sabe-se que eles constituem a fatia mais gorda do insucesso e abandono escolar ao qual, frequentemente, surge ligado a exclusão social com todas as consequências negativas que daí advêm. Nestes grupos, integram-se com particular acuidade as minorias étnicas que são alvo de sucessivas experiências de desvantagem. Como refere Díaz-Aguado (1993b), a desvantagem socio-económica é frequentemente associada da vivência de complexos e subtis processos de discriminação por parte da escola. Estes, consubstanciam-se na marginalização das referências históricas e culturais destes grupos nos curricula, assim como nos processos interactivos que mantêm com os professores, (a existência de tratamentos diferenciais derivados dos processos de comunicação de expectativas), e com os colegas (a existência de fenómenos de discriminação atitudinal de natureza assimétrica). Em suma, a filosofia institucional que orienta a escola actualmente continua a ser essencialmente apoiada na cultura dominante, o que cria dificuldades aos indivíduos socializados em meios culturais relativamente distantes daquele que a escola privilegia. Neste sentido, importa analisar se a pertença a grupos socioculturalmente desfavorecidos faz aumentar a dificuldade de adaptação ao sistema escolar? Esta interrogação constitui o problema deste trabalho que foi traduzido em duas questões de investigação: a) analisar as diferenças entre os sujeitos provenientes dos dois grupos étnicos relativamente a algumas variáveis que consideramos determinantes para a adaptação escolar traduzidas nos seguintes indicadores: 1) atitude face à aprendizagem; 2) e o auto-conceito intelectual, b) analisar a relação existente entre o preconceito suscitado pelo contacto entre grupos de estatuto cultural diferenciado e a adaptação ao sistema escolar pelo que iremos avaliar os seguintes aspectos: 1) as atitudes interétnicas (nas suas componentes cognitiva, avaliativa e comportamental); 2) o grau de identificação com o grupo étnico de pertença; 3) e o estatuto sociométrico. Para a concretização desta investigação de carácter exploratório foi seleccionada uma amostra, proveniente de uma escola do 1o ciclo do ensino básico cuja população era etnicamente heterogénea, da qual faziam parte 54 sujeitos caucasianos (portugueses de ascendência portuguesa e aparência física caucasóide) e 35 africanos (indivíduos nascidos em África ou de ascendência africana e com características físicas negróídes), num total de 89 sujeitos. De forma a serem analisadas as questões de investigação formuladas foram utilizados os seguintes instrumentos: Escala de Percepção e Atitudes face à Escola, Escala de Auto-Conceito, Escalas de Atitudes Étnicas (componente cognitiva e comportamental), Escala de Identidade Étnica e Instrumentos Sociométricos (Métododas Nomeações e Método das Pontuações). Os resultados verificados permitiram destacar os seguintes aspectos: relativamente à maior dificuldade de adaptação escolar dos sujeitos do grupo minoritário, (1a questão de investigação), verificou-se que os indivíduos de ambos os grupos étnicos apresentaram uma disposição psicológica positiva face à escola. Contudo, ela era menos favorável no grupo étnico minoritário. Apenas na atitude face à aprendizagem (MOTAPR) e nas dimensões popularidade (PHPOP) e satisfação/felicidade (PHSAT) se verificaram diferenças significativas relacionadas com a dimensão étnica. Quanto à relação entre a desvantagem sociocultural e o sistema escolar, (2a questão de investigação), podemos afirmar que, ao nível das atitudes interétnicas, para além de não se terem verificado diferenças significativas entre os grupos, os resultados apresentam uma natureza contrastante - os caucasianos evidenciam uma maior capacidade para superar o preconceito na dimensão cognitiva e avaliativa, o que se verifica com os africanos na dimensão comportamental. Apenas no estatuto sociométrico foi possível encontrar algumas diferenças significativas, nomeadamente: 1) na preferência em trabalhar com sujeitos do próprio ou do outro grupo (PREF2), embora ambos os grupos evidenciassem uma preferência claramente superior em trabalhar com sujeitos de ambos os grupos étnicos; 2) e nas eleições de companheiros, variável onde os caucasianos apresentaram uma tendência mais alta que os africanos para escolherem sujeitos do próprio grupo. A discussão destes resultados permitiu sintetizar as seguintes ideias: a inexistência de dificuldades significativas na adaptação ao sistema escolar do grupo étnico minoritário parece ser suportada por dois vectores fundamentais. O primeiro é configurado num meio ambiente caracterizado por uma grande proximidade no nível socio-económico dos dois grupos étnicos que o constituem o que permite uma coexistência tolerante e não promotora de vivências de desvantagem por parte das minorias. O segundo está relacionado com o trabalho desenvolvido na escola que parece induzir uma formação atitudinal positiva nas crianças de ambos os grupos, assim como, favorece a integração escolar dos sujeitos do grupos minoritário. As diferenças encontradas na motivação pelas tarefas de aprendizagem podem estar relacionadas com as discrepâncias culturais VI entre a escola e a população africana que nesta questão, não estariam tão defendidas pelas vivências acima referidas como no caso das outras dimensões das atitudes face à escola. Nas atitudes interétnicas também não se verificaram diferenças significativas ainda que, através da maior dificuldade em superar o preconceito nas situações que envolvem interacção comportamental e das diferenças encontradas nas escolhas sociométricas, pode-se constatar alguma assimetria na relação atitudinal entre os dois grupos étnicos. Estas evidências estão conformes aos pressupostos que afirmam a existência de processos de discriminação nos grupos de pares que afectam a integração das populações minoritárias. Embora estes resultados mostrem a possibilidade de ser realizado um trabalho produtivo em contextos educativos multiculturais não devemos cair numa conclusão fácil sobre a inexistência de desvantagens reais na integração dos grupos étnicos minoritários na vida escolar. Neste sentido, a Psicologia e a Educação têm a obrigação de dar um contributo importante para a superação desta problemática.Instituto Superior de Psicologia AplicadaSantos, António JoséRepositório do ISPAFerreira, Antonio Jorge Saraiva2011-05-07T12:40:16Z1998-01-01T00:00:00Z1998-01-01T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10400.12/513porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2022-09-05T16:36:39Zoai:repositorio.ispa.pt:10400.12/513Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T15:18:38.243895Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
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