Da palavra polida : uma análise da linguagem poética de Lavoura arcaica de Raduan Nassar
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2018 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10451/38145 |
Resumo: | O presente trabalho propõe o estudo do cariz poético da linguagem do romance Lavoura arcaica, da autoria de Raduan Nassar, autor envolvido num enigmático manto, que terá optado por um isolamento no interior do Brasil paulista depois de publicar a sua breve, mas marcante obra, de cujo conjunto se destaca Lavoura arcaica. Passando por uma breve introdução, passamos em revista alguns dos seus dados biográficos mais marcantes, atentamos nalguns dos seus interesses e influências literárias mais significativas, e revemos alguns dos pontos fulcrais em que a crítica se debate, com especial enfoque na unânime constatação do intenso lirismo do romance. Posteriormente, resumimos a trama de Lavoura arcaica, ao mesmo tempo que apontamos aspectos que contribuem para a criação de polissémicos sentidos, para o regime de sugestão e ambiguidade instaurado no texto, que através de pistas e indícios preconiza, argutamente, o desenvolvimento da acção eminentemente trágica. Percebemos, a par da contemporaneidade de Lavoura arcaica, como se opera a diluição da fixidez de categorias narrativas, como tempo, espaço, narrador e personagens. Examinamos como estas categorias narrativas são destituídas de uma certa concretude, que os romances de matriz realista amiúde nos apresentavam, desfragmentando-se – neste que se afirma como romance contemporâneo –, em memórias do narrador e em consequentes avanços e recuos temporais, que instauram na diegese uma constante dubiedade sobre o relato de um narrador problemático. Estudamos, portanto, não só uma instabilidade em relação à validade do discurso mas também uma ambiência reflexiva que aproxima o romance de uma atmosfera poética. Seguidamente, atentamos no hibridismo discursivo, já que o texto bebe influências das parábolas bíblicas e corânicas, bem como da discursividade dos sermões. Através destes textos constatamos as diversas influências culturais e religiosas da obra nassariana em questão, e tentamos averiguar uma dimensão poética da linguagem, rica em recursos estilísticos que ajudam a compor quer uma dimensão oral quer imagética dos discursos outorgados a André e Iohána, os quais entram em choque, naquela que se revela uma hábil luta retórica entre ambos.Finalmente, detemo-nos numa das singularidades do poético, o tratamento da metáfora como inovação semântica, isto é, como “a pedra de toque do valor cognitivo das obras literárias” (Ricoeur, 1987: 5). Por outras palavras, vemos na metáfora um recurso estilístico que potencia a criação de um universo semântico mais amplo e complexo, alargando as fronteiras dos significados instituídos pela linguagem comummente usada, permitindo dizer o novo. Como exemplo dessa renovação de temas pela linguagem, atentamos brevemente no tratamento da sexualidade mórbida e transgressora de André, por meio dessa linguagem poética: eminentemente metafórica, capaz de deixar latentes significados quer ambíguos quer contraditórios, e, portanto, apta à expressão dos comportamentos diabólicos e marginais de André. |
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Posteriormente, resumimos a trama de Lavoura arcaica, ao mesmo tempo que apontamos aspectos que contribuem para a criação de polissémicos sentidos, para o regime de sugestão e ambiguidade instaurado no texto, que através de pistas e indícios preconiza, argutamente, o desenvolvimento da acção eminentemente trágica. Percebemos, a par da contemporaneidade de Lavoura arcaica, como se opera a diluição da fixidez de categorias narrativas, como tempo, espaço, narrador e personagens. Examinamos como estas categorias narrativas são destituídas de uma certa concretude, que os romances de matriz realista amiúde nos apresentavam, desfragmentando-se – neste que se afirma como romance contemporâneo –, em memórias do narrador e em consequentes avanços e recuos temporais, que instauram na diegese uma constante dubiedade sobre o relato de um narrador problemático. Estudamos, portanto, não só uma instabilidade em relação à validade do discurso mas também uma ambiência reflexiva que aproxima o romance de uma atmosfera poética. Seguidamente, atentamos no hibridismo discursivo, já que o texto bebe influências das parábolas bíblicas e corânicas, bem como da discursividade dos sermões. Através destes textos constatamos as diversas influências culturais e religiosas da obra nassariana em questão, e tentamos averiguar uma dimensão poética da linguagem, rica em recursos estilísticos que ajudam a compor quer uma dimensão oral quer imagética dos discursos outorgados a André e Iohána, os quais entram em choque, naquela que se revela uma hábil luta retórica entre ambos.Finalmente, detemo-nos numa das singularidades do poético, o tratamento da metáfora como inovação semântica, isto é, como “a pedra de toque do valor cognitivo das obras literárias” (Ricoeur, 1987: 5). Por outras palavras, vemos na metáfora um recurso estilístico que potencia a criação de um universo semântico mais amplo e complexo, alargando as fronteiras dos significados instituídos pela linguagem comummente usada, permitindo dizer o novo. Como exemplo dessa renovação de temas pela linguagem, atentamos brevemente no tratamento da sexualidade mórbida e transgressora de André, por meio dessa linguagem poética: eminentemente metafórica, capaz de deixar latentes significados quer ambíguos quer contraditórios, e, portanto, apta à expressão dos comportamentos diabólicos e marginais de André.The present dissertation aims to study and analyse the poetical language of the novel Lavoura arcaica, by Raduan Nassar, an enigmatic author who, after publishing his brief but important work – from which Lavoura arcaica stands apart –, chose an isolated life in Brazil’s countryside. In a brief introduction to the author, we will review his interests, main literary influences and some of the key points debated by the critics, which unanimously confirm the novel’s intense poeticism. Afterwards we will resume the plot while also noting the aspects that contribute to the creation of polysemic meanings, to the suggestion and ambiguity atmosphere present in the text, which by using clues and evidences shrewdly advocates the development of the action. Paired with the contemporaneity of Lavoura arcaica, we will study the dilution of the narrative categories, like space, time, narrator, characters – which, without a certain objectivity, fade in the narrator’s memories and consequent temporal advances and setbacks that create in the narration a constant doubt regarding what is the reality and what is being told. It is created, therefore, a reflexive ambience that establishes a poetic atmosphere in the novel. Following, we will look into the discourse’s cross-genre, since the novel is influenced by biblical and koranic parables and by sermons. Through these texts we identify an oral and imagery dimension, hence poetic, that is granted to the novel. Finally, we detain on one of the poetic singularities, the treatment of the metaphor as a semantic innovation, as new information that needs to be expressed in a new language, which surpasses the meanings instituted by the common language. In this way, we briefly review the treatment of the morbid and transgressing sexuality of André, expressed by a poetical language: eminently metaphoric and able to let latent ambiguous and paradoxical meanings.Alva, Martínez TeixeiroRepositório da Universidade de LisboaAlves, Elsa2019-05-13T13:07:52Z2018-11-192018-08-302018-11-19T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10451/38145TID:202052877porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2023-11-08T16:35:42Zoai:repositorio.ul.pt:10451/38145Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T21:52:02.802049Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse |
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O presente trabalho propõe o estudo do cariz poético da linguagem do romance Lavoura arcaica, da autoria de Raduan Nassar, autor envolvido num enigmático manto, que terá optado por um isolamento no interior do Brasil paulista depois de publicar a sua breve, mas marcante obra, de cujo conjunto se destaca Lavoura arcaica. Passando por uma breve introdução, passamos em revista alguns dos seus dados biográficos mais marcantes, atentamos nalguns dos seus interesses e influências literárias mais significativas, e revemos alguns dos pontos fulcrais em que a crítica se debate, com especial enfoque na unânime constatação do intenso lirismo do romance. Posteriormente, resumimos a trama de Lavoura arcaica, ao mesmo tempo que apontamos aspectos que contribuem para a criação de polissémicos sentidos, para o regime de sugestão e ambiguidade instaurado no texto, que através de pistas e indícios preconiza, argutamente, o desenvolvimento da acção eminentemente trágica. Percebemos, a par da contemporaneidade de Lavoura arcaica, como se opera a diluição da fixidez de categorias narrativas, como tempo, espaço, narrador e personagens. Examinamos como estas categorias narrativas são destituídas de uma certa concretude, que os romances de matriz realista amiúde nos apresentavam, desfragmentando-se – neste que se afirma como romance contemporâneo –, em memórias do narrador e em consequentes avanços e recuos temporais, que instauram na diegese uma constante dubiedade sobre o relato de um narrador problemático. Estudamos, portanto, não só uma instabilidade em relação à validade do discurso mas também uma ambiência reflexiva que aproxima o romance de uma atmosfera poética. Seguidamente, atentamos no hibridismo discursivo, já que o texto bebe influências das parábolas bíblicas e corânicas, bem como da discursividade dos sermões. Através destes textos constatamos as diversas influências culturais e religiosas da obra nassariana em questão, e tentamos averiguar uma dimensão poética da linguagem, rica em recursos estilísticos que ajudam a compor quer uma dimensão oral quer imagética dos discursos outorgados a André e Iohána, os quais entram em choque, naquela que se revela uma hábil luta retórica entre ambos.Finalmente, detemo-nos numa das singularidades do poético, o tratamento da metáfora como inovação semântica, isto é, como “a pedra de toque do valor cognitivo das obras literárias” (Ricoeur, 1987: 5). Por outras palavras, vemos na metáfora um recurso estilístico que potencia a criação de um universo semântico mais amplo e complexo, alargando as fronteiras dos significados instituídos pela linguagem comummente usada, permitindo dizer o novo. Como exemplo dessa renovação de temas pela linguagem, atentamos brevemente no tratamento da sexualidade mórbida e transgressora de André, por meio dessa linguagem poética: eminentemente metafórica, capaz de deixar latentes significados quer ambíguos quer contraditórios, e, portanto, apta à expressão dos comportamentos diabólicos e marginais de André. |
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