Alienação e pensamento político em António José Saraiva

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Ramalho, Tiago Rego
Data de Publicação: 2015
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10362/18321
Resumo: A personalidade aqui em apreço - António José Saraiva - é sistematicamente conotada a um percurso intelectual e profissional que, embora seja de exaltar, não reflete todo o manancial da sua obra. Assim sendo, e não nos restringindo aos seus lugares de historiador da cultura ou de destacado militante do partido comunista português, pretendemos refletir sobre as dinâmicas do seu pensamento após a rutura com o «marxismo oficial». A década de 1960 afigura-se como um marco histórico, no sentido de estabelecermos um diálogo com as reflexões e as disposições teóricas desse período transato, e a fim de reconhecermos as devidas continuidades e ruturas do seu pensamento. Consideremos então o primeiro desígnio deste trabalho: descortinar em Saraiva um conjunto de variações e de elementos que formulam, de algum modo, a suas preocupações com o imaginário político, em contraste com as visões estáticas e recorrentes da sua obra. Deste modo, no quadro da história das ideias, pretende-se refletir em torno de determinados princípios, conceitos e debates por forma a sintetizarmos a existência de um pensamento político em Saraiva. Como tal, a precipitação de maio de 68, experienciado presencialmente e retratado pelo próprio em devido opúsculo, materializa, por um lado, um momento de transição nas ideias do autor e, por outro lado, constitui o exemplo paradigmático de um escritor sensibilizado pela discussão de ideias políticas. Maio e a Crise da Civilização Burguesa é esse espaço renovado onde continuidade e rutura se entrecruzam ao sustentarem a tese do autor. No intuito de apreendermos as conceções políticas de um pensador como Saraiva, a problemática da alienação assume-se como uma temática prevalente nas suas reflexões. Destarte, apreenderemos este fenómeno em três dimensões: na relação com o espaço, a conflitualidade dialética assume-se na relação entre campo e cidade, rural e urbano, centralização e descentralização ou entre nacionalismo e universalismo; numa dimensão temporal, a problemática enunciada transparece por via da comparação entre artesanato e máquina, tradição e modernização, progresso material e progresso espiritual, humanismo e hiper-consumismo ou cultura e tecnologia; por último, analisada sob a dimensão ontológica, a alienação permite-nos relacionar objetividade e subjetividade, ideia e matéria ou indivíduo e coletivo. A formulação da alienação em Saraiva, analisada e extraída em face de uma crise ou de uma subvalorização dos elementos identitários, resulta num extravasamento ou num desapossamento do ser humano. A alienação é assim um mal, uma degenerescência da humanidade, que oprime o espaço, constrange o tempo e deteriora a condição humana. Resultando numa opacidade para as relações humanas, o estado de alienação configura-se como uma restrição da autonomia individual. A problemática da alienação, e o próprio fetichismo que transborda para a sociedade, constituem-se como dois fatores presentes na crítica romântica que Saraiva dirige à estrutura do capitalismo internacional. Concludentemente, a necessidade de compreender, à luz de um romantismo revolucionário, as possibilidades alienantes perpetuadas pelas sociedades progressistas, constitui o âmago da presente investigação.
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A década de 1960 afigura-se como um marco histórico, no sentido de estabelecermos um diálogo com as reflexões e as disposições teóricas desse período transato, e a fim de reconhecermos as devidas continuidades e ruturas do seu pensamento. Consideremos então o primeiro desígnio deste trabalho: descortinar em Saraiva um conjunto de variações e de elementos que formulam, de algum modo, a suas preocupações com o imaginário político, em contraste com as visões estáticas e recorrentes da sua obra. Deste modo, no quadro da história das ideias, pretende-se refletir em torno de determinados princípios, conceitos e debates por forma a sintetizarmos a existência de um pensamento político em Saraiva. Como tal, a precipitação de maio de 68, experienciado presencialmente e retratado pelo próprio em devido opúsculo, materializa, por um lado, um momento de transição nas ideias do autor e, por outro lado, constitui o exemplo paradigmático de um escritor sensibilizado pela discussão de ideias políticas. Maio e a Crise da Civilização Burguesa é esse espaço renovado onde continuidade e rutura se entrecruzam ao sustentarem a tese do autor. No intuito de apreendermos as conceções políticas de um pensador como Saraiva, a problemática da alienação assume-se como uma temática prevalente nas suas reflexões. Destarte, apreenderemos este fenómeno em três dimensões: na relação com o espaço, a conflitualidade dialética assume-se na relação entre campo e cidade, rural e urbano, centralização e descentralização ou entre nacionalismo e universalismo; numa dimensão temporal, a problemática enunciada transparece por via da comparação entre artesanato e máquina, tradição e modernização, progresso material e progresso espiritual, humanismo e hiper-consumismo ou cultura e tecnologia; por último, analisada sob a dimensão ontológica, a alienação permite-nos relacionar objetividade e subjetividade, ideia e matéria ou indivíduo e coletivo. A formulação da alienação em Saraiva, analisada e extraída em face de uma crise ou de uma subvalorização dos elementos identitários, resulta num extravasamento ou num desapossamento do ser humano. A alienação é assim um mal, uma degenerescência da humanidade, que oprime o espaço, constrange o tempo e deteriora a condição humana. Resultando numa opacidade para as relações humanas, o estado de alienação configura-se como uma restrição da autonomia individual. A problemática da alienação, e o próprio fetichismo que transborda para a sociedade, constituem-se como dois fatores presentes na crítica romântica que Saraiva dirige à estrutura do capitalismo internacional. Concludentemente, a necessidade de compreender, à luz de um romantismo revolucionário, as possibilidades alienantes perpetuadas pelas sociedades progressistas, constitui o âmago da presente investigação.The personality here presented – António José Saraiva – systematically connotes an intellectual and professional path that, although worth emphasizing, doesn’t comprise the entire source of his work. Therefore, by not restricting to his roles of cultural critic or distinguished Portuguese Communist Party militant, we intend to reflect on the dynamics of his thought after the break with “official Marxism”. The 1960s is regarded as a historic mark, for we seek to establish a dialog with the reflections and theoretical dispositions of that period, in order to recognize the continuities and the ruptures of his thought. Therefore, we shall then consider the first purpose of this work: to decode in Saraiva’s work, a set of variations and elements that somehow formulate his preoccupations with the political imaginary, in contrast to the static and recurring visions of his work. This way, in the framework of the history of ideas, we intend to reflect on certain principles, concepts and debates, so that we synthetize the existence of a political thought in his work. As such, the occurrence of May 1968, which the author witnessed and portrayed in a given opuscule, materializes on the one hand, a moment of transition in his ideas and on the other hand poses a paradigmatic example of an author touched by the debate of political ideas. Maio e a Crise da Civilização Burguesa is that renovated space where continuity and rupture cross, supporting the author’s thesis. With a view to apprehend the political conceptions of a thinker like Saraiva, the problematics of alienation proves to be a prevailing theme in his reflections. Thus, we will apprehend this phenomenon considering three dimensions: in its relation with space, the dialectical conflict assumes itself in the relation between the countryside and the city, the rural and the urban, centralization and decentralization or between nationalism and universalism; in a temporal dimension, the enounced problematics is brought to light by the comparison between handicraft and machinery, tradition and modernization, material progress and spiritual progress, humanism and hyper consumerism or culture and technology; at last, analyzed from an ontological dimension, alienation allows us to relate objectivity to subjectivity, idea and matter or individual and collective. In the author’s work, the formulation of alienation, analyzed and extracted before a crisis or an undervaluation of identity elements, results in estrangement or deprivation of the human being. Alienation is an evil, a degeneration of humanity, which oppresses space, constrains time and deteriorates human condition. Resulting in an opacity for human relations, the state of alienation figures a restriction of individual autonomy. The problematics of alienation, and fetishism itself that overflows to society, are two present factors in the romantic critique addressed by Saraiva to the structure of international capitalism. In conclusion, the need to comprehend, in light of a revolutionary romanticism, the alienating possibilities perpetuated by progressive societies, represents the core of this investigation.Neves, José Manuel ViegasRUNRamalho, Tiago Rego2016-06-24T18:50:17Z2015-11-192015-11-19T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10362/18321TID:201024659porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2024-03-11T03:57:15Zoai:run.unl.pt:10362/18321Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-20T03:24:39.276813Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
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description A personalidade aqui em apreço - António José Saraiva - é sistematicamente conotada a um percurso intelectual e profissional que, embora seja de exaltar, não reflete todo o manancial da sua obra. Assim sendo, e não nos restringindo aos seus lugares de historiador da cultura ou de destacado militante do partido comunista português, pretendemos refletir sobre as dinâmicas do seu pensamento após a rutura com o «marxismo oficial». A década de 1960 afigura-se como um marco histórico, no sentido de estabelecermos um diálogo com as reflexões e as disposições teóricas desse período transato, e a fim de reconhecermos as devidas continuidades e ruturas do seu pensamento. Consideremos então o primeiro desígnio deste trabalho: descortinar em Saraiva um conjunto de variações e de elementos que formulam, de algum modo, a suas preocupações com o imaginário político, em contraste com as visões estáticas e recorrentes da sua obra. Deste modo, no quadro da história das ideias, pretende-se refletir em torno de determinados princípios, conceitos e debates por forma a sintetizarmos a existência de um pensamento político em Saraiva. Como tal, a precipitação de maio de 68, experienciado presencialmente e retratado pelo próprio em devido opúsculo, materializa, por um lado, um momento de transição nas ideias do autor e, por outro lado, constitui o exemplo paradigmático de um escritor sensibilizado pela discussão de ideias políticas. Maio e a Crise da Civilização Burguesa é esse espaço renovado onde continuidade e rutura se entrecruzam ao sustentarem a tese do autor. No intuito de apreendermos as conceções políticas de um pensador como Saraiva, a problemática da alienação assume-se como uma temática prevalente nas suas reflexões. Destarte, apreenderemos este fenómeno em três dimensões: na relação com o espaço, a conflitualidade dialética assume-se na relação entre campo e cidade, rural e urbano, centralização e descentralização ou entre nacionalismo e universalismo; numa dimensão temporal, a problemática enunciada transparece por via da comparação entre artesanato e máquina, tradição e modernização, progresso material e progresso espiritual, humanismo e hiper-consumismo ou cultura e tecnologia; por último, analisada sob a dimensão ontológica, a alienação permite-nos relacionar objetividade e subjetividade, ideia e matéria ou indivíduo e coletivo. A formulação da alienação em Saraiva, analisada e extraída em face de uma crise ou de uma subvalorização dos elementos identitários, resulta num extravasamento ou num desapossamento do ser humano. A alienação é assim um mal, uma degenerescência da humanidade, que oprime o espaço, constrange o tempo e deteriora a condição humana. Resultando numa opacidade para as relações humanas, o estado de alienação configura-se como uma restrição da autonomia individual. A problemática da alienação, e o próprio fetichismo que transborda para a sociedade, constituem-se como dois fatores presentes na crítica romântica que Saraiva dirige à estrutura do capitalismo internacional. Concludentemente, a necessidade de compreender, à luz de um romantismo revolucionário, as possibilidades alienantes perpetuadas pelas sociedades progressistas, constitui o âmago da presente investigação.
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