Aspects of naturalism in contemporary European narratives: En la Orilla by Rafael Chirbes and Sérotonine by Michel Houellebecq
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2021 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | eng |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10451/50551 |
Resumo: | This work explores how nineteenth-century naturalism remains relevant in contemporary European narratives. For this effect, my corpus is composed of two novels: Rafael Chirbes’ (1949- 2015) En la Orilla (2013) and Michel Houellebecq’s (b.1956) Sérotonine (2019). I will start by discussing what is understood as naturalist fiction and by contextualizing its historical and theoretical origins. The main goal of this study will be achieved through identifying the fundamental traits of nineteenth-century naturalism and then consider their elaboration in the novels mentioned above. Finally, in this context, I will approach the presence of the concept of the tragic in naturalist fiction and correlate it to its expression in both En la Orilla and Sérotonine. |
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Aspects of naturalism in contemporary European narratives: En la Orilla by Rafael Chirbes and Sérotonine by Michel HouellebecqDomínio/Área Científica::Humanidades::Línguas e LiteraturasThis work explores how nineteenth-century naturalism remains relevant in contemporary European narratives. For this effect, my corpus is composed of two novels: Rafael Chirbes’ (1949- 2015) En la Orilla (2013) and Michel Houellebecq’s (b.1956) Sérotonine (2019). I will start by discussing what is understood as naturalist fiction and by contextualizing its historical and theoretical origins. The main goal of this study will be achieved through identifying the fundamental traits of nineteenth-century naturalism and then consider their elaboration in the novels mentioned above. Finally, in this context, I will approach the presence of the concept of the tragic in naturalist fiction and correlate it to its expression in both En la Orilla and Sérotonine.Este trabalho pretende estabelecer uma ligação entre o naturalismo do século XIX e dois romances contemporâneos: En la Orilla (2013) de Rafael Chirbes (1949-2015), e Sérotonine (2019) de Michel Houellebecq (n.1956). O facto de estas obras serem provenientes de dois países diferentes, Espanha e França, pretende evidenciar a adaptabilidade do naturalismo a diferentes contextos nacionais, sociais e históricos. Neste sentido, apresentar-se-á uma análise comparada destas obras que ultrapassa o enquadramento na tradição naturalista específica a estes países. Importa sublinhar que não existe consenso em torno daquilo que define a literatura naturalista. Alguns autores não chegam a considerar o naturalismo um tipo de literatura (e de arte) distinto do realismo, outros consideram-no uma versão extrema, e outros ainda defendem a sua singularidade. Devido a esta pluralidade de acepções, a primeira parte do meu trabalho será dedicada à apresentação e justificação da base teórica que seguirei para compreender o conceito de “naturalismo literário”. Para além disso, irei também abordar o contexto em que a ficção naturalista surge no século XIX e apreciar de que maneira ela se enquadra em relação à tradição ocidental de mimese. No final do século XIX, França atravessou um período de prosperidade durante o qual tanto a ciência como a tecnologia apresentaram grandes desenvolvimentos. Assim, em termos culturais e artísticos, o movimento romântico, que prezava ideais estéticos e a exploração do exótico e do sentimental, foi perdendo relevância face ao realismo, que abordava problemas sociais. Mais tarde, descrevendo este desajuste entre o progresso da sociedade e o da literatura, Émile Zola (1840- 1902) apresenta uma outra alternativa literária: o naturalismo. Zola descreve o naturalismo como uma forma de criação de literatura que almeja estudar e compreender o ser humano com base nas circunstâncias da sua vida e os factores biológicos a que está submetido. A utilização do impacto destas forças naturais e sociais para fins narrativos estabelece a associação entre o naturalismo e uma visão determinista do mundo. Contudo, é relevante a incongruência entre os textos teóricos e as obras ficcionais que Zola publica. Como argumentado por autores como David Baguley, Pam Morris ou Christopher Laing Hill, qualquer definição de naturalismo não pode partir apenas da teoria proposta por Zola. Desta maneira, a proposta mais consensual entre os autores é a de que o naturalismo se deve definir através das obras ficcionais comumente consideradas naturalistas no século XIX. Assim, a obra de David Baguley Naturalist fiction: the entropic vision (1990), que terei como principal referência, parte do estudo pioneiro de Yves Chevrel Le Naturalisme (1982) e propõe uma caracterização temática do naturalismo. Partindo deste princípio, Baguley procede ao levantamento de características, principalmente temáticas mas também técnicas, comuns a textos que ele considera basilares para o naturalismo, como por exemplo Germinie Lacerteux (1864) dos irmãos Goncourt e Thérése Raquin (1867) de Zola. Por sua vez, é esta compreensão temática do naturalismo que permite considerar a presença de aspectos naturalistas em obras contemporâneas. O estudo de David Baguley demonstra que a ligação almejada pelos escritores naturalistas a uma visão científica do mundo teve implicações que ultrapassaram o optimismo associado à ideia de progresso alcançado através do conhecimento. Assim, as narrativas naturalistas do século XIX exploraram também a contradição entre a confiança no progresso e as fragilidades que este põe em evidência. Apesar do conhecimento e da ciência, o comportamento humano permanecia vulnerável à natureza. Na ficção naturalista, esta fragilidade exprimiu-se através de temas como a prevalência da doença e da decomposição, a incapacidade de negar a hereditariedade e a presença de um lado animalesco no ser humano que o torna propenso a ceder a impulsos e desejos. Após ter estabelecido a base teórica orientadora, passarei aos meus objectos de análise. Assim, na segunda parte apresentarei as ideias naturalistas centrais presentes nas obras de Chirbes e Houellebecq. Se em En la Orilla é mais evidente o peso da hereditariedade e a imposição da natureza, em Sérotonine prevalece o destaque do papel da ciência no evoluir da sociedade e a sua incapacidade de resolver e compreender os problemas do ser humano, levantando mais questões e descobrindo mais fragilidades do que aquelas que corrige. A acção de En la Orilla situa-se em Olba, uma cidade no sul de Espanha, durante 2010, período durante o qual Espanha enfrentava uma grave crise económica. A cidade de Olba está rodeada por um pântano associado ao crime e putrefacção e, para além disso, caracteriza-se por uma grande quantidade de obras embargadas que enfatizam o declínio de uma cidade outrora próspera. Assim, ao longo da obra a imagem da cidade reforça o sentimento de decadência que domina a narrativa. O romance tem vários narradores, sendo que o protagonista Esteban é o elo de ligação entre todos, directa ou indirectamente e, narra a maior parte da história. Esteban é um carpinteiro que, após assinar um contracto ruinoso com um empreiteiro que o leva à falência, vê como única solução o seu suicídio e o homicídio do pai, que já não é autónomo e que está a seu cargo. Neste contexto, a análise desta narrativa irá ao encontro de temas como a influência da hereditariedade e do meio social e natural na vida de Esteban, a relação de poder entre a natureza e a humanidade e a representação da mulher como um elemento de disrupção. O percorrer destes temas irá evidenciar a dificuldade de Esteban em precisar a razão do seu fracasso, dividindo-se entre culpabilizar-se a si, aos outros, ou às circunstâncias da sua vida. Esta incerteza expressa também aspectos do naturalismo discutidos pelos críticos Christopher Laing Hill e Ellen Maycock: por um lado, o conflito entre o livre-arbítrio e a persistente ignorância e vulnerabilidade perante as forças da natureza e, por outro lado, a abertura do determinismo à mudança social. Por sua vez, Sérotonine apresenta uma história narrada por Florent-Claude, um homem depressivo de meia-idade que começa a narrativa referindo-se ao comprimido anti-depressivo que toma todas as manhãs. O relato, in media res, incide sobre a sucessão de relações amorosas falhadas de Florent-Claude e é sempre feito num registo impessoal, directo e sucinto. É no mesmo tom que Florent-Claude menciona e descreve a situação económica de França e as consequências que as políticas da União Europeia têm no sector agro-pecuário francês, que mais tarde na narrativa se traduzem no romper de uma revolução violenta iniciada por agricultores do norte do país. Por fim, o protagonista sucumbe ao seu estado depressivo e cede à apatia, planeando o seu suicídio de uma forma calculada. Assim, os aspectos naturalistas que sobressaem em Sérotonine são a prevalência da doença, a exploração do papel da ciência e o retrato de uma classe trabalhadora em dificuldade. Se o anti-depressivo é capaz de neutralizar o desequilíbrio hormonal que provoca a depressão de Florent-Claude, também é incapaz de lhe conceder mais do que apatia. Da mesma maneira, a medicina no geral revela-se incapaz de compreender e remediar as fragilidades do ser humano. Esta incapacidade de a medicina compreender o ser humano, e de, numa última instância, superar a doença e a morte, expressa a inescapável força da natureza, que submete toda a matéria à decomposição. Assim, apesar das suas diferenças, ambas as obras apresentam a mesma visão de declínio da humanidade, caracterizada pelo confronto do ser humano com as suas fraquezas perante um meio social e natural que tenta controlar, mas não consegue dominar totalmente. Esta tensão entre o livre-arbítrio, a consciência e a capacidade racional do ser humano face ao poder da natureza possibilita a expressão do trágico. Apesar da mudança de paradigma face à época clássica, a presença da tragédia é possível e expressa-se através das dificuldades reveladas pelos avanços tecnológicos e as novas descobertas científicas. Assim, dedicarei a terceira parte do meu trabalho à defesa da ligação entre o trágico e o naturalismo, tal como mencionada por autores como David Baguley, Martin Esslin e Riikka Rossi. Contudo, estes autores não aprofundam o que entendem por trágico e por essa razão recorro ao estudo de José Pedro Serra, Pensar o trágico, que defende uma actualização do entendimento deste conceito. A sua análise favorece uma abordagem temática em detrimento de uma formal e está baseada na mudança da pergunta “O que é o trágico?” para “Como se expressa o trágico?” (Serra, 2018:13). Tendo isto em consideração, Serra analisa tragédias gregas largamente consideradas como tal, nomeadamente textos de Eurípides, Sófocles e Ésquilo, para estabelecer quatro categorias do trágico, ou seja, quatro temas através dos quais o trágico se expressa. Estas são: conflito, liberdade/necessidade, culpa e conhecimento/ignorância. Esta abordagem permitirá argumentar a favor da presença continuada do trágico na literatura ocidental até à contemporaneidade. Por fim, explico como estas abordagens temáticas às ideias de “trágico” e “naturalismo” permitem propor renovadas interpretações de obras contemporâneas, como os romances En la Orilla e SérotonineFernandes, ÂngelaRepositório da Universidade de LisboaSilva, Matilde Barrote2021-12-23T14:51:11Z2021-11-292021-09-092021-11-29T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10451/50551TID:202834093enginfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2023-11-08T16:54:48Zoai:repositorio.ul.pt:10451/50551Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T22:01:59.711813Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse |
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