A vida e a morte de recém nascidos em unidades de neonatologia: experiências das mães e dos profissionais de saúde

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Pinheiro, Maria José Fonseca
Data de Publicação: 1999
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10174/13388
Resumo: Introdução - O nascimento e a morte são dois acontecimentos sociais, que suscitaram desde sempre no homem curiosidade, preocupação, medo ou paixão. Assim, nos afastamos ou aproximamos do acto e do indivíduo que nasce ou morre, consoante a interpretação social e pessoal, evidente nos costumes, rituais, crenças e atitudes. A sabedoria antiga, que terá influenciado o pensar e viver do mundo ocidental, aconselha a reflectir tanto no nascimento como na morte. Salomão de acordo com o registo bíblico disse " Há tempo para nascer e tempo para morrer". Nascer e morrer são, pois, um processo universal que se alterou no seu significado e ritual ao longo dos séculos e singular em diferentes contextos socioculturais. Até ao século XX, mais precisamente nas décadas trinta a cinquenta, as mudanças foram lentas e mantiveram como principal actor deste processo o próprio moribundo, que morria no seu contexto habitacional rodeado da família e amigos e até mesmo da comunidade local. As alterações havidas até então, nunca provocaram mudanças de fundo, mantendo o local e os actores presentes e actuastes neste processo. Contudo, variaram alguns rituais e a forma de partilha de sentimentos no leito da morte, em função do seu significado, e da valorização social da exteriorização das emoções. Em meados do século XX, na Europa ocidental, ocorreu a ruptura de mentalidades que se caracterizou pela recusa da morte. De facto, essa atitude social pode ser assim descrita: "Em nosso tempo, passamos a esconder a morte, tornando o processo de adaptação à perda ainda mais difícil" (Walsh et al 1998:28). Vários factores terão contribuído para esta rápida mudança de valores e rituais face à morte. Até então, a mortalidade gerai e a infantil, em particular, era elevada em consequência das carências nutricíonais e de saneamento básico. Por isso os nossos antepassados vivenciaram um maior número de nascimentos, talvez para compensar as perdas, e cumpriam rituais relacionados com a morte com maior frequência, quer por falecimento de familiares, quer de membros da comunidade local. A continuidade destes comportamentos e atitudes pareciam estar garantidos com o processo de socialização da criança e o controlo social exercido nas comunidades rurais. De facto, a criança presenciava e participava em todos os acontecimentos comunitários aprendendo os comportamentos sociais. Mas as alterações socioeconómicas, tecnológicas, a descoberta dos antibióticos e a urbanização alteraram a vida e consequentemente as atitudes e valores relacionados com a morte. De facto, a melhoria da nutrição da criança e do adulto, o início das redes de saneamento básico e o uso de antibióticos, até então desconhecidos, contribuíram para acabar com as doenças que assolavam de tempos a tempos a Europa, e controlar as infecções na criança. Estas melhorias traduziram-se por um decréscimo dos valores das taxas de mortalidade geral e da infância e pelo aumento da esperança de vida (Scramber 1997). A redução da mortalidade precedeu a redução da natalidade. Também terá contribuído para alterar a relação da sociedade com a morte a emigração das zonas rurais para o litoral, onde se constituíram grandes centros populacionais constituídos por pessoas que se afastaram da sua rede de familiares e amizades e constituíram núcleos familiares de menor dimensão. Estes novos casais passam a viver o nascimento do filho e a morte de um familiar isolados da sua rede de suporte, sem ter quem os controle nos comportamentos sociais esperados. É na cidade que estes se diversificam e se alteram mais profundamente.
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