O Médico, o Doente Fumador e o Desafio dos Cigarros Eletrónicos

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Boléo-Tomé, JP
Data de Publicação: 2019
Outros Autores: Pamplona, P, Rosa, P, Cordeiro, C
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10400.10/2346
Resumo: Apesar dos esforços e das medidas de prevenção e controlo que vêm sendo adotadas desde a década de 80 do século passado, o tabagismo continua a ser, em Portugal e no mundo, um dos mais importantes fatores evitáveis de doença crónica e de mortalidade prematura. 1 A carga da doença atribuível ao tabaco em Portugal foi estimada por Borges et al 2 há mais de uma década. Nesse estudo 11,7% das mortes em Portugal foram atribuídas ao consumo de tabaco. Medida a carga da doença atra- vés dos anos de vida ajustados por incapacidade (disabi- lity adjusted life years — DALY) gerados pela mortalidade, a proporção da carga da doença atribuível ao tabaco foi de 11,2%. Baseados em dados disponíveis para Portugal, em 2005, os autores evidenciaram grande disparidade na análise de género, sendo o tabaco no homem responsável por 15,4% da carga da doença e 17,7% das mortes, e na mulher responsável por 4,9% da carga da doença e 5,2% das mortes. O estudo apresentava ainda estimativas sobre a carga da doença redutível, ou seja, a redução de mortali- dade e DALY que ocorreriam se os fumadores abandonas- sem o tabagismo e passassem a apresentar o risco médio das populações de ex-fumadores, caso em que a carga da doença se reduziria em 5,8% (7,8% dos homens e 2,8% das mulheres) e as mortes em 5,8% (8,5% dos homens e 2,9% das mulheres). Nos anos seguintes, muito foi feito em Portugal para melhorar o controlo do tabagismo. No entan- to, e apesar destes esforços, o consumo de tabaco é ainda crescente na mulher portuguesa 1 . Em 2007, a Direção-Geral de Saúde emitiu o Progra- ma-Tipo de Actuação em Cessação Tabágica 3 e em 2008, a Convenção-Quadro para o Controlo do Tabagismo da Organização Mundial de Saúde (OMS) propôs um conjunto de estratégias concertadas para ajudar os países a contro- lar a epidemia do tabaco e a reduzir o seu rasto mortífero. 4 O acrónimo MPOWER resume as seis políticas com mais impacto: M — Monitorizar a epidemia e as políticas de con- trolo; P — Proteger do fumo ambiental; O — Oferecer ajuda na cessação tabágica; W — (Warn) avisar sobre os male- fícios do tabaco; E — (Enforce bans) Impor a proibição da publicidade, promoção e patrocínio do tabaco; R — (Raise taxes) Aumentar os impostos sobre os produtos do taba- co. Estes pilares viriam a servir de referência para o Plano Nacional para a Prevenção e Controlo do Tabagismo (PNPCT) em Portugal, lançado em 2012. 5 Oferecer ajuda na cessação tabágica é uma das principais estratégias no controlo do tabagismo, mas as restantes medidas preconi- zadas pela OMS necessitam de implementação e desen- volvimento, para que o seu efeito sinérgico se faça sentir. Um enorme desafio surgiu, nos últimos anos, com o aparecimento de novos produtos de tabaco, entre os quais os cigarros electrónicos (CE), que podem colocar em cau- sa os esforços desenvolvidos nas últimas duas décadas. Em Portugal, este fenómeno é ainda menos expressivo do que o observado em muitos países, mas obriga o médico a estar bem informado sobre estes novos produtos e os seus riscos (já conhecidos ou potenciais). Apesar da população portuguesa ter aumentado a per- cepção de risco relacionado com estes produtos, 6 cerca de um terço da população europeia (29,1%) não sabe se são ou não prejudiciais. 6 Consequentemente, tem-se verificado um aumento crescente da sua experimentação e consumo diário, não só em Portugal 6 como na Europa em geral. 7 Habitualmente o médico não aborda o consumo de CE com o seu doente. Uma investigação recente 8 conclui que apenas uma minoria dos médicos o faz de acordo com as recomendações para a melhor prática da cessação tabági- ca. Um dos maiores problemas da ‘discussão sobre cigar- ros eletrónicos’ é o da ambivalência gerada pela incerteza e contradição da informação científica disponível.
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