Poéticas africanas
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2022 |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10437/12619 |
Resumo: | No âmbito dos trabalhos de preparação da Galeria de trovadores e jograis e segréis do Romanceiro em Língua Portuguesa, que o Museu da Autonomia apresentou em 2021, e que foi parcialmente publicado nesta revista , verificamos que a partir do século XVIII (num processo que se acentuou ao longo do século XX), a questão do locus da produção poética começou a ganhar relevância. A afirmação duma língua num determinado espaço traduz simultaneamente uma questão prática e política. Vimos que do ponto de vista da sua função ela constitui um instrumento natural de comunicação entre os humanos dum dado grupo, constituindo uma forma de expressão poética. A sua forma foi evoluindo a partir duma raiz antiga, dita vulgar, misturando-se entre outras, influenciando e sendo influenciada por interações diversas, até que se constitui como um corpo autónomo, com uma gramática, uma sintaxe e um vocabulários que se individualizam de outros territórios. A poética, com os seus estilos e modas, acompanhou esse processo. Do ponto de vista político, a partir do século XVIII a língua torna-se também um instrumento de poder. Quem domina e utiliza o código constitui-se simultaneamente usuário credenciado e senhor da ferramenta da comunicação. Uma ferramenta que é instrumento de dominação e regulação do outro. Não é portanto qualquer coisa que seja neutra. Há uma intenção no uso para além da expressão poética. Há um lugar da expressão e uma forma da expressão que é relevante. Foi essa questão que se foi evidenciando na abordagem da questão poética em língua portuguesa, à medida que, no tempo histórico emergiam diferentes lugares de enunciação. Primeiro nas Américas, e depois na África e Oriente. Ora esse instrumento de comunicação em que a língua portuguesa se constitui é, nesse caso um legado do processo colonizador. E nós ao observarmos o potencial de libertação da poética, não podemos deixar de equacionar, de que forma é que essa libertação se concretiza através do uso da língua, quando esse instrumento de dominação se transforma em instrumento de libertação. Pensando dessa forma a língua que não só é um fator relevante na formação de novas culturas e novas identidades, como é um canal de construção de inovação. De ferramenta de dominação, da invasão e de criação de subalternidade, a poética emergem como criadora de autonomia e pensamento. A crítica pós-colonial e decolonial defende muitas vezes que é necessário resgatar o silêncio das memórias, de reabilitar o apagão cultural e identitário das línguas nativas. Mas ao analisarmos o que é hoje o corpus de produção poética das diferentes linguagens estéticas verificamos que elea acabam por se exprimir através das várias ferramentas linguísticos, incluindo a apropriação criativa da língua portuguesa. Estamos pois perante um ato libertador, em que a apropriação do instrumento de opressão de transforma no instrumento da sua própria libertação, criando novas sonoridades e ritmos. Sem esquecer que essa é uma discussão aberta, há que ter ainda em linha de conta que em muitos desses lugares ainda se verificam outros diálogos com as línguas mães ou nativas desses territórios, produzindo diversos crioulos. Ou seja no universo pan africano de língua portuguesa há lugar para outras especificidades (como por exemplo na Guiné-Bissau e Cabo Verde) que se constituem como outras experiencias poéticas. Para já, neste volume tratamos apenas da forma como evoluí a poética na língua portuguesa nos territórios africanos. Deixamos deliberadamente de parte, o caso do Brasil (que será trabalhado num outro volume) e dos crioulos africanos (que será tem de outro volume). Num curto apêndice abordamos a geografia de crioulos no Oriente. Este volume dá corpo aos conteúdos expositivos do Museu da Autonomia. |
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