Concordância negativa transfrásica no português europeu : o papel das propriedades semânticas do predicado

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Alves, Isabel Barroso Melo
Data de Publicação: 2020
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10451/45939
Resumo: A presente dissertação tem como objetivo investigar a Concordância Negativa Transfrásica (CNT) em falantes monolingues do português europeu (PE) como língua materna. Por Concordância Negativa Transfrásica entende-se a concordância entre dois elementos, aparentemente negativos, um localizado na frase matriz e outro na oração subordinada, tipicamente uma subordinada completiva. Por ser legitimado pelo operador de negação da frase matriz (e.g. não), o elemento negativo da oração subordinada (uma expressão autonegativa como ninguém, nenhum x ou nada) entra em concordância negativa e tem valor positivo (i.e., ninguém é interpretado como alguém, nenhum x como algum x, etc.). Esta interpretação de CNT parece verificar-se em frases como O maestro não quer que ninguém se sente na primeira fila, por exemplo, contrastando com frases como A Maria não sabe que ninguém veio, em que a leitura é de Negação Plena (NP). Tanto quanto pude averiguar, só Peres (1994 e 2000) estudou a concordância negativa através de fronteiras oracionais em PE. O autor coloca a hipótese de a monotonia ser relevante para determinar a leitura de uma frase de CNT, nomeadamente, que os predicados monótonos decrescentes bloqueiem a interpretação de CNT e que sejam os predicados monótonos crescentes a assegurar a manutenção da leitura de CNT. Na base desta predição está Dowty (1994), que, partindo da Lógica da Monotonia (Valencia, 1991), calcula as propriedades de monotonia de um predicado e afirma que as expressões autonegativas, à semelhança dos IPN, como defendera Ladusaw (1979), só podem ocorrer em contextos de monotonia decrescente. Neste seguimento, Peres (1994, 2000) analisa, para o PE, a interferência dos valores de monotonia na determinação de interpretações de expressões autonegativas quando entre elas e o seu hipotético legitimador se interpõe um predicador de complementação frásica. O autor alega ainda a possibilidade de uma interpretação ambígua entre uma leitura de CNT (ninguém = alguém) e uma leitura de NP (ninguém = zero itens) em frases como Ele não decidiu que ninguém fosse interrogado. Para além da monotonia, Peres (2000: 191 e 195) refere que «algum papel acessório pode ser desempenhado por outras propriedades semânticas do verbo matriz, nomeadamente o valor epistémico (…) que tendem a bloquear o processo de (…) concordância. O autor acrescenta que o mesmo sucede quando a factividade está presente» (Peres, 2000: 186). Além destas propriedades, Giannakidou (1997) estabelece uma «correspondência entre a não veridicidade e a legitimação daquilo que (ela considera serem) sintagmas-N em grego» (Peres, 2000: 188). Por esta razão, Peres analisa a eventual relação entre veridicidade e legitimação da CNT em português. Considerando a escassez de estudos sobre a CNT, tendo os existentes uma abordagem baseada em juízos de introspeção (Peres 1994 e 2000), e ainda a inexistência de trabalhos sobre a aquisição desta estrutura, justifica-se um trabalho experimental com informantes adultos e adolescentes exclusivamente dedicado ao estudo da CNT. Neste seguimento, é intuito desta tese, em primeiro lugar, identificar como é que os falantes nativos de PE interpretam, de facto, as estruturas de CNT, de que modo variam essas interpretações e quais as causas na base da eventual variação (i). Um segundo propósito é contribuir para determinar até que ponto a CNT faz parte da gramática de jovens (adolescentes) falantes do PE (ii). Por último, é também objetivo deste trabalho comparar o desempenho entre diferentes faixas etárias, adultos e adolescentes, na compreensão das estruturas em questão (iii). Neste sentido, consideram-se duas hipóteses: a CNT ainda não está adquirida aos 12 anos de idade (Hipótese 1); a interpretação de CNT é favorecida por um predicado matriz monótono crescente não epistémico num contexto resultante de combinações sintáticas restritas: negação frásica na oração subordinante e oração completiva com uma expressão autonegativa em posição de sujeito (Hipótese 2). Para verificar estas hipóteses, concebeu-se um teste de aceitabilidade de 2 continuações para 30 frases, das quais 12 são frases completivas. Enquanto uma das continuações suporta a leitura de CNT, a outra permite a leitura de NP, sendo cada uma dessas interpretações o que neste trabalho se tomará como itens de teste, cuja aceitação é avaliada. O objetivo do teste é avaliar a interpretação da CN. Considerando cada uma das 30 frases, a tarefa consiste em aceitar ou recusar cada continuação da frase dada. Este teste foi aplicado a um total de 169 informantes, falantes do PE como língua materna: 85 adultos e 83 adolescentes – incluindo neste último grupo sujeitos de 12 anos, sujeitos de 13 anos e sujeitos de 14 anos. As frases cuja interpretação é testada de forma a determinar a existência de CNT correspondem a frases que contêm uma oração completiva, com negação oracional na oração subordinante e com uma expressão autonegativa em posição de sujeito pré-verbal na oração subordinada completiva. Para testar as propriedades do verbo, estabeleceram-se 3 condições, cada qual testada através de 2 verbos: a condição A – verbos monótonos crescentes epistémicos saber e compreender (ambos factivos e verídicos), a condição B – verbos monótonos crescentes não epistémicos conseguir e querer (um verídico e não factivo e outro não verídico e não factivo, respetivamente) e a condição C – verbos não monótonos epistémicos esquecer e dizer (ambos verídicos, um factivo e outro não factivo). Os resultados do estudo mostram que tanto adultos como adolescentes reconhecem a CNT no contexto sintático relevante. Os resultados parecem indicar que a CNT está já adquirida em todos os grupos, inclusive pelo grupo de 12 anos, infirmando a hipótese 1 deste trabalho. Além disso, conclui-se que as propriedades semânticas do predicado matriz são, de facto, relevantes para a determinação de uma leitura de CNT em português (espera-se que o sejam também em várias outras línguas), de acordo com a hipótese 2. A interpretação de CNT é favorecida sobretudo por contextos que incluam verbos matriz monótonos crescentes não epistémicos não factivos. Concretamente, a monotonia (crescente) é condição favorecedora para uma interpretação de CNT. Já a epistemicidade e a factividade bloqueiam de modo evidente esta leitura. Por sua vez, a ambiguidade entre uma leitura de CNT e uma leitura de NP foi pouco reconhecida por todos os informantes.
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spelling Concordância negativa transfrásica no português europeu : o papel das propriedades semânticas do predicadoLíngua portuguesa - Negação (Linguística)Língua portuguesa - Causativo (Linguística)Língua portuguesa - Sujeito e predicado (Linguística)Língua portuguesa - SemânticaTese de mestrado - 2020Domínio/Área Científica::Humanidades::Línguas e LiteraturasA presente dissertação tem como objetivo investigar a Concordância Negativa Transfrásica (CNT) em falantes monolingues do português europeu (PE) como língua materna. Por Concordância Negativa Transfrásica entende-se a concordância entre dois elementos, aparentemente negativos, um localizado na frase matriz e outro na oração subordinada, tipicamente uma subordinada completiva. Por ser legitimado pelo operador de negação da frase matriz (e.g. não), o elemento negativo da oração subordinada (uma expressão autonegativa como ninguém, nenhum x ou nada) entra em concordância negativa e tem valor positivo (i.e., ninguém é interpretado como alguém, nenhum x como algum x, etc.). Esta interpretação de CNT parece verificar-se em frases como O maestro não quer que ninguém se sente na primeira fila, por exemplo, contrastando com frases como A Maria não sabe que ninguém veio, em que a leitura é de Negação Plena (NP). Tanto quanto pude averiguar, só Peres (1994 e 2000) estudou a concordância negativa através de fronteiras oracionais em PE. O autor coloca a hipótese de a monotonia ser relevante para determinar a leitura de uma frase de CNT, nomeadamente, que os predicados monótonos decrescentes bloqueiem a interpretação de CNT e que sejam os predicados monótonos crescentes a assegurar a manutenção da leitura de CNT. Na base desta predição está Dowty (1994), que, partindo da Lógica da Monotonia (Valencia, 1991), calcula as propriedades de monotonia de um predicado e afirma que as expressões autonegativas, à semelhança dos IPN, como defendera Ladusaw (1979), só podem ocorrer em contextos de monotonia decrescente. Neste seguimento, Peres (1994, 2000) analisa, para o PE, a interferência dos valores de monotonia na determinação de interpretações de expressões autonegativas quando entre elas e o seu hipotético legitimador se interpõe um predicador de complementação frásica. O autor alega ainda a possibilidade de uma interpretação ambígua entre uma leitura de CNT (ninguém = alguém) e uma leitura de NP (ninguém = zero itens) em frases como Ele não decidiu que ninguém fosse interrogado. 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Neste seguimento, é intuito desta tese, em primeiro lugar, identificar como é que os falantes nativos de PE interpretam, de facto, as estruturas de CNT, de que modo variam essas interpretações e quais as causas na base da eventual variação (i). Um segundo propósito é contribuir para determinar até que ponto a CNT faz parte da gramática de jovens (adolescentes) falantes do PE (ii). Por último, é também objetivo deste trabalho comparar o desempenho entre diferentes faixas etárias, adultos e adolescentes, na compreensão das estruturas em questão (iii). Neste sentido, consideram-se duas hipóteses: a CNT ainda não está adquirida aos 12 anos de idade (Hipótese 1); a interpretação de CNT é favorecida por um predicado matriz monótono crescente não epistémico num contexto resultante de combinações sintáticas restritas: negação frásica na oração subordinante e oração completiva com uma expressão autonegativa em posição de sujeito (Hipótese 2). Para verificar estas hipóteses, concebeu-se um teste de aceitabilidade de 2 continuações para 30 frases, das quais 12 são frases completivas. Enquanto uma das continuações suporta a leitura de CNT, a outra permite a leitura de NP, sendo cada uma dessas interpretações o que neste trabalho se tomará como itens de teste, cuja aceitação é avaliada. O objetivo do teste é avaliar a interpretação da CN. Considerando cada uma das 30 frases, a tarefa consiste em aceitar ou recusar cada continuação da frase dada. Este teste foi aplicado a um total de 169 informantes, falantes do PE como língua materna: 85 adultos e 83 adolescentes – incluindo neste último grupo sujeitos de 12 anos, sujeitos de 13 anos e sujeitos de 14 anos. As frases cuja interpretação é testada de forma a determinar a existência de CNT correspondem a frases que contêm uma oração completiva, com negação oracional na oração subordinante e com uma expressão autonegativa em posição de sujeito pré-verbal na oração subordinada completiva. Para testar as propriedades do verbo, estabeleceram-se 3 condições, cada qual testada através de 2 verbos: a condição A – verbos monótonos crescentes epistémicos saber e compreender (ambos factivos e verídicos), a condição B – verbos monótonos crescentes não epistémicos conseguir e querer (um verídico e não factivo e outro não verídico e não factivo, respetivamente) e a condição C – verbos não monótonos epistémicos esquecer e dizer (ambos verídicos, um factivo e outro não factivo). Os resultados do estudo mostram que tanto adultos como adolescentes reconhecem a CNT no contexto sintático relevante. Os resultados parecem indicar que a CNT está já adquirida em todos os grupos, inclusive pelo grupo de 12 anos, infirmando a hipótese 1 deste trabalho. Além disso, conclui-se que as propriedades semânticas do predicado matriz são, de facto, relevantes para a determinação de uma leitura de CNT em português (espera-se que o sejam também em várias outras línguas), de acordo com a hipótese 2. A interpretação de CNT é favorecida sobretudo por contextos que incluam verbos matriz monótonos crescentes não epistémicos não factivos. Concretamente, a monotonia (crescente) é condição favorecedora para uma interpretação de CNT. Já a epistemicidade e a factividade bloqueiam de modo evidente esta leitura. Por sua vez, a ambiguidade entre uma leitura de CNT e uma leitura de NP foi pouco reconhecida por todos os informantes.The present dissertation aims to investigate cross-sentential negative concord (CNC) in monolingual speakers of European Portuguese (EP) as L1. Cross-sentential negative concord means the agreement between two elements, apparently negative, one located in the matrix sentence and the other in the subordinate sentence, typically a complex subordinate one. Because it is licensed by the negative operator of the main clause (e.g. não, ‘not’), the negative indefinite of the embedded clause (an n-word such as ninguém, nenhum x or nada) comes into negative concord and assumes a positive value (that is, ninguém is interpreted as alguém, nenhum x as algum x, etc.). This interpretation of CNC seems to happen in sentences as O maestro não quer que ninguém se sente na primeira fila, for example, in contrast to sentences like A Maria não sabe que ninguém veio, in which the reading is of Full Negation (FN). To the best of my knowledge, only Peres (1994 and 2000) studied the CNC in EP. The author hypothesizes that monotonicity is relevant to determine the reading of a cross-sentential negative concord sentence, namely, that decreasing monotone verbs block the interpretation of CNC and that monotone increasing verbs ensure the maintenance of the reading of cross-sentential negative concord. At the source of this prediction is Dowty (1994), who, departing from the Logic of Monotonicity (Valencia, 1991), calculates the monotonicity properties of a predicate and affirms that n-words, similarly to NPI, as claimed by Ladusaw (1979), can only occur in contexts of decreasing monotonicity. In this line of research, Peres (1994, 2000) analyzes interference in EP of monotonicity values in the determination of readings of n-phrases in contexts of CNC. The author also claims the possibility of an ambiguous interpretation between a reading of CNC (ninguém = anybody) and a reading of NP (ninguém = nobody) in sentences like Ele não decidiu que ninguém fosse interrogado. In addition to monotonicity, Peres (2000: 191 e 195) states that «some accessory role can be played by other semantic properties of the main verb, namely the epistemic value (…) that tend to block the process of (…) concord». The author adds that the same happens when factivity is present (Peres, 2000: 186). In addition to these properties, Giannakidou (1997) establishes «a correspondence between non-veridicality and the licensing of what (she considers to be) n-phrases in Greek» (Peres, 2000: 188). For this reason, Peres analyzes the possible relationship between veridicality and licensing of the CNC in EP. Considering the scarcity of studies on cross-sentential negative concord, with existing ones based on introspection judgments (Peres 1994 and 2000), and also the lack of work on the acquisition of this structure, experimental work with adult informants and adolescents exclusively dedicated to the CNC study is justified. Accordingly, the purpose of this thesis is, first, to identify how speakers interpret CNC structures, how these interpretations vary and what are the causes of the possible variation (i). A second purpose is to contribute to determine the extent to which cross-sentential negative concord is part of the grammar of young (adolescent) speakers of EP (ii). Finally, it is also the aim of this work to compare the performance between different age groups, adults and adolescents, in understanding the structures in question (iii). In this sense, two hypotheses are considered: the cross-sentential negative concord is not yet acquired at 12 years of age (Hypothesis 1); the cross-sentential negative concord interpretation is favored by a monotone increasing non-epistemic predicate in a context resulting from restricted syntactic combinations: sentential negation in the subordinate clause with an n-word in subject position (Hypothesis 2). To verify these hypotheses, an acceptability test of 2 different sentences that occur as a continuation for 30 sentences was designed. In this set of sentences, 12 are complex sentences containing complement clauses. While one of the continuation sentences supports the reading of CNC, the other allows the reading of FN, with each of these continuation sentences being considered in this work as test items. We assess the acceptance of each type of continuation sentence, therefore the acceptance of each type of interpretation. The purpose of the test is to assess the interpretation of negative concord. Considering each of the 30 sentences, the task consists of accepting or rejecting each continuation of the given sentence. The test was applied to 169 informants, L1 speakers of EP: 85 adults and 83 adolescents – including three subgroups in this last group: 12 years, 13 years and 14 years. Each sentence whose interpretation was assessed in order to determine the existence of CNC consists of a complex sentence with negation in the main clause and an n-phrase in a pre-verbal subject position in the subordinate clause. To test the properties of the verb, 3 conditions were established, each tested with 2 verbs: condition A – increasing epistemic monotone verbs saber and compreender (both factive and veridical); condition B – increasing non-epistemic monotone conseguir and querer (one veridical and non-factive and another non-veridical and non-factive, respectively); and condition C – epistemic non-monotone verbs esquecer and dizer (both veridical, one factive and one non-factive). The results show that both adults and adolescents recognize the cross-sentential negative concord in this syntactic context. The study seems to indicate that the CNC is already acquired by all groups of speakers, including the 12-year-old group, allowing to reject hypothesis 1 of this study. In addition, we could conclude that the semantic properties of the matrix predicate are indeed relevant to determine a CNC reading in Portuguese (it is expected that they are also relevant in several other languages), as hypothesis 2 predicts. CNC interpretation is favored mainly by contexts that include non-epistemic, non-factive, increasing monotone matrix verbs. In fact, (increasing) monotonicity is a necessary condition for an interpretation of cross-sentential negative concord. Epistemicity and factivity clearly block this reading. The ambiguity between a reading of CNC and a reading of FN was not often recognized by the informants.Marques, RuiSantos, Ana LúciaRepositório da Universidade de LisboaAlves, Isabel Barroso Melo2021-01-27T11:13:16Z2020-12-212020-09-212020-12-21T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10451/45939TID:202575241porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2023-11-08T16:48:01Zoai:repositorio.ul.pt:10451/45939Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T21:58:16.742160Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
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Alves, Isabel Barroso Melo
Língua portuguesa - Negação (Linguística)
Língua portuguesa - Causativo (Linguística)
Língua portuguesa - Sujeito e predicado (Linguística)
Língua portuguesa - Semântica
Tese de mestrado - 2020
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description A presente dissertação tem como objetivo investigar a Concordância Negativa Transfrásica (CNT) em falantes monolingues do português europeu (PE) como língua materna. Por Concordância Negativa Transfrásica entende-se a concordância entre dois elementos, aparentemente negativos, um localizado na frase matriz e outro na oração subordinada, tipicamente uma subordinada completiva. Por ser legitimado pelo operador de negação da frase matriz (e.g. não), o elemento negativo da oração subordinada (uma expressão autonegativa como ninguém, nenhum x ou nada) entra em concordância negativa e tem valor positivo (i.e., ninguém é interpretado como alguém, nenhum x como algum x, etc.). Esta interpretação de CNT parece verificar-se em frases como O maestro não quer que ninguém se sente na primeira fila, por exemplo, contrastando com frases como A Maria não sabe que ninguém veio, em que a leitura é de Negação Plena (NP). Tanto quanto pude averiguar, só Peres (1994 e 2000) estudou a concordância negativa através de fronteiras oracionais em PE. O autor coloca a hipótese de a monotonia ser relevante para determinar a leitura de uma frase de CNT, nomeadamente, que os predicados monótonos decrescentes bloqueiem a interpretação de CNT e que sejam os predicados monótonos crescentes a assegurar a manutenção da leitura de CNT. Na base desta predição está Dowty (1994), que, partindo da Lógica da Monotonia (Valencia, 1991), calcula as propriedades de monotonia de um predicado e afirma que as expressões autonegativas, à semelhança dos IPN, como defendera Ladusaw (1979), só podem ocorrer em contextos de monotonia decrescente. Neste seguimento, Peres (1994, 2000) analisa, para o PE, a interferência dos valores de monotonia na determinação de interpretações de expressões autonegativas quando entre elas e o seu hipotético legitimador se interpõe um predicador de complementação frásica. O autor alega ainda a possibilidade de uma interpretação ambígua entre uma leitura de CNT (ninguém = alguém) e uma leitura de NP (ninguém = zero itens) em frases como Ele não decidiu que ninguém fosse interrogado. Para além da monotonia, Peres (2000: 191 e 195) refere que «algum papel acessório pode ser desempenhado por outras propriedades semânticas do verbo matriz, nomeadamente o valor epistémico (…) que tendem a bloquear o processo de (…) concordância. O autor acrescenta que o mesmo sucede quando a factividade está presente» (Peres, 2000: 186). Além destas propriedades, Giannakidou (1997) estabelece uma «correspondência entre a não veridicidade e a legitimação daquilo que (ela considera serem) sintagmas-N em grego» (Peres, 2000: 188). Por esta razão, Peres analisa a eventual relação entre veridicidade e legitimação da CNT em português. Considerando a escassez de estudos sobre a CNT, tendo os existentes uma abordagem baseada em juízos de introspeção (Peres 1994 e 2000), e ainda a inexistência de trabalhos sobre a aquisição desta estrutura, justifica-se um trabalho experimental com informantes adultos e adolescentes exclusivamente dedicado ao estudo da CNT. Neste seguimento, é intuito desta tese, em primeiro lugar, identificar como é que os falantes nativos de PE interpretam, de facto, as estruturas de CNT, de que modo variam essas interpretações e quais as causas na base da eventual variação (i). Um segundo propósito é contribuir para determinar até que ponto a CNT faz parte da gramática de jovens (adolescentes) falantes do PE (ii). Por último, é também objetivo deste trabalho comparar o desempenho entre diferentes faixas etárias, adultos e adolescentes, na compreensão das estruturas em questão (iii). Neste sentido, consideram-se duas hipóteses: a CNT ainda não está adquirida aos 12 anos de idade (Hipótese 1); a interpretação de CNT é favorecida por um predicado matriz monótono crescente não epistémico num contexto resultante de combinações sintáticas restritas: negação frásica na oração subordinante e oração completiva com uma expressão autonegativa em posição de sujeito (Hipótese 2). Para verificar estas hipóteses, concebeu-se um teste de aceitabilidade de 2 continuações para 30 frases, das quais 12 são frases completivas. Enquanto uma das continuações suporta a leitura de CNT, a outra permite a leitura de NP, sendo cada uma dessas interpretações o que neste trabalho se tomará como itens de teste, cuja aceitação é avaliada. O objetivo do teste é avaliar a interpretação da CN. Considerando cada uma das 30 frases, a tarefa consiste em aceitar ou recusar cada continuação da frase dada. Este teste foi aplicado a um total de 169 informantes, falantes do PE como língua materna: 85 adultos e 83 adolescentes – incluindo neste último grupo sujeitos de 12 anos, sujeitos de 13 anos e sujeitos de 14 anos. As frases cuja interpretação é testada de forma a determinar a existência de CNT correspondem a frases que contêm uma oração completiva, com negação oracional na oração subordinante e com uma expressão autonegativa em posição de sujeito pré-verbal na oração subordinada completiva. Para testar as propriedades do verbo, estabeleceram-se 3 condições, cada qual testada através de 2 verbos: a condição A – verbos monótonos crescentes epistémicos saber e compreender (ambos factivos e verídicos), a condição B – verbos monótonos crescentes não epistémicos conseguir e querer (um verídico e não factivo e outro não verídico e não factivo, respetivamente) e a condição C – verbos não monótonos epistémicos esquecer e dizer (ambos verídicos, um factivo e outro não factivo). 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