La Mettrie: o projeto da recondução da alma à matéria

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Costa, Flora Adelaide Abreu Teixeira e
Data de Publicação: 2022
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10362/143462
Resumo: Julien Offray de La Mettrie foi um iluminista francês, médico e filósofo do século XVIII. A obra em que apresenta o seu pensamento filosófico estruturado é a Histoire naturelle de l’âme, mas é em l’Homme machine que procura explicar toda a operatividade humana através da matéria. A filosofia de La Mettrie enquadra-se no materialismo e pretende fornecer uma explicação unificada do ser humano em continuidade com aquilo que podemos conhecer da natureza corpórea. La Mettrie pretende reconduzir a alma à matéria provando que o princípio que coloca em movimento um corpo humano é o mesmo que explica as sensações e a complexidade do pensamento intelectual; dessa forma, e por consequência, ficará provado que a alma não é nem a matéria nem os corpos, mas apenas um ente de razão. Para La Mettrie, o estudo da alma humana só pode ser realizado através dos seus efeitos, ou seja, através das propriedades manifestadas nos corpos, e os guias para esse estudo são apenas os sentidos, pois só por eles temos acesso às manifestações da alma nos corpos. O autor afirma que a matéria deverá ser considerada quer como um princípio ativo, possuindo dentro de si mesma a força de se mover e de ser a causa imediata de todas as leis do movimento; quer como um princípio passivo, por possuir em si em potência todas as formas que poderá vir a adquirir. Para o autor, não existe distinção entre a alma racional e a sensível; nem entre a alma e a matéria ou ainda entre a alma e o corpo que ela habita: todas essas realidades são a mesma coisa. A observação da natureza conduz a afirmar que existe uma gradação suave na complexificação da matéria, que a essa complexificação corresponde um aumento de necessidades e que a menos instinto corresponde mais inteligência. O homem é semelhante ao animal: assim o atesta a anatomia comparada dos nossos órgãos. O que nos distingue são essencialmente duas coisas: o maior número de necessidades a satisfazer, resultante de uma maior organização da matéria, e a nossa menor dotação instintiva. A natureza colmata esta dificuldade dotando o homem de pensamento. Assim, constituindo a organização da matéria uma primeira vantagem do homem, a segunda é a instrução. Há, assim, uma proporcionalidade direta entre necessidades e pensamento ao mesmo tempo que existe uma proporcionalidade inversa entre instinto e pensamento. O que complexifica a matéria é a organização e a funcionalidade dos órgãos. As necessidades do organismo são, portanto, efeito dessa complexificação, dessa auto-organização da matéria. Quanto mais necessidades tem o organismo mais meios requer para as satisfazer, sendo o meio por excelência o instinto. Ao ser humano, paradoxalmente com muitas necessidades e pouco instinto, a natureza dotou-o de pensamento que substitui o instinto. Esta é, no entender de La Mettrie, a sua maior descoberta, a saber: aquilo que produz o pensamento é o aumento das necessidades de um organismo e uma simultânea diminuição do instinto.
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Para La Mettrie, o estudo da alma humana só pode ser realizado através dos seus efeitos, ou seja, através das propriedades manifestadas nos corpos, e os guias para esse estudo são apenas os sentidos, pois só por eles temos acesso às manifestações da alma nos corpos. O autor afirma que a matéria deverá ser considerada quer como um princípio ativo, possuindo dentro de si mesma a força de se mover e de ser a causa imediata de todas as leis do movimento; quer como um princípio passivo, por possuir em si em potência todas as formas que poderá vir a adquirir. Para o autor, não existe distinção entre a alma racional e a sensível; nem entre a alma e a matéria ou ainda entre a alma e o corpo que ela habita: todas essas realidades são a mesma coisa. A observação da natureza conduz a afirmar que existe uma gradação suave na complexificação da matéria, que a essa complexificação corresponde um aumento de necessidades e que a menos instinto corresponde mais inteligência. O homem é semelhante ao animal: assim o atesta a anatomia comparada dos nossos órgãos. O que nos distingue são essencialmente duas coisas: o maior número de necessidades a satisfazer, resultante de uma maior organização da matéria, e a nossa menor dotação instintiva. A natureza colmata esta dificuldade dotando o homem de pensamento. Assim, constituindo a organização da matéria uma primeira vantagem do homem, a segunda é a instrução. Há, assim, uma proporcionalidade direta entre necessidades e pensamento ao mesmo tempo que existe uma proporcionalidade inversa entre instinto e pensamento. O que complexifica a matéria é a organização e a funcionalidade dos órgãos. As necessidades do organismo são, portanto, efeito dessa complexificação, dessa auto-organização da matéria. Quanto mais necessidades tem o organismo mais meios requer para as satisfazer, sendo o meio por excelência o instinto. Ao ser humano, paradoxalmente com muitas necessidades e pouco instinto, a natureza dotou-o de pensamento que substitui o instinto. Esta é, no entender de La Mettrie, a sua maior descoberta, a saber: aquilo que produz o pensamento é o aumento das necessidades de um organismo e uma simultânea diminuição do instinto.Julien Offray de La Mettrie was an 18th century French enlightenment physician and philosopher. The work in which he presents his structured philosophical thought is Histoire naturelle de l'âme, but it will be through l'Homme machine seeks to explain all human operativity through matter. La Mettrie's philosophy falls under materialism and aims to provide a unified explanation of the human being in continuity with what we can know about corporeal nature. La Mettrie intends to bring the soul back to matter by proving that the principle that sets a human body in motion is the same one that explains sensations and the complexity of intellectual thought, this way, and therefore, for the author is be proven that the soul is neither matter nor body, but only an entity of reason. According to La Mettrie, the study of the human soul can only be accomplished through its effects, that is, through the properties manifested in bodies, and the guides for this study are only the senses, because only they have access to the manifestations of the soul in bodies. The author states that matter should be considered either as an active principle, possessing within itself the power to move and to be the immediate cause of all the laws of motion; or as a passive principle, for possessing within itself in potency all the forms it may come to acquire. Furthermore, La Mettrie argues that there is no distinction between the rational and the sensitive soul; nor between the soul and matter, or even between the soul and the body it inhabits: all these realities are the same. His observation of nature leads him to affirm that there is a smooth gradation in the complexification of matter, to which corresponds an increase in needs that instinct will try to satisfy. To less instinct corresponds to more intelligence, which is the mean nature provides an organized body to satisfy their needs. Man is similar to the animal: as attested by the comparative anatomy of our organs. What distinguishes us? Essentially two things: the greater number of needs to be satisfied, resulting from a greater organization of matter, and our lesser instinctive endowment. How does nature overcome this difficulty? By endowing man with thought. Thus, since the organization of matter constitutes a first advantage of man, the second is instruction. There is thus a direct proportionality between needs and thought while there is an inverse proportionality between instinct and thought. What complexifies matter? The organization and functionality of the organs. The needs of the organism are, therefore, the effect of this complexification, this self-organization of matter. The more needs the organism has, the more means it requires to satisfy them, the mean by excellence is instinct. To the human being, paradoxically with many needs and little instinct, nature has endowed him with thought which replaces instinct.This is La Mettrie's greatest discovery: what produces thought is the increase in an organism's needs and a simultaneous decrease in instinct.Mendonça, Marta Maria Anjos Galego deRUNCosta, Flora Adelaide Abreu Teixeira e2022-07-152022-04-042025-07-15T00:00:00Z2022-07-15T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10362/143462TID:203043995porinfo:eu-repo/semantics/embargoedAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2024-03-11T05:21:47Zoai:run.unl.pt:10362/143462Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-20T03:50:56.820394Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
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