Diabetes mellitus e hipoglicemia

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Oliveira, Ana Maria Pinheiro
Data de Publicação: 2014
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10316/26280
Resumo: A hipoglicemia é uma das mais frequentes complicações do tratamento da diabetes mellitus (DM), constituindo o principal obstáculo à otimização do controlo glicémico. Efetuou-se uma revisão da evidência mais atual do conceito de hipoglicemia, da sua etiopatogenia, da forma de apresentação clínica, das complicações que lhe podem estar associadas, do tratamento e da prevenção. A hipoglicemia pode ser definida como qualquer episódio em que se regista uma glicemia anormalmente baixa, que expõe o doente a um risco potencial. Atualmente, sugere-se um limiar glicémico de 70mg/dL para a definição de hipoglicemia em doentes diabéticos. Previamente a este valor ser atingido, as respostas da contra-regulação são ativadas, ocorrendo, sequencialmente, diminuição da secreção de insulina, aumento da secreção de glucagon, secreção de epinefrina, norepinefrina e acetilcolina, e, finalmente, de somatotrofina e de cortisol. Na DM, sobretudo tipo 1, estes mecanismos estão alterados: há uma hiperinsulinémia iatrogénica, um défice na secreção do glucagon e, na presença de episódios de hipoglicemia recorrentes, uma secreção deficiente de epinefrina, originando a síndrome clínica de hipoglicemia sem pródromos. A combinação destes três defeitos está na origem da Insuficiência Autonómica Associada à Hipoglicemia (IAAH), e torna o risco de hipoglicemia severa pelo menos 25 vezes superior. A ativação do Sistema Nervoso Autónomo (SNA) e o défice cerebral de glicose irão originar sintomas neurogénicos e neuroglicopénicos. O reconhecimento destes sintomas pode ser particularmente problemático em crianças, durante a noite e nos doentes com hipoglicemia sem pródromos, situações que favorecem o desenvolvimento de eventos severos. Morbilidade significativa está associada à hipoglicemia. A ativação do sistema simpato-adrenal induz alterações da irrigação coronária, que podem levar à isquémia miocárdica, e poderá provocar alterações da repolarização cardíaca, que podem estar na origem de arritmias fatais. Indução de stresse oxidativo, disfunção endotelial, inflamação e aumento da viscosidade sanguínea e da coagulabilidade ocorrem também em consequência da hipoglicemia, fatores que poderão desempenhar um papel importante nas complicações cardiovasculares da DM. Uma relação direta entre hipoglicemia e mortalidade permanece por estabelecer, embora estudos em doentes idosos e com comorbilidades indiquem que a hipoglicemia poderá aumentar o risco de morte. O mesmo parece não se verificar em doentes jovens, para os quais um controlo glicémico apertado parece estar associado a efeitos benéficos no que se refere às complicações macrovasculares da DM, apesar do risco aumentado de hipoglicemia. A longo-prazo e em consequência de eventos hipoglicémicos recorrentes, sobretudo em idade pré-escolar e em idosos, poderá haver dano cerebral, com alterações da função cognitiva. O tratamento tem como objetivos restaurar os níveis de glicemia e prevenir a hipoglicemia recorrente. Deve ser o mais precoce possível e pode passar por ingestão de hidratos de carbono (HC) em casos leves a moderados, ou por glucagon ou soros glicosados em casos severos. A individualização da terapêutica torna-se, atualmente, essencial no tratamento dos doentes com DM para a prevenção da hipoglicemia, quer no que se refere aos fármacos usados, quer relativamente aos alvos glicémicos estabelecidos. Outros fatores importantes incluem a monitorização da glicemia e a educação do doente no que se refere à alimentação e ao exercício.
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