Immunization in Mozambique: the experience of the first 5 years after Independence A first-person testimony

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: F. B. Martins, Hélder
Data de Publicação: 2022
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: https://doi.org/10.25761/anaisihmt.425
Resumo: O autor começa por mostrar que na época colonial não havia nenhum programa de vacinação sistemática, só se fazendo vacinações quando surgia notícia de epidemias. Nessas circunstâncias, as autoridades coloniais praticavam campanhas de vacinação maciça e obrigatória, sem qualquer explicação às populações das vantagens, sendo elas forçadas a serem compulsivamente vacinadas. O autor descreve também o conceito de «vacina» na tradição cultural africana, como «qualquer coisa que se toma para prevenir algo», que pode ser uma doença, uma infelicidade amorosa, insucesso nos negócios ou um azar na vida. Ele mostra como na tradição africana a «vacina» é um preventivo genérico. Depois, o autor explica que, durante a Luta de Libertação Nacional, nos anos 60 do século XX, quando tiveram conheci- mento de alguns casos de varíola e, mais tarde, de cólera, nas zonas ocupadas pelo colonialismo, fizeram campanhas de vaci- nação antivariólica e anticolérica às populações das zonas semilibertadas, que estavam no controlo da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique). Também explica como tiveram que fazer um grande trabalho de mobilização e de explicação às pessoas, para aderirem à campanha de vacinação. A esta mudança de atitude em relação às vacinações o autor chamou de «descolonização das vacinas». Vacinaram numa ocasião, cerca de 250.000 pessoas e, mais tarde, cerca de 800.000. O autor descreve, detalhadamente, como as vacinações foram consideradas prioritárias, ainda no período de Transição para a Independência e, depois no imediato pós-Independência (quando o grande princípio e a palavra de ordem era: «promoção da Saúde da comunidade pela própria comunidade») e as negociações realizadas, com sucesso, com a Organização Mundial de Saúde (OMS), Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), para o financiamento do Programa Alargado de Vacinação (PAV), precedido por uma campanha nacional de vaci- nações. Descreve também as dificuldades havidas pelo facto da OMS ser contra campanhas, naquela altura, em que o PAV tinha sido recentemente aprovado na Assembleia Mundial da Saúde (AMS) e as resultantes do calendário, para admissão de Moçambique na Organização das Nações Unidas (ONU) e na OMS, e como essas dificuldades foram ultrapassadas. Descre- ve também por que razão para «descolonizar as vacinas» era necessária uma vacina para toda a população, a vacina antivarió- lica, que estava fora do PAV, e como foi convencido o Director Geral da OMS a aceitar incluí-la na campanha. A campanha nacional de vacinação iniciou em 14 de Janeiro de 1976, na Província de Niassa, e terminou na Cidade de Maputo no dia 2 de fevereiro de 1978. Não havendo pessoal suficiente, para vacinar em todo o país ao mesmo tempo, vaci- naram três províncias de cada vez. Em cada província onde a campanha terminava, começava logo o PAV de rotina. O autor não esconde que, no início, o PAV teve muitas dificuldades de implementação, que foram sendo gradualmente resolvidas. Nesta campanha, foram vacinadas quase onze milhões de pessoas contra a varíola, cerca de um milhão e meio de crianças contra o sarampo, mais de cinco milhões de crianças e adolescentes pelo BCG (contra as complicações letais da tuberculo- se) e cerca de dois milhões de mulheres em idade fértil, contra o tétano, tendo sido atingida uma taxa de cobertura de 97% (calculada pelos peritos da OMS e UNICEF). O autor conclui que Moçambique foi capaz de «descolonizar as vacinas», pois soube construir sobre os aspectos positivos da tradição africana e assim atingiram o grande objectivo, de que a população passasse a ver as vacinações como um instru- mento de defesa e promoção da sua própria Saúde e não como uma imposição colonial, ao serviço da Saúde dos colonos. Finalmente, o autor traça breves notas sobre o desenvolvimento do PAV nos anos subsequentes.
id RCAP_fa6e1f6f5e8febd5fa88837b282a47e6
oai_identifier_str oai:ojs.anaisihmt.com:article/425
network_acronym_str RCAP
network_name_str Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
repository_id_str 7160
spelling Immunization in Mozambique: the experience of the first 5 years after Independence A first-person testimonyVaccination au Mozambique: l’expérience des 5 premières années après l’Indépendance Un témoignage à la première personneVacinação em Moçambique: a experiência dos cinco primeiros anos após a Independência. Um testemunho na primeira pessoaO autor começa por mostrar que na época colonial não havia nenhum programa de vacinação sistemática, só se fazendo vacinações quando surgia notícia de epidemias. Nessas circunstâncias, as autoridades coloniais praticavam campanhas de vacinação maciça e obrigatória, sem qualquer explicação às populações das vantagens, sendo elas forçadas a serem compulsivamente vacinadas. O autor descreve também o conceito de «vacina» na tradição cultural africana, como «qualquer coisa que se toma para prevenir algo», que pode ser uma doença, uma infelicidade amorosa, insucesso nos negócios ou um azar na vida. Ele mostra como na tradição africana a «vacina» é um preventivo genérico. Depois, o autor explica que, durante a Luta de Libertação Nacional, nos anos 60 do século XX, quando tiveram conheci- mento de alguns casos de varíola e, mais tarde, de cólera, nas zonas ocupadas pelo colonialismo, fizeram campanhas de vaci- nação antivariólica e anticolérica às populações das zonas semilibertadas, que estavam no controlo da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique). Também explica como tiveram que fazer um grande trabalho de mobilização e de explicação às pessoas, para aderirem à campanha de vacinação. A esta mudança de atitude em relação às vacinações o autor chamou de «descolonização das vacinas». Vacinaram numa ocasião, cerca de 250.000 pessoas e, mais tarde, cerca de 800.000. O autor descreve, detalhadamente, como as vacinações foram consideradas prioritárias, ainda no período de Transição para a Independência e, depois no imediato pós-Independência (quando o grande princípio e a palavra de ordem era: «promoção da Saúde da comunidade pela própria comunidade») e as negociações realizadas, com sucesso, com a Organização Mundial de Saúde (OMS), Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), para o financiamento do Programa Alargado de Vacinação (PAV), precedido por uma campanha nacional de vaci- nações. Descreve também as dificuldades havidas pelo facto da OMS ser contra campanhas, naquela altura, em que o PAV tinha sido recentemente aprovado na Assembleia Mundial da Saúde (AMS) e as resultantes do calendário, para admissão de Moçambique na Organização das Nações Unidas (ONU) e na OMS, e como essas dificuldades foram ultrapassadas. Descre- ve também por que razão para «descolonizar as vacinas» era necessária uma vacina para toda a população, a vacina antivarió- lica, que estava fora do PAV, e como foi convencido o Director Geral da OMS a aceitar incluí-la na campanha. A campanha nacional de vacinação iniciou em 14 de Janeiro de 1976, na Província de Niassa, e terminou na Cidade de Maputo no dia 2 de fevereiro de 1978. Não havendo pessoal suficiente, para vacinar em todo o país ao mesmo tempo, vaci- naram três províncias de cada vez. Em cada província onde a campanha terminava, começava logo o PAV de rotina. O autor não esconde que, no início, o PAV teve muitas dificuldades de implementação, que foram sendo gradualmente resolvidas. Nesta campanha, foram vacinadas quase onze milhões de pessoas contra a varíola, cerca de um milhão e meio de crianças contra o sarampo, mais de cinco milhões de crianças e adolescentes pelo BCG (contra as complicações letais da tuberculo- se) e cerca de dois milhões de mulheres em idade fértil, contra o tétano, tendo sido atingida uma taxa de cobertura de 97% (calculada pelos peritos da OMS e UNICEF). O autor conclui que Moçambique foi capaz de «descolonizar as vacinas», pois soube construir sobre os aspectos positivos da tradição africana e assim atingiram o grande objectivo, de que a população passasse a ver as vacinações como um instru- mento de defesa e promoção da sua própria Saúde e não como uma imposição colonial, ao serviço da Saúde dos colonos. Finalmente, o autor traça breves notas sobre o desenvolvimento do PAV nos anos subsequentes.Universidade Nova de Lisboa2022-10-22info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/articleapplication/pdfhttps://doi.org/10.25761/anaisihmt.425oai:ojs.anaisihmt.com:article/425Anais do Instituto de Higiene e Medicina Tropical; Vol 21 (2022): Estratégias de vacinação em contexto pandémico; 14-26Anais do Instituto de Higiene e Medicina Tropical; v. 21 (2022): Estratégias de vacinação em contexto pandémico; 14-262184-23100303-7762reponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAPporhttp://anaisihmt.com/index.php/ihmt/article/view/425https://doi.org/10.25761/anaisihmt.425http://anaisihmt.com/index.php/ihmt/article/view/425/350http://creativecommons.org/licenses/by/4.0info:eu-repo/semantics/openAccessF. B. Martins, Hélder2022-10-26T05:45:19Zoai:ojs.anaisihmt.com:article/425Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T16:14:02.899278Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
dc.title.none.fl_str_mv Immunization in Mozambique: the experience of the first 5 years after Independence A first-person testimony
Vaccination au Mozambique: l’expérience des 5 premières années après l’Indépendance Un témoignage à la première personne
Vacinação em Moçambique: a experiência dos cinco primeiros anos após a Independência. Um testemunho na primeira pessoa
title Immunization in Mozambique: the experience of the first 5 years after Independence A first-person testimony
spellingShingle Immunization in Mozambique: the experience of the first 5 years after Independence A first-person testimony
F. B. Martins, Hélder
title_short Immunization in Mozambique: the experience of the first 5 years after Independence A first-person testimony
title_full Immunization in Mozambique: the experience of the first 5 years after Independence A first-person testimony
title_fullStr Immunization in Mozambique: the experience of the first 5 years after Independence A first-person testimony
title_full_unstemmed Immunization in Mozambique: the experience of the first 5 years after Independence A first-person testimony
title_sort Immunization in Mozambique: the experience of the first 5 years after Independence A first-person testimony
author F. B. Martins, Hélder
author_facet F. B. Martins, Hélder
author_role author
dc.contributor.author.fl_str_mv F. B. Martins, Hélder
description O autor começa por mostrar que na época colonial não havia nenhum programa de vacinação sistemática, só se fazendo vacinações quando surgia notícia de epidemias. Nessas circunstâncias, as autoridades coloniais praticavam campanhas de vacinação maciça e obrigatória, sem qualquer explicação às populações das vantagens, sendo elas forçadas a serem compulsivamente vacinadas. O autor descreve também o conceito de «vacina» na tradição cultural africana, como «qualquer coisa que se toma para prevenir algo», que pode ser uma doença, uma infelicidade amorosa, insucesso nos negócios ou um azar na vida. Ele mostra como na tradição africana a «vacina» é um preventivo genérico. Depois, o autor explica que, durante a Luta de Libertação Nacional, nos anos 60 do século XX, quando tiveram conheci- mento de alguns casos de varíola e, mais tarde, de cólera, nas zonas ocupadas pelo colonialismo, fizeram campanhas de vaci- nação antivariólica e anticolérica às populações das zonas semilibertadas, que estavam no controlo da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique). Também explica como tiveram que fazer um grande trabalho de mobilização e de explicação às pessoas, para aderirem à campanha de vacinação. A esta mudança de atitude em relação às vacinações o autor chamou de «descolonização das vacinas». Vacinaram numa ocasião, cerca de 250.000 pessoas e, mais tarde, cerca de 800.000. O autor descreve, detalhadamente, como as vacinações foram consideradas prioritárias, ainda no período de Transição para a Independência e, depois no imediato pós-Independência (quando o grande princípio e a palavra de ordem era: «promoção da Saúde da comunidade pela própria comunidade») e as negociações realizadas, com sucesso, com a Organização Mundial de Saúde (OMS), Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), para o financiamento do Programa Alargado de Vacinação (PAV), precedido por uma campanha nacional de vaci- nações. Descreve também as dificuldades havidas pelo facto da OMS ser contra campanhas, naquela altura, em que o PAV tinha sido recentemente aprovado na Assembleia Mundial da Saúde (AMS) e as resultantes do calendário, para admissão de Moçambique na Organização das Nações Unidas (ONU) e na OMS, e como essas dificuldades foram ultrapassadas. Descre- ve também por que razão para «descolonizar as vacinas» era necessária uma vacina para toda a população, a vacina antivarió- lica, que estava fora do PAV, e como foi convencido o Director Geral da OMS a aceitar incluí-la na campanha. A campanha nacional de vacinação iniciou em 14 de Janeiro de 1976, na Província de Niassa, e terminou na Cidade de Maputo no dia 2 de fevereiro de 1978. Não havendo pessoal suficiente, para vacinar em todo o país ao mesmo tempo, vaci- naram três províncias de cada vez. Em cada província onde a campanha terminava, começava logo o PAV de rotina. O autor não esconde que, no início, o PAV teve muitas dificuldades de implementação, que foram sendo gradualmente resolvidas. Nesta campanha, foram vacinadas quase onze milhões de pessoas contra a varíola, cerca de um milhão e meio de crianças contra o sarampo, mais de cinco milhões de crianças e adolescentes pelo BCG (contra as complicações letais da tuberculo- se) e cerca de dois milhões de mulheres em idade fértil, contra o tétano, tendo sido atingida uma taxa de cobertura de 97% (calculada pelos peritos da OMS e UNICEF). O autor conclui que Moçambique foi capaz de «descolonizar as vacinas», pois soube construir sobre os aspectos positivos da tradição africana e assim atingiram o grande objectivo, de que a população passasse a ver as vacinações como um instru- mento de defesa e promoção da sua própria Saúde e não como uma imposição colonial, ao serviço da Saúde dos colonos. Finalmente, o autor traça breves notas sobre o desenvolvimento do PAV nos anos subsequentes.
publishDate 2022
dc.date.none.fl_str_mv 2022-10-22
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/article
format article
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv https://doi.org/10.25761/anaisihmt.425
oai:ojs.anaisihmt.com:article/425
url https://doi.org/10.25761/anaisihmt.425
identifier_str_mv oai:ojs.anaisihmt.com:article/425
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.relation.none.fl_str_mv http://anaisihmt.com/index.php/ihmt/article/view/425
https://doi.org/10.25761/anaisihmt.425
http://anaisihmt.com/index.php/ihmt/article/view/425/350
dc.rights.driver.fl_str_mv http://creativecommons.org/licenses/by/4.0
info:eu-repo/semantics/openAccess
rights_invalid_str_mv http://creativecommons.org/licenses/by/4.0
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.publisher.none.fl_str_mv Universidade Nova de Lisboa
publisher.none.fl_str_mv Universidade Nova de Lisboa
dc.source.none.fl_str_mv Anais do Instituto de Higiene e Medicina Tropical; Vol 21 (2022): Estratégias de vacinação em contexto pandémico; 14-26
Anais do Instituto de Higiene e Medicina Tropical; v. 21 (2022): Estratégias de vacinação em contexto pandémico; 14-26
2184-2310
0303-7762
reponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
instacron:RCAAP
instname_str Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
instacron_str RCAAP
institution RCAAP
reponame_str Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
collection Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
repository.name.fl_str_mv Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
repository.mail.fl_str_mv
_version_ 1799130593824342016