Infeção de próteses vasculares - ainda uma entidade a temer?
Autor(a) principal: | |
---|---|
Data de Publicação: | 2020 |
Outros Autores: | , , , , , , |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1646-706X2020000200002 |
Resumo: | Introdução: A evolução na técnica de assepsia e antibioterapia profilática tem mantido a incidência de infeção de próteses vasculares (IPV) baixa. No entanto, uma proporção de doentes ainda se encontra suscetível a uma patologia que coloca em risco a função do enxerto e do órgão-alvo perfundido, enquanto ameaça com complicações sépticas a vida de cada um dos afetados. A abordagem das IPV depende da manifestação da infeção e do microrganismo em questão, da topografia da prótese infetada e do estado geral do doente. Desde explantação total da prótese até antibioterapia prolongada são várias as estratégias terapêuticas, cabendo ao cirurgião avaliar qual contribuirá para uma evolução natural mais favorável para o doente. Com este trabalho, os autores propõem-se a caracterizar clinicamente a população de doentes com IPV, no seu centro hospitalar. Métodos: Usando o sistema informático hospitalar, foram colhidas as cartas de alta relativas ao Serviço de Cirurgia Vascular, entre os anos 2000-2018, com as palavras-chave infeção e prótese. Foram excluídos todas as infeções não relacionadas, infeções de próteses para acessos de diálise e os doentes cujos processos não tinham informação relativamente ao procedimento de implantação do enxerto. Resultados: Foram incluídos 47 processos de doentes entre os 46 e 84 anos (média 69 anos), 89% do sexo masculino. Apenas 15% eram diabéticos e apenas 2 doentes se encontravam sob imunossupressão. Cerca de 51% das próteses infetadas foram de enxertos aorto-bifemorais e os restantes relativos a procedimentos periféricos. Na casuística verificada, 13 das próteses infetadas foram colocadas em regime de urgência. As infeções tardias (>4 meses) assumem a maioria dos casos (70%). Os agentes gram-positivos foram os agentes mais frequentemente observados (50% dos quais o MRSA). A apresentação mais comum foi o aparecimento de falsos aneurismas anastomóticos e apenas 25% das próteses infetadas se encontravam ocluídas. A antibioterapia mais usada foram combinações incluindo Vancomicina, com duração entre as 1 e as 12 semanas. Em 85% dos doentes foi removido o enxerto. Destes, 57% foram revascularizados. O follow up foi heterogéneo com uma média de 26,5 meses. Como outcome, de referir 20% dos doentes submetidos a amputação major, 18% com mortalidade atribuída a IPV e 29% com mortalidade global não relacionada. Discussão: As IPV continuam a ser uma patologia desafiante, não só pelas consequências sépticas ou da isquemia de órgão-alvo, mas também pelo enquadramento dos doentes que são afetados. A crescente prevalência de agentes multirresistentes numa população cada vez mais envelhecida gera a necessidade de abordar esta patologia de uma forma multidisciplinar. A incidência IPV envolvendo a Aorta, e a exigência técnica de uma cirurgia major com impacto hemodinâmico, particularmente em infeções por agentes de reduzida virulência, pode obrigar a adequar as estratégias terapêuticas em doentes que não sejam aptos para cirurgia. No entanto, um tratamento conservador geralmente está associado a recorrência da infeção ou a possíveis complicações de uma infeção latente. Conclusão: É necessária uma abordagem multidisciplinar, com diagnóstico sensível e precoce, e um equilíbrio entre o local e agressividade da infeção ao contexto clínico de cada doente de forma a otimizar os resultados. |
id |
RCAP_ff1dfb24bbeec65ef32b318a4978f952 |
---|---|
oai_identifier_str |
oai:scielo:S1646-706X2020000200002 |
network_acronym_str |
RCAP |
network_name_str |
Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
repository_id_str |
7160 |
spelling |
Infeção de próteses vasculares - ainda uma entidade a temer?Infeção protésicaInfeção vascularIntrodução: A evolução na técnica de assepsia e antibioterapia profilática tem mantido a incidência de infeção de próteses vasculares (IPV) baixa. No entanto, uma proporção de doentes ainda se encontra suscetível a uma patologia que coloca em risco a função do enxerto e do órgão-alvo perfundido, enquanto ameaça com complicações sépticas a vida de cada um dos afetados. A abordagem das IPV depende da manifestação da infeção e do microrganismo em questão, da topografia da prótese infetada e do estado geral do doente. Desde explantação total da prótese até antibioterapia prolongada são várias as estratégias terapêuticas, cabendo ao cirurgião avaliar qual contribuirá para uma evolução natural mais favorável para o doente. Com este trabalho, os autores propõem-se a caracterizar clinicamente a população de doentes com IPV, no seu centro hospitalar. Métodos: Usando o sistema informático hospitalar, foram colhidas as cartas de alta relativas ao Serviço de Cirurgia Vascular, entre os anos 2000-2018, com as palavras-chave infeção e prótese. Foram excluídos todas as infeções não relacionadas, infeções de próteses para acessos de diálise e os doentes cujos processos não tinham informação relativamente ao procedimento de implantação do enxerto. Resultados: Foram incluídos 47 processos de doentes entre os 46 e 84 anos (média 69 anos), 89% do sexo masculino. Apenas 15% eram diabéticos e apenas 2 doentes se encontravam sob imunossupressão. Cerca de 51% das próteses infetadas foram de enxertos aorto-bifemorais e os restantes relativos a procedimentos periféricos. Na casuística verificada, 13 das próteses infetadas foram colocadas em regime de urgência. As infeções tardias (>4 meses) assumem a maioria dos casos (70%). Os agentes gram-positivos foram os agentes mais frequentemente observados (50% dos quais o MRSA). A apresentação mais comum foi o aparecimento de falsos aneurismas anastomóticos e apenas 25% das próteses infetadas se encontravam ocluídas. A antibioterapia mais usada foram combinações incluindo Vancomicina, com duração entre as 1 e as 12 semanas. Em 85% dos doentes foi removido o enxerto. Destes, 57% foram revascularizados. O follow up foi heterogéneo com uma média de 26,5 meses. Como outcome, de referir 20% dos doentes submetidos a amputação major, 18% com mortalidade atribuída a IPV e 29% com mortalidade global não relacionada. Discussão: As IPV continuam a ser uma patologia desafiante, não só pelas consequências sépticas ou da isquemia de órgão-alvo, mas também pelo enquadramento dos doentes que são afetados. A crescente prevalência de agentes multirresistentes numa população cada vez mais envelhecida gera a necessidade de abordar esta patologia de uma forma multidisciplinar. A incidência IPV envolvendo a Aorta, e a exigência técnica de uma cirurgia major com impacto hemodinâmico, particularmente em infeções por agentes de reduzida virulência, pode obrigar a adequar as estratégias terapêuticas em doentes que não sejam aptos para cirurgia. No entanto, um tratamento conservador geralmente está associado a recorrência da infeção ou a possíveis complicações de uma infeção latente. Conclusão: É necessária uma abordagem multidisciplinar, com diagnóstico sensível e precoce, e um equilíbrio entre o local e agressividade da infeção ao contexto clínico de cada doente de forma a otimizar os resultados.Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular2020-06-01info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/articletext/htmlhttp://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1646-706X2020000200002Angiologia e Cirurgia Vascular v.16 n.2 2020reponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAPporhttp://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1646-706X2020000200002Lima,PedroSilva,Cândida G.Antunes,LuísMoreira,MárioCorreia,MafaldaSilva,JoanaGonçalves,AnabelaGonçalves,Óscarinfo:eu-repo/semantics/openAccess2024-02-06T17:22:57Zoai:scielo:S1646-706X2020000200002Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-20T02:29:26.054872Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse |
dc.title.none.fl_str_mv |
Infeção de próteses vasculares - ainda uma entidade a temer? |
title |
Infeção de próteses vasculares - ainda uma entidade a temer? |
spellingShingle |
Infeção de próteses vasculares - ainda uma entidade a temer? Lima,Pedro Infeção protésica Infeção vascular |
title_short |
Infeção de próteses vasculares - ainda uma entidade a temer? |
title_full |
Infeção de próteses vasculares - ainda uma entidade a temer? |
title_fullStr |
Infeção de próteses vasculares - ainda uma entidade a temer? |
title_full_unstemmed |
Infeção de próteses vasculares - ainda uma entidade a temer? |
title_sort |
Infeção de próteses vasculares - ainda uma entidade a temer? |
author |
Lima,Pedro |
author_facet |
Lima,Pedro Silva,Cândida G. Antunes,Luís Moreira,Mário Correia,Mafalda Silva,Joana Gonçalves,Anabela Gonçalves,Óscar |
author_role |
author |
author2 |
Silva,Cândida G. Antunes,Luís Moreira,Mário Correia,Mafalda Silva,Joana Gonçalves,Anabela Gonçalves,Óscar |
author2_role |
author author author author author author author |
dc.contributor.author.fl_str_mv |
Lima,Pedro Silva,Cândida G. Antunes,Luís Moreira,Mário Correia,Mafalda Silva,Joana Gonçalves,Anabela Gonçalves,Óscar |
dc.subject.por.fl_str_mv |
Infeção protésica Infeção vascular |
topic |
Infeção protésica Infeção vascular |
description |
Introdução: A evolução na técnica de assepsia e antibioterapia profilática tem mantido a incidência de infeção de próteses vasculares (IPV) baixa. No entanto, uma proporção de doentes ainda se encontra suscetível a uma patologia que coloca em risco a função do enxerto e do órgão-alvo perfundido, enquanto ameaça com complicações sépticas a vida de cada um dos afetados. A abordagem das IPV depende da manifestação da infeção e do microrganismo em questão, da topografia da prótese infetada e do estado geral do doente. Desde explantação total da prótese até antibioterapia prolongada são várias as estratégias terapêuticas, cabendo ao cirurgião avaliar qual contribuirá para uma evolução natural mais favorável para o doente. Com este trabalho, os autores propõem-se a caracterizar clinicamente a população de doentes com IPV, no seu centro hospitalar. Métodos: Usando o sistema informático hospitalar, foram colhidas as cartas de alta relativas ao Serviço de Cirurgia Vascular, entre os anos 2000-2018, com as palavras-chave infeção e prótese. Foram excluídos todas as infeções não relacionadas, infeções de próteses para acessos de diálise e os doentes cujos processos não tinham informação relativamente ao procedimento de implantação do enxerto. Resultados: Foram incluídos 47 processos de doentes entre os 46 e 84 anos (média 69 anos), 89% do sexo masculino. Apenas 15% eram diabéticos e apenas 2 doentes se encontravam sob imunossupressão. Cerca de 51% das próteses infetadas foram de enxertos aorto-bifemorais e os restantes relativos a procedimentos periféricos. Na casuística verificada, 13 das próteses infetadas foram colocadas em regime de urgência. As infeções tardias (>4 meses) assumem a maioria dos casos (70%). Os agentes gram-positivos foram os agentes mais frequentemente observados (50% dos quais o MRSA). A apresentação mais comum foi o aparecimento de falsos aneurismas anastomóticos e apenas 25% das próteses infetadas se encontravam ocluídas. A antibioterapia mais usada foram combinações incluindo Vancomicina, com duração entre as 1 e as 12 semanas. Em 85% dos doentes foi removido o enxerto. Destes, 57% foram revascularizados. O follow up foi heterogéneo com uma média de 26,5 meses. Como outcome, de referir 20% dos doentes submetidos a amputação major, 18% com mortalidade atribuída a IPV e 29% com mortalidade global não relacionada. Discussão: As IPV continuam a ser uma patologia desafiante, não só pelas consequências sépticas ou da isquemia de órgão-alvo, mas também pelo enquadramento dos doentes que são afetados. A crescente prevalência de agentes multirresistentes numa população cada vez mais envelhecida gera a necessidade de abordar esta patologia de uma forma multidisciplinar. A incidência IPV envolvendo a Aorta, e a exigência técnica de uma cirurgia major com impacto hemodinâmico, particularmente em infeções por agentes de reduzida virulência, pode obrigar a adequar as estratégias terapêuticas em doentes que não sejam aptos para cirurgia. No entanto, um tratamento conservador geralmente está associado a recorrência da infeção ou a possíveis complicações de uma infeção latente. Conclusão: É necessária uma abordagem multidisciplinar, com diagnóstico sensível e precoce, e um equilíbrio entre o local e agressividade da infeção ao contexto clínico de cada doente de forma a otimizar os resultados. |
publishDate |
2020 |
dc.date.none.fl_str_mv |
2020-06-01 |
dc.type.status.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/publishedVersion |
dc.type.driver.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/article |
format |
article |
status_str |
publishedVersion |
dc.identifier.uri.fl_str_mv |
http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1646-706X2020000200002 |
url |
http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1646-706X2020000200002 |
dc.language.iso.fl_str_mv |
por |
language |
por |
dc.relation.none.fl_str_mv |
http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1646-706X2020000200002 |
dc.rights.driver.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/openAccess |
eu_rights_str_mv |
openAccess |
dc.format.none.fl_str_mv |
text/html |
dc.publisher.none.fl_str_mv |
Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular |
publisher.none.fl_str_mv |
Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular |
dc.source.none.fl_str_mv |
Angiologia e Cirurgia Vascular v.16 n.2 2020 reponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação instacron:RCAAP |
instname_str |
Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação |
instacron_str |
RCAAP |
institution |
RCAAP |
reponame_str |
Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
collection |
Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
repository.name.fl_str_mv |
Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação |
repository.mail.fl_str_mv |
|
_version_ |
1799137361662050304 |