Entre a salvação colectiva e a salvação individual: alguns vestígios literários romanos dos mitos das Matres Idaea e Aegyptia

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Lopes, Maria José Ferreira
Data de Publicação: 2018
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10400.14/33122
Resumo: A antiga Roma acolheu com relativa tolerância a generalidade dos deuses dos seus súbditos derrotados (Orlin, 2010, p. 3). Havia, de facto, limites: formatados por uma religião de estado, com rituais tão vetustos quanto estranhos, os romanos mostraram sempre receio por cultos orgiásticos que, além do descontrolo individual, potenciavam um oportunismo criminoso de efeitos colectivos: “ad summam rem publicam spectat” (Lívio, 39.16, sobre o escândalo das Bacanais de 186 a.C.). No entanto, em momentos de extremo perigo para a sobrevivência da Res Publica, e perante a impotência do panteão tradicional, verificou-se a introdução de deuses exóticos: assim, na Segunda Guerra Púnica, acolhem a Mater Idaea, incorporada no mito fundacional da Vrbs, mas acompanhada de séquito e rituais causadores de perplexidade e desconforto (Beard, 1996, p. 164). A conquista do mundo helenístico propiciou o contacto com outros cultos mistéricos, sobressaindo o que assenta no multifário mito egípcio de Ísis/Osíris, já adoptado e enriquecido pela cultura grega. Antes ainda das complexas reflexões de Plutarco (De Iside et Osiride) e da proclamação fervorosa de Apuleio (Metamorphoses), várias referências poéticas dos finais da República e inícios do Império sugerem a força da implantação deste culto, apesar do esforço de Augusto no sentido da restauração dos deuses tradicionais. Subjacente à nímia pietas dos iniciados, elogiada por Tertuliano (Ad Vxorem, 1.6), parece estar o equivalente a uma conversão, motivada pela ânsia de salvação individual (Bøgh, 2015).
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