O mobiliário precioso luso-asiático e as colecções renascentistas (kunstkammern)

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Pinto, Álvaro Sequeira
Data de Publicação: 2016
Tipo de documento: Artigo
Idioma: eng
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10400.14/43361
Resumo: O estudo do mobiliário como fenómeno coleccionista tem sido muito pouco aprofundado, ou mesmo deixado para segundo plano, em relação a outras áreas das artes decorativas. Há, no entanto, uma área muito especifica de mobiliário, ligado a uma aventura de conhecimento e descoberta do Universo que, não apenas por este facto, mas também pelos materiais nele utilizados, pelo seu exotismo, pela originalidade das suas decorações, pelos métodos empregues nos seu fabrico, pelas alterações das formas, pela originalidade das ferragens, pelo seu atrevimento, pela sua riqueza, pela sua novidade, pela sua cor, pela sua minucia, merece ser destacado do restante e carece de tratamento especifico do ponto de vista do Coleccionismo. Não apenas por estas razões mas também pelo seu simbolismo, pelo significado de poder e opulência que os mesmos chegam a representar. Pelo destaque social e politico que, muitas vezes, atribuem ao seu proprietário. São móveis, mesmo que de muito pequeno porte, como pequenas caixas, cofres ou contadores, ocupam um lugar muito importante nas "Camaras de Maravilhas" do séc. XVI. Transportadas nas naus que arribavam a Lisboa espalhavam-se por toda a Europa como objectos de culto. Culto de um Novo Mundo, ainda ao alcance de muito poucos, cheio de mistério e de mistérios, de misticismos e lendas, de cuja prova esses mesmo objectos eram, muitas vezes, a demonstração real. Para se falar de um verdadeiro coleccionismo deste tipo de mobiliário têm que se ter reunido as condições para tal. Ou seja: uma especial apetência para a sua aquisição e procura, uma classe alta e nobre especialmente apaixonada por esta classe de objectos, uma oferta significativa, e portanto centros de fabrico com produções minimamente organizadas, uma rede de comércio especializada, comerciantes que sabiam dessa apetência, encomendas e quem as orientasse no local de origem, agentes especialmente vocacionados e orientados para este tipo de mobiliário e para a sua distribuição a partir de Lisboa para toda a Europa. Muitas das grandes famílias europeias da época tinham os seus próprios compradores sedeados em Lisboa. Não tendo, propriamente, prova documental de que estes "procuradores" buscavam mobiliário luso-oriental, se procuravam jóias, bezoares e pedras preciosas da Rua Nova dos Mercadores em Lisboa não ficariam, certamente, indiferentes a um cofre de tartaruga ou a uma caixa de marfim. Muito menos a um contador, especialmente concebido para as conter e guardar. Não temos dúvidas, pela quantidade de exemplares existentes nos dias de hoje, da enorme produção deste tipo de mobiliário, incidentemente no séc. XVI. Também não temos dúvidas da raridade de alguns deles, exactamente pela razão contrária e pelo facto de, raramente ou nunca, constarem de qualquer inventário. Podemos afirmar, sem receio, que este mobiliário se espalhou por toda a Europa renascentista; encontramo-lo em importantes colecções europeias e colecções reais europeias. São ofertas frequentes entre famílias nobres e reais, de que D. Catarina de Áustria, Rainha de Portugal, é o exemplo mais eloquente no espaço europeu. Tentamos demonstrar a importância do rincão ibérico na génese das "Kunstkammern" e grandes colecções de Exótica na Europa renascentistas.
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spelling O mobiliário precioso luso-asiático e as colecções renascentistas (kunstkammern)The luso-asian furniture and the renaissance collections (kunstkammern)KunstkammernExoticaMobiliário Luso-orientalNambanDescobrimentosExoticLuso-Oriental furnitureDiscoveriesO estudo do mobiliário como fenómeno coleccionista tem sido muito pouco aprofundado, ou mesmo deixado para segundo plano, em relação a outras áreas das artes decorativas. Há, no entanto, uma área muito especifica de mobiliário, ligado a uma aventura de conhecimento e descoberta do Universo que, não apenas por este facto, mas também pelos materiais nele utilizados, pelo seu exotismo, pela originalidade das suas decorações, pelos métodos empregues nos seu fabrico, pelas alterações das formas, pela originalidade das ferragens, pelo seu atrevimento, pela sua riqueza, pela sua novidade, pela sua cor, pela sua minucia, merece ser destacado do restante e carece de tratamento especifico do ponto de vista do Coleccionismo. Não apenas por estas razões mas também pelo seu simbolismo, pelo significado de poder e opulência que os mesmos chegam a representar. Pelo destaque social e politico que, muitas vezes, atribuem ao seu proprietário. São móveis, mesmo que de muito pequeno porte, como pequenas caixas, cofres ou contadores, ocupam um lugar muito importante nas "Camaras de Maravilhas" do séc. XVI. Transportadas nas naus que arribavam a Lisboa espalhavam-se por toda a Europa como objectos de culto. Culto de um Novo Mundo, ainda ao alcance de muito poucos, cheio de mistério e de mistérios, de misticismos e lendas, de cuja prova esses mesmo objectos eram, muitas vezes, a demonstração real. Para se falar de um verdadeiro coleccionismo deste tipo de mobiliário têm que se ter reunido as condições para tal. Ou seja: uma especial apetência para a sua aquisição e procura, uma classe alta e nobre especialmente apaixonada por esta classe de objectos, uma oferta significativa, e portanto centros de fabrico com produções minimamente organizadas, uma rede de comércio especializada, comerciantes que sabiam dessa apetência, encomendas e quem as orientasse no local de origem, agentes especialmente vocacionados e orientados para este tipo de mobiliário e para a sua distribuição a partir de Lisboa para toda a Europa. Muitas das grandes famílias europeias da época tinham os seus próprios compradores sedeados em Lisboa. Não tendo, propriamente, prova documental de que estes "procuradores" buscavam mobiliário luso-oriental, se procuravam jóias, bezoares e pedras preciosas da Rua Nova dos Mercadores em Lisboa não ficariam, certamente, indiferentes a um cofre de tartaruga ou a uma caixa de marfim. Muito menos a um contador, especialmente concebido para as conter e guardar. Não temos dúvidas, pela quantidade de exemplares existentes nos dias de hoje, da enorme produção deste tipo de mobiliário, incidentemente no séc. XVI. Também não temos dúvidas da raridade de alguns deles, exactamente pela razão contrária e pelo facto de, raramente ou nunca, constarem de qualquer inventário. Podemos afirmar, sem receio, que este mobiliário se espalhou por toda a Europa renascentista; encontramo-lo em importantes colecções europeias e colecções reais europeias. São ofertas frequentes entre famílias nobres e reais, de que D. Catarina de Áustria, Rainha de Portugal, é o exemplo mais eloquente no espaço europeu. Tentamos demonstrar a importância do rincão ibérico na génese das "Kunstkammern" e grandes colecções de Exótica na Europa renascentistas.The study of furniture as a collector's phenomenon has yet to be properly explored, while being deemed secondary to other decorative arts. There is, however, a very specific type of furniture, related to the so-called 'adventure of knowledge' brought by the Age of Discovery that, not only by this fact but given the materials used, its exoticism, the original character of its decoration, the methods employed in its craftsmanship, the innovation depicted by its shapes and forms, the originality of its metal fittings, its boldness, richness, freshness, colour, and detail deserves to be emphasized from the rest and lacks specific treatment from the collector's point of view. Not only for these motives, but also by its symbolism and the meaning of power and splendour that it represents, through the social and political highlight that is often attributed to its owner. This type of furniture, even if small in size, such as small boxes, caskets or cabinets, occupies a very important part of the “Chamber of Wonders” that marks the sixteenth century. Transported in the ships that arrived in Lisbon, they spread throughout Europe as glorified objects, representing a New World that was at the reach of very few and was embedded with mysteries, with myths and legends, and often serving as proof of its existence and truth. In order to discuss a true collector's practice regarding this kind of furniture, the right conditions must be assured. That is: a special aptitude for its pursuit and acquisition, a noble class drawn to this class of objects, a significant offer and organized production centres, a web of specialized commerce, merchants aware of this demand, client orders and someone to orient them at the origins, and also specialized agents towards this type of furniture and its distribution from Lisbon to the rest of Europe. Many of the great European families at the time had their own buyers based in Lisbon. Not having documented proof that these agents were looking for Luso-Oriental furniture, if they were searching for jewellery, bezoars and precious stones at the Rua Nova dos Mercadores in Lisbon, they would certainly not be indifferent to a tortoiseshell casket or to an ivory casket. Much less a cabinet, especially designed to keep and store these objects. We have no doubt, given the number of these objects known today, that they were heavily manufactured, mainly in the sixteenth century. Simultaneously, we do not doubt the rarity of some of these objects for the opposite reason, as they rarely, if ever, were recorded in any inventory. We can state, without fear that this type of furniture spread through Renaissance Europe. We find it in important European collections, as well as in Royal collections. Gift giving of this type of objects was frequent amongst noble and royal families, and the most eloquent example in Europe is Catherine of Austria, Queen of Portugal. We have tried to demonstrate the importance of the Iberian nook in the genesis of the “Kunstkammern” and the great exotic collections in Renaissance Europe.Veritati - Repositório Institucional da Universidade Católica PortuguesaPinto, Álvaro Sequeira2023-12-15T14:19:58Z2016-12-142016-12-14T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/articleapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10400.14/43361eng2255-205710.17811/rm.5.2016.1-35000397419500001info:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2023-12-19T01:38:45Zoai:repositorio.ucp.pt:10400.14/43361Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-20T00:55:02.401715Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
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