A escrita alfabética grega: uma invenção da pólis? A contribuição da arqueologia

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Sarian, Haiganuch
Data de Publicação: 1999
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Classica (Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos. Online)
Texto Completo: https://revista.classica.org.br/classica/article/view/455
Resumo: Com a desagregação dos palácios micênicos no final do Bronze Recente (1250-1100 a.C.) desapareceram a um só tempo a escrita Linear B que conotava o grego micênico e as estruturas palaciais, fato explicado pela utilização do silabário micênico apenas no quadro da administração oficial dos palácios. Entretanto, esta escrita linear, de origem cretense, sobrevive em Chipre, levada pelos colonos aqueus ou mesmo, anteriormente, pelos minóicos, num momento de profundos contatos em território sírio agrupando cipriotas e componentes originários da ilha da Creta. Surpreendentemente, Chipre conservou registros da escrita linear cretense, sobretudo a partir do séc. IX a.C. até o séc. III a.C., tendo servido para conotar tanto a língua local – o eteocipriota – quanto o grego cipriota. Na própria Grécia, durante três séculos parece ter-se desconhecido qualquer forma de escrita e a ocupação humana limita-se a algumas poucas aglomerações. Quando a escrita reaparece, não se trata mais de silabário cretense, mas de uma escrita alfabética “inventada” pelos gregos a partir do alfabeto fenício, conhecido e divulgado desde os sécs. XI e X, época do início da expansão dos fenícios pelo Mediterrâneo. Trata-se, sem dúvida alguma, de uma das maiores contribuições culturais para o mundo ocidental, pois na origem desta “invenção” do alfabeto grego situa-se a família dos alfabetos ocidentais – de início o etrusco e o latino, e a partir daí os que dominam o Ocidente. Minhas reflexões sobre o surgimento da escrita alfabética grega no quadro da polis implica questionar quando, onde e para que os gregos inventaram o seu alfabeto. A data e a região estão associadas e devem ser analisadas conjuntamente. Os dados arqueológicos, linguísticos e históricos apontam para o séc. IX a.C. a adaptação grega do alfabeto fenício e o seu uso primitivo teria sido o da administração comercial, desenvolvida entre os gregos, cipriotas e fenícios no litoral norte da Siro-Fenícia. No tocante a articulação entre a invenção da escrita alfabética grega e a origem da pólis, algumas questões serão aprofundadas.
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