Medicina popular em um trecho de mata atlântica: a importância da revalorização de práticas tradicionais

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Quinteiro, Mariana Martins da Costa
Data de Publicação: 2012
Outros Autores: Moraes, Moemy Gomes de
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (Online)
Texto Completo: https://www.rbmfc.org.br/rbmfc/article/view/605
Resumo: Introdução: Visconde de Mauá situa-se em um trecho de Floresta Atlântica montana, com poucos estudos sobre sua biodiversidade. As práticas tradicionais e culturais de comunidades de montanha estão em seu processo inicial de estudos. Objetivo: O trabalho teve como objetivo realizar o levantamento das características etnológicas de especialistas em plantas medicinais na comunidade de Visconde de Mauá, observando como vem sendo dada a transmissão desse conhecimento. Método: Foram entrevistados 13 especialistas locais, entre “erveiros”, “mateiros”, “benzedeiros”, “curandeiras” e pequenos produtores, entre os anos de 2008 e 2010. Entre estes, 9 eram mulheres, principais mantenedoras dos cultivos de “exóticas” em quintais, enquanto os homens buscavam a caminhadas,em zonas ecológicas distintas, como brejos, campos de altitude, mata de beira de rio e floresta climáxica, preferencialmente as plantas medicinais nativas. A maioria (10) possui mais do que 50 anos, oito sendo analfabetos ou com estudo até o primário incompleto. Resultados: O aumento do acesso à educação formal parece estar negativamente correlacionado com o conhecimento empírico sobre plantas medicinais. Todos relataram a forma oral de recebimento e transmissão do saber sobre as plantas como a principal. Desses, 11 estavam envolvidos em atividades de baixa renda, na maioria das vezes, relacionadas às atividades turísticas locais como “roça”, “faxina”, “limpeza” e “obra”. Os baixos recursos financeiros podem estimular esses “medicamentos de graça”, entretanto, a prática dessas profissões afasta esses conhecedores da “lida com a terra”, além de mudar o uso e ocupação do solo, com menos plantios na região. A caracterização etnológica dos informantes-chave, no contexto histórico da região, caracteriza esse grupo como um resquício da população tradicional nativa local ou descendentes diretos desta. Encontram-se ligados à preservação de valores e culturas tradicionais sobre as plantas, podendo guardar saberes de diferentes etnias, ao longo das gerações. O maior fator de ameaça ao conhecimento e existência de plantas medicinais em regiões tropicais aparenta ser as mudanças culturais, especialmente influenciadas pelo processo de globalização. Parece haver pouco ou nenhum interesse entre os membros jovens das comunidades tradicionais em assimilar e transmitir o conhecimento sobre plantas medicinais das gerações passadas. Conclusão: A ligação cognitiva com a natureza sustentada por habitantes tradicionais e suas tradições orais talvez estejam em maior risco de extinção do que a flora medicinal.
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