O discurso da falta e do excesso : a automutilação

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Assumpção, Ana Paula Vieira de Andrade
Data de Publicação: 2016
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações do UCpel
Texto Completo: http://tede.ucpel.edu.br:8080/jspui/handle/tede/473
Resumo: Tomamos o corpo afetado por um sintoma que vem aumentando gradativamente nos últimos anos entre os jovens: a automutilação. Entendendo que se faz necessário compreender que prática é essa que o sujeito investe em seu corpo, mobilizamos, em nosso corpus empírico, material teórico oriundo da Psicanálise em sua articulação com a Análise de Discurso pêcheuxtiana. A AD trabalha com as estruturas-funcionamento, ideologia e inconsciente, que se encontram materialmente ligadas na ordem do significante da língua. Isso significa dizer que, nos processos de constituição do sujeito pela linguagem, o inconsciente e a ideologia são inseparáveis. A presente pesquisa visa à compreensão do discurso inscrito literalmente no corpo do sujeito. O corpo, de acordo com a perspectiva adotada no presente trabalho, é percebido não como objeto empírico, mas como materialidade significante, como objeto discursivo. É o corpo dominado pela linguagem que não escapa da interpelação ideológica, corpo desejante e desejado simbolicamente, que consome e é consumido, corpo (trans)formado, corpo submetido ao poder, culturalmente construído, corpo dócil e submisso, mas que também resiste simbolicamente, corpo que fala e se esconde e que se manifesta em diferentes práticas discursivas. Vista historicamente a construção do corpo através da estética, da religiosidade, do consumo e da sexualidade demonstra a fragmentação dos sujeitos, sujeitos vazios, jovens vazios, angustiados, sozinhos, rejeitados, insatisfeitos com sua aparência física e existência, que não se reconhecem na passagem para a vida adulta. Daí a automutilação, um ritual perturbado, uma tentativa de autocontrole, de distribuição de poder, de sacrifício para obter salvação, um ato simbólico de transgressão, uma tentativa de discursivizar a angústia que o sujeito sente em decorrência do assujeitamento à forma-sujeito contemporânea. Nossa proposta é tomarmos o corpo como lugar de observação de sentidos, no caso específico da automutilação, e identificarmos de que forma, através de elementos linguísticos e enunciativos retirados de enunciados do Facebook, esse sintoma é discursivizado. Isso será realizado através do emprego de estratégias operacionais que visam à dessintagmatização linguística e enunciativa, permitindo a identificação de elementos do nível interdiscursivo e sua articulação na materialidade significante. Os enunciados, referentes à inscrição impiedosa e dolorosamente literal no corpo através da automutilação, possuem pistas indicativas do funcionamento de sentidos que oscilam, na materialidade linguística e no corpo, um discurso oscilante, e do movimento exacerbado de autopunição que cria a “necessidade” de uma configuração corpórea diferenciada, submetida à sensação de domínio e poder sobre o próprio corpo de um sujeito que, pela falta de uma falta, busca o gozo excessivo.
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Daí a automutilação, um ritual perturbado, uma tentativa de autocontrole, de distribuição de poder, de sacrifício para obter salvação, um ato simbólico de transgressão, uma tentativa de discursivizar a angústia que o sujeito sente em decorrência do assujeitamento à forma-sujeito contemporânea. Nossa proposta é tomarmos o corpo como lugar de observação de sentidos, no caso específico da automutilação, e identificarmos de que forma, através de elementos linguísticos e enunciativos retirados de enunciados do Facebook, esse sintoma é discursivizado. Isso será realizado através do emprego de estratégias operacionais que visam à dessintagmatização linguística e enunciativa, permitindo a identificação de elementos do nível interdiscursivo e sua articulação na materialidade significante. Os enunciados, referentes à inscrição impiedosa e dolorosamente literal no corpo através da automutilação, possuem pistas indicativas do funcionamento de sentidos que oscilam, na materialidade linguística e no corpo, um discurso oscilante, e do movimento exacerbado de autopunição que cria a “necessidade” de uma configuração corpórea diferenciada, submetida à sensação de domínio e poder sobre o próprio corpo de um sujeito que, pela falta de uma falta, busca o gozo excessivo.We take the body as something affected by a synthon, which is gradually increasing between teens: self-mutilation. Concerning that, it is necessary to understand what practice is this, in which the subject invests against his/her body, we mobilize, in our empirical corpus, theoretical material that comes from Psychanalyses in its articulation with Pêcheux’s Discourse Analysis. The DA works with functioning-structures, ideology and unconscious, that are materially linked into the language’s significant order. It means say that, in the subject’s constitution process, language, unconscious and ideology are inseparable. This research has as its aim the comprehension of the discourse literally registered on the subject’s body. The body, according to the perspective adopted in this work, is not realized as empirical object, but as significant materiality, we mean, as discursive object. It is the body subdued by language, which does not escape from the ideological interpellation, desiring body and symbolically desired, which consumes and it is consumed, (trans) formed body, body submitted to a power, culturally built, docile and obedient body, however it is also symbolically resistant. A body, which says and hides itself, at the same time that shows us itself, in different discursive practices. Historically seem, the construction of the body through esthetics, religiosity, consumption and sexuality show us the subject fragmentation, they are empty subjects, empty teens, distressed, alone, rejected, unsatisfied with their own physical existence, who do not recognize their passage to adulthood. Hence the selfmutilation, a troubled ritual, a self-control and power distribution’s attempt, a kind of sacrifice to obtain salvation, a symbolic act of offence, one attempt to discourse the anxiety, which is felt by subject is the consequence of subjection to contemporary subject-form. Our proposal is to take the body as sense observation’s place, in the specific self-mutilation case, and identify in what way, linguistics and enunciatively elements are taken by Facebook’s sentences. We mean, how this synthon is told discursively. Then, it will be realized through the employment of operational strategies, which aimed the linguistic and enunciatively dessintagmatização, allowing the recognition of elements in the inter-discursive level in its articulation in the significant materiality. The sentences, referred to the ruthless registration and literally painful in the body, through self-mutilation, have indicative clues of the functioning sense. The senses swings in both language materiality and body, swinging discourse. The sentences also, presents us clues of the exacerbate movement of selfpunishment, that creates the “necessity” of one different body configuration, submitted to the sense of mastery and power, over his own body, of a subject who, for lack of a fault, looks for the excessive joy.Universidade Catolica de PelotasCentro de Ciencias Sociais e Tecnologicas##-8792015687048519997##600BrasilUCPelPrograma de Pos-Graduacao em Letras##8902948520591898764##600Ernst, Aracy Graçahttp://lattes.cnpq.br/0111697525286894Cazarin, Ercília Anahttp://lattes.cnpq.br/2992496360780908Vinhas, Luciana Iosthttp://lattes.cnpq.br/2001548222755825Assumpção, Ana Paula Vieira de Andrade2016-07-29T16:59:09Z2016-02-04info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfAssumpção, Ana Paula Vieira de Andrade. O discurso da falta e do excesso : a automutilação. 2016. 100 f. 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