Cayapós, caminhantes da história e da ficção em "Guerra no coração do Cerrado", de Maria José Silveira

• Autor(a) principal: Lapidus, Ângela Maria Álvares
• Data de Publicação: 2020
• Tipo de documento: Dissertação
• Idioma: por
• Título da fonte: Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações da UEG
• Texto Completo: http://www.bdtd.ueg.br/handle/tede/768
• topic: Cerrado; Maria José Silveira; Povos indígenas; Romance histórico; Indigenous people; Historical novel; LINGUISTICA, LETRAS E ARTES

Este estudo objetiva realizar uma análise do romance Guerra no coração do Cerrado (2006), da escritora Maria José Silveira. As três partes que compõem a narrativa e seus respectivos capítulos anunciam a trajetória de vida da índia Cayapó Damiana da Cunha, entre 1779 e 1831, na então Capitania de Goiás, hoje estado da federação. Este período referido na narrativa coincide com a real situação do Brasil Colônia, com a imposição de políticas luso-brasileiras destinadas aos povos originários e com a sangrenta guerra entre indígenas e não indígenas que já havia se instalado no Brasil Central. O prólogo faz referência à mitificação da índia Damiana como heroína dos combatentes e à guerra que se travou entre indígenas e não indígenas, ocasionando o extermínio de diferentes grupos de pessoas de várias etnias. O epílogo apresenta informações da historiografia oficial sobre Damiana da Cunha, incluindo a data de sua morte em 1831, aos 56 anos de idade. Nesta parte, estão incluídas a prisão e a morte de seu irmão Manoel da Cunha em Vila Boa de Goiás, hoje Cidade de Goiás, no estado de Goiás e as frustradas reivindicações de pagamento feitas por Manuel Pereira da Cruz (viúvo de Damiana) pelos serviços prestados às expedições em que acompanhou a esposa. A narrativa apresenta a protagonista, a índia Cayapó, que intencional e astutamente, convive com dois povos inimigos entre si, testemunhando parte da guerra secular entre eles. Sentimentos como medo, ódio, vingança e ganância pelo poder estão presentes na tessitura da trama e das personagens. O final do romance permite uma reflexão crítica das representações simbólicas trazidas pelo enredo e uma releitura da guerra no “coração do Cerrado”. Assim, a análise do romance é uma tentativa de problematizar temas como a colonização no sertão goiano, a dizimação do povo Cayapó e a cobiça antiga e persistente de diferentes sujeitos pelo Cerrado. A historicidade que abarca o romance, tanto relativa aos temas quanto às personagens, é pensada no campo da Literatura, na perspectiva do romance histórico.