De gregos a baianos : canção, literatura e teatro nas tramas rapsódicas de Maria Bethânia

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Forin Junior, Renato
Data de Publicação: 2024
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UEL
Texto Completo: https://repositorio.uel.br/handle/123456789/16039
Resumo: Resumo: A tese toma como objeto a obra da intérprete Maria Bethânia, mais especificamente a forma que ela concebeu junto do diretor Fauzi Arap entre os anos 196-197 e refinou ao longo de cinco décadas de trajetória artística, com diferentes encenadores: o “espetáculo de música teatralizado” O roteiro destes shows é pensado a partir da minuciosa organização intertextual de fragmentos literários e canções Tal dramaturgia, feita de quadros sucessivos, dialoga com signos de várias naturezas durante a realização cênica Estes dados nos levam – a despeito da crítica – a destacar a essência teatral da forma e servem de base para nossa principal hipótese: o espetáculo de música teatralizado de Maria Bethânia anuncia no Brasil características da cena contemporânea, que se tornariam paradigmáticas nos palcos a partir dos anos 198 Para comprovar a proposição, analisamos trechos de vários shows da intérprete à luz da teoria do drama, sem perder de vista os estudos de literatura e oralidade Nossa principal base teórica é o francês Jean-Pierre Sarrazac, para quem a “rapsódia” regressa da ancestralidade grega para se transformar em uma das qualidades peculiares do drama moderno e contemporâneo Assim, o texto teatral torna-se um jogo de construção a partir de colagens e montagens, e o autor é uma espécie de engenheiro que organiza esses elementos – exatamente como ocorre na obra de Bethânia Adotamos ainda outros conceitos como o transbordamento, a poeticidade, o teatro dos possíveis, a fragmentação, o drama-da-vida, o íntimo, a (crise da) mimesis, o metateatro e o trágico (do) cotidiano, sempre tendo como norte a pertinência à obra da intérprete baiana Antes, nossas reflexões centram-se sobre o fenômeno da canção popular brasileira Lançamos a possibilidade de compreendê-la como um lugar de reencontro entre filosofia e poesia, estas instâncias segregadas pelo racionalismo de Platão O filósofo condena a textura performativa da palavra poética e a conduz ao silêncio ocidental A partir destes argumentos – e tomando como referência a transformação de um dos primeiros mitos femininos da voz, as sereias –, estabelecemos uma ponte sincrônica entre o Brasil e a Grécia Arcaica (mitopoética, não contaminada pelo logocentrismo insonoro) Nossa proposta é compreender a cultura brasileira a partir da rapsodização, cuja marca é a mistura, a amálgama, a heterogeneidade – na linha da Antropofagia e do Tropicalismo Nossos intérpretes são neorrapsodos: como os antigos poetas gregos, elaboram obras autorais a partir da costura (“rhaptein”, em grego, significa “costurar”) de múltiplos textos-tecidos e realizam-nas plenamente em uma performance interartística
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spelling De gregos a baianos : canção, literatura e teatro nas tramas rapsódicas de Maria BethâniaMúsica e literaturaMúsica brasileiraTeatroRapsódias (Música)Brazilian musicRhapsodies (Music)Resumo: A tese toma como objeto a obra da intérprete Maria Bethânia, mais especificamente a forma que ela concebeu junto do diretor Fauzi Arap entre os anos 196-197 e refinou ao longo de cinco décadas de trajetória artística, com diferentes encenadores: o “espetáculo de música teatralizado” O roteiro destes shows é pensado a partir da minuciosa organização intertextual de fragmentos literários e canções Tal dramaturgia, feita de quadros sucessivos, dialoga com signos de várias naturezas durante a realização cênica Estes dados nos levam – a despeito da crítica – a destacar a essência teatral da forma e servem de base para nossa principal hipótese: o espetáculo de música teatralizado de Maria Bethânia anuncia no Brasil características da cena contemporânea, que se tornariam paradigmáticas nos palcos a partir dos anos 198 Para comprovar a proposição, analisamos trechos de vários shows da intérprete à luz da teoria do drama, sem perder de vista os estudos de literatura e oralidade Nossa principal base teórica é o francês Jean-Pierre Sarrazac, para quem a “rapsódia” regressa da ancestralidade grega para se transformar em uma das qualidades peculiares do drama moderno e contemporâneo Assim, o texto teatral torna-se um jogo de construção a partir de colagens e montagens, e o autor é uma espécie de engenheiro que organiza esses elementos – exatamente como ocorre na obra de Bethânia Adotamos ainda outros conceitos como o transbordamento, a poeticidade, o teatro dos possíveis, a fragmentação, o drama-da-vida, o íntimo, a (crise da) mimesis, o metateatro e o trágico (do) cotidiano, sempre tendo como norte a pertinência à obra da intérprete baiana Antes, nossas reflexões centram-se sobre o fenômeno da canção popular brasileira Lançamos a possibilidade de compreendê-la como um lugar de reencontro entre filosofia e poesia, estas instâncias segregadas pelo racionalismo de Platão O filósofo condena a textura performativa da palavra poética e a conduz ao silêncio ocidental A partir destes argumentos – e tomando como referência a transformação de um dos primeiros mitos femininos da voz, as sereias –, estabelecemos uma ponte sincrônica entre o Brasil e a Grécia Arcaica (mitopoética, não contaminada pelo logocentrismo insonoro) Nossa proposta é compreender a cultura brasileira a partir da rapsodização, cuja marca é a mistura, a amálgama, a heterogeneidade – na linha da Antropofagia e do Tropicalismo Nossos intérpretes são neorrapsodos: como os antigos poetas gregos, elaboram obras autorais a partir da costura (“rhaptein”, em grego, significa “costurar”) de múltiplos textos-tecidos e realizam-nas plenamente em uma performance interartísticaTese (Doutorado em Letras) - Universidade Estadual de Londrina, Centro de Letras e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em LetrasAbstract: The thesis takes as its object the work of the interpreter Maria Bethânia, more specifically the form she conceived with the director Fauzi Arap between the years 196 and 197 and refined over five decades of artistic trajectory, with different directors: the "theatrical spectacle of music" The script of these shows is thought from the meticulous intertextual organization of literary fragments and songs Such dramaturgy, made of successive takes, dialogues with signs of various natures during the scenic performance These data lead us - despite criticism - to emphasize the theatrical essence of form and serve as a basis for our main hypothesis: the Maria Bethânia's theatrical spectacle of music announces in Brazil characteristics of the contemporary scene, which would become paradigmatic on stage from the 198s To prove the proposition, we analyze portions of several interpreter shows in the light of drama theory, without losing sight of literature and oral studies Our main theoretical basis is the French Jean-Pierre Sarrazac, for whom "rhapsody" returns from Greek ancestry to become one of the peculiar qualities of modern and contemporary drama Thus, the theatrical text becomes a game of construction from collages and assemblies, and the author is a kind of engineer who organizes these elements - just as it happens in the work of Bethânia We also adopt other concepts such as the overflow, poeticity, theater of possibles, fragmentation, drama-of-life, intimate, the (crisis of) mimesis, metatheatre, and tragic (of) everyday life, always aiming at the pertinence to the work of the Bahian interpreter Previously, our reflections center on the phenomenon of the popular Brazilian song We launch the possibility of understanding it as a place of reencounter between philosophy and poetry, these instances segregated by the rationalism of Plato The philosopher condemns the performative texture of the poetic word and leads it to the Western silence Using these arguments – and taking as a reference the transformation of one of the first feminine myths of the voice, the sirens/mermaids –, we established a synchronic bridge between Brazil and Archaic Greece (mythopoetic, uncontaminated by soundless logocentrism) Our proposal is to understand the Brazilian culture from the rhapsodization, whose mark is the mixture, the amalgam, the heterogeneity - in the line of Anthropophagy and Tropicalism Our interpreters are neorhapsodies: like the ancient Greek poets, they elaborate works from the sewing ("rhaptein", in Greek, means "sew") of multiple texts-fabrics and fully realize them in an interart performancePascolati, Sonia Aparecida Vido [Orientador]Silva, Alexandra Moreira daMatos, Edilene DiasCelano, Diego Emanuel GiménezFernandes, Frederico Augusto GarciaForin Junior, Renato2024-05-01T14:59:44Z2024-05-01T14:59:44Z2017.0030.05.2017info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttps://repositorio.uel.br/handle/123456789/16039porDoutoradoLetrasCentro de Letras e Ciências HumanasPrograma de Pós-graduação em LetrasLondrinareponame:Repositório Institucional da UELinstname:Universidade Estadual de Londrina (UEL)instacron:UELinfo:eu-repo/semantics/openAccess2024-07-12T04:19:40Zoai:repositorio.uel.br:123456789/16039Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.bibliotecadigital.uel.br/PUBhttp://www.bibliotecadigital.uel.br/OAI/oai2.phpbcuel@uel.br||opendoar:2024-07-12T04:19:40Repositório Institucional da UEL - 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