De garoto de recados a detentor dos segredos do mundo : a representação de Exu em Deuses de dois mundos, a trilogia épica dos orixás (Brasil - Século XXI)

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Fialho, Laís Azevedo
Data de Publicação: 2019
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da Universidade Estadual de Maringá (RI-UEM)
Texto Completo: http://repositorio.uem.br:8080/jspui/handle/1/6823
Resumo: Orientadora: Profª. Drª. Vanda Fortuna Serafim.
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spelling De garoto de recados a detentor dos segredos do mundo : a representação de Exu em Deuses de dois mundos, a trilogia épica dos orixás (Brasil - Século XXI)Exu (Orixá) - CandombléExu (Orixá) - NarrativasMitologia iorubá299.673Ciências HumanasHistóriaOrientadora: Profª. Drª. Vanda Fortuna Serafim.Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Estadual de Maringá, 2019Neste trabalho, pretendemos analisar a representação de Exu, em Deuses de dois mundos, trilogia ficcional escrita por PJ Pereira e publicada pela Editora Livros de Safra, nos anos 2013, 2014 e 2015 – primeiro, segundo e terceiro volume, respectivamente. Enfatizamos, na criação literária, as apropriações e adaptações dos mitos de Exu, destacando que a obra se pauta nos mitos de construção representativa dos orixás, incorporados à religiosidade africana e afro-brasileira. Buscamos compreender a construção narrativa e enredo presentes na obra, uma trama que vai sendo produzida para referendar Exu, a divindade mais dinâmica e mal interpretada dentre as cultuadas nas religiosidades afro-brasileiras. Consideramos a trilogia épica dos orixás uma fonte histórica literária para o estudo da cultura afro-brasileira, percebendo como essa é representada na obra por meio da apropriação da mitologia ioruba. Analisamos as narrativas históricas sobre Exu nos estudos bibliográficos que contribuem para construção de algumas de suas representações históricas. Abordamos também as narrativas cinematográficas, literárias e fonográficas, que constituem o universo cultural de produção da nossa fonte, além do nosso próprio espaço de elaboração de hipóteses e problematizações científicas. Do ponto de vista metodológico, considerando a especificidade do trato da narrativa literária com vista à construção de uma representação mitológica, partimos das discussões presentes em Michel de Certeau (1982), voltadas ao lugar social, práticas e escrita, como componentes da operação historiográfica. Exploramos as contribuições de Roger Chartier (1990) sobre apropriação e representação, e de Sandra Pesavento (2008), que fazem aproximações entre história e literatura. Foram importantes ainda as discussões de François Hartog (1999) acerca das retóricas de alteridade, além de algumas considerações de Joseph Campbell e Moyers (1990) e Marcel Detienne (1992) sobre a historicidade dos mitos. Do ponto de vista teórico, nos detemos nos estudos de Chandra Mohanty (1991), Frantz Fanon (2008), Kabengele Munanga (2009), Stuart Hall (2006) e Gayatri Chakravorty Spivak (2010), que refletem sobre a lógica colonial, o embranquecimento cultural, a ocidentalização do saber e a ocidentalização da alteridade. Tais noções norteiam nossa problematização de como o pretenso universalismo eurocêntrico, de um modo único e racional de pensar, apaga e silencia as complexidades e conflitos que incidem nas representações mais controversas de Exu. Constatamos em nossa análise que a trilogia épica dos orixás inicia a narrativa admitindo Exu como um moleque de recados, comilão e trickster, para, paulatinamente, atribuir-lhe maior importância, como mensageiro, guardião dos caminhos e rei dos mercados, no segundo volume, e, finalmente, como detentor dos segredos importantes do mundo, no último. Mesmo assim, o que encontramos na obra são versões bastante ocidentalizadas, embranquecidas e, por vezes, atenuantes dos mitos de Exu. Em nossa visão, houve uma suavização da narrativa, uma tentativa de tornar a história de Exu mais palatável e higienizada. Acreditamos que essa foi a opção que PJ Pereira (2015) adotou para tornar o texto inteligível para todos os leitores, e não somente para os adeptos do candomblé ou conhecedores dos mitos iorubas. Por fim, indicamos que, para tornar Exu o protagonista de um best-seller, foi preciso embranquecer, suavizar e silenciar alguns de seus aspectos controversos, como o falo, a sexualidade e seu caráter não maniqueísta.In this thesis we intend to analyze the representation of Eshu in "Deuses de Dois Mundos", a fictional trilogy written by PJ Pereira and published by "Livros de Safra" Editor, in the years 2013, 2014 and 2015, available in volumes one, two and three, respectively. In the literary narrative, we emphasize the appropriations and redetermination of the myths of Eshu, emphasizing that the work it is based on the myth of representative construction of the Orishas, incorporated into African and African-Brazilian religiosity. We seek to understand the narrative and plot construction in the work by PJ Pereira, a plot that is being produced to refer Eshu as the most dynamic and misunderstood divinity among those worshiped in the African-Brazilian religiosity. The "Trilogia Épica dos Orixás" which we consider a literary historical source for the study of Africa-Brazilian culture, while observing how that has been represented in the work throughout the appropriation of Yoruba mythology. We not only analyze the historical narratives about Eshu in the bibliographical studies that contribute to the construction of some of his historical representation, but also approach the cinematographic, literary and phonographic narratives which constitute the cultural universe of production of our source, as well as our own space for the elaboration of scientific hypotheses and questioning. From a methodological point of view, considering the specificity of the treatment of the literary narrative in order to produce a mythological representation, we start from the discussions presented by Michel de Certeau (1982), which is focused on the social place, practices and writings as components of the historiographical operation. We explore the contributions of Roger Chartier (1990) on appropriation and representation, and Sandra Pesavento (2008), which make approaches between history and literature. It was also important highlight François Hartgo’s (1999) discussions on rhetoric of otherness besides some considerations from Joseph Campbell and Moyers (1990) and Marcel Detienne (1992) on the historicity of myths. From a theoretical point of view, we study Chandra Mohanty (1991), Franz Fanon (2008), Kabengele Munanga (2009, Stuart Hall (2006) and Gayatru Chakravorty Spivak (2010), which reflect on the colonial logic, cultural whitening, the Westernization of knowledge and the otherness. Such notions guide our questioning of how the alleged Eurocentric universalism, in a unique and reasonable way of thinking, erases and silences the complexities and conflicts that focus on the Eshu’s most controversial representation. We found out in our analysis that the Trilogia Épica dos Orixás begins the narrative by admitting Eshu as an errand boy, glutton and trickster, to gradually, giving it greater importance, as a messenger, guardian of the path and king of the markets, in the second volume, and finally, as a keeper of the world’s most important secrets of the world, in the last volume. Even so, what we find in the work are rather westernizes, whitened, and sometimes, extenuating the Eshu myths. In our view, there has been a softening/smoothing of the narrative, in attempt to make the story of Eshu more palatable and cleaner. We believe this was the option that PJ Pereira (2015) adopted to make the text intelligible to all readers, and not only for those who are adherent of Candomblé or connoisseurs of the Yoruba myths. Finally, we point out in order to make Eshu the protagonist of the bestseller, it was necessary to white, to wash and to silence some of his controversial aspects, such as phallus, sexuality and his non-Manichean character.160 f. : il.Universidade Estadual de MaringáDepartamento de HistóriaPrograma de Pós-Graduação em HistóriaMaringá, PRCentro de Ciências Humanas, Letras e ArtesSerafim, Vanda FortunaKatrib, Cairo MohamadAndrade, Solange Ramos de, 1962-Elias, Maria Ligia Granado Ganacim RodriguesFialho, Laís Azevedo2022-09-16T21:37:05Z2022-09-16T21:37:05Z2019info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfFIALHO, Laís Azevedo. De garoto de recados a detentor dos segredos do mundo: a representação de Exu em Deuses de dois mundos, a trilogia épica dos orixás (Brasil - Século XXI). 2019. 160 f. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Estadual de Maringá, 2019, Maringá, PR.http://repositorio.uem.br:8080/jspui/handle/1/6823info:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da Universidade Estadual de Maringá (RI-UEM)instname:Universidade Estadual de Maringá (UEM)instacron:UEM2023-10-25T16:56:57Zoai:localhost:1/6823Repositório InstitucionalPUBhttp://repositorio.uem.br:8080/oai/requestopendoar:2024-04-23T14:59:45.573367Repositório Institucional da Universidade Estadual de Maringá (RI-UEM) - Universidade Estadual de Maringá (UEM)false
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