Dos espaços do corpo ao corpo no espaço: literatura e cultura

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Busato, Susanna
Data de Publicação: 2021
Outros Autores: Assunção, Sandra
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: REVELL : Revista de Estudos Literários da UEMS
Texto Completo: https://periodicosonline.uems.br/index.php/REV/article/view/5830
Resumo: O corpo é uma incógnita. Descrevê-lo é lidar com a experiência de ser corpo, um organismo que ocupa um lugar e vive uma experiência. Esse corpo pensa e sente. Esse corpo escreve e é inscrito na cultura. Não se aparta da história porque é fruto da história; seu tempo é seu silêncio; seu espaço é seu grito. Na literatura o corpo é a expressão de uma linguagem, de um gesto, de uma experiência. Ocupar o espaço desenhado na palavra é sair do anonimato, o tempo da experiência em que no casulo se encontrava. Ser  linguagem é estar presente. Na literatura o corpo ganha presença na palavra. Construído no discurso poético, o corpo emerge como presença imagética. Encontra no discurso sua referência e permite apontar o outro ausente: ele mesmo, que ecoa da história sua origem e sua trajetória. Sendo familiar e estranho ao mesmo tempo, o corpo pode ser objeto ou sujeito da escritura. Ele vive a alteridade. É o corpo simbólico que fala; é a imagem do corpo que responde. É o que vive, no âmbito da cultura,  a submissão e também a recusa aos paradigmas. Vive o encantamento e o espanto; a força da violência e a do violador. O corpo em trânsito, em fuga, em busca; o corpo migrante, o corpo político; o corpo humano e suas conotações de gênero; o corpo-memória e a memória do corpo; o corpo da palavra e sua presença-escritura a dar ao corpo do outro uma voz. Eis o que este dossiê deseja: oferecer espaço para estudos que tenham o corpo como objeto ou como sujeito na literatura; que se debrucem sobre as formas do corpo na cultura, seus desvãos, seus trajetos, seus silêncios, suas coreografias, seus desejos, sua clandestinidade. Já dissera Gérard Genette que a literatura é “aquele campo plástico, aquele espaço curvo onde as relações mais inesperadas e os encontros mais paradoxais são, em cada instante, possíveis”. Em outras palavras, a literatura é o lugar dos diálogos possíveis, por exemplo, entre cultura, história, psicanálise e religião, para citar os espaços em que o corpo se forma e caminha como pode na sua lenta metamorfose ao longo do tempo e do espaço.
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