Macroinvertebrados bentônicos como indicadores de estressores ambientais e de serviços ecossistêmicos em reservatórios no semiárido

• Autor(a) principal: Paiva, Franciely Ferreira
• Data de Publicação: 2023
• Tipo de documento: Tese
• Idioma: por
• Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UEPB
• Texto Completo: http://tede.bc.uepb.edu.br/jspui/handle/tede/4549
• topic: Macrofauna bentônica; Impactos antrópicos; Características funcionais; CIENCIAS BIOLOGICAS::ECOLOGIA; ECOLOGIA::ECOLOGIA DE ECOSSISTEMAS; ECOLOGIA::ECOLOGIA TEORICA

Os reservatórios são ecossistemas artificiais criados pelo represamento de rios e são usados principalmente para atender às necessidades humanas quando a água é escassa. O crescimento populacional no entorno dos reservatórios tem levado à degradação ambiental decorrente de atividades antrópicas (agricultura, pastagem, ocupação humana, indústria etc.), o que pode levar à diminuição da diversidade das comunidades aquáticas e à perda de processos e serviços ecossistêmicos. Com o aumento das mudanças climáticas, são esperados cenários de seca mais frequentes, levando ao aumento do número de reservatórios em todo o mundo. Este trabalho visa avaliar como a comunidade de macroinvertebrados bentônicos em reservatórios responde a estressores ambientais de diferentes tipos de uso e ocupação da terra, se suas características funcionais podem servir como indicadores dos estressores, como o uso e ocupação da terra influenciam a percepção dos serviços ecossistêmicos pela população local e como a produção secundária se relaciona com esses serviços. Portanto, este trabalho está dividido em três capítulos com os seguintes objetivos: I) Avaliar os efeitos dos padrões de uso e ocupação da terra ao redor dos reservatórios sobre as variáveis físicas e químicas, diversidade taxonômica e funcional e produção secundária da macrofauna bentônica; II) Avaliar como gradientes de variáveis físicas e químicas afetam a estrutura funcional da comunidade de macroinvertebrados bentônicos; III) Avaliar se os serviços ecossistêmicos da macrofauna bentônica são percebidos pela população que reside no entorno dos reservatórios, e qual a relação desses serviços com o uso e ocupação da terra. Por fim, foi desenvolvido materiais didáticos de divulgação científica para tornar os temas abordados na tese acessíveis à população em geral. Dados ambientais e da macrofauna bentônica foram coletados em seis reservatórios no Nordeste do Brasil na bacia do Rio Paraíba (Sumé, Cordeiro e Poções) e na bacia do Rio Piranhas-Açu (Cruzeta, Sabugí e Passagem das Traíras) em 2014, 2015 e 2019, que sofreu uma forte seca. No geral, os resultados apontam que o desenvolvimento de atividades antrópicas adjacentes aos reservatórios, como agricultura, pastagem e ocupação humana, influenciou negativamente a diversidade taxonômica e funcional da comunidade macrobentônica, direta ou indiretamente (mediada por variáveis físicas e químicas). No entanto, a agricultura, também uma atividade antrópica, influenciou positivamente a produção bentônica, via aumento das concentrações de nutrientes. O aumento dos estressores ambientais selecionou organismos funcionalmente tolerantes e com alta capacidade de resistência. No entanto, estes foram representados por espécies dominantes, como o molusco exótico Melanoides tuberculatus, o que resultou em baixa diversidade nos reservatórios mais impactados. Isso pode comprometer o funcionamento do ecossistema e levantar preocupações sobre o manejo adequado desses sistemas. O uso e ocupação da terra também influenciou a percepção dos serviços ecossistêmicos pela população local, que vive próximo aos reservatórios. Os serviços ecossistêmicos mais reconhecidos pela população foram 84% provisão, 12% cultura e apenas 4% regulação e manutenção. De modo geral, a presença de agricultura, pastagem, vegetação aberta e arbórea/arbustiva apresentou relação significativa com o reconhecimento dos serviços ecossistêmicos, principalmente os de provisão. Por outro lado, a identificação dos serviços de regulação e manutenção e culturais apresentou correlação negativa com pastagem e positiva com vegetação aberta e arbórea/arbustiva. Os serviços ecossistêmicos da macrofauna bentônicas foram percebidos de forma indireta pela população, por meio do potencial dos macroinvertebrados para a facilitação de serviços como autodepuração e decomposição nos reservatórios. Os serviços ecossistêmicos mais reconhecidos pela população estão relacionados aos benefícios materiais, destacando a necessidade de informar essas populações sobre a importância de outros serviços prestados pelos reservatórios e o papel dos macroinvertebrados bentônicos na manutenção desses serviços. Além disso, a correlação positiva entre a produção secundária de macrofauna e serviços de provisão sugere que essa produção pode se traduzir em maior energia disponível para sustentar esses serviços através da teia trófica. Por fim, os resultados aqui discutidos indicam que medidas eficientes de manejo do uso e ocupação das terras adjacentes aos reservatórios são necessárias para garantir a manutenção da diversidade e dos serviços ecossistêmicos. Além disso, o desenvolvimento de atividades de divulgação e educação científica é necessário para ajudar as pessoas a entender a importância da conservação de macroinvertebrados bentônicos e reservatórios na prestação de serviços ecossistêmicos. Esta tese procurou cobrir uma variedade de áreas, desde a ecologia de comunidades à ecologia de paisagens, aos processos ecossistêmicos e natureza social, para estabelecer e explorar conexões entre ecossistemas e populações humanas.