"A Hora Vermelha”: violência poética e o tempo da transformação em Et les chiens se taisaient, de Aimé Césaire

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Frost, Jackqueline
Data de Publicação: 2022
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Revista Maracanan (Online)
Texto Completo: https://www.e-publicacoes.uerj.br/maracanan/article/view/65183
Resumo: Na primeira tragédia de Aimé Césaire, Et les chiens se taisaient (publicada pela primeira vez em 1946), um herói anticolonial, o Rebelde, luta em um mundo ficcional, anterior à abolição, onde o passado detém uma apreensão profética do futuro. Césaire articula a transformação social por meio de estruturas temporais intempestivas associadas a ciclos orgânicos de vida, mudanças sazonais e imprevisibilidade meteorológica. Esses modelos ecológicos proveem os registros figurais através dos quais Césaire descreve a revolução como uma erupção violenta do novo em todos os níveis da existência. Esses poéticos atos de criação violenta, impossíveis de serem previstos ou contidos, envolvem a intensidade específica e a temporalidade peculiar do nascimento. Este ensaio sugere que a revolta escrava em Les chiens apresenta a intempestividade da descolonização como uma poética que rejeita fundamentalmente noções mecânicas da mudança determinadas por modelos lineares do tempo e da história. Lendo Les chiens através de alusões ao material de suas fontes filosóficas, mostro como muito do que Césaire constela pode ser vinculado, tanto genealogicamente quanto esteticamente, a dois esquemas temporais distintos, associados à Antiguidade grega: a renovação cíclica dionisíaca e o “tempo certo” kairológico. Embora opostos com frequência em um nível filosófico, esses dois esquemas intempestivos, como justapostos por Césaire, expressam a temporalidade plural e poética das erupções trágicas da revolução decolonial. Seu encontro com o dionisíaco de Nietzsche e com o kairós de teólogos políticos envolveu conceitos que, em sua qualidade de expressões de primitividade, revelam ao mesmo tempo a herança civilizacional da África e as forças destrutivas capazes de levar o imperialismo europeu à queda.
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