A voz e a invocação para musicar a vida: ressonâncias entre música e psicanálise

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Azevedo, Renata Mattos de
Data de Publicação: 2011
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UERJ
Texto Completo: http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/14550
Resumo: A articulação entre a psicanálise e a música, mais especificamente a produzida a partir do paradigma de Arnold Schönberg, renovado por John Cage, se mostra emblemática para pensar a constituição do sujeito em Sigmund Freud e Jacques Lacan, bem como para refletir sobre a escuta clínica, o ato analítico enquanto poético, e a escrita pulsional do sujeito como resposta à invocação da voz. O momento de estruturação do sujeito implica a dimensão de musicalidade da linguagem que permite o ato da fala. O sujeito nasce em um ponto em que o significante (simbólico) escreve no real do corpo um possível, um começo, uma marca que invoca uma nota e uma letra, sendo estes os dois aspectos da linguagem: a musicalidade (continuidade) e a fala (descontinuidade em movimento). Este ponto escreve e cria um vazio no sujeito que está e estará sempre em pulsação. Se o real grita caoticamente, é possível que se cante e se musique a vida com a criação de notas singulares, efeito do movimento desejante e de uma escrita pelo circuito da pulsão invocante na partitura já dada pelo Outro e face aos encontros com pedaços de real. A música tem a capacidade de retirar o sujeito de uma surdez de seu próprio desejo, o convocando a recriar a linguagem por seus atos. O paradigma de Schönberg, bem como a música criada a partir deste momento, nos dá a ouvir um saber-fazer com a voz no qual a dimensão equivocante (de equivoco e de invocação) da linguagem pode ressurgir por uma via nova. A transmissão de um saber-fazer com o objeto voz por ele efetuado se apresenta como uma radicalização do efeito de verdade do real, ressoando borromeanamente sobre o simbólico e o imaginário, invocando o momento originário do sujeito, de um começo sempre a recomeçar, que se faz ouvir como uma invocação de musicar a vida de uma maneira ética, estética e poética. É através dos eixos acima expostos que nos é possível sustentar, com Lacan, uma prática clínica orientada para além da repetição em direção a um significante novo. Trata-se de uma orientação que parte dos encontros com o real aos quais o sujeito é confrontado ao acaso visando o movimento renascente pelo qual ele pode re-escutar o inaudito do real contínuo perdido, o que faz com que seu ritmo singular possa ser, uma vez mais e de modo inédito, reinventado. A psicanálise pode ser, portanto, entendida como uma prática invocante, como uma abertura para que o sujeito possa, com entusiasmo, musicar a vida.
id UERJ_3942a1b826de7ad7a54e9445f10003ae
oai_identifier_str oai:www.bdtd.uerj.br:1/14550
network_acronym_str UERJ
network_name_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UERJ
repository_id_str 2903
spelling A voz e a invocação para musicar a vida: ressonâncias entre música e psicanáliseThe voice and the invocation set to music for life: resonances between music and psychoanalysisPsychoanalysisMusicVoiceInvocatory driveRealVozPulsão invocanteRealPsicanálise e músicaCNPQ::CIENCIAS HUMANAS::PSICOLOGIA::TRATAMENTO E PREVENCAO PSICOLOGICAA articulação entre a psicanálise e a música, mais especificamente a produzida a partir do paradigma de Arnold Schönberg, renovado por John Cage, se mostra emblemática para pensar a constituição do sujeito em Sigmund Freud e Jacques Lacan, bem como para refletir sobre a escuta clínica, o ato analítico enquanto poético, e a escrita pulsional do sujeito como resposta à invocação da voz. O momento de estruturação do sujeito implica a dimensão de musicalidade da linguagem que permite o ato da fala. O sujeito nasce em um ponto em que o significante (simbólico) escreve no real do corpo um possível, um começo, uma marca que invoca uma nota e uma letra, sendo estes os dois aspectos da linguagem: a musicalidade (continuidade) e a fala (descontinuidade em movimento). Este ponto escreve e cria um vazio no sujeito que está e estará sempre em pulsação. Se o real grita caoticamente, é possível que se cante e se musique a vida com a criação de notas singulares, efeito do movimento desejante e de uma escrita pelo circuito da pulsão invocante na partitura já dada pelo Outro e face aos encontros com pedaços de real. A música tem a capacidade de retirar o sujeito de uma surdez de seu próprio desejo, o convocando a recriar a linguagem por seus atos. O paradigma de Schönberg, bem como a música criada a partir deste momento, nos dá a ouvir um saber-fazer com a voz no qual a dimensão equivocante (de equivoco e de invocação) da linguagem pode ressurgir por uma via nova. A transmissão de um saber-fazer com o objeto voz por ele efetuado se apresenta como uma radicalização do efeito de verdade do real, ressoando borromeanamente sobre o simbólico e o imaginário, invocando o momento originário do sujeito, de um começo sempre a recomeçar, que se faz ouvir como uma invocação de musicar a vida de uma maneira ética, estética e poética. É através dos eixos acima expostos que nos é possível sustentar, com Lacan, uma prática clínica orientada para além da repetição em direção a um significante novo. Trata-se de uma orientação que parte dos encontros com o real aos quais o sujeito é confrontado ao acaso visando o movimento renascente pelo qual ele pode re-escutar o inaudito do real contínuo perdido, o que faz com que seu ritmo singular possa ser, uma vez mais e de modo inédito, reinventado. A psicanálise pode ser, portanto, entendida como uma prática invocante, como uma abertura para que o sujeito possa, com entusiasmo, musicar a vida.The articulation between the psychoanalysis and the music, specifically the one resultant from the paradigm of Arnold Schönberg, which was renewed by John Cage, is emblematic to reflect about the constitution of the subject in the theories of Sigmund Freud and Jacques Lacan as well as to think about the clinical listening, the analytical act as a poetic act, and the driven writing of the subject as an answer to the invocation of the voice. The moment of emergence of the subject involves the aspect of the musicality of the language, which allows the act of speaking. The subject is born in a point in which the significant (symbolic) writes in the real of the body two aspects of the language: the musicality (continuity) and the speech (discontinuity in movement). This point writes and creates an emptiness in the subject that pulses and will always pulse. If the real shouts chaotically, it is possible to sing and to music the life with the creation of singular notes, effect of the desiring movement as well as the writing of the driven circuit made by the invocante drive, in the musical score that is already given by the Other and in relation to the encounters with pieces of the real. The music has the ability to withdraw the subject form a deafness from his/her own desire, convoking him/her to recreate the language through his/her acts. The paradigm of Schönberg gives us to listen a savoir-faire with the object voice in which the equivocatory dimension (of equivocation and invocation) of the language can reappear by a new direction. The transmission of a savoir-faire with the object voice produced by this paradigm can be seen as a radicalization of the effect of truth from the real, borromeanically resounding on the symbolic and the imaginary, invoking the originary moment of the subject, of a beginning to always restart, which can be listened as the invocation to music the life in a ethic, esthetic and poetic way. Therefore, we can support, with Lacan, a clinical practice oriented to overcome the repetition of the same in order to establish the creation of a new significant. In other words, the psychoanalysis can be understood as an invocante practice in which the subject can, with enthusiasm, music his/her life.Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível SuperiorUniversidade do Estado do Rio de JaneiroCentro de Educação e Humanidades::Instituto de PsicologiaBRUERJPrograma de Pós-Graduação em PsicanáliseRinaldi, Doris Luzhttp://lattes.cnpq.br/7484982799065828Vivès, Jean-michelRivera, Tania Cristinahttpp://lattes.cnpq.br/5966080566066490Costa, Ana Maria Medeiros dahttp://lattes.cnpq.br/3857424170316753Ribeiro, Heloisa Fernandes Caldashttp://lattes.cnpq.br/9372198472972349Azevedo, Renata Mattos de2021-01-07T17:45:37Z2013-06-242011-11-03info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfAZEVEDO, Renata Mattos de. A voz e a invocação para musicar a vida: ressonâncias entre música e psicanálise. 2011. 174 f. Tese (Doutorado em Pesquisa Clínica em Psicanálise) - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011.http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/14550porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UERJinstname:Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)instacron:UERJ2024-02-27T18:57:30Zoai:www.bdtd.uerj.br:1/14550Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.bdtd.uerj.br/PUBhttps://www.bdtd.uerj.br:8443/oai/requestbdtd.suporte@uerj.bropendoar:29032024-02-27T18:57:30Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)false
dc.title.none.fl_str_mv A voz e a invocação para musicar a vida: ressonâncias entre música e psicanálise
The voice and the invocation set to music for life: resonances between music and psychoanalysis
title A voz e a invocação para musicar a vida: ressonâncias entre música e psicanálise
spellingShingle A voz e a invocação para musicar a vida: ressonâncias entre música e psicanálise
Azevedo, Renata Mattos de
Psychoanalysis
Music
Voice
Invocatory drive
Real
Voz
Pulsão invocante
Real
Psicanálise e música
CNPQ::CIENCIAS HUMANAS::PSICOLOGIA::TRATAMENTO E PREVENCAO PSICOLOGICA
title_short A voz e a invocação para musicar a vida: ressonâncias entre música e psicanálise
title_full A voz e a invocação para musicar a vida: ressonâncias entre música e psicanálise
title_fullStr A voz e a invocação para musicar a vida: ressonâncias entre música e psicanálise
title_full_unstemmed A voz e a invocação para musicar a vida: ressonâncias entre música e psicanálise
title_sort A voz e a invocação para musicar a vida: ressonâncias entre música e psicanálise
author Azevedo, Renata Mattos de
author_facet Azevedo, Renata Mattos de
author_role author
dc.contributor.none.fl_str_mv Rinaldi, Doris Luz
http://lattes.cnpq.br/7484982799065828
Vivès, Jean-michel
Rivera, Tania Cristina
httpp://lattes.cnpq.br/5966080566066490
Costa, Ana Maria Medeiros da
http://lattes.cnpq.br/3857424170316753
Ribeiro, Heloisa Fernandes Caldas
http://lattes.cnpq.br/9372198472972349
dc.contributor.author.fl_str_mv Azevedo, Renata Mattos de
dc.subject.por.fl_str_mv Psychoanalysis
Music
Voice
Invocatory drive
Real
Voz
Pulsão invocante
Real
Psicanálise e música
CNPQ::CIENCIAS HUMANAS::PSICOLOGIA::TRATAMENTO E PREVENCAO PSICOLOGICA
topic Psychoanalysis
Music
Voice
Invocatory drive
Real
Voz
Pulsão invocante
Real
Psicanálise e música
CNPQ::CIENCIAS HUMANAS::PSICOLOGIA::TRATAMENTO E PREVENCAO PSICOLOGICA
description A articulação entre a psicanálise e a música, mais especificamente a produzida a partir do paradigma de Arnold Schönberg, renovado por John Cage, se mostra emblemática para pensar a constituição do sujeito em Sigmund Freud e Jacques Lacan, bem como para refletir sobre a escuta clínica, o ato analítico enquanto poético, e a escrita pulsional do sujeito como resposta à invocação da voz. O momento de estruturação do sujeito implica a dimensão de musicalidade da linguagem que permite o ato da fala. O sujeito nasce em um ponto em que o significante (simbólico) escreve no real do corpo um possível, um começo, uma marca que invoca uma nota e uma letra, sendo estes os dois aspectos da linguagem: a musicalidade (continuidade) e a fala (descontinuidade em movimento). Este ponto escreve e cria um vazio no sujeito que está e estará sempre em pulsação. Se o real grita caoticamente, é possível que se cante e se musique a vida com a criação de notas singulares, efeito do movimento desejante e de uma escrita pelo circuito da pulsão invocante na partitura já dada pelo Outro e face aos encontros com pedaços de real. A música tem a capacidade de retirar o sujeito de uma surdez de seu próprio desejo, o convocando a recriar a linguagem por seus atos. O paradigma de Schönberg, bem como a música criada a partir deste momento, nos dá a ouvir um saber-fazer com a voz no qual a dimensão equivocante (de equivoco e de invocação) da linguagem pode ressurgir por uma via nova. A transmissão de um saber-fazer com o objeto voz por ele efetuado se apresenta como uma radicalização do efeito de verdade do real, ressoando borromeanamente sobre o simbólico e o imaginário, invocando o momento originário do sujeito, de um começo sempre a recomeçar, que se faz ouvir como uma invocação de musicar a vida de uma maneira ética, estética e poética. É através dos eixos acima expostos que nos é possível sustentar, com Lacan, uma prática clínica orientada para além da repetição em direção a um significante novo. Trata-se de uma orientação que parte dos encontros com o real aos quais o sujeito é confrontado ao acaso visando o movimento renascente pelo qual ele pode re-escutar o inaudito do real contínuo perdido, o que faz com que seu ritmo singular possa ser, uma vez mais e de modo inédito, reinventado. A psicanálise pode ser, portanto, entendida como uma prática invocante, como uma abertura para que o sujeito possa, com entusiasmo, musicar a vida.
publishDate 2011
dc.date.none.fl_str_mv 2011-11-03
2013-06-24
2021-01-07T17:45:37Z
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
format doctoralThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv AZEVEDO, Renata Mattos de. A voz e a invocação para musicar a vida: ressonâncias entre música e psicanálise. 2011. 174 f. Tese (Doutorado em Pesquisa Clínica em Psicanálise) - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011.
http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/14550
identifier_str_mv AZEVEDO, Renata Mattos de. A voz e a invocação para musicar a vida: ressonâncias entre música e psicanálise. 2011. 174 f. Tese (Doutorado em Pesquisa Clínica em Psicanálise) - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011.
url http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/14550
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.publisher.none.fl_str_mv Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Educação e Humanidades::Instituto de Psicologia
BR
UERJ
Programa de Pós-Graduação em Psicanálise
publisher.none.fl_str_mv Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Educação e Humanidades::Instituto de Psicologia
BR
UERJ
Programa de Pós-Graduação em Psicanálise
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UERJ
instname:Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
instacron:UERJ
instname_str Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
instacron_str UERJ
institution UERJ
reponame_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UERJ
collection Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UERJ
repository.name.fl_str_mv Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
repository.mail.fl_str_mv bdtd.suporte@uerj.br
_version_ 1818990645745811456