Sólon: por uma história econômica na Atenas do século VI a.C.
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2016 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UERJ |
Texto Completo: | http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/13193 |
Resumo: | Atenas no VI a.C. enfrentava um conflito agrário originado na distribuição irregular da terra entre os eupatridai (aristocratas) e os hectemoroi (pequenos agricultores). Interpretamos que este fenômeno demográfico desencadeou uma reação estrutural de antagonismos nas relações sociais da Hélade. Somado a luta entre os proprietários de terras e os camponeses, também observamos que, acordo com as abordagens da historiografia, o contingente populacional da Atenas não fora afetado pelo mesmo processo de crescimento exponencial ao qual foram acometidas as outras poleis gregas. Tal conjuntura suscita um movimento de expansão singularizado, bem como a construção tardia de um sentimento de identificação entre os atenienses no período arcaico. Os camponeses não eram proprietários e pagavam a sexta parte da produção para os aristocratas. A falta de pagamento poderia submeter os camponeses à escravidão por dívida. Para minimizar os conflitos, Sólon teria retirado os horoi de pedra. Todavia, tal medida- quando sobreposta em interface aos múltiplos significados da palavra horos - nos fornece interpretações distintas que depreendem aspectos políticos, econômicos, religiosos e sociais. A falta dos recursos levava os camponeses a serem vendidos como escravos para o exterior. A ameaça da escravidão era um recurso para reprimir os endividados que, para escapar da dívida e do miasma da escravidão, preferiam exilar-se. Para desenvolver a isonomia (igualdade), Sólon, por meio de uma Constituição, rompeu com a tradição aristocrática, dividindo a comunidade políade em quatro classes censitárias de acordo com a capacidade produtiva e em detrimento da hereditariedade, baseada na posse de terras pelos eupatridai. Essa medida instaura um regime timocrático estabelecendo uma reforma social e uma manobra política, contabilizada pelos cargos militares. A contestação das dívidas (chamado de seisachteia) foi concretizada pela retirada dos horoi e da repatriação dos escravos. A historiografia aponta que Sólon extinguiu a condição de escravos e possibilitou o pagamento das dívidas pelos hectemoroi. O legislador renova o sistema econômico de pesos e de medidas, possibilitando o pagamento desvinculado da produção agrícola e utiliza um sistema de valores que deflaciona a dívida contraída em vez de aumentá-la. Essa mudança econômica favorece a emergência de uma atividade comercial marítima, que se estabelece como uma alternativa e um mecanismo propiciador de prosperidade, principalmente da população de poucos recursos. Entretanto, torna-se necessário uma releitura da representatividade política e social de Sólon, abordando prismas como sua atuação de strategos e a dinamização da região do Kerameikos, reorganizada para produção de cerâmicas, marcada pela presença dos estrangeiros (metecos), bem como a regulamentação das práticas de prostituição. De fato, a existência de práticas comerciais que extrapolam as adjacências do oikos relacionam-se à economia antiga e tem lugar de destaque na corpora documental através de Aristóteles. A existência de um preceito econômico nas sociedades antigas é ainda objeto de debates entre os pesquisadores, na qual a construção de uma mentalidade econômica não se dissocia das outras atividades sociais, tornando-se necessário identificar a existência do papel econômico no contexto de produção social ateniense. |
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Sólon: por uma história econômica na Atenas do século VI a.C.Sólon: for an Economic History of Athens in VI B.C.AthensSolonSeisachteiaAtenasSólonSeisachteiaCivilização gregaHistória antigaCNPQ::CIENCIAS HUMANAS::HISTORIAAtenas no VI a.C. enfrentava um conflito agrário originado na distribuição irregular da terra entre os eupatridai (aristocratas) e os hectemoroi (pequenos agricultores). Interpretamos que este fenômeno demográfico desencadeou uma reação estrutural de antagonismos nas relações sociais da Hélade. Somado a luta entre os proprietários de terras e os camponeses, também observamos que, acordo com as abordagens da historiografia, o contingente populacional da Atenas não fora afetado pelo mesmo processo de crescimento exponencial ao qual foram acometidas as outras poleis gregas. Tal conjuntura suscita um movimento de expansão singularizado, bem como a construção tardia de um sentimento de identificação entre os atenienses no período arcaico. Os camponeses não eram proprietários e pagavam a sexta parte da produção para os aristocratas. A falta de pagamento poderia submeter os camponeses à escravidão por dívida. Para minimizar os conflitos, Sólon teria retirado os horoi de pedra. Todavia, tal medida- quando sobreposta em interface aos múltiplos significados da palavra horos - nos fornece interpretações distintas que depreendem aspectos políticos, econômicos, religiosos e sociais. A falta dos recursos levava os camponeses a serem vendidos como escravos para o exterior. A ameaça da escravidão era um recurso para reprimir os endividados que, para escapar da dívida e do miasma da escravidão, preferiam exilar-se. Para desenvolver a isonomia (igualdade), Sólon, por meio de uma Constituição, rompeu com a tradição aristocrática, dividindo a comunidade políade em quatro classes censitárias de acordo com a capacidade produtiva e em detrimento da hereditariedade, baseada na posse de terras pelos eupatridai. Essa medida instaura um regime timocrático estabelecendo uma reforma social e uma manobra política, contabilizada pelos cargos militares. A contestação das dívidas (chamado de seisachteia) foi concretizada pela retirada dos horoi e da repatriação dos escravos. A historiografia aponta que Sólon extinguiu a condição de escravos e possibilitou o pagamento das dívidas pelos hectemoroi. O legislador renova o sistema econômico de pesos e de medidas, possibilitando o pagamento desvinculado da produção agrícola e utiliza um sistema de valores que deflaciona a dívida contraída em vez de aumentá-la. Essa mudança econômica favorece a emergência de uma atividade comercial marítima, que se estabelece como uma alternativa e um mecanismo propiciador de prosperidade, principalmente da população de poucos recursos. Entretanto, torna-se necessário uma releitura da representatividade política e social de Sólon, abordando prismas como sua atuação de strategos e a dinamização da região do Kerameikos, reorganizada para produção de cerâmicas, marcada pela presença dos estrangeiros (metecos), bem como a regulamentação das práticas de prostituição. De fato, a existência de práticas comerciais que extrapolam as adjacências do oikos relacionam-se à economia antiga e tem lugar de destaque na corpora documental através de Aristóteles. A existência de um preceito econômico nas sociedades antigas é ainda objeto de debates entre os pesquisadores, na qual a construção de uma mentalidade econômica não se dissocia das outras atividades sociais, tornando-se necessário identificar a existência do papel econômico no contexto de produção social ateniense.By the VI century B.C., Athens was facing a conflict genaretad by the irregular land ditribution between the eupatridai (members of aristocracy) and the hectemoroi (small farmers). We interpret that this demographic phenom engender an structural reaction antagonism in social relations of Athens. Added to the struggle between the land owners and the peasants, we believe that, according with the historiography, athenian population group wasn t affected by the same growth process of the other Greek poleis. This context raises a singular expansion movement as well as a late identity construction among the athenian in the archaic period. The peasants were not land owners and had to pay the sixth part of the production to the aristocrats. The lack of payment could submit the peasants to slavery by debts. In order to minimize the conflicts, Solon allegedly removed the stone markers, called horoi. However, this action - when superimposed on the multiple meanings of the word horos - provides distinct interpretations that inferred political, economical, religious and social aspects. The lack of resources led farmers to be sold as slaves abroad. The threat of slavery was a resource to repressthose on debt that, to escape debt and slavery miasma, preferred exile. To develop equality (isonomia), Solon, by a Constitution, broke with the aristocratic tradition, dividing the ho polis community into four census classes according to the production capacity and to the detriment of heredity, based on land ownership by eupatridai. This measure establishes a timocratic government establishing a social reform and a political maneuver, accounted for by the military positions. The cancellation of debts (seisachteia) was completed by the withdrawal of horoi and repatriation of slaves. The condition of birth keep the eupatridai in power and authority, even with the loss of income of storage with the end of debt bondage. The history shows that Solon abolished the condition of slaves and made possible the payment of debts by hectemoroi. The legislator renews the economic system of weights and measures, enabling the detached payment of agricultural production and uses a system of values "deflates" the debt incurred instead of increasing it. This economic change favors the emergence of a maritime commercial activity, which is established as an alternative and an enabling mechanism of prosperity, especially for those of limited resources. However, a reinterpretation of political and social representation of Solon is necessary. By addressing prisms as its operating strategos and the urbanization of the Kerameikos, reorganized for the production of ceramics, marked by the presence of foreigners (metics), and the rules of prostitution practices. The existence of commercial practices that go beyond the vicinity of the oikos relate to the old economy and played a prominent role in the documentation through Aristotle. The economic precept in ancient societies is still the subject of debate among researchers, in which the construction of an economic mindset does not dissociate from other social activities, making it necessary to identify the existence of the economic role in the context of social production Athenian.Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível SuperiorUniversidade do Estado do Rio de JaneiroCentro de Ciências Sociais::Instituto de Filosofia e Ciências HumanasBRUERJPrograma de Pós-Graduação em HistóriaCandido, Maria Reginahttp://lattes.cnpq.br/2450300228611565Gonçalves, Marcia de Almeidahttp://lattes.cnpq.br/6119231074162915Chevitarese, André Leonardohttp://lattes.cnpq.br/8607821911525405Silva, Carolyn Souza Fonseca da2021-01-06T23:56:51Z2018-11-272016-06-02info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfSILVA, Carolyn Souza Fonseca da. Sólon: por uma história econômica na Atenas do século VI a.C.. 2016. 208 f. Dissertação (Mestrado em História Política) - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2016.http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/13193porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UERJinstname:Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)instacron:UERJ2024-02-27T16:45:12Zoai:www.bdtd.uerj.br:1/13193Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.bdtd.uerj.br/PUBhttps://www.bdtd.uerj.br:8443/oai/requestbdtd.suporte@uerj.bropendoar:29032024-02-27T16:45:12Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)false |
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