"Eu venho da Floresta": a sustentabilidade das plantas sagradas amazônicas do Santo Daime
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Data de Publicação: | 2020 |
Outros Autores: | |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFAM |
Texto Completo: | https://tede.ufam.edu.br/handle/tede/7682 |
Resumo: | O cipó Banisteriopsis caapi (Malpighiaceae) e o arbusto Psychotria viridis (Rubiaceae) correspondem às principais espécies botânicas historicamente apropriadas em contexto ritual por diversos grupos indígenas e caboclos na Amazônia. O fenômeno cultural das religiões ayahuasqueiras brasileiras – Daime, Barquinha e União do Vegetal – ensejou uma intensa diáspora de plantas e saberes. Distintas variedades dessas espécies botânicas foram transferidas da Amazônia e introduzidas nos mais diversos contextos ecológicos em praticamente todo o país. Através de métodos qualitativos associados à etnobotânica, o estudo examina a taxonomia folk e a circulação de saberes em torno das plantas sagradas acionadas no contexto do Santo Daime. Desvela-se a história ambiental da ayahuasca através da literatura de viajantes na Amazônia colonial. Caracterizam-se as principais variedades etnobotânicas de jagube e rainha. Examinam-se os saberes taxonômicos em torno dessas entidades botânicas. Contempla-se sua expansão fitogeográfica. De brebaje infernal a sacramento religioso, a ayahuasca e as plantas que a compõem se estabelecem na história como entidades polimórficas, polifônicas, polissêmicas e policêntricas. Um sistema classificatório baseado em critérios sensíveis e suprassensíveis caracteriza a taxonomia cabocla das plantas sagradas amazônicas do Santo Daime. Saberes etnobotânicos sugerem que a morfologia vegetal corresponde ao centro cognitivo dos processos taxonômicos nessa tradição. Atributos suprassensíveis acionados nos atos classificatórios dessas entidades botânicas são semelhantemente percebidos como legítimos critérios taxonômicos. Mais de uma dezena de variedades do cipó jagube e pelo menos seis tipos morfológicos distintos da folha rainha são apropriados nesse contexto cultural. A expansão dos plantios de cipó e folha sob os princípios da agricultura sintrópica e o aperfeiçoamento das práticas de feitio correspondem às principais estratégias visando à sustentabilidade material do Daime. O cultivo de jagube e rainha mobiliza uma matriz de conhecimentos científicos formais e um complexo conjunto de saberes tradicionais constituídos no estreito contato com a materialidade e a espiritualidade da floresta. O ethos ecológico dos povos ayahuasqueiros manifesta-se em conexão com os saberes da floresta, território sagrado, onde viceja o nutriente espiritual do bem viver. |
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Desvela-se a história ambiental da ayahuasca através da literatura de viajantes na Amazônia colonial. Caracterizam-se as principais variedades etnobotânicas de jagube e rainha. Examinam-se os saberes taxonômicos em torno dessas entidades botânicas. Contempla-se sua expansão fitogeográfica. De brebaje infernal a sacramento religioso, a ayahuasca e as plantas que a compõem se estabelecem na história como entidades polimórficas, polifônicas, polissêmicas e policêntricas. Um sistema classificatório baseado em critérios sensíveis e suprassensíveis caracteriza a taxonomia cabocla das plantas sagradas amazônicas do Santo Daime. Saberes etnobotânicos sugerem que a morfologia vegetal corresponde ao centro cognitivo dos processos taxonômicos nessa tradição. Atributos suprassensíveis acionados nos atos classificatórios dessas entidades botânicas são semelhantemente percebidos como legítimos critérios taxonômicos. Mais de uma dezena de variedades do cipó jagube e pelo menos seis tipos morfológicos distintos da folha rainha são apropriados nesse contexto cultural. A expansão dos plantios de cipó e folha sob os princípios da agricultura sintrópica e o aperfeiçoamento das práticas de feitio correspondem às principais estratégias visando à sustentabilidade material do Daime. O cultivo de jagube e rainha mobiliza uma matriz de conhecimentos científicos formais e um complexo conjunto de saberes tradicionais constituídos no estreito contato com a materialidade e a espiritualidade da floresta. O ethos ecológico dos povos ayahuasqueiros manifesta-se em conexão com os saberes da floresta, território sagrado, onde viceja o nutriente espiritual do bem viver.The Banisteriopsis caapi vine (Malpighiaceae) and the Psychotria viridis shrub (Rubiaceae) are the principal botanical species historically appropriated in a ritual context by several indigenous groups and caboclos in the Amazon. The cultural phenomenon represented by the Brazilian Ayahuasca religions – Daime, Barquinha and União do Vegetal – has given rise to an intense diaspora of plants and knowledge. Different varieties of these botanical species were transferred from the Amazon and introduced in the most diverse ecological contexts throughout the country. Through qualitative methods associated with Ethnobotany, this study examines folk taxonomy and the circulation of knowledge around the sacred plants used in the context of Santo Daime. Environmental history of ayahuasca is revealed through travel literature of the colonial Amazon. The main ethnobotanical varieties of jagube and rainha are characterized. Taxonomic knowledge is examined around these botanical entities. Their phytogeographic expansion is contemplated. From the infernal brebaje to the religious sacrament, ayahuasca and the plants that compose it are established in history as polyphonic, polysemic and polycentric entities. A classification system based on sensitive and supersensitive criteria characterizes the caboclo taxonomy of the sacred Amazonian plants of Daime. Ethnobotanical knowledge suggests that plant morphology corresponds to the cognitive center of taxonomic processes in this tradition. Supersensitive attributes mobilized in the classification acts of these botanical entities are similarly perceived as legitimate taxonomic criteria. More than a dozen varieties of jagube and at least six distinct morphological types of rainha are appropriate to this cultural context. The expansion of vine and leaf plantations under the principles of synthropic agriculture and the improvement of the practices of feitio are the principal strategies aimed at the material sustainability of Daime. The cultivation of jagube and rainha mobilizes a matrix of formal scientific knowledge and complex traditional knowledge constituted in intimate contact with material and spiritual aspects of the forest. The ecological ethos of the Ayahuasca peoples manifests itself in connection with their knowledge of the forest, a sacred territory, where the spiritual nutrient of good living grows.Universidade Federal do AmazonasCentro de Ciências do AmbienteBrasilUFAMPrograma de Pós-graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na AmazôniaFraxe, Therezinha de Jesus Pintohttp://lattes.cnpq.br/1464615574272190Oka, Jaisson Miyosihttp://lattes.cnpq.br/5952520937214398Simão, Maria Olívia de Albuquerque Ribeirohttp://lattes.cnpq.br/2594654340373805Lopes, Maria Teresa Gomeshttp://lattes.cnpq.br/9307727443790246Monteles, Ricardo André Rochahttp://lattes.cnpq.br/97512140834890762020-02-20T15:17:24Z2020-02-14info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfMONTELES, Ricardo André Rocha. "Eu venho da Floresta": A sustentabilidade das plantas sagradas amazônicas do Santo Daime. 2020. 257 f. Tese (Doutorado em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia) - Universidade Federal do Amazonas, Manaus, 2020.https://tede.ufam.edu.br/handle/tede/7682porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFAMinstname:Universidade Federal do Amazonas (UFAM)instacron:UFAM2020-02-21T05:03:58Zoai:https://tede.ufam.edu.br/handle/:tede/7682Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://200.129.163.131:8080/PUBhttp://200.129.163.131:8080/oai/requestddbc@ufam.edu.br||ddbc@ufam.edu.bropendoar:65922020-02-21T05:03:58Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFAM - Universidade Federal do Amazonas (UFAM)false |
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