Cadeia produtiva da piaçava no rio Xié / Alto Rio Negro - Amazonas

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Osoegawa, Diego Ken
Data de Publicação: 2017
Outros Autores: http://lattes.cnpq.br/5829559691418202
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFAM
Texto Completo: https://tede.ufam.edu.br/handle/tede/6945
Resumo: As cadeias produtivas do extrativismo na Amazônia, historicamente, se caracterizaram pela exploração do trabalho das populações tradicionais e povos originários. Com a fibra da palmeira piaçava (Leopoldinia piasaba) não foi diferente. Ainda hoje em grande parte do Rio Negro, as relações de trabalho da exploração da piaçava se enquadram no trabalho escravo moderno pelo endividamento. Diante desta realidade, este trabalho teve como objetivo principal analisar a partir da concepção sistêmica de cadeias produtivas as atividades econômicas e tecnológicas envolvidas na produção, processamento e distribuição da piaçava e seus produtos no Rio Xié, Território do povo Werekena, Terra Indígena Alto Rio Negro, Município de São Gabriel da Cachoeira/AM. Este trabalho foi realizado através dos objetivos específicos de: A) Mapear e identificar as áreas de ocorrência da piaçava a partir de metodologias participantes; B) Identificar e sistematizar o conjunto de tecnologias sociais tradicionais (saberes próprios culturais) utilizados no manejo da piaçava pelos Werekena; C) Analisar as relações socioeconômicas da cadeia produtiva da piaçava no Rio Xié. Para o mapeamento dos piaçabais utilizou-se a metodologia de oficinas de gestão do conhecimento, que compreendeu três procedimentos: a realização de cartogramas participantes, a técnica de mapeamento em Over lay e a sistematização das informações em SIG (Sistema de Informação Georreferenciada). O processo foi conduzido nas comunidades de Anamoim, Kumati e Umarituba e fez parte das atividades escolares, proporcionando um espaço de partilha de conhecimentos sobre o espaço, entre as diferentes gerações presentes, piaçabeiros experientes e jovens. O mapeamento participante resultou em um mapa das trilhas de extração e áreas de manejo da piaçava. Este foi orientado para a valorização, registro e revitalização dos nomes tradicionais. Processo que se mostrou eficiente para promover salvaguarda das línguas originárias frente à situação diglóssica e fortalecer a apropriação do território pelos indígenas, a partir da ferramenta concebida por eles, em contraponto às forças de expropriação do território indígena, que representam os mapas com nomenclatura em português. A identificação das tecnologias sociais envolvidas no manejo da piaçava deu-se através da realização de entrevistas. Foram 33 entrevistas semiestruturadas a piaçabeiros e ex-piaçabeiros, com a observação participante de 7 piaçabeiros durante a atividade de extração da piaçava, nas comunidades de Anamoim, Kumati e Umarituba. As relações históricas dos povos indígenas do Xié com a piaçava permitiram que desenvolvessem um sistema de manejo próprio fundamentados em suas culturas, que foi desenvolvido a partir de várias gerações de interação dos povos Werekena e Baré com a piaçava, e da socialização desse saber por meio da prática e da oralidade ao longo do tempo, o que ora denominamos de manejo cultural. O manejo da piaçava no Rio Xié, ao logo da história teve mudanças tanto no que diz respeito à intensidade de exploração quanto às técnicas empregadas, tanto na extração quanto no beneficiamento/processamento da fibra. Estas mudanças podem ser correlacionadas com a utilização histórica da piaçava e as demandas e exigências do mercado com as relações de trabalho existentes na cadeia produtiva de extração, com a disponibilidade de acesso às ferramentas e a conscientização sobre boas práticas de manejo, que foram desenvolvidas por eles durante o período de intensa exploração. A análise das relações socioeconômicas da cadeia produtiva da piaçava no Rio Xié foi realizada através da observação participante de 2 assembleias da Associação das Comunidades Indígenas do Rio Xié (ACIRX) e da realização de 43 entrevistas semiestruturadas com piaçabeiros, ex-piaçabeiros, artesãos, regatões, comerciantes, professores e estudantes do ensino básico, representantes da FOIRN, FUNAI, ONGs e Dabukuri-UFAM. Os regatões praticaram a escravidão dos indígenas pela dívida no Rio Xié até a década de 90. Eles detinham os meios de produção e o meio de transporte eficiente, e o comércio com os regatões era a única opção para a aquisição dos bens industrializados. Os regatões estavam em uma situação privilegiada na relação de poder, da qual se aproveitaram para explorar o trabalho dos povos indígenas. Os regatões tinham diversas estratégias para que os indígenas nunca saíssem da dívida. Além dos preços abusivos, descontavam altas porcentagens (tara) da quantidade extraída. A longa permanência nos piaçabais fazia com que a alimentação levada pelos indígenas acabasse, então tinham que comprar dos regatões, ampliando a dívida, além da desonestidade na hora de realizar os cálculos do montante devido ou da piaçava entregue. Os indígenas não ficaram inertes frente a esta situação. Ao longo do tempo foram ampliando a autonomia em relação aos regatões, se apropriaram da matemática através das primeiras escolas, foram adquirindo motores que ampliaram sua capacidade de locomoção, formalizaram o movimento indígena através da criação da ACIRX e em 1998 a terra indígena Alto Rio Negro foi demarcada, e eles decidiram se posicionar contrários à exploração sofrida na cadeia produtiva da piaçava, reduzindo drasticamente a extração desde esta data. Hoje a extração da piaçava, para as poucas famílias que ainda a realizam, é uma atividade de baixa intensidade, complementar, em que se extraem pequenas quantidades da fibra para a fabricação de vassouras de piaçava, alguns tipos de artesanato ou para a comercialização de pequenas quantidades da fibra. Há cerca de 20 anos a extração da piaçava não tem sido pronunciada, e os estoques da fibra estão cheios nos piaçabais, de forma que as áreas passíveis de extração estão próximas às comunidades, não necessitando da permanência nos piaçabais. A cadeia produtiva ainda é caracterizada pelos altos preços cobrados pelos intermediários aos produtos industrializados e pelos baixos preços pagos aos indígenas. Os povos do Xié anseiam por outra forma de organização da cadeia produtiva para que a comercialização da piaçava possa apoiar seus projetos societários. A reestruturação da cadeia produtiva da piaçava deve ocorrer de forma participante em todas as etapas do processo. Algumas ações são propostas com base nas oficinas e assembleias realizadas no Xié. Propõe-se a criação de um departamento dentro da ACIRX que seja o elo central na cadeia produtiva da piaçava, responsável pela geração de oportunidades para a comercialização dos produtos indígenas, por fazer a interlocução dos indígenas com o poder público e promover a valorização da piaçava e dos produtos artísticos associados. Entre as principais linhas de ação estão a valorização dos aspectos imateriais relacionados com o manejo e artesanato da piaçava, a redução dos intermediários e a construção de um modelo de gestão que seja baseado nos valores próprios, para ser capaz de ressignificar os elementos externos a partir da lógica Werekena, visando fortalecer a cultura e os laços entre as famílias.
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Diante desta realidade, este trabalho teve como objetivo principal analisar a partir da concepção sistêmica de cadeias produtivas as atividades econômicas e tecnológicas envolvidas na produção, processamento e distribuição da piaçava e seus produtos no Rio Xié, Território do povo Werekena, Terra Indígena Alto Rio Negro, Município de São Gabriel da Cachoeira/AM. Este trabalho foi realizado através dos objetivos específicos de: A) Mapear e identificar as áreas de ocorrência da piaçava a partir de metodologias participantes; B) Identificar e sistematizar o conjunto de tecnologias sociais tradicionais (saberes próprios culturais) utilizados no manejo da piaçava pelos Werekena; C) Analisar as relações socioeconômicas da cadeia produtiva da piaçava no Rio Xié. Para o mapeamento dos piaçabais utilizou-se a metodologia de oficinas de gestão do conhecimento, que compreendeu três procedimentos: a realização de cartogramas participantes, a técnica de mapeamento em Over lay e a sistematização das informações em SIG (Sistema de Informação Georreferenciada). O processo foi conduzido nas comunidades de Anamoim, Kumati e Umarituba e fez parte das atividades escolares, proporcionando um espaço de partilha de conhecimentos sobre o espaço, entre as diferentes gerações presentes, piaçabeiros experientes e jovens. O mapeamento participante resultou em um mapa das trilhas de extração e áreas de manejo da piaçava. Este foi orientado para a valorização, registro e revitalização dos nomes tradicionais. Processo que se mostrou eficiente para promover salvaguarda das línguas originárias frente à situação diglóssica e fortalecer a apropriação do território pelos indígenas, a partir da ferramenta concebida por eles, em contraponto às forças de expropriação do território indígena, que representam os mapas com nomenclatura em português. A identificação das tecnologias sociais envolvidas no manejo da piaçava deu-se através da realização de entrevistas. Foram 33 entrevistas semiestruturadas a piaçabeiros e ex-piaçabeiros, com a observação participante de 7 piaçabeiros durante a atividade de extração da piaçava, nas comunidades de Anamoim, Kumati e Umarituba. As relações históricas dos povos indígenas do Xié com a piaçava permitiram que desenvolvessem um sistema de manejo próprio fundamentados em suas culturas, que foi desenvolvido a partir de várias gerações de interação dos povos Werekena e Baré com a piaçava, e da socialização desse saber por meio da prática e da oralidade ao longo do tempo, o que ora denominamos de manejo cultural. O manejo da piaçava no Rio Xié, ao logo da história teve mudanças tanto no que diz respeito à intensidade de exploração quanto às técnicas empregadas, tanto na extração quanto no beneficiamento/processamento da fibra. Estas mudanças podem ser correlacionadas com a utilização histórica da piaçava e as demandas e exigências do mercado com as relações de trabalho existentes na cadeia produtiva de extração, com a disponibilidade de acesso às ferramentas e a conscientização sobre boas práticas de manejo, que foram desenvolvidas por eles durante o período de intensa exploração. A análise das relações socioeconômicas da cadeia produtiva da piaçava no Rio Xié foi realizada através da observação participante de 2 assembleias da Associação das Comunidades Indígenas do Rio Xié (ACIRX) e da realização de 43 entrevistas semiestruturadas com piaçabeiros, ex-piaçabeiros, artesãos, regatões, comerciantes, professores e estudantes do ensino básico, representantes da FOIRN, FUNAI, ONGs e Dabukuri-UFAM. Os regatões praticaram a escravidão dos indígenas pela dívida no Rio Xié até a década de 90. Eles detinham os meios de produção e o meio de transporte eficiente, e o comércio com os regatões era a única opção para a aquisição dos bens industrializados. Os regatões estavam em uma situação privilegiada na relação de poder, da qual se aproveitaram para explorar o trabalho dos povos indígenas. Os regatões tinham diversas estratégias para que os indígenas nunca saíssem da dívida. Além dos preços abusivos, descontavam altas porcentagens (tara) da quantidade extraída. A longa permanência nos piaçabais fazia com que a alimentação levada pelos indígenas acabasse, então tinham que comprar dos regatões, ampliando a dívida, além da desonestidade na hora de realizar os cálculos do montante devido ou da piaçava entregue. Os indígenas não ficaram inertes frente a esta situação. Ao longo do tempo foram ampliando a autonomia em relação aos regatões, se apropriaram da matemática através das primeiras escolas, foram adquirindo motores que ampliaram sua capacidade de locomoção, formalizaram o movimento indígena através da criação da ACIRX e em 1998 a terra indígena Alto Rio Negro foi demarcada, e eles decidiram se posicionar contrários à exploração sofrida na cadeia produtiva da piaçava, reduzindo drasticamente a extração desde esta data. Hoje a extração da piaçava, para as poucas famílias que ainda a realizam, é uma atividade de baixa intensidade, complementar, em que se extraem pequenas quantidades da fibra para a fabricação de vassouras de piaçava, alguns tipos de artesanato ou para a comercialização de pequenas quantidades da fibra. Há cerca de 20 anos a extração da piaçava não tem sido pronunciada, e os estoques da fibra estão cheios nos piaçabais, de forma que as áreas passíveis de extração estão próximas às comunidades, não necessitando da permanência nos piaçabais. A cadeia produtiva ainda é caracterizada pelos altos preços cobrados pelos intermediários aos produtos industrializados e pelos baixos preços pagos aos indígenas. Os povos do Xié anseiam por outra forma de organização da cadeia produtiva para que a comercialização da piaçava possa apoiar seus projetos societários. A reestruturação da cadeia produtiva da piaçava deve ocorrer de forma participante em todas as etapas do processo. Algumas ações são propostas com base nas oficinas e assembleias realizadas no Xié. Propõe-se a criação de um departamento dentro da ACIRX que seja o elo central na cadeia produtiva da piaçava, responsável pela geração de oportunidades para a comercialização dos produtos indígenas, por fazer a interlocução dos indígenas com o poder público e promover a valorização da piaçava e dos produtos artísticos associados. Entre as principais linhas de ação estão a valorização dos aspectos imateriais relacionados com o manejo e artesanato da piaçava, a redução dos intermediários e a construção de um modelo de gestão que seja baseado nos valores próprios, para ser capaz de ressignificar os elementos externos a partir da lógica Werekena, visando fortalecer a cultura e os laços entre as famílias.As cadeias produtivas do extrativismo na Amazônia, historicamente, se caracterizaram pela exploração do trabalho das populações tradicionais e povos originários. Com a fibra da palmeira piaçava (Leopoldinia piasaba) não foi diferente. Ainda hoje em grande parte do Rio Negro, as relações de trabalho da exploração da piaçava se enquadram no trabalho escravo moderno pelo endividamento. Diante desta realidade, este trabalho teve como objetivo principal analisar a partir da concepção sistêmica de cadeias produtivas as atividades econômicas e tecnológicas envolvidas na produção, processamento e distribuição da piaçava e seus produtos no Rio Xié, Território do povo Werekena, Terra Indígena Alto Rio Negro, Município de São Gabriel da Cachoeira/AM. Este trabalho foi realizado através dos objetivos específicos de: A) Mapear e identificar as áreas de ocorrência da piaçava a partir de metodologias participantes; B) Identificar e sistematizar o conjunto de tecnologias sociais tradicionais (saberes próprios culturais) utilizados no manejo da piaçava pelos Werekena; C) Analisar as relações socioeconômicas da cadeia produtiva da piaçava no Rio Xié. Para o mapeamento dos piaçabais utilizou-se a metodologia de oficinas de gestão do conhecimento, que compreendeu três procedimentos: a realização de cartogramas participantes, a técnica de mapeamento em Over lay e a sistematização das informações em SIG (Sistema de Informação Georreferenciada). O processo foi conduzido nas comunidades de Anamoim, Kumati e Umarituba e fez parte das atividades escolares, proporcionando um espaço de partilha de conhecimentos sobre o espaço, entre as diferentes gerações presentes, piaçabeiros experientes e jovens. O mapeamento participante resultou em um mapa das trilhas de extração e áreas de manejo da piaçava. Este foi orientado para a valorização, registro e revitalização dos nomes tradicionais. Processo que se mostrou eficiente para promover salvaguarda das línguas originárias frente à situação diglóssica e fortalecer a apropriação do território pelos indígenas, a partir da ferramenta concebida por eles, em contraponto às forças de expropriação do território indígena, que representam os mapas com nomenclatura em português. A identificação das tecnologias sociais envolvidas no manejo da piaçava deu-se através da realização de entrevistas. Foram 33 entrevistas semiestruturadas a piaçabeiros e ex-piaçabeiros, com a observação participante de 7 piaçabeiros durante a atividade de extração da piaçava, nas comunidades de Anamoim, Kumati e Umarituba. As relações históricas dos povos indígenas do Xié com a piaçava permitiram que desenvolvessem um sistema de manejo próprio fundamentados em suas culturas, que foi desenvolvido a partir de várias gerações de interação dos povos Werekena e Baré com a piaçava, e da socialização desse saber por meio da prática e da oralidade ao longo do tempo, o que ora denominamos de manejo cultural. O manejo da piaçava no Rio Xié, ao logo da história teve mudanças tanto no que diz respeito à intensidade de exploração quanto às técnicas empregadas, tanto na extração quanto no beneficiamento/processamento da fibra. Estas mudanças podem ser correlacionadas com a utilização histórica da piaçava e as demandas e exigências do mercado com as relações de trabalho existentes na cadeia produtiva de extração, com a disponibilidade de acesso às ferramentas e a conscientização sobre boas práticas de manejo, que foram desenvolvidas por eles durante o período de intensa exploração. A análise das relações socioeconômicas da cadeia produtiva da piaçava no Rio Xié foi realizada através da observação participante de 2 assembleias da Associação das Comunidades Indígenas do Rio Xié (ACIRX) e da realização de 43 entrevistas semiestruturadas com piaçabeiros, ex-piaçabeiros, artesãos, regatões, comerciantes, professores e estudantes do ensino básico, representantes da FOIRN, FUNAI, ONGs e Dabukuri-UFAM. Os regatões praticaram a escravidão dos indígenas pela dívida no Rio Xié até a década de 90. Eles detinham os meios de produção e o meio de transporte eficiente, e o comércio com os regatões era a única opção para a aquisição dos bens industrializados. Os regatões estavam em uma situação privilegiada na relação de poder, da qual se aproveitaram para explorar o trabalho dos povos indígenas. Os regatões tinham diversas estratégias para que os indígenas nunca saíssem da dívida. Além dos preços abusivos, descontavam altas porcentagens (tara) da quantidade extraída. A longa permanência nos piaçabais fazia com que a alimentação levada pelos indígenas acabasse, então tinham que comprar dos regatões, ampliando a dívida, além da desonestidade na hora de realizar os cálculos do montante devido ou da piaçava entregue. Os indígenas não ficaram inertes frente a esta situação. Ao longo do tempo foram ampliando a autonomia em relação aos regatões, se apropriaram da matemática através das primeiras escolas, foram adquirindo motores que ampliaram sua capacidade de locomoção, formalizaram o movimento indígena através da criação da ACIRX e em 1998 a terra indígena Alto Rio Negro foi demarcada, e eles decidiram se posicionar contrários à exploração sofrida na cadeia produtiva da piaçava, reduzindo drasticamente a extração desde esta data. Hoje a extração da piaçava, para as poucas famílias que ainda a realizam, é uma atividade de baixa intensidade, complementar, em que se extraem pequenas quantidades da fibra para a fabricação de vassouras de piaçava, alguns tipos de artesanato ou para a comercialização de pequenas quantidades da fibra. Há cerca de 20 anos a extração da piaçava não tem sido pronunciada, e os estoques da fibra estão cheios nos piaçabais, de forma que as áreas passíveis de extração estão próximas às comunidades, não necessitando da permanência nos piaçabais. A cadeia produtiva ainda é caracterizada pelos altos preços cobrados pelos intermediários aos produtos industrializados e pelos baixos preços pagos aos indígenas. Os povos do Xié anseiam por outra forma de organização da cadeia produtiva para que a comercialização da piaçava possa apoiar seus projetos societários. A reestruturação da cadeia produtiva da piaçava deve ocorrer de forma participante em todas as etapas do processo. Algumas ações são propostas com base nas oficinas e assembleias realizadas no Xié. Propõe-se a criação de um departamento dentro da ACIRX que seja o elo central na cadeia produtiva da piaçava, responsável pela geração de oportunidades para a comercialização dos produtos indígenas, por fazer a interlocução dos indígenas com o poder público e promover a valorização da piaçava e dos produtos artísticos associados. Entre as principais linhas de ação estão a valorização dos aspectos imateriais relacionados com o manejo e artesanato da piaçava, a redução dos intermediários e a construção de um modelo de gestão que seja baseado nos valores próprios, para ser capaz de ressignificar os elementos externos a partir da lógica Werekena, visando fortalecer a cultura e os laços entre as famílias.FAPEAM - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do AmazonasCNPQ - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e TecnológicoUniversidade Federal do AmazonasCentro de Ciências do AmbienteBrasilUFAMPrograma de Pós-graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na AmazôniaFaria, Ivani Ferreira dehttp://lattes.cnpq.br/9910677483036522Fernandes, Rinaldo Senahttp://lattes.cnpq.br/3816854587667071Chaves, Maria do Perpétuo Socorro Rodrigueshttp://lattes.cnpq.br/0251938411548526Cruz, Manuel de Jesus Masulo dahttp://lattes.cnpq.br/7823586856980212Osoegawa, Diego Kenhttp://lattes.cnpq.br/58295596914182022019-02-13T19:08:52Z2017-04-07info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfOSOEGAWA, Diego Ken. Cadeia produtiva da piaçava no rio Xié / Alto Rio Negro - Amazonas. 2017. 203 f. Dissertação (Mestrado em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia) - Centro de Ciências do Ambiente, Universidade Federal do Amazonas, Manaus, 2017.https://tede.ufam.edu.br/handle/tede/6945porhttp://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0/info:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFAMinstname:Universidade Federal do Amazonas (UFAM)instacron:UFAM2019-02-14T05:03:53Zoai:https://tede.ufam.edu.br/handle/:tede/6945Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://200.129.163.131:8080/PUBhttp://200.129.163.131:8080/oai/requestddbc@ufam.edu.br||ddbc@ufam.edu.bropendoar:65922019-02-14T05:03:53Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFAM - Universidade Federal do Amazonas (UFAM)false
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Este trabalho foi realizado através dos objetivos específicos de: A) Mapear e identificar as áreas de ocorrência da piaçava a partir de metodologias participantes; B) Identificar e sistematizar o conjunto de tecnologias sociais tradicionais (saberes próprios culturais) utilizados no manejo da piaçava pelos Werekena; C) Analisar as relações socioeconômicas da cadeia produtiva da piaçava no Rio Xié. Para o mapeamento dos piaçabais utilizou-se a metodologia de oficinas de gestão do conhecimento, que compreendeu três procedimentos: a realização de cartogramas participantes, a técnica de mapeamento em Over lay e a sistematização das informações em SIG (Sistema de Informação Georreferenciada). O processo foi conduzido nas comunidades de Anamoim, Kumati e Umarituba e fez parte das atividades escolares, proporcionando um espaço de partilha de conhecimentos sobre o espaço, entre as diferentes gerações presentes, piaçabeiros experientes e jovens. O mapeamento participante resultou em um mapa das trilhas de extração e áreas de manejo da piaçava. Este foi orientado para a valorização, registro e revitalização dos nomes tradicionais. Processo que se mostrou eficiente para promover salvaguarda das línguas originárias frente à situação diglóssica e fortalecer a apropriação do território pelos indígenas, a partir da ferramenta concebida por eles, em contraponto às forças de expropriação do território indígena, que representam os mapas com nomenclatura em português. A identificação das tecnologias sociais envolvidas no manejo da piaçava deu-se através da realização de entrevistas. Foram 33 entrevistas semiestruturadas a piaçabeiros e ex-piaçabeiros, com a observação participante de 7 piaçabeiros durante a atividade de extração da piaçava, nas comunidades de Anamoim, Kumati e Umarituba. As relações históricas dos povos indígenas do Xié com a piaçava permitiram que desenvolvessem um sistema de manejo próprio fundamentados em suas culturas, que foi desenvolvido a partir de várias gerações de interação dos povos Werekena e Baré com a piaçava, e da socialização desse saber por meio da prática e da oralidade ao longo do tempo, o que ora denominamos de manejo cultural. O manejo da piaçava no Rio Xié, ao logo da história teve mudanças tanto no que diz respeito à intensidade de exploração quanto às técnicas empregadas, tanto na extração quanto no beneficiamento/processamento da fibra. Estas mudanças podem ser correlacionadas com a utilização histórica da piaçava e as demandas e exigências do mercado com as relações de trabalho existentes na cadeia produtiva de extração, com a disponibilidade de acesso às ferramentas e a conscientização sobre boas práticas de manejo, que foram desenvolvidas por eles durante o período de intensa exploração. A análise das relações socioeconômicas da cadeia produtiva da piaçava no Rio Xié foi realizada através da observação participante de 2 assembleias da Associação das Comunidades Indígenas do Rio Xié (ACIRX) e da realização de 43 entrevistas semiestruturadas com piaçabeiros, ex-piaçabeiros, artesãos, regatões, comerciantes, professores e estudantes do ensino básico, representantes da FOIRN, FUNAI, ONGs e Dabukuri-UFAM. Os regatões praticaram a escravidão dos indígenas pela dívida no Rio Xié até a década de 90. Eles detinham os meios de produção e o meio de transporte eficiente, e o comércio com os regatões era a única opção para a aquisição dos bens industrializados. Os regatões estavam em uma situação privilegiada na relação de poder, da qual se aproveitaram para explorar o trabalho dos povos indígenas. Os regatões tinham diversas estratégias para que os indígenas nunca saíssem da dívida. Além dos preços abusivos, descontavam altas porcentagens (tara) da quantidade extraída. 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Hoje a extração da piaçava, para as poucas famílias que ainda a realizam, é uma atividade de baixa intensidade, complementar, em que se extraem pequenas quantidades da fibra para a fabricação de vassouras de piaçava, alguns tipos de artesanato ou para a comercialização de pequenas quantidades da fibra. Há cerca de 20 anos a extração da piaçava não tem sido pronunciada, e os estoques da fibra estão cheios nos piaçabais, de forma que as áreas passíveis de extração estão próximas às comunidades, não necessitando da permanência nos piaçabais. A cadeia produtiva ainda é caracterizada pelos altos preços cobrados pelos intermediários aos produtos industrializados e pelos baixos preços pagos aos indígenas. Os povos do Xié anseiam por outra forma de organização da cadeia produtiva para que a comercialização da piaçava possa apoiar seus projetos societários. A reestruturação da cadeia produtiva da piaçava deve ocorrer de forma participante em todas as etapas do processo. 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