Análise política da saúde no MST: problemas, práticas e projeto.

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Barros, Larissa Daiane Vieira
Data de Publicação: 2021
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFBA
Texto Completo: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/37858
Resumo: O presente trabalho tem por objetivo analisar os problemas e as ações/práticas de saúde produzidas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, bem como identificar a concepção de Saúde e o projeto sociopolítico que orienta as ações do Movimento. A produção de dados foi realizada através da análise documental, utilizando como fontes de informação o Programa de Reforma Agrária Popular do MST, os cadernos produzidos pelo Setor de Saúde do MST e 326 exemplares do Boletim e Jornal dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, produzidos no período 1981 a 2014, e publicados na Hemeroteca Luta pela Terra, no site <www.mst.org.br>. Os dados sobre os problemas de saúde revelam a permanência das doenças em decorrência da pobreza estrutural e da insegurança alimentar (diarreia, desnutrição e infecto parasitárias), mas incorpora posteriormente as doenças causadas pela expansão do agronegócio no campo brasileiro, casos de intoxicação por agrotóxicos e doenças pulmonares causados pelas carvoarias. Quanto aos problemas de acesso ao sistema oficial de saúde, a ausência/insuficiência de serviços de saúde aparece como a primeira e principal barreira de acesso em todos os períodos analisados, entretanto, o vazio assistencial está mais presente no primeiro período e nos territórios dos acampamentos, enquanto a insuficiência e a precarização dos serviços de saúde são mais relatadas nos espaços dos assentamentos. Os resultados revelam que o MST vem realizando historicamente um conjunto de ações de cuidado, prevenção e promoção da saúde em seus territórios, em parceria com diversas organizações, como Universidades, Ministério da Saúde e Fiocruz. Chama atenção a estratégia de formação técnica e superior de seus militantes na área da saúde, que cumprem papel fundamental de cuidado às populações vinculadas ao MST, mas também estão inseridos no SUS, assumindo compromisso político de cuidado da classe trabalhadora nas regiões urbanas e periféricas do país. Estas ações estão orientadas por uma concepção radical e ampliada de saúde e na defesa do SUS integral, público e universal. Para o MST, os problemas de saúde diretamente observáveis nos corpos das populações assentadas e acampadas expressam a dinâmica e as formas de viver e trabalhar no campo brasileiro, bem como suas relações e determinantes estruturais, ou seja, a Saúde Real só pode ser compreendida a partir das relações de dominação de classe, raça e gênero que determinam a distribuição desigual da riqueza, dos bens que a promovem, bem como das agressões e processos destrutivos que a deterioram. O movimento rompe com a lógica medicalizante e funcionalista e articula um conjunto de ações e instituições voltadas para emancipação, que operam na ordem do singular dos indivíduos e suas famílias, no particular das classes e do geral da sociedade orientada para reprodução do capital. A pesquisa revela que o projeto do MST no campo da saúde constitui parte do Projeto de Reforma Agrária Popular e bastante convergente com o pensamento da epidemiologia crítica. Para o Movimento não é possível construir uma sociedade para vida sem uma economia dirigida para reprodução da vida, portanto sustentável. Uma economia, uma identidade e cultura soberanas, não subordinada e colonizada pelos interesses de organismos internacionais e países de capitalismo central. Uma política de vida solidária e integral e formas seguras de metabolismo sociedade natureza. Assim, a luta pela Saúde está organicamente vinculada à luta pela Terra e pelo Projeto de Reforma Agrária Popular, contra o latifúndio e suas corporações, contra a doença e a barbárie, em defesa da vida e da soberania dos povos.
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Os dados sobre os problemas de saúde revelam a permanência das doenças em decorrência da pobreza estrutural e da insegurança alimentar (diarreia, desnutrição e infecto parasitárias), mas incorpora posteriormente as doenças causadas pela expansão do agronegócio no campo brasileiro, casos de intoxicação por agrotóxicos e doenças pulmonares causados pelas carvoarias. Quanto aos problemas de acesso ao sistema oficial de saúde, a ausência/insuficiência de serviços de saúde aparece como a primeira e principal barreira de acesso em todos os períodos analisados, entretanto, o vazio assistencial está mais presente no primeiro período e nos territórios dos acampamentos, enquanto a insuficiência e a precarização dos serviços de saúde são mais relatadas nos espaços dos assentamentos. Os resultados revelam que o MST vem realizando historicamente um conjunto de ações de cuidado, prevenção e promoção da saúde em seus territórios, em parceria com diversas organizações, como Universidades, Ministério da Saúde e Fiocruz. Chama atenção a estratégia de formação técnica e superior de seus militantes na área da saúde, que cumprem papel fundamental de cuidado às populações vinculadas ao MST, mas também estão inseridos no SUS, assumindo compromisso político de cuidado da classe trabalhadora nas regiões urbanas e periféricas do país. Estas ações estão orientadas por uma concepção radical e ampliada de saúde e na defesa do SUS integral, público e universal. Para o MST, os problemas de saúde diretamente observáveis nos corpos das populações assentadas e acampadas expressam a dinâmica e as formas de viver e trabalhar no campo brasileiro, bem como suas relações e determinantes estruturais, ou seja, a Saúde Real só pode ser compreendida a partir das relações de dominação de classe, raça e gênero que determinam a distribuição desigual da riqueza, dos bens que a promovem, bem como das agressões e processos destrutivos que a deterioram. O movimento rompe com a lógica medicalizante e funcionalista e articula um conjunto de ações e instituições voltadas para emancipação, que operam na ordem do singular dos indivíduos e suas famílias, no particular das classes e do geral da sociedade orientada para reprodução do capital. A pesquisa revela que o projeto do MST no campo da saúde constitui parte do Projeto de Reforma Agrária Popular e bastante convergente com o pensamento da epidemiologia crítica. Para o Movimento não é possível construir uma sociedade para vida sem uma economia dirigida para reprodução da vida, portanto sustentável. Uma economia, uma identidade e cultura soberanas, não subordinada e colonizada pelos interesses de organismos internacionais e países de capitalismo central. Uma política de vida solidária e integral e formas seguras de metabolismo sociedade natureza. Assim, a luta pela Saúde está organicamente vinculada à luta pela Terra e pelo Projeto de Reforma Agrária Popular, contra o latifúndio e suas corporações, contra a doença e a barbárie, em defesa da vida e da soberania dos povos.This paper aims to analyze the health problems and actions/practices produced by the Landless Rural Workers Movement, as well as to identify the concept of Health and the sociopolitical project that guides the Movement's actions. Data production was carried out through document analysis, using as sources of information the MST's Popular Agrarian Reform Program, the notebooks produced by the Health Sector of the MST and 326 copies of the Bulletin and Journal of Landless Workers' Movement, produced in the period 1981 to 2014, and published in Hemeroteca Luta pela Terra, on the website <www.mst.org.br>. Data on health problems reveal the permanence of diseases due to poverty and food insecurity (diarrhea, malnutrition and parasitic infections), but late incorporated in the third period the diseases caused by the expansion of agribusiness in the Brazilian countryside, cases of pesticide poisoning and lung diseases caused by charcoal works. As for the problems of access to the official health system, the absence/insufficiency of health services appears as the first and main barrier to access in all periods, however, the healthcare gap is more present in the first period and in the territories of the camps, while the insufficiency and precariousness of health services are more frequently reported in the spaces of the land settlements. The results reveal that the MST has historically been carrying out a set of care, prevention and health promotion actions in its territories, in partnership with several organizations, such as Universities, Ministry of Health and Fiocruz. Attention is drawn to the technical and higher education strategy of its militants in the health area, who play a fundamental role in caring for populations linked to the MST, but are also inserted in the SUS, assuming a political commitment to care for the working class in urban and peripheral regions of the parents. These actions are guided by a radical and expanded conception of health and in the defense of the integral, public and universal SUS. For the MST, health problems directly observable in the bodies of settled and encamped populations express the dynamics and ways of living and working in the Brazilian countryside, as well as their relationships and structural determinants, that is, Real Health can only be understood by starting from the relations of class, race and gender domination that determine the unequal distribution of wealth, the goods that promote it, as well as the aggression and destructive processes that deteriorate it. The movement breaks with the medicalizing and functionalist logic and articulates a set of actions and institutions aimed at emancipation, which operate in the singular order of individuals and their families, in the particular of classes and the general society oriented towards the reproduction of capital. The research reveals that the MST project in the field of health is part of the Popular Agrarian Reform Project and very much convergent with critical epidemiology thinking. For the Movement, it is not possible to build a society for life without an economy aimed at reproducing life, therefore sustainable. A sovereign economy, identity and culture, not subordinate and colonized by the interests of international organizations and countries of central capitalism. A solidary and integral life policy and safe ways of metabolism society nature. Thus, the struggle for Health is organically linked to the struggle for the Land and for the Popular Agrarian Reform Project, against the latifundium and its corporations, against disease and barbarism, in defense of the life and popular sovereignty.Submitted by Maria Creuza Silva (mariakreuza@yahoo.com.br) on 2023-09-22T15:00:46Z No. of bitstreams: 2 license_rdf: 1037 bytes, checksum: 996f8b5afe3136b76594f43bfda24c5e (MD5) Tese-Larissa Daiane Vieira Barros-2021 (1).pdf: 20700232 bytes, checksum: 12d2276705f9fe0a641c99702f42ef0b (MD5)Approved for entry into archive by Maria Creuza Silva (mariakreuza@yahoo.com.br) on 2023-09-22T15:01:55Z (GMT) No. of bitstreams: 2 license_rdf: 1037 bytes, checksum: 996f8b5afe3136b76594f43bfda24c5e (MD5) Tese-Larissa Daiane Vieira Barros-2021 (1).pdf: 20700232 bytes, checksum: 12d2276705f9fe0a641c99702f42ef0b (MD5)Made available in DSpace on 2023-09-22T15:01:55Z (GMT). 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