Desastres Naturais e Emergências em Saúde em Moçambique: uma análise com enfoque no impacto dos Ciclones Idai e Kenneth para a Saúde Pública.

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Mugabe, Vánio André
Data de Publicação: 2021
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFBA
Texto Completo: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/37855
Resumo: Moçambique é um país exposto a múltiplos perigos hidrometeorológicos (seca, ciclones e enchentes) que, de forma recorrente, têm afetado muitas famílias em diferentes províncias, nos últimos anos. Entre 2015 e 2016, o país enfrentou a pior seca em 35 anos e entre março e abril de 2019, foi atingido pelos ciclones Idai e Kenneth, que foram acompanhados de chuvas torrenciais e desencadearam enchentes. Soma-se a esses eventos, o maior registro de pessoas deslocadas das suas regiões de origem (em décadas), devido a violentos ataques terroristas que assolam a província de Cabo Delgado, desde finais de 2017. Adicionalmente, a pandemia de Covid-19 em curso, exacerbou a vulnerabilidade da população. A sucessão/sobreposição desses eventos provocou uma crise humanitária que pode exaurir a capacidade de resiliência das comunidades mais vulneráveis e gerar problemas de saúde de curto a longo prazo. A tese avaliou o impacto desses desastres no contexto da Saúde Pública, com particular enfoque no impacto dos ciclones Idai e Kenneth nas províncias de Sofala (distritos da Beira, Búzi, Dondo e Nhamatanda) e de Cabo Delgado (distrito de Macomia e cidade de Pemba), em torno de três aspetos: impacto imediato sobre o bem-estar das famílias afetadas; segurança alimentar e problemas de saúde associados (pelagra) e; vigilância de doenças febris agudas (malária, dengue, chikungunya, zika, leptospirose e doenças diarreicas, incluindo cólera), sensíveis às mudanças ecológicas induzidas por ciclones e enchentes. O estudo apresenta uma abordagem mista: i - pesquisa descritiva com abordagem quali-quantitativa, baseada na revisão de documentos oficiais e relatórios científicos produzidos por agências envolvidas na resposta aos ciclones Idai e Kenneth e análise descritiva de dados epidemiológicos de casos de diarreias, malária e desnutrição, coletados pelo Ministério da Saúde em 2019, incluindo a comparação das frequências mensais dos casos de malaria e doenças diarreicas registradas em 2018 e 2019; ii – um estudo de caso-controle, para investigar o surto de pelagra em Nhamatanda-Sofala e, iii – um estudo de corte transversal, baseado num sistema de vigilância de doenças febris agudas para o diagnóstico de infeções por arbovírus (Dengue, Zika e Chikungunya) e/ou zoonose (Leptospirose), nos distritos afetados. Em conjunto, os ciclones Idai e Kenneth deixaram 2,2 milhões de pessoas necessitando de proteção e assistência humanitária, para além daqueles em situação de insegurança alimentar (cerca de 2,1 milhões de pessoas) devido ao período de seca que os precedeu. Os danos e perdas totais causados pelos dois ciclones foram estimados em 2,8 bilhões de dólares. A frequência de casos de diarreia nos distritos da Beira, Búzi, Dondo e Nhamatanda aumentou 1,2-3,8 vezes entre março e junho de 2019, em comparação com o mesmo período de 2018. Pelo menos 6.773 casos de cólera (taxa de ataque: 571,4 casos por 100.000 habitantes) e 8 mortes relacionadas com a doença (taxa de letalidade: 0,12%) foram oficialmente registrados nos quatro distritos afetados pelo Ciclone Idai. Em Cabo Delgado, houve registro de 346 casos de cólera (taxa de ataque: 105,5 casos por 100.000 habitantes), sem óbitos relacionados. O distrito de Búzi foi o único que apresentou um aumento de casos de malária, entre março e junho de 2019 comparado com igual período de 2018. Em Sofala, 160.992 crianças <5 anos de idade foram examinadas para desnutrição, das quais 2.345 (1,5%) foram classificadas como casos de desnutrição aguda moderada e 952 (0,6%) como casos de desnutrição aguda grave. Em Cabo Delgado, foram examinadas 61.834 crianças, das quais 1.405 (2,3%) apresentavam desnutrição aguda moderada e 302 (0,5%) apresentavam desnutrição aguda grave. A pelagra afetou cerca de 2.300 pessoas (707,9/100.000 habitantes) em Nhamatanda; os casos eram mais prováveis de serem do sexo feminino (P <0,01) e menos escolarizados (P <0,01) do que os controles. O consumo insuficiente de frango e amendoim antes da chegada do ciclone Idai foi estatisticamente associado à pelagra (P <0,05). Das famílias entrevistadas durante o estudo, 51% estavam enfrentando escassez de alimentos antes mesmo da chegada do ciclone Idai. A vigilância para arboviroses e leptospirose investigou 305 pacientes com 15 anos de idade ou mais, dos quais 58,4% eram mulheres e a mediana de idade foi de 30 anos (IQR: 23 - 41 anos). Três (1,0%) pacientes foram positivos no DENV NS1 ELISA, dos quais um também apresentou IgM positivo contra DENV e CHIVK. Anticorpos IgM específicos contra DENV, ZIKV, CHIKV ou Leptospira foram encontrados no soro de 104 (34,1%) pacientes, dos quais 73 (23,9%) tinham evidência de infecção recente por um arbovírus, 19 (6,2%) tinham evidência de infecção recente por mais de um arbovírus e 12 (3,9%) tinham evidência de infecção recente por arbovírus e leptospira. Infeções anteriores por CHIKV e ZIKV foram encontradas em 141 (46,2%) pacientes. As condições socio-ambientais continuam a deteriorar-se em diferentes áreas nas duas províncias, como consequência direta das catástrofes climáticas e do terrorismo, criando um cenário ainda mais desafiador para o setor da saúde. Portanto, é crucial empoderar o Sistema Nacional de Saúde e torná-lo capaz não só para oferecer resposta rápida às emergências, mas também para participar em ações multissetoriais de prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação aos efeitos dos desastres em locais onde populações estão continuamente expostas a ciclones, enchentes e secas.
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A sucessão/sobreposição desses eventos provocou uma crise humanitária que pode exaurir a capacidade de resiliência das comunidades mais vulneráveis e gerar problemas de saúde de curto a longo prazo. A tese avaliou o impacto desses desastres no contexto da Saúde Pública, com particular enfoque no impacto dos ciclones Idai e Kenneth nas províncias de Sofala (distritos da Beira, Búzi, Dondo e Nhamatanda) e de Cabo Delgado (distrito de Macomia e cidade de Pemba), em torno de três aspetos: impacto imediato sobre o bem-estar das famílias afetadas; segurança alimentar e problemas de saúde associados (pelagra) e; vigilância de doenças febris agudas (malária, dengue, chikungunya, zika, leptospirose e doenças diarreicas, incluindo cólera), sensíveis às mudanças ecológicas induzidas por ciclones e enchentes. 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Portanto, é crucial empoderar o Sistema Nacional de Saúde e torná-lo capaz não só para oferecer resposta rápida às emergências, mas também para participar em ações multissetoriais de prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação aos efeitos dos desastres em locais onde populações estão continuamente expostas a ciclones, enchentes e secas.Mozambique is exposed to multiple hydrometeorological hazards (drought, cyclones and floods) that have repeatedly affected many families in different provinces in recent years. Between 2015 and 2016, the country faced the worst drought in 35 years and between March and April 2019, it was hit by cyclones Idai and Kenneth accompanied by torrential rains that triggered floods. Added to these events, the largest record of people displaced (in decades) from their regions of origin due to violent terrorist attacks that devastate the province of Cabo Delgado, since the end of 2017 and; the ongoing Covid-19 pandemic exacerbated the vulnerability of the population. The succession / overlapping of these events triggered a humanitarian crisis that can exhaust the resilience of the most vulnerable communities, and generate short to long-term health problems. The study evaluated the impact of these disasters in the context of Public Health, focusing on the impact of cyclones Idai and Kenneth in the provinces of Sofala (districts of Beira, Búzi, Dondo and Nhamatanda) and Cabo Delgado (district of Macomia and city of Pemba), around three aspects: immediate impact on the well-being of affected families; food security and associated health problems (pellagra) and surveillance of acute febrile illnesses (malaria, dengue, chikungunya, Zika, leptospirosis and diarrheal diseases including cholera), sensitive to ecological changes induced by cyclones and floods. The study presents a mixed approach: i - descriptive research with a quali-quantitative approach, based on the review of official documents and scientific reports produced by agencies involved in the response to cyclones Idai and Kenneth and descriptive analysis of epidemiological data on cases of diarrhea, malaria and malnutrition, collected by the Ministry of Health in 2019, including the comparison of monthly frequencies of cases of malaria and diarrheal diseases recorded in 2018 and 2019; ii – a case-control study to investigate the pellagra outbreak in Nhamatanda-Sofala and, iii – a cross-sectional study based on an acute febrile illness surveillance system for the diagnosis of arboviruses infections (DENV, ZIKV and CHIKV) and/or zoonosis (Leptospirosis) in the cyclone-affected districts. Together, Cyclones Idai and Kenneth left 2.2 million people in need of protection and humanitarian assistance, in addition to those who were food insecure (about 2.1 million people) after the previous drought. The total damage and loss caused by the two cyclones was estimated at 2.8 billion dollars. The frequency of cases of diarrhea registered in the districts of Beira, Búzi, Dondo and Nhamatanda increased 1.2-3.8 times between March and June 2019, compared to the same period in 2018. At least 6,773 cumulative cases of cholera (attack rate: 571.4 cases per 100,000 population) and 8 disease-related deaths (lethality rate: 0.12%) were officially registered in the four districts affected by Idai. In Cabo Delgado, 346 cumulative cases of cholera were registered (attack rate: 105.5 cases per 100,000 population), with no related deaths. The district of Búzi was the only one that showed an increase in malaria cases between March and June 2019 compared to the same period in 2018. In Sofala, 160,992 children <5 years of age were examined for malnutrition, of which 2345 (1.5%) had moderate acute malnutrition and 952 (0.6%) had severe acute malnutrition. In Cabo Delgado, 61,834 children were examined, of which 1,405 (2.3%) had moderate acute malnutrition and 302 (0.5%) had severe acute malnutrition. Pellagra affected about 2,300 people (707.9/100,000 inhabitants) in Nhamatanda; cases were more likely to be female (P < 0.01) and less educated (P < 0.01) than controls. Insufficient consumption of chicken and peanuts before the arrival of cyclone Idai was statistically associated with pellagra (P < 0.05). Of the families interviewed during the study, 51% were facing food shortages even before the arrival of Idai. From the arbovirus surveillance, 305 patients aged 15 years or older were enrolled, of which 58.4% were women and the median age was 30 years (IQR: 23 – 41 years). Three (1.0%) patients were positive by the DENV NS1 ELISA, of which one also had positive IgM against DENV and CHIVK. Specific IgM antibodies against DENV, ZIKV, CHIKV or Leptospira were found in the serum of 104 (34.1%) patients, of them, 73 (23.9%) had evidence of a recent single infection and 19 (6.2%) had evidence of a recent infection by more than one arbovirus, and 12 (3.9%) by an arbovirus and Leptospira. Previous CHIKV and ZIKV infections, were found for 141 (46.2%) patients. Socio-environmental conditions continue to deteriorate in different areas in the two provinces as a direct consequence of climate catastrophes and terrorism, creating an even more challenging scenario for the health sector. Therefore, it is crucial to empower the National Health System and enable it not only to provide a rapid response to emergencies, but also to participate in multi-sector actions for prevention, mitigation, preparation, response and recovery from the effects of disasters in places where populations are constantly exposed to cyclones, floods and droughts.Submitted by Maria Creuza Silva (mariakreuza@yahoo.com.br) on 2023-09-22T14:28:34Z No. of bitstreams: 2 license_rdf: 1037 bytes, checksum: 996f8b5afe3136b76594f43bfda24c5e (MD5) Tese_Vanio_Andre_Mugabe_2021.pdf: 3966040 bytes, checksum: 9569bc82fe39c2b13382684a383c3155 (MD5)Approved for entry into archive by Maria Creuza Silva (mariakreuza@yahoo.com.br) on 2023-09-22T14:46:11Z (GMT) No. of bitstreams: 2 license_rdf: 1037 bytes, checksum: 996f8b5afe3136b76594f43bfda24c5e (MD5) Tese_Vanio_Andre_Mugabe_2021.pdf: 3966040 bytes, checksum: 9569bc82fe39c2b13382684a383c3155 (MD5)Made available in DSpace on 2023-09-22T14:46:11Z (GMT). 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Instituto de Saúde ColetivaPrograma de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSC-ISC)ISC-UFBABrasilInstituto de Saúde Coletiva - ISCAttribution-NonCommercial-ShareAlike 3.0 Brazilhttp://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/3.0/br/info:eu-repo/semantics/openAccessNatural DisastersCyclones Idai and KennethHealth EmergenceMozambiqueCNPQ::CIENCIAS DA SAUDE::SAUDE COLETIVADesastres NaturaisCiclones Idai e KennethEmergência de SaúdeMoçambiqueDesastres Naturais e Emergências em Saúde em Moçambique: uma análise com enfoque no impacto dos Ciclones Idai e Kenneth para a Saúde Pública.Natural Disasters and Health Emergencies in Mozambique: an analysis focusing on the impact of Cyclones Idai and Kenneth on Public Health.Doutoradoinfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisinfo:eu-repo/semantics/publishedVersionRibeiro, Guilherme de SousaGudo, Eduardo SamoAraújo, Wildo Navegantes deRibeiro, Guilherme de SousaGudo Junior, Eduardo SamoMota, Eduardo Luiz AndradeCosta, FedericoKitron, Urielhttp://lattes.cnpq.br/9928933225583167Mugabe, Vánio Andréreponame:Repositório Institucional da UFBAinstname:Universidade Federal da Bahia (UFBA)instacron:UFBATEXTTese_Vanio_Andre_Mugabe_2021.pdf.txtTese_Vanio_Andre_Mugabe_2021.pdf.txtExtracted texttext/plain279316https://repositorio.ufba.br/bitstream/ri/37855/4/Tese_Vanio_Andre_Mugabe_2021.pdf.txtc1978efef0f1e990a2eb25ea7603225cMD54ORIGINALTese_Vanio_Andre_Mugabe_2021.pdfTese_Vanio_Andre_Mugabe_2021.pdfapplication/pdf3966040https://repositorio.ufba.br/bitstream/ri/37855/1/Tese_Vanio_Andre_Mugabe_2021.pdf9569bc82fe39c2b13382684a383c3155MD51CC-LICENSElicense_rdflicense_rdfapplication/rdf+xml; charset=utf-81037https://repositorio.ufba.br/bitstream/ri/37855/2/license_rdf996f8b5afe3136b76594f43bfda24c5eMD52LICENSElicense.txtlicense.txttext/plain1715https://repositorio.ufba.br/bitstream/ri/37855/3/license.txt67bf4f75790b0d8d38d8f112a48ad90bMD53ri/378552023-09-23 02:04:31.009oai:repositorio.ufba.br:ri/37855TElDRU7Dh0EgREUgRElTVFJJQlVJw4fDg08gTsODTy1FWENMVVNJVkEKCkNvbSBhIGFwcmVzZW50YcOnw6NvIGRlc3RhIGxpY2Vuw6dhLCBvIGF1dG9yIG91IHRpdHVsYXIgZG9zIGRpcmVpdG9zIGRlIGF1dG9yIGNvbmNlZGUgYW8gUmVwb3NpdMOzcmlvIEluc3RpdHVjaW9uYWwgbyBkaXJlaXRvIG7Do28tZXhjbHVzaXZvIGRlIHJlcHJvZHV6aXIsICB0cmFkdXppciAoY29uZm9ybWUgZGVmaW5pZG8gYWJhaXhvKSBlL291IGRpc3RyaWJ1aXIgYSBzdWEgcHVibGljYcOnw6NvIChpbmNsdWluZG8gbyByZXN1bW8pIG5vIGZvcm1hdG8gaW1wcmVzc28gZS9vdSBlbGV0csO0bmljbyBlIGVtIHF1YWxxdWVyIG1laW8sIGluY2x1aW5kbyBvcyAKZm9ybWF0b3Mgw6F1ZGlvIGUvb3UgdsOtZGVvLgoKTyBhdXRvciBvdSB0aXR1bGFyIGRvcyBkaXJlaXRvcyBkZSBhdXRvciBjb25jb3JkYSBxdWUgbyBSZXBvc2l0w7NyaW8gcG9kZSwgc2VtIGFsdGVyYXIgbyBjb250ZcO6ZG8sIHRyYW5zcG9yIGEgc3VhIHB1YmxpY2HDp8OjbyBwYXJhIHF1YWxxdWVyIG1laW8gZS9vdSBmb3JtYXRvIHBhcmEgZmlucyBkZSBwcmVzZXJ2YcOnw6NvLCBwb2RlbmRvIG1hbnRlciBtYWlzIGRlIHVtYSBjw7NwaWEgIHBhcmEgZmlucyBkZSBzZWd1cmFuw6dhLCBiYWNrdXAgZSBwcmVzZXJ2YcOnw6NvLgoKTyBhdXRvciBvdSB0aXR1bGFyIGRvcyBkaXJlaXRvcyBkZSBhdXRvciBkZWNsYXJhIHF1ZSBhIHN1YSBwdWJsaWNhw6fDo28gw6kgb3JpZ2luYWwgZSBxdWUgbsOjbywgcXVlIHNlamEgZGUgc2V1IGNvbmhlY2ltZW50bywgaW5mcmluZ2UgZGlyZWl0b3MgYXV0b3JhaXMgZGUgbmluZ3XDqW0uCgpDYXNvIGEgc3VhIHB1YmxpY2HDp8OjbyBjb250ZW5oYSBtYXRlcmlhbCBxdWUgbsOjbyBwb3NzdWkgYSB0aXR1bGFyaWRhZGUgZG9zIGRpcmVpdG9zIGF1dG9yYWlzLCB2b2PDqiBkZWNsYXJhIHF1ZSBvYnRldmUgYSBwZXJtaXNzw6NvIGlycmVzdHJpdGEgZG8gZGV0ZW50b3IgZG9zIGRpcmVpdG9zIGF1dG9yYWlzIHBhcmEgY29uY2VkZXIgYW8gUmVwb3NpdMOzcmlvIG9zIGRpcmVpdG9zIGFwcmVzZW50YWRvcyBuZXN0YSBsaWNlbsOnYSBlIHF1ZSBlc3NlIG1hdGVyaWFsIGRlIHByb3ByaWVkYWRlIGRlIHRlcmNlaXJvcyBlc3TDoSBjbGFyYW1lbnRlIGlkZW50aWZpY2FkbyBlIHJlY29uaGVjaWRvIG5vIHRleHRvIG91IG5vIGNvbnRlw7pkbyBkYSBwdWJsaWNhw6fDo28gb3JhIGRlcG9zaXRhZGEuCgpDQVNPIEEgUFVCTElDQcOHw4NPIE9SQSBERVBPU0lUQURBICBSRVNVTFRFIERFIFVNIFBBVFJPQ8ONTklPIE9VIEFQT0lPIERFIFVNQSAgQUfDik5DSUEgREUgRk9NRU5UTyBPVSBPVVRSTyAKT1JHQU5JU01PLCBWT0PDiiBERUNMQVJBIFFVRSBSRVNQRUlUT1UgVE9ET1MgRSBRVUFJU1FVRVIgRElSRUlUT1MgREUgUkVWSVPDg08sIENPTU8gVEFNQsOJTSBBUyBERU1BSVMgT0JSSUdBw4fDlUVTIApFWElHSURBUyBQT1IgQ09OVFJBVE8gT1UgQUNPUkRPLgoKTyBSZXBvc2l0w7NyaW8gc2UgY29tcHJvbWV0ZSBhIGlkZW50aWZpY2FyLCBjbGFyYW1lbnRlLCBvIHNldSBub21lIChzKSBvdSBvKHMpIG5vbWUocykgZG8ocykgZGV0ZW50b3IoZXMpIGRvcyBkaXJlaXRvcyBhdXRvcmFpcyBkYSBwdWJsaWNhw6fDo28gZSBuw6NvIGZhcsOhIHF1YWxxdWVyIGFsdGVyYcOnw6NvLCBhbMOpbSBkYXF1ZWxhcyBjb25jZWRpZGFzIHBvciBlc3RhIGxpY2Vuw6dhLgo=Repositório InstitucionalPUBhttp://192.188.11.11:8080/oai/requestopendoar:19322023-09-23T05:04:31Repositório Institucional da UFBA - Universidade Federal da Bahia (UFBA)false
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Desastres Naturais
Ciclones Idai e Kenneth
Emergência de Saúde
Moçambique
Natural Disasters
Cyclones Idai and Kenneth
Health Emergence
Mozambique
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description Moçambique é um país exposto a múltiplos perigos hidrometeorológicos (seca, ciclones e enchentes) que, de forma recorrente, têm afetado muitas famílias em diferentes províncias, nos últimos anos. Entre 2015 e 2016, o país enfrentou a pior seca em 35 anos e entre março e abril de 2019, foi atingido pelos ciclones Idai e Kenneth, que foram acompanhados de chuvas torrenciais e desencadearam enchentes. Soma-se a esses eventos, o maior registro de pessoas deslocadas das suas regiões de origem (em décadas), devido a violentos ataques terroristas que assolam a província de Cabo Delgado, desde finais de 2017. Adicionalmente, a pandemia de Covid-19 em curso, exacerbou a vulnerabilidade da população. A sucessão/sobreposição desses eventos provocou uma crise humanitária que pode exaurir a capacidade de resiliência das comunidades mais vulneráveis e gerar problemas de saúde de curto a longo prazo. A tese avaliou o impacto desses desastres no contexto da Saúde Pública, com particular enfoque no impacto dos ciclones Idai e Kenneth nas províncias de Sofala (distritos da Beira, Búzi, Dondo e Nhamatanda) e de Cabo Delgado (distrito de Macomia e cidade de Pemba), em torno de três aspetos: impacto imediato sobre o bem-estar das famílias afetadas; segurança alimentar e problemas de saúde associados (pelagra) e; vigilância de doenças febris agudas (malária, dengue, chikungunya, zika, leptospirose e doenças diarreicas, incluindo cólera), sensíveis às mudanças ecológicas induzidas por ciclones e enchentes. O estudo apresenta uma abordagem mista: i - pesquisa descritiva com abordagem quali-quantitativa, baseada na revisão de documentos oficiais e relatórios científicos produzidos por agências envolvidas na resposta aos ciclones Idai e Kenneth e análise descritiva de dados epidemiológicos de casos de diarreias, malária e desnutrição, coletados pelo Ministério da Saúde em 2019, incluindo a comparação das frequências mensais dos casos de malaria e doenças diarreicas registradas em 2018 e 2019; ii – um estudo de caso-controle, para investigar o surto de pelagra em Nhamatanda-Sofala e, iii – um estudo de corte transversal, baseado num sistema de vigilância de doenças febris agudas para o diagnóstico de infeções por arbovírus (Dengue, Zika e Chikungunya) e/ou zoonose (Leptospirose), nos distritos afetados. Em conjunto, os ciclones Idai e Kenneth deixaram 2,2 milhões de pessoas necessitando de proteção e assistência humanitária, para além daqueles em situação de insegurança alimentar (cerca de 2,1 milhões de pessoas) devido ao período de seca que os precedeu. Os danos e perdas totais causados pelos dois ciclones foram estimados em 2,8 bilhões de dólares. A frequência de casos de diarreia nos distritos da Beira, Búzi, Dondo e Nhamatanda aumentou 1,2-3,8 vezes entre março e junho de 2019, em comparação com o mesmo período de 2018. Pelo menos 6.773 casos de cólera (taxa de ataque: 571,4 casos por 100.000 habitantes) e 8 mortes relacionadas com a doença (taxa de letalidade: 0,12%) foram oficialmente registrados nos quatro distritos afetados pelo Ciclone Idai. Em Cabo Delgado, houve registro de 346 casos de cólera (taxa de ataque: 105,5 casos por 100.000 habitantes), sem óbitos relacionados. O distrito de Búzi foi o único que apresentou um aumento de casos de malária, entre março e junho de 2019 comparado com igual período de 2018. Em Sofala, 160.992 crianças <5 anos de idade foram examinadas para desnutrição, das quais 2.345 (1,5%) foram classificadas como casos de desnutrição aguda moderada e 952 (0,6%) como casos de desnutrição aguda grave. Em Cabo Delgado, foram examinadas 61.834 crianças, das quais 1.405 (2,3%) apresentavam desnutrição aguda moderada e 302 (0,5%) apresentavam desnutrição aguda grave. A pelagra afetou cerca de 2.300 pessoas (707,9/100.000 habitantes) em Nhamatanda; os casos eram mais prováveis de serem do sexo feminino (P <0,01) e menos escolarizados (P <0,01) do que os controles. O consumo insuficiente de frango e amendoim antes da chegada do ciclone Idai foi estatisticamente associado à pelagra (P <0,05). Das famílias entrevistadas durante o estudo, 51% estavam enfrentando escassez de alimentos antes mesmo da chegada do ciclone Idai. A vigilância para arboviroses e leptospirose investigou 305 pacientes com 15 anos de idade ou mais, dos quais 58,4% eram mulheres e a mediana de idade foi de 30 anos (IQR: 23 - 41 anos). Três (1,0%) pacientes foram positivos no DENV NS1 ELISA, dos quais um também apresentou IgM positivo contra DENV e CHIVK. Anticorpos IgM específicos contra DENV, ZIKV, CHIKV ou Leptospira foram encontrados no soro de 104 (34,1%) pacientes, dos quais 73 (23,9%) tinham evidência de infecção recente por um arbovírus, 19 (6,2%) tinham evidência de infecção recente por mais de um arbovírus e 12 (3,9%) tinham evidência de infecção recente por arbovírus e leptospira. Infeções anteriores por CHIKV e ZIKV foram encontradas em 141 (46,2%) pacientes. As condições socio-ambientais continuam a deteriorar-se em diferentes áreas nas duas províncias, como consequência direta das catástrofes climáticas e do terrorismo, criando um cenário ainda mais desafiador para o setor da saúde. Portanto, é crucial empoderar o Sistema Nacional de Saúde e torná-lo capaz não só para oferecer resposta rápida às emergências, mas também para participar em ações multissetoriais de prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação aos efeitos dos desastres em locais onde populações estão continuamente expostas a ciclones, enchentes e secas.
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