No Centro ninguém passa fome: comida de rua em um mundo porvir

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Rodrigues, Diana Cris Macedo
Data de Publicação: 2023
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFBA
Texto Completo: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/38198
Resumo: Os processos de revitalização das cidades, ancorados na potencialização dos fluxos da economia planetária, transformam seus espaços, suas relações sociais e sua distribuição de poder, deslegitimando os usos contra-hegemônicos dos espaços públicos. Assim, a venda de alimentos na rua por vendedores ambulantes sofre crescente marginalização e criminalização ante os modelos legitimados de cidade e alimentação, amparados que estão também pela hegemonia da Food Safety. Considerando este contexto, a pesquisa intentou aproximar-se do que pode a comida de rua quando destituída dos signos doados pelos estatutos científicos e estatais que a reduzem majoritariamente a uma comida sofrível, antiquada, suja, inferiorizada, desordeira, ilegalizada e de pobre para pobre. O estudo foi subsidiado pela estratégia metodológica da cartografia e teve como campo empírico as ruas do bairro Centro na cidade de Fortaleza-Ceará-Brasil. A pesquisa de campo foi realizada durante oito meses (abril-2018 a outubro-2018 e junho-2019 a agosto-2019). Nela, acompanhou-se o cotidiano de vendedores ambulantes e comedores da comida de rua informal e ilegal nos termos do Estado. O material empírico produzido derivou de conversas informais, gravações de áudios e anotações em diário de campo, entre outros artefatos. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal da Bahia. Enquanto o Projeto Fortaleza2040 avança com a espetacularização da cidade na lógica do consumo e os outros formatos de comercialização de comida de rua (street food, take away) se dispersam no tecido urbano, a comida de rua vendida informalmente resiste como a principal manifestação nas ruas do Centro. Aí, as ambulâncias da comida, as práticas e vivências alimentares fabricam configurações políticas que potencializam a acessibilidade alimentar, agregam diversidade na contingência, povoam as ruas de possibilidades alimentares, traçam histórias e conjugam no mosaico de interações, cheiros, imagens, gostos e barulho que perfazem a alquimia cotidiana do Centro, refúgio de uma Fortaleza que se faz a pé. A comida ambulante e seus compositores, apesar de suas condições de sem-terra ante os regimes de propriedade e urbanidade, experimentam e constroem artesanalmente o Centro como um mundo porvir onde “ninguém passa fome”. O Centro “onde ninguém passa fome” surge como um rasgo nos modos de subjetivação dominantes, sustido pelas inteligências grupais que o compõem, abre fendas nas capturas uníssonas do capital nas quais comida e cidade são mercadorias a potencializarem os lucros. Os vendedores ambulantes, com seus preços módicos, estabelecem bases outras de negociação, cooperação e distribuição nas ruas, provocando também adaptações e transformações na política alimentar do comércio formalizado do Centro. Ainda, disponibilizam aos comedores uma variedade de alimentos básicos ou menos processados, promovendo práticas alimentares tradicionais e regionais, constituindo uma importante estratégia popular de promoção da segurança alimentar e nutricional, a despeito da hegemonia da Food Safety no manejo estatal do fenômeno. Nesse cenário, a fome pode ser referida como uma produção desejante, memória e necessidade latente que produz realidades, coloca a comida na rua e produz territórios urbanos com maior acessibilidade alimentar na cidade. Palavras-chave: comida de rua, segurança alimentar e nutricional, fome, cartografia.
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O Centro “onde ninguém passa fome” surge como um rasgo nos modos de subjetivação dominantes, sustido pelas inteligências grupais que o compõem, abre fendas nas capturas uníssonas do capital nas quais comida e cidade são mercadorias a potencializarem os lucros. Os vendedores ambulantes, com seus preços módicos, estabelecem bases outras de negociação, cooperação e distribuição nas ruas, provocando também adaptações e transformações na política alimentar do comércio formalizado do Centro. Ainda, disponibilizam aos comedores uma variedade de alimentos básicos ou menos processados, promovendo práticas alimentares tradicionais e regionais, constituindo uma importante estratégia popular de promoção da segurança alimentar e nutricional, a despeito da hegemonia da Food Safety no manejo estatal do fenômeno. Nesse cenário, a fome pode ser referida como uma produção desejante, memória e necessidade latente que produz realidades, coloca a comida na rua e produz territórios urbanos com maior acessibilidade alimentar na cidade. Palavras-chave: comida de rua, segurança alimentar e nutricional, fome, cartografia.The processes of revitalization of cities, anchored in the potentialization of flows of the world economy, transform their spaces, their social relations and their distribution of power, delegitimizing the counter-hegemonic use of public spaces. Thus, the sale of food on the street by street vendors is increasingly marginalized and criminalized in the light of the legitimized models of the city and eating that are supported by the hegemony of Food Safety. Considering this context, this research aimed to get closer to what street food can do when stripped of the labels given by scientific and state statutes that reduce it mostly to poor, antiquated, dirty, inferiorized, disorderly, illegal and of the poor for the poor. The study was supported by the methodological strategy of cartography and had as an empirical field the streets of the Centro neighborhood in the city of Fortaleza-Ceará-Brazil. Field research was carried out for eight months (April-2018 to October-2018 and June-2019 to August-2019). In it, the daily life of informal street vendors and street food eaters that are illegal in the eyes of the State. The empirical material produced derived from informal conversations, audio recordings and field diary notes, among other artifacts. The research was approved by the Research Ethics Committee of the Federal University of Bahia. While the Fortaleza2040 Project advances with the spectacularization of the city in the logic of consumption and other street food commercialization formats (street food, take away) disperse in the urban fabric, street food sold informally resists as the main manifestation in the streets of the Centre. There, mobile food vendors, eating practices and experiences manufacture political configurations that enhance food accessibility, add diversity to the contingency, populate the streets with food possibilities, trace stories and combine in the mosaic of interactions, smells, images, tastes and noise that make up the everyday alchemy of the Centre, refuge of a pedestrian Fortaleza. The street food vendors, despite their landless conditions in the face of regimes of property and urbanity, experiment and construct artfully the Centro as a world to come where “nobody goes hungry”. This Centro “where no one goes hungry” appears as a tear in the dominant modes of subjectivation, sustained by the group actors that compose it, opening cracks in the unison captures of capital in which food and the city are commodities that enhance profits. Street vendors, with their affordable prices, establish other bases for negotiation, cooperation and distribution on the streets, also provoking adaptations and transformations in the food policy of formalized trade in the Centre. Furthermore, they provide consumers with a variety of basic or less processed foods, promoting traditional and regional food practices, constituting an important popular strategy for promoting food and nutritional security, despite the hegemony of Food Safety in the state management of the phenomenon. In this scenario, hunger can be referred to as a desiring production, memory and latent need that produces realities, placing food on the streets and produces urban territories with greater food accessibility in the city. Keywords: street food, food and nutritional security, hunger, cartography.Submitted by Diana Rodrigues (diamaiscedo@hotmail.com) on 2023-10-23T10:00:56Z No. of bitstreams: 1 DianaCrisMacedoRodrigues_Tese_2023.pdf: 2345910 bytes, checksum: 091def3125aad19a59aae06d85a435d1 (MD5)Approved for entry into archive by Marly Santos (marly@ufba.br) on 2023-10-24T09:55:44Z (GMT) No. of bitstreams: 1 DianaCrisMacedoRodrigues_Tese_2023.pdf: 2345910 bytes, checksum: 091def3125aad19a59aae06d85a435d1 (MD5)Made available in DSpace on 2023-10-24T09:55:44Z (GMT). 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