Gradientes ambientais e a comunidade de abelhas euglossina (Hymenoptera, Apidae) em fragmentos de mata Atlântica intercalados por uma matriz de eucaliptais, no extremo sul da Bahia

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Melo, Amada Mariana Costa de
Data de Publicação: 2013
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFBA
Texto Completo: http://www.repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/12260
Resumo: Embora abriguem mais da metade do número total de espécies do planeta (Wilson, 1988; Whitmore, 1997), as florestas tropicais constituem os ambientes mais ameaçados. Hoje, com sua área original reduzida a menos de 7% (INPE, 2002), a Mata Atlântica representa o bioma brasileiro mais devastado, principalmente em decorrência da ocupação humana nessas áreas, vinculada à agricultura, à pecuária e à exploração de madeira. Os efeitos dessa perda de hábitat e conseqüente fragmentação são extremamente complexos e variáveis, indo desde modificações físicas locais (p. ex. isolamento, mudanças microclimáticas, efeito de borda) (Lovejoy et al. 1986; Saunders et al., 1991) a efeitos biológicos (como extinções, probabilidade de dispersão), incluindo também implicações indiretas (conhecidos como efeito cascata, onde um grupo biológico afeta o outro) e a interação de vários efeitos (efeito sinergético) (Wilson, 1988; Laurance & Bierregaard, 1997; Bierregaard, et al. 2001). A perda de processos ecológicos, como a polinização, é igualmente, se não mais destrutiva que as modificações físicas, para um ecossistema natural (Liow, 2001). Diversos grupos de insetos são conhecidos por realizar a polinização das plantas, mas as abelhas são os polinizadores mais importantes em número e diversidade de plantas polinizadas (Bawa et al., 1985), sendo considerados os vetores de pólen dominantes nas florestas tropicais (Bawa, 1990; Roubik, 1993). 11 Por remover as fontes tróficas e os locais para nidificação, a degradação dos hábitats pode reduzir a riqueza de espécies e a abundância das guildas de polinizadores, afetando o seu comportamento de forrageio e rompendo interações planta-polinizador, podendo causar danos ao fitness da flora local (Aizen & Feinsinger, 1994; Didham et al., 1996; Kwak, et al., 1998), e alterar a estabilidade dos ecossistemas (Rathcke & Jules, 1993; Matthies et al., 1995; Kearns et al., 1998). A modificação da ecologia regional dos ecossistemas, provocada, principalmente, pela atividade antrópica, tem influenciado diretamente os padrões de distribuição da fauna local de polinizadores e exercido uma forte pressão seletiva sobre estas comunidades, e o isolamento e a perda da complexidade dos hábitats podem estar provocando o declínio dessas populações (Stefan-Dewenter & Tscharnke, 1999). Devido à grande riqueza de espécies de Euglossina nas florestas tropicais (Roubik & Ackerman, 1987; Oliveira & Campos, 1995; Rebêlo & Silva, 1999), onde atuam como polinizadores, essas abelhas têm sido utilizadas por diversos autores (p. ex. Powel & Powel, 1987; Morato, 1994; Becker et al., 1991; Peruquetti et al., 1999; Bezerra & Martins, 2001) como modelos biológicos para avaliar os efeitos da fragmentação florestal e das modificações da estrutura local do hábitat. Mais recentemente, os estudos sobre fragmentação começaram a mostrar que a análise da paisagem como um todo - incluindo suas características gerais como quantidade de hábitat florestado, distribuição, forma e conectividade entre as porções fragmentadas, áreas perturbadas e seminaturais - aliada a pesquisas sobre distribuição e uso de hábitat pela 12 biota deveriam servir de unidade de manejo para permitir a conservação de algumas espécies (Harrison, 1992; Gascon et al. 1999; Steffan-Dewenter & Tscharntke, 2002), evidenciando a importância de estudos dessa natureza. Assim, com o objetivo de identificar o padrão da diversidade das abelhas da subtribo Euglossina no bioma Mata Atlântica e avaliar os efeitos provocados pela destruição dos hábitats sobre a organização das comunidades dessas abelhas e a qualidade da monocultura de eucalipto para essa fauna, esta dissertação apresenta-se em dois capítulos: no primeiro, analisou-se, comparativamente, os estudos já realizados no Brasil em áreas não-amazônicas, buscando identificar tendências e propor hipóteses para explicá-las; no segundo capítulo, investigou-se a composição da comunidade de abelhas Euglossina nos três principais componentes florestados da paisagem do extremo Sul da Bahia: remanescentes de grande porte de mata em estágio avançado de regeneração (considerados sistemas de referência); remanescentes de pequeno porte em estágio intermediário de regeneração (os mais comuns na paisagem) e eucaliptais em estágio final de crescimento (6 a 7 anos de idade); avaliou-se a existência de associação entre a composição da fauna dessas abelhas e as variáveis ambientais, relacionadas a esta fauna, que expressam características de micro-hábitat, micro-clima e ecologia da paisagem e investigou-se a qualidade dos eucaliptais como matriz conectora, do ponto de vista da fauna de Euglossina. O presente trabalho integra o projeto intitulado “Ecologia da Paisagem no Extremo Sul da Bahia”, coordenado pelo prof. Pedro Rocha, 13 cujos objetivos principais foram investigar, comparativamente, diferentes grupos biológicos em relação à fragmentação e à possível viabilização dos eucaliptais como matriz permeável aos grupos faunísticos investigados, e a partir de dados empíricos, fornecer subsídios para o estabelecimento de diretrizes de conservação para a região.
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A perda de processos ecológicos, como a polinização, é igualmente, se não mais destrutiva que as modificações físicas, para um ecossistema natural (Liow, 2001). Diversos grupos de insetos são conhecidos por realizar a polinização das plantas, mas as abelhas são os polinizadores mais importantes em número e diversidade de plantas polinizadas (Bawa et al., 1985), sendo considerados os vetores de pólen dominantes nas florestas tropicais (Bawa, 1990; Roubik, 1993). 11 Por remover as fontes tróficas e os locais para nidificação, a degradação dos hábitats pode reduzir a riqueza de espécies e a abundância das guildas de polinizadores, afetando o seu comportamento de forrageio e rompendo interações planta-polinizador, podendo causar danos ao fitness da flora local (Aizen & Feinsinger, 1994; Didham et al., 1996; Kwak, et al., 1998), e alterar a estabilidade dos ecossistemas (Rathcke & Jules, 1993; Matthies et al., 1995; Kearns et al., 1998). 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