As construções dativas no português de duas comunidades bilíngues de São Tomé (África)

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Santana, Natali Gomes de Almeida
Data de Publicação: 2019
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFBA
Texto Completo: http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/31558
Resumo: O objeto de estudo desta dissertação são as construções dativas dos verbos bitransitivos no português reestruturado de duas comunidades bilíngues de São Tomé (África): Monte Café e Almoxarife. A diversidade linguística em ambas as comunidades se verifica pela presença de três variáveis distintas para expressar o dativo. A primeira variável é a alternância dativa, cujas variantes são a realização do OI como Construção Dativa Preposicionada (CDP), no exemplo “dexô casa pa filho”, ou como Construção de Objeto Duplo (COD), no exemplo “ê levava comida filho”. A segunda variável é a realização do OI pronominal, cujas variantes são a Construção com Clítico Dativo (CCD) [padrão], exemplo “Eu vi que nõ ia me dar essa vantagem”, em contraste com as variantes não-padrão, expressas nos exemplos “Tem que dá seôr purada” e “Dá ajuda pa nós”, que correspondem, respectivamente, à COD e à CDP [não-padrão]. A terceira variável corresponde à colocação do OI clítico, cujas variantes são a posição enclítica, no exemplo “Então deram-lhe um lugar” e a posição proclítica, no exemplo “me levô aqui dois cabra”. Este trabalho descreve os condicionamentos linguísticos e extralinguísticos para esse quadro de variação nestas comunidades santomenses que, embora geograficamente distantes, possuem uma sócio-história muito próxima e compartilham com o Brasil uma história de colonização portuguesa, marcada por povoamento, migrações forçadas, distribuições latifundiárias, relações de dominadores-dominados e situações de bilinguismo. A pesquisa se desenvolveu com o aporte teóricometodológico da Sociolinguística Variacionista (LABOV, 2008; GUY; ZILLES, 2007). Os dados foram extraídos de dois corpora (BAXTER, 2004 e 1998-2000), que registram a fala de 24 informantes de Monte Café e de 18 de Almoxarife, distribuídos por gênero em três faixas etárias, I (de 20 a 40 anos), II (de 41 a 60 anos), III (mais de 60 anos), e foram processados pelo programa GOLDVARB-X (SANKOFF; TAGLIAMONTE; SMITH, 2005). Os resultados revelaram a preferência pelas variantes não-padrão; pela preposição para, nos casos de CDP; e pela ordem OI-OD, nos casos de COD, mesmo quando se trata de verbos leves. Verificou-se também que, na escolha da construção dativa, a semântica do verbo é mais relevante do que o tipo de predicação. Em Monte Café, observou-se um favorecimento ao uso do OI clítico apenas na faixa I. Já em Almoxarife, essa mesma variável, associada à variável escolaridade, sugere um perfil de aquisição do clítico dativo, mediante, principalmente, a escolarização. Os resultados contribuem com a proposta de Petter (2009, 2015) sobre a existência de um continuum afro-brasileiro, ao indicar uma relação, no que diz respeito às construções dativas, entre o português dos tongas, o de Almoxarife, o português afro-brasileiro (LUCCHESI; MELLO, 2009) e o português urbano de S. Tomé (GONÇALVES, R., 2016).
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A segunda variável é a realização do OI pronominal, cujas variantes são a Construção com Clítico Dativo (CCD) [padrão], exemplo “Eu vi que nõ ia me dar essa vantagem”, em contraste com as variantes não-padrão, expressas nos exemplos “Tem que dá seôr purada” e “Dá ajuda pa nós”, que correspondem, respectivamente, à COD e à CDP [não-padrão]. A terceira variável corresponde à colocação do OI clítico, cujas variantes são a posição enclítica, no exemplo “Então deram-lhe um lugar” e a posição proclítica, no exemplo “me levô aqui dois cabra”. Este trabalho descreve os condicionamentos linguísticos e extralinguísticos para esse quadro de variação nestas comunidades santomenses que, embora geograficamente distantes, possuem uma sócio-história muito próxima e compartilham com o Brasil uma história de colonização portuguesa, marcada por povoamento, migrações forçadas, distribuições latifundiárias, relações de dominadores-dominados e situações de bilinguismo. A pesquisa se desenvolveu com o aporte teóricometodológico da Sociolinguística Variacionista (LABOV, 2008; GUY; ZILLES, 2007). Os dados foram extraídos de dois corpora (BAXTER, 2004 e 1998-2000), que registram a fala de 24 informantes de Monte Café e de 18 de Almoxarife, distribuídos por gênero em três faixas etárias, I (de 20 a 40 anos), II (de 41 a 60 anos), III (mais de 60 anos), e foram processados pelo programa GOLDVARB-X (SANKOFF; TAGLIAMONTE; SMITH, 2005). Os resultados revelaram a preferência pelas variantes não-padrão; pela preposição para, nos casos de CDP; e pela ordem OI-OD, nos casos de COD, mesmo quando se trata de verbos leves. Verificou-se também que, na escolha da construção dativa, a semântica do verbo é mais relevante do que o tipo de predicação. Em Monte Café, observou-se um favorecimento ao uso do OI clítico apenas na faixa I. Já em Almoxarife, essa mesma variável, associada à variável escolaridade, sugere um perfil de aquisição do clítico dativo, mediante, principalmente, a escolarização. Os resultados contribuem com a proposta de Petter (2009, 2015) sobre a existência de um continuum afro-brasileiro, ao indicar uma relação, no que diz respeito às construções dativas, entre o português dos tongas, o de Almoxarife, o português afro-brasileiro (LUCCHESI; MELLO, 2009) e o português urbano de S. Tomé (GONÇALVES, R., 2016).This dissertation is concerned with the dative constructions of bitransitive verbs in the restructured Portuguese of two bilingual communities of Sao Tome and Principe (Africa): Monte Cafe and Almoxarife. Linguistic diversity in both communities is evidenced in the presence of three different variants forms to express the dative. The first variable is dative alternation whose variants are the realization of IO as a Prepositional Dative Constructions (PDC), in the example “dexô casa pa filho”, or as the Double Object Construction (DOC), as in “ê levava comida filho”. The second variable is the implementation of pronominal IO, in which the variations are the Dative Clitic Construction (DCC) [standard]. For example, “Eu vi que nõ ia me dar essa vantagem”, in contrast to non-standard variations, as expressed in the examples “Tem que dá seôr purada” and “Dá ajuda pa nós”, which correspond, respectively, to the DOC and the PDC. Lastly, the third variable corresponds to putting the clitic IO, in which the variations are the enclitic position, as in the example “Então deram-lhe um lugar”, and proclitic position, in the example “me levô aqui dois cabra”. The study describes the linguistic and extra linguistic conditioning of this variation scenario in these two São Tomé communities which, although geographically distant, have a very similar social-history and share with Brazil a history of Portuguese colonization, marked by settlements, forced migrations, large land properties, dominant-dominated relations, and situations of bilingualism. The research was undertaken within the theoreticalmethodological framework of Variationist Sociolinguistics (LABOV, 2008; GUY e ZILLES, 2007). Data were extracted from two corpora (BAXTER, 2004 e 1998-2000), comprising 24 informants from Monte Cafe and 18 from Almoxarife, distributed by gender in three age groups, I (20 to 40 years), II (41 to 60 years), III (>60 years), and were processed by GOLDVARB-X program (SANKOFF; TAGLIAMONTE; SMITH, 2005). Results revealed preference for non-standard variants; for the preposition “para” in the CDP structure; and for the sequence IO-DO, in the DOC structure, even in the case of light verbs. It was also noted that, in the choice of the dative construction, the semantics of the verb are more relevant than the type of predication. In Monte Café, a preference for clitic IO was found only in age group I. In Almoxarife, this same variable, together with the level of education of the speaker, revealed a profile of clitic dative acquisition. The results contribute to Petter's (2009, 2015) proposal on the existence of an Afro-Brazilian continuum, by indicating a relation, as regards dative constructions, between the Tongas portuguese, the Almoxarife portuguese, the Afro-brazilian portuguese (LUCCHESI, MELLO, 2009) and the urban Portuguese of S. Tomé (GONÇALVES, R., 2016).Submitted by navarro ramos (navarroramos@ufba.br) on 2020-03-05T16:42:39Z No. of bitstreams: 1 DISSERTAÇÃO_versão FINAL_pós-defesa.pdf: 2857154 bytes, checksum: 45a23e87c2c0b24be624cc65ed02d682 (MD5)Approved for entry into archive by Setor de Periódicos (per_macedocosta@ufba.br) on 2020-03-06T14:54:19Z (GMT) No. of bitstreams: 1 DISSERTAÇÃO_versão FINAL_pós-defesa.pdf: 2857154 bytes, checksum: 45a23e87c2c0b24be624cc65ed02d682 (MD5)Made available in DSpace on 2020-03-06T14:54:19Z (GMT). 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