A Rede de Atenção Psicossocial no cuidado ao suicídio em um Distrito Sanitário de Saúde em Salvador-Bahia

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Menezes, Deniz Reis dos Santos
Data de Publicação: 2019
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFBA
Texto Completo: http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/32220
Resumo: Introdução: O suicídio é um fenômeno complexo, considerado um sério problema de saúde pública, pois estima-se que cerca de 800 mil pessoas se suicidam no mundo anualmente. Nas Américas, segundo dados da Organização Pan Americana de Saúde (OPAS, 2014), 65.000 pessoas se suicidam por ano e esta é a terceira causa de morte no grupo entre 20 e 24 anos, a quarta nos grupos com idades de 10 a 19 e 25 a 44 anos. A população com idade acima de 70 anos apresenta a mais alta taxa de suicídios. Ações propostas na Agenda de Ações Estratégicas para a Vigilância e Prevenção do Suicídio e Promoção da Saúde do Ministério da Saúde para o período de 2017 a 2020 apontam para a corresponsabilidade do cuidado e a articulação em Rede de Atenção Psicossocial RAPS). Objetivo: Analisar a atuação sobre o suicídio na Rede de Atenção Psicossocial do Distrito Sanitário de Brotas/Salvador (RAPS-Brotas), de acordo com os coordenadores e/ou representantes dos serviços de saúde que a compõe. Metodologia: Este estudo assumiu uma abordagem qualitativa (Minayo, 2002). A população foi composta dos gestores e profissionais representantes dos dispositivos que compõem a Rede de Atenção Psicossocial de um Distrito Sanitário de Salvador. Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram as entrevistas semiestruturadas aplicadas aos gestores e a técnica de grupo focal aplicada aos integrantes do Grupo de Trabalho da RAPS. Procedeu-se a Análise Temática de Conteúdo com auxílio do software NVIVO 12. Resultados: Foram encontradas duas concepções principais sobre o suicídio: Uma primeira, marcadamente biomédica que se desdobrou em dois sentidos: 1) delimitação do suicídio em uma perspectiva psicopatológica, citada por dois gestores com formação na área de ciências da saúde e apenas um profissional; 2) delimitação multicausal, que considerou múltiplas e complexas determinações, foi a subcategoria mais citada por gestores e profissionais dentro da concepção biomédica do suicídio. Uma segunda concepção, que aborda o suicídio como fenômeno social, também se desdobrou em dois sentidos:1) uma que considerou a importância das dinâmicas e relações sociais, mais defendida por gestores em comparação aos profissionais; 2) uma outra citada apenas por gestores, que considerou o papel das desigualdades sociais nesta análise. Quanto as contribuições mais relevantes da RAPS, ao comparar gestores e profissionais, a segunda categoria mencionou, prioritariamente, que a contribuição mais relevante deste sistema de saúde é ofertar atenção contínua e integral a partir dos diversos dispositivos. A segunda contribuição da RAPS: melhorar a qualidade da atenção na perspectiva multiprofissional foi referida apenas por gestores. Entre os participantes deste estudo, encontramos uma visão de rede hierarquizada e organizada por níveis de atenção, citada apenas pela categoria de gestores, uma visão de rede poliárquica com relações não hierárquicas e compartilhamento de objetivos comuns, citada pelas duas categorias e uma visão de organização de rede que reitera a importância do papel desempenhado pela atenção básica no acompanhamento às pessoas em sofrimento psíquico, citada também pelas duas categorias. Quanto às estratégias de articulação em rede, mencionadas apenas pela categoria de gestores, pudemos observar: 1) estratégia de articulação dos dispositivos de saúde; 2) articulação a partir do apoio institucional e distrital. Segundo gestores e profissionais, não há fluxos estabelecidos para o cuidado específico de pessoas em risco de suicídio, que se apoiam principalmente nos serviços especializados e de urgência e emergência. A organização de um fluxo específico foi defendida por dois profissionais e três gestores. As principais dificuldades da atuação em rede relacionadas ao estado de saúde da população, citadas pelas duas categorias, foram o aumento de casos de sofrimento psíquico, com destaque para as situações de automutilações e tentativas de suicídios. Os elementos dificultadores e facilitadores do trabalho na RAPS, relacionados ao sistema de saúde foram assim categorizados: 1) relacionados à infraestrutura, mais citados por ambas as categorias; 2) à gestão; 3) ao modelo de assistência; 4) a organização dos recursos; além das estratégias de fortalecimento desta rede também assim identificadas. Considerações Finais: Diante da complexidade conceitual do suicídio, faz-se necessário reafirmar que atuar sobre este fenômeno, seus fatores de risco e de proteção não é uma ação simples, mas muito complexa e que exige a interface de vários atores e o entrelaçamento de distintos saberes no desenvolvimento de um compartilhamento de cuidado interdisciplinar e ações intersetoriais em rede de atenção que possibilite a integralidade da atenção.
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