Memórias dos cárceres políticos no contexto da ditadura militar de 1964 e a resistência de Alencar, Paulo Emílio e José Duarte

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Vasconcelos, José Gerardo
Data de Publicação: 2018
Tipo de documento: Capítulo de livro
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da Universidade Federal do Ceará (UFC)
Texto Completo: http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/38342
Resumo: Depois de alguns dias de total incomunicabilidade, permitiram à minha família que me visitasse. Teria sido melhor que isso nunca tivesse acontecido, pois o que meus filhos foram obrigados a ouvir os marcou para o resto de suas vidas. Os policiais me apresentaram à minha família num estado deplorável. Exibindo suas armas, eles diziam para meus filhos e minha esposa que eu era um bandido e assassino, que eles iam me degolar e que minha mulher podia ir tratando de arranjar outro [...]. A consequência pior de tudo isso é que hoje tenho uma filha de 14 anos com a mentalidade de uma criança de 3 anos, atestado por psiquiatras, e que vive tendo pesadelos com as cenas que presenciou quando da minha prisão. Na época era uma criança normal como qualquer outra de sua idade. E minha mulher, que na época de minha prisão estava de licença para tratamento de saúde, quando retornou ao emprego na fábrica onde trabalhava como tecelã não foi mais aceita. (MUTIRÃO, n. 10, 1979, p. 9). Esse relato é de José Ferreira Lima1, ex-militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), ao lembrar do primeirocontato com sua família após a sua prisão no final dos anos 1960. O retorno mnemônico ao momento da prisão é marcado por grande sofrimento; o espaço institucional e as sessões de tortura partilhando do mesmo pranto e passando a fazer parte das suas narrações. Benjamin (1994b) articula sua concepção de memória em torno do que podemos chamar de “história dos vencidos”. Nesse ponto, algumas noções-chave são introduzidas, como, por exemplo, a de catástrofe e descontinuidade de uma história inspirada na desordem, segundo Konder (1989), na gravura de Paul Klee comprada por Benjamin na cidade de Berlim em 1921.
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