Tempo histórico, sistemas econômicos e relações sociais: do tempo “natural” ao tempo “acelerado”.

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: BEZERRA, Ana Paula Sobreira.
Data de Publicação: 2009
Outros Autores: BARBOSA, Glaudionor Gomes.
Tipo de documento: Artigo de conferência
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFCG
Texto Completo: http://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/jspui/handle/riufcg/34397
Resumo: O artigo escolhe como objeto a relação entre o tempo e história. Desse modo, o objetivo proposto é discutir o tempo não apenas como substância da história, mas principalmente como problema da Historia. É fato que o tempo cíclico dominava a experiência dos povos nômades, porque são as mesmas condições que se reencontram perante eles a cada momento da sua passagem. Antes do advento do capitalismo e durante todo o tempo que denominamos simplificadamente de feudalismo o produtor direto, o artesão trabalhava em média quatro horas por dia; a sociedade industrial inventou longas jornadas de trabalho, facilitada pela invenção da iluminação a gás. Esta valorização do trabalho foi internalizada por dois meios: produção de um imaginário moral sobre o tempo e punições aos desperdiçadores de tempo. Na verdade, há uma sempre uma penalidade iminente que é de exclusão de todos os que estão fora do padrão estabelecido pelo poder dominante. O mecenas antes e a indústria cultura salvam os artistas. A vitória da burguesia é a vitória do tempo profundamente histórico, e também do tempovalor, porque ele é o tempo da produção econômica em todos os sentidos O tempo irreversível da produção é, antes de tudo, a medida das mercadorias, logo o tempo do capital. Assim, pois, o tempo que se afirma oficialmente em toda a extensão do mundo como o tempo geral da sociedade é tempo-valor. As diversas e sucessivas transformações econômicas, políticas, sociais e culturais que ocorreram desde a crise e superação do feudalismo até a completa dominância da sociedade capitalista, criaram a necessidade de tempos diferentes para a adequada contextualização histórica, e para cada tipo de problema a ser estudado investigado. Assim, existem as temporalidades longa, estrutural, milenar que sustentam os processos de longa duração, as temporalidades média, conjuntural, secular ou semi-secular e as temporalidades curtas, ou seja, factual, anual ou quase que diária. A economia, por exemplo, deve ser investigada nos três padrões de temporalidades. A grande questão que envolveu a estruturação da sociedade industrial foi de como tratar o não-trabalho. As horas ociosas dos trabalhadores, foram preocupação constante não só dos capitalistas, mas de outros agentes ideológicos do capital como os padres. Afinal como administrar o tempo livre associado á não-produtividade. Para Thompson, no capitalismo todo o tempo deve ser consumido, utilizado, seria absurdo que os trabalhadores deixem o tempo passar deixando ociosa a força de trabalho. Os controles do ócio e do trabalho são uma só coisa. Por outro lado, o controle individual é também coletivo. Com a passagem, no final do século XIX, do capitalismo concorrencial para o monopolista, e, com o avanço da racionalização dos processos: taylorismo, fordismo, toyotismo, produção flexível e just-in-time. o tempo passa a ser elemento imprescindível na coordenação e integração de todas relações sociais, visto que o número de atividades a serem sincronizadas é sempre crescente e exige maior complexidade. O fenômeno mais recente é de aceleração do tempo. De repente o rock tornou-se uma música mundial, os estudantes ―assaltaram os céus em 1968‖ e a URSS ruiu. Com ―a volta do acontecimento‖ a história passa a sofrer de ―presentismo‖. A imprensa faz história, ao mesmo tempo em que vulgariza, dramatiza e deforma os fatos: Hotal Ruanda vem para a sala de jantar, mas não seria aquilo uma ficção? Deve ser verdade, mas está muito longe. Será que morreu toda diacronia, e a sociedade tornou-se sincrônica? Qual o verdadeiro significado da obsessão pelo controle do tempo? Onde levará uma sociedade praticante de uma voraz cronofagia?
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Antes do advento do capitalismo e durante todo o tempo que denominamos simplificadamente de feudalismo o produtor direto, o artesão trabalhava em média quatro horas por dia; a sociedade industrial inventou longas jornadas de trabalho, facilitada pela invenção da iluminação a gás. Esta valorização do trabalho foi internalizada por dois meios: produção de um imaginário moral sobre o tempo e punições aos desperdiçadores de tempo. Na verdade, há uma sempre uma penalidade iminente que é de exclusão de todos os que estão fora do padrão estabelecido pelo poder dominante. O mecenas antes e a indústria cultura salvam os artistas. A vitória da burguesia é a vitória do tempo profundamente histórico, e também do tempovalor, porque ele é o tempo da produção econômica em todos os sentidos O tempo irreversível da produção é, antes de tudo, a medida das mercadorias, logo o tempo do capital. Assim, pois, o tempo que se afirma oficialmente em toda a extensão do mundo como o tempo geral da sociedade é tempo-valor. As diversas e sucessivas transformações econômicas, políticas, sociais e culturais que ocorreram desde a crise e superação do feudalismo até a completa dominância da sociedade capitalista, criaram a necessidade de tempos diferentes para a adequada contextualização histórica, e para cada tipo de problema a ser estudado investigado. Assim, existem as temporalidades longa, estrutural, milenar que sustentam os processos de longa duração, as temporalidades média, conjuntural, secular ou semi-secular e as temporalidades curtas, ou seja, factual, anual ou quase que diária. A economia, por exemplo, deve ser investigada nos três padrões de temporalidades. A grande questão que envolveu a estruturação da sociedade industrial foi de como tratar o não-trabalho. As horas ociosas dos trabalhadores, foram preocupação constante não só dos capitalistas, mas de outros agentes ideológicos do capital como os padres. Afinal como administrar o tempo livre associado á não-produtividade. Para Thompson, no capitalismo todo o tempo deve ser consumido, utilizado, seria absurdo que os trabalhadores deixem o tempo passar deixando ociosa a força de trabalho. Os controles do ócio e do trabalho são uma só coisa. Por outro lado, o controle individual é também coletivo. Com a passagem, no final do século XIX, do capitalismo concorrencial para o monopolista, e, com o avanço da racionalização dos processos: taylorismo, fordismo, toyotismo, produção flexível e just-in-time. o tempo passa a ser elemento imprescindível na coordenação e integração de todas relações sociais, visto que o número de atividades a serem sincronizadas é sempre crescente e exige maior complexidade. O fenômeno mais recente é de aceleração do tempo. De repente o rock tornou-se uma música mundial, os estudantes ―assaltaram os céus em 1968‖ e a URSS ruiu. Com ―a volta do acontecimento‖ a história passa a sofrer de ―presentismo‖. A imprensa faz história, ao mesmo tempo em que vulgariza, dramatiza e deforma os fatos: Hotal Ruanda vem para a sala de jantar, mas não seria aquilo uma ficção? Deve ser verdade, mas está muito longe. Será que morreu toda diacronia, e a sociedade tornou-se sincrônica? Qual o verdadeiro significado da obsessão pelo controle do tempo? Onde levará uma sociedade praticante de uma voraz cronofagia?Universidade Federal de Campina GrandeBrasilUFCG20092024-02-08T18:03:35Z2024-02-082024-02-08T18:03:35Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/conferenceObjecthttp://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/jspui/handle/riufcg/34397BEZERRA, Ana Paula Sobreira; BARBOSA, Glaudionor Gomes. Tempo histórico, sistemas econômicos e relações sociais: do tempo “natural” ao tempo “acelerado”. 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