A sociedade “secreta” do spray.

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: DUARTE, Angelina Maria Luna Tavares.
Data de Publicação: 2015
Tipo de documento: Livro
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFCG
Texto Completo: http://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/jspui/handle/riufcg/33208
Resumo: Palavras e imagens sempre exerceram fascínio sobre nós, influenciando até a escolha pelo ofício de professora de língua materna. No convívio com elas, encantamo-nos pelos sentidos que assumem e pelos suportes em que se instalam para dizer o mundo. Por isso, não satisfeita apenas com a leitura no papel, direcionamos nosso olhar também para os muros, o que teve início, em 2003, quando, numa rua de Campina, uma pichação nos pulou aos olhos: E nóis na fita e o playboy no DVD (De Crash para Dopado ). A autoria, “declarada” sob um pseudónimo, enviava mensagem a outro também “camuflado”. Haveria um segredo? O quê e quem estariam por trás desse texto, que discurso e que contexto seria subjacente a essa construção discursiva? Dessa “curiosidade” resultou, em 2006, nossa dissertação de mestrado “SE ESSA RUA FOSSE MINHA , EU MANDAVA GRAFITAR!!!”: a construção discursiva do grafite de muro em Campina Grande - PB. Concluída essa etapa, o segredo assumiu novos contornos, levando-nos a pensar sobre o como: Como se organizariam e funcionariam os grupos de pichação e grafite, denominados, nesta obra, de sociedade “secreta”? O que caracterizaria tais grupos? Quais seriam as regras para admissão de novos membros? Que tipo de relações se estabeleceriam nessa sociedade? O que motivariao aspecto secreto que a envolve? Seria possível acessar seu segredo? Qual seria a participação feminina nesse universo? Incluímos, no centro do nosso debate, pichadores/as e grafiteiros/as e os/ as ouvimos, na tentativa de recuperar sentidos que atribuem a si, a sua cultura, ao seu grupo, ao seu mundo. Decidimos, então, por uma segunda investigação a qual resultou na tese que deu origem a este livro. Observamos sujeitos. Ouvimos as narrativas de história de vida de cinco pioneiros nas práticas da pichação e do grafite: ZECA, PAGÃO, ZNOCK MORB, INSANA, e NAAH. Observamos também textos e contextos reais e virtuais, além de imagens. Entrecruzamos Etnografia, História Oral e Análise de Discurso Crítica - Teoria Social do Discurso, para apresentar ao leitor uma obra que pudesse representar esse universo da cultura de rua, durante o período em que ele esteve sob nosso olhar. Convivemos, numa experiência etnográfica, com o NH2C (Núcleo Hip Hop Campina), convívio esse que nos permitiu a aproximação de pichadores/ as e grafiteiros/as, oportunizando-nos conhecer muitos segredos do spray , no que diz respeito às nuanças que se instauram, tanto nas relações cooperativas e competitivas, intra e extragrupais, quanto nas suas articulações com o contexto sociocultural contemporâneo. Uma vez que pichação e grafite, historicamente, têm sido associados a um estigma de criminalidade, envidamos todos os esforços para que nossas análises não reforçassem tal estigma. Sabendo, também, que a rivalidade subjaz tais práticas, acentuamos o cuidado para não contribuir com a acentuação dessas rixas, principalmente porque entrevistamos membros de grupos rivais - OPZ e UZS (masculinos) e MMS e MUS (femininos), fazendo o possível para não expor os/as entrevistados/as, nem gerar constrangimentos entre eles/as. Assim sendo, empenhamo-nos para que, neste livro, a voz dos/as jovens entrevistados/as e suas histórias de vida pudessem dizer sobre eles/elas e sobre pichação e grafite, independentemente, da revelação do “segredo” que constitui sua sociedade. Isso nos foi possível, por termos optado pela Teoria Social do Discurso, que tem por princípio a linguagem como espaço de luta hegemónica, sendo os sujeitos não “meramente posicionados de modo passivo, mas capazes de agir, de negociar seu relacionamento com os tipos de discurso a que eles recorrem” (FAIRCLOUGH, 2001, p. 87) e os agentes sociais dotados de relativa liberdade para estabelecer relações inovadoras na (inter)ação, exercendo sua criatividade e modificando práticas estabelecidas. Sabendo que esta obra não se limitaria aos “muros” da Academia, optamos por não produzir um capítulo, exclusivamente teórico, a fim de que nosso texto fluísse e a sua leitura se tomasse prazerosa para qualquer leitor, sobretudo, para pichadores/as e grafiteiros/as, os/as quais tiveram, de nossa parte, o compromisso de voltar ao campo para apresentar os resultados a que chegamos. Assim sendo, procuramos diluir a teoria no processo analítico, em diálogo com as próprias falas dos/as entrevistados/as. Ressaltamos, ainda, que certos detalhes precisaram ser cuidadosamente tratados, a fim de que os resultados não trouxesse prejuízos ao campo e aos sujeitos que nos permitiram tal experiência. Dispúnhamos de dados que não poderiam ser publicizados. Nesse aspecto, o “segredo” continuou a compor, desde o planejamento, esta obra que resultou em cinco capítulos. O primeiro capítulo “abre as cortinas” para a sociedade “secreta”, enfocando o segredo como dinâmica comunicativa dessa rede de sociabilidade, desde a esfera real até a virtual. No segundo capítulo, abordamos as relações entre a cultura contemporânea, os circuitos juvenis urbanos - movimento hip hop, pichação e grafite - e a experiência dos sujeitos que interagem nesses contextos. Nele, ainda tratamos das (in)definições sobre as identidades de pichador/a e grafiteiro/a, como também do agenciamento sociodiscursivo dos produtores dessas duas expressões da cultura de rua. O terceiro capítulo, além de descrever nossa experiência etnográfica, no NH2C, apresenta momentos analíticos, a partir das histórias de vida de pichadores/ as e grafiteiros/as, sobre o contexto, os sujeitos e os discursos que se instauram nesse campo permeado por controle e disputas. No quarto capítulo, considerando que as expressões culturais contemporâneas se instauram num contexto social, mais amplo, de articulação entre o local ao global, apresentamos uma discussão sobre as relações estabelecidas entre as práticas simbólicas da pichação e do grafite, e a sociedade, o mercado e a mídia, no contexto da globalização. Também verificamos, a partir da Teoria Social do Discurso, quais as ressonâncias desse novo “processo civilizatório” no discurso da pichaçâo e do grafite. No quinto capítulo, dedicamo-nos a apresentar e analisar de que forma essa sociedade “ secreta” do spray é representada no discurso das narrativas de pichadores/as e grafiteiros/as. Nessa discussão, abordamos o processo de formação, a estrutura organizacional, o funcionamento, as regras de admissão dos membros, além de contemplar a participação feminina nesse grupo. Sigamos, então, em busca do segredo, à leitura dos capítulos.
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Haveria um segredo? O quê e quem estariam por trás desse texto, que discurso e que contexto seria subjacente a essa construção discursiva? Dessa “curiosidade” resultou, em 2006, nossa dissertação de mestrado “SE ESSA RUA FOSSE MINHA , EU MANDAVA GRAFITAR!!!”: a construção discursiva do grafite de muro em Campina Grande - PB. Concluída essa etapa, o segredo assumiu novos contornos, levando-nos a pensar sobre o como: Como se organizariam e funcionariam os grupos de pichação e grafite, denominados, nesta obra, de sociedade “secreta”? O que caracterizaria tais grupos? Quais seriam as regras para admissão de novos membros? Que tipo de relações se estabeleceriam nessa sociedade? O que motivariao aspecto secreto que a envolve? Seria possível acessar seu segredo? Qual seria a participação feminina nesse universo? 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Convivemos, numa experiência etnográfica, com o NH2C (Núcleo Hip Hop Campina), convívio esse que nos permitiu a aproximação de pichadores/ as e grafiteiros/as, oportunizando-nos conhecer muitos segredos do spray , no que diz respeito às nuanças que se instauram, tanto nas relações cooperativas e competitivas, intra e extragrupais, quanto nas suas articulações com o contexto sociocultural contemporâneo. Uma vez que pichação e grafite, historicamente, têm sido associados a um estigma de criminalidade, envidamos todos os esforços para que nossas análises não reforçassem tal estigma. Sabendo, também, que a rivalidade subjaz tais práticas, acentuamos o cuidado para não contribuir com a acentuação dessas rixas, principalmente porque entrevistamos membros de grupos rivais - OPZ e UZS (masculinos) e MMS e MUS (femininos), fazendo o possível para não expor os/as entrevistados/as, nem gerar constrangimentos entre eles/as. 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Sabendo que esta obra não se limitaria aos “muros” da Academia, optamos por não produzir um capítulo, exclusivamente teórico, a fim de que nosso texto fluísse e a sua leitura se tomasse prazerosa para qualquer leitor, sobretudo, para pichadores/as e grafiteiros/as, os/as quais tiveram, de nossa parte, o compromisso de voltar ao campo para apresentar os resultados a que chegamos. Assim sendo, procuramos diluir a teoria no processo analítico, em diálogo com as próprias falas dos/as entrevistados/as. Ressaltamos, ainda, que certos detalhes precisaram ser cuidadosamente tratados, a fim de que os resultados não trouxesse prejuízos ao campo e aos sujeitos que nos permitiram tal experiência. Dispúnhamos de dados que não poderiam ser publicizados. Nesse aspecto, o “segredo” continuou a compor, desde o planejamento, esta obra que resultou em cinco capítulos. 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Sigamos, então, em busca do segredo, à leitura dos capítulos.Universidade Federal de Campina GrandeBrasilUFCG20152023-11-27T22:01:26Z2023-11-272023-11-27T22:01:26Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/bookhttp://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/jspui/handle/riufcg/33208DUARTE, Angelina Maria Luna Tavares. A sociedade “secreta” do spray. Campina Grande - PB: EDUFCG, 2015. ISBN: 978-85-8001-143-2. 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Concluída essa etapa, o segredo assumiu novos contornos, levando-nos a pensar sobre o como: Como se organizariam e funcionariam os grupos de pichação e grafite, denominados, nesta obra, de sociedade “secreta”? O que caracterizaria tais grupos? Quais seriam as regras para admissão de novos membros? Que tipo de relações se estabeleceriam nessa sociedade? O que motivariao aspecto secreto que a envolve? Seria possível acessar seu segredo? Qual seria a participação feminina nesse universo? Incluímos, no centro do nosso debate, pichadores/as e grafiteiros/as e os/ as ouvimos, na tentativa de recuperar sentidos que atribuem a si, a sua cultura, ao seu grupo, ao seu mundo. Decidimos, então, por uma segunda investigação a qual resultou na tese que deu origem a este livro. Observamos sujeitos. Ouvimos as narrativas de história de vida de cinco pioneiros nas práticas da pichação e do grafite: ZECA, PAGÃO, ZNOCK MORB, INSANA, e NAAH. Observamos também textos e contextos reais e virtuais, além de imagens. Entrecruzamos Etnografia, História Oral e Análise de Discurso Crítica - Teoria Social do Discurso, para apresentar ao leitor uma obra que pudesse representar esse universo da cultura de rua, durante o período em que ele esteve sob nosso olhar. Convivemos, numa experiência etnográfica, com o NH2C (Núcleo Hip Hop Campina), convívio esse que nos permitiu a aproximação de pichadores/ as e grafiteiros/as, oportunizando-nos conhecer muitos segredos do spray , no que diz respeito às nuanças que se instauram, tanto nas relações cooperativas e competitivas, intra e extragrupais, quanto nas suas articulações com o contexto sociocultural contemporâneo. Uma vez que pichação e grafite, historicamente, têm sido associados a um estigma de criminalidade, envidamos todos os esforços para que nossas análises não reforçassem tal estigma. Sabendo, também, que a rivalidade subjaz tais práticas, acentuamos o cuidado para não contribuir com a acentuação dessas rixas, principalmente porque entrevistamos membros de grupos rivais - OPZ e UZS (masculinos) e MMS e MUS (femininos), fazendo o possível para não expor os/as entrevistados/as, nem gerar constrangimentos entre eles/as. Assim sendo, empenhamo-nos para que, neste livro, a voz dos/as jovens entrevistados/as e suas histórias de vida pudessem dizer sobre eles/elas e sobre pichação e grafite, independentemente, da revelação do “segredo” que constitui sua sociedade. 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Ressaltamos, ainda, que certos detalhes precisaram ser cuidadosamente tratados, a fim de que os resultados não trouxesse prejuízos ao campo e aos sujeitos que nos permitiram tal experiência. Dispúnhamos de dados que não poderiam ser publicizados. Nesse aspecto, o “segredo” continuou a compor, desde o planejamento, esta obra que resultou em cinco capítulos. O primeiro capítulo “abre as cortinas” para a sociedade “secreta”, enfocando o segredo como dinâmica comunicativa dessa rede de sociabilidade, desde a esfera real até a virtual. No segundo capítulo, abordamos as relações entre a cultura contemporânea, os circuitos juvenis urbanos - movimento hip hop, pichação e grafite - e a experiência dos sujeitos que interagem nesses contextos. Nele, ainda tratamos das (in)definições sobre as identidades de pichador/a e grafiteiro/a, como também do agenciamento sociodiscursivo dos produtores dessas duas expressões da cultura de rua. 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