Brincadeiras infantis: (re)construindo as relações de gênero.
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2004 |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFCG |
Texto Completo: | http://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/jspui/handle/riufcg/33642 |
Resumo: | O presente artigo tem o propósito de refletir como as brincadeiras infantis são portadoras de conteúdos de gênero e, conseqüentemente, de masculinidade. Nesse sentido, alguns questionamentos se fazem necessários para o aprofundamento de tal reflexão. Como são construídas as relações de gênero nas brincadeiras infantis? Que mecanismos utilizados na interação social infantil (re)produzem e/ou (re)atualizam valores relacionados à masculinidade enquanto norma social? As reflexões sobre tais questões servem de suporte para o entendimento das atividades lúdicas infantis como portadoras de significados e significações sociais das relações de gênero, contribuindo, assim, na formação dos indivíduos e delimitando espaços relacionados ao masculino e ao feminino, que se dá principalmente através do processo de socialização. A dimensão gênero estabelece categorias de entendimento das relações sociais e cria dimensões simbólicas da divisão do mundo em masculino e feminino, constituindo-se numa dicotomia e num princípio no qual "( ...) o corpo é o lugar investido simbolicamente para confirmar esta ontologia. E o processo de incorporação dos significados do gênero resulta como um consenso vivido em virtude da sua aprendizagem ser permanente, não focada, não verbal e não refletida" (Vale de Almeida, 1995: 165). Pesquisar brinquedos e brincadeiras infantis implica investigar as concepções que as crianças têm sobre os mesmos e os significados sociais mais amplos que lhes são atribuídos para a formação de uma construção que reforça ou (re)define o que é ser homem e o que é ser mulher. Para tal apreensão, se fez necessário observar não só a organização da rotina e do espaço físico em que estavam inseridas as crianças, mas também as conversas e as relações estabelecidas no momento do brincar. Tais aspectos, serviram de guia para entender a complexa teia de relações e significados que estão presentes na identificação da maneira como adultos e crianças sentem, pensam e interagem, definindo atitudes e comportamentos via processo de socialização e apropriação da cultura. Entende-se que a formação do "ser homem» está intimamente relacionada à tentativa de compreender as relações entre o masculino e feminino, dentro dos parâmetros que visam buscar as significações de gênero. Essas são caracterizadas, principalmente, pela diferença dos gostos, preferências, comportamentos e atitudes atribuídas a cada sexo, sendo, pois, necessário entender os diferentes sentidos que são dados às ações correntes de homens e mulheres. O que, por sua vez, implica na busca dos significados simbólicos presentes na trama social, a exemplo, das maneiras de (re)pensar e de (re)classificar, as diferenciações e desigualdades de gênero, presentes tanto na forma de perceber as coisas como na forma em que em que essas se apresentam. No processo de aprendizado social, comumente, os homens são orientados para se preocuparem com a avaliação feita sobre sua masculinidade, o medo de perder a estima ou a consideração do grupo, de ser remetido à categoria, tipicamente feminina, dos 'fracos', dos 'delicados', dos 'mulherzinhas', dos 'veados'. Para a compreensão do universo que envolve essa teia complexa de construção dos significados das relações de gênero realizou-se uma pesquisa etnográfica, 1 na Comunidade Brasilit, uma área ZEIS,2 situada no bairro da Várzea, cidade do Recife. O objetivo era apreender das atividades lúdicas infantis na (re)construção do gênero. O universo de análise contemplou crianças na faixa etária de 8 a 14 anos de idade. A técnica empregada foi a observação direta. Entender a forma e o estilo de vida na Comunidade, observar falas, piadas, gestos ou qualquer outro código de expressão que traduz os sistemas simbólicos. Isso se mostrou fundamental no processo de apreensão dos significados de gênero denotando assim, "um padrão de significados transmitido histodcamente, incorporado em símbolos, um sistema de concepções herdadas expressas em formas simbólicas por meio dos quais os homens comunicam, perpetuam e desenvolvem seu conhecimento e suas atividades em relação ávida" (Geertz, 1989: 103). Como estratégias de apreensão de informações, tornou-se necessário, a visitação aos locais onde se dava a prática do jogo de futebol, atividade lúdica escolhida para análise, criando-se uma rotina de observação das partidas de futebol, anotando-se as falas de moradores e das crianças que participavam do jogo, seja jogando ou apenas assistindo. As partidas foram realizadas num campo de futebol de várzea, situado nas imediações da Comunidade. O material observado em campo se junta às reflexões abstratas, servindo de base para a problematização sobre brinquedos e brincadeiras infantis como instrumentos de aprendizado, (re)produção e (re)definição de valores ligados às formas de diferenciar e desigualar o masculino e o feminino. Um caminho que se considera fértil de entendimento da configuração das relações de gênero. Percorrendo essa direção, procurou-se trilhar uma perspectiva que levasse em consideração as várias possibilidades de manifestação dos valores relacionados a gênero 1 mapeando as formas de (re)produção e (re)definição freqüentemente incorporadas aos valores ligados ao modelo hegemônico de masculinidade. |
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Nesse sentido, alguns questionamentos se fazem necessários para o aprofundamento de tal reflexão. Como são construídas as relações de gênero nas brincadeiras infantis? Que mecanismos utilizados na interação social infantil (re)produzem e/ou (re)atualizam valores relacionados à masculinidade enquanto norma social? As reflexões sobre tais questões servem de suporte para o entendimento das atividades lúdicas infantis como portadoras de significados e significações sociais das relações de gênero, contribuindo, assim, na formação dos indivíduos e delimitando espaços relacionados ao masculino e ao feminino, que se dá principalmente através do processo de socialização. A dimensão gênero estabelece categorias de entendimento das relações sociais e cria dimensões simbólicas da divisão do mundo em masculino e feminino, constituindo-se numa dicotomia e num princípio no qual "( ...) o corpo é o lugar investido simbolicamente para confirmar esta ontologia. 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No processo de aprendizado social, comumente, os homens são orientados para se preocuparem com a avaliação feita sobre sua masculinidade, o medo de perder a estima ou a consideração do grupo, de ser remetido à categoria, tipicamente feminina, dos 'fracos', dos 'delicados', dos 'mulherzinhas', dos 'veados'. Para a compreensão do universo que envolve essa teia complexa de construção dos significados das relações de gênero realizou-se uma pesquisa etnográfica, 1 na Comunidade Brasilit, uma área ZEIS,2 situada no bairro da Várzea, cidade do Recife. O objetivo era apreender das atividades lúdicas infantis na (re)construção do gênero. O universo de análise contemplou crianças na faixa etária de 8 a 14 anos de idade. A técnica empregada foi a observação direta. Entender a forma e o estilo de vida na Comunidade, observar falas, piadas, gestos ou qualquer outro código de expressão que traduz os sistemas simbólicos. 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Brincadeiras infantis: (re)construindo as relações de gênero. Caderno de Estudos em Ciências Sociais, Recife, vol.20, n.2, jul./dez. 2004. Disponível em: http://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/jspui/handle/riufcg/33642porSANTOS, Valdonilson Barbosa dos.info:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFCGinstname:Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)instacron:UFCG2023-12-15T19:46:59Zoai:localhost:riufcg/33642Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://bdtd.ufcg.edu.br/PUBhttp://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/oai/requestbdtd@setor.ufcg.edu.br || bdtd@setor.ufcg.edu.bropendoar:48512023-12-15T19:46:59Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFCG - Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)false |
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O presente artigo tem o propósito de refletir como as brincadeiras infantis são portadoras de conteúdos de gênero e, conseqüentemente, de masculinidade. Nesse sentido, alguns questionamentos se fazem necessários para o aprofundamento de tal reflexão. Como são construídas as relações de gênero nas brincadeiras infantis? Que mecanismos utilizados na interação social infantil (re)produzem e/ou (re)atualizam valores relacionados à masculinidade enquanto norma social? As reflexões sobre tais questões servem de suporte para o entendimento das atividades lúdicas infantis como portadoras de significados e significações sociais das relações de gênero, contribuindo, assim, na formação dos indivíduos e delimitando espaços relacionados ao masculino e ao feminino, que se dá principalmente através do processo de socialização. 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O universo de análise contemplou crianças na faixa etária de 8 a 14 anos de idade. A técnica empregada foi a observação direta. Entender a forma e o estilo de vida na Comunidade, observar falas, piadas, gestos ou qualquer outro código de expressão que traduz os sistemas simbólicos. Isso se mostrou fundamental no processo de apreensão dos significados de gênero denotando assim, "um padrão de significados transmitido histodcamente, incorporado em símbolos, um sistema de concepções herdadas expressas em formas simbólicas por meio dos quais os homens comunicam, perpetuam e desenvolvem seu conhecimento e suas atividades em relação ávida" (Geertz, 1989: 103). 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