À margem da voz: sobre fronteiras e violência política contra mulheres na Amazônia

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Rougemont, Laura dos Santos
Data de Publicação: 2023
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF)
Texto Completo: http://app.uff.br/riuff/handle/1/27924
Resumo: Desde a colonização, a Amazônia é receptáculo de projetos dos “de fora”, que pensam tal região, de particularidades naturais e humanas, meramente como reserva de valor, como “fundos territoriais” [ainda] não completamente explorados pelo capital. Em consequência dos consecutivos regimes de expropriação que vêm sendo praticados ao longo de séculos na Amazônia, ela é também a região geográfica que apresenta os maiores índices de violência no campo no Brasil, resultado da sua qualificação – simbólica e material – como “a fronteira” interna por excelência. As vítimas destes regimes violentos são, muitas vezes, sujeitos que fazem parte de coletivos de movimentos sociais, aldeias indígenas, assentamentos rurais, povos quilombolas, pescadores/as artesanais, dentre outras categorias diversas. Homens e mulheres que denunciam a exploração ilegal de madeira, a mineração empresarial e os garimpos ilegais, a invasão de territórios e terras legalmente demarcadas, os incêndios florestais e a devastação de mata nativa, a poluição de rios, a instalação ilegítima de hidrelétricas e linhas de transmissão de energia e tantas outras irregularidades. Portanto, neste caso, são vítimas de uma violência explicitamente política, visto que os/as perseguidos/as, feridos/as e/ou assassinados/as sofrem intimidações em decorrência do seu pertencimento territorial e comunitário, ou seja, em relação aos seus modos de viver ou de reivindicar os meios de realização de sua própria vida e de seus semelhantes. Parece-nos que, em contraposição a políticas de produção da vida, a ofensiva capitalista vem produzindo necropolíticas de produção desigual da morte na Amazônia. Neste sentido, o trabalho pretende discutir não somente a historicidade de mitos e práticas direcionadas à produção da Amazônia como fronteira, mas também visibilizar a violência política que decorre de tais mitos e práticas, tendo como enfoque aquela que é direcionada a mulheres. Para isso, além de destrincharmos números e elementos da violência no campo a partir do recorte temporal de 2005 a 2019 - tendo como base os cadernos de conflitos no campo da Comissão Pastoral da Terra (CPT) - também optamos por retratar as histórias pessoais de três mulheres inseridas em contextos de lutas coletivas e comunitárias, as quais foram brutalmente assassinadas: Dilma Ferreira Silva, Nilce de Souza Magalhães e Jane Júlia de Oliveira. Como buscamos qualificar neste trabalho, a morte na fronteira amazônica caracteriza-se como morte política e, especificamente, como tentativas de eliminação de formas políticas protagonizadas por mulheres, políticas estas da ordem da reprodução da vida e do comum, aniquiladas por mentalidades de fronteira evidentemente masculinas e proprietárias, que representam a antítese do que sugerem tais lutas e tais mulheres. Neste sentido, as eliminações na fronteira amazônica nos permitem repensar a noção de fronteira enquanto uma condição humana, e não apenas como uma condição espacial da expropriação.
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As vítimas destes regimes violentos são, muitas vezes, sujeitos que fazem parte de coletivos de movimentos sociais, aldeias indígenas, assentamentos rurais, povos quilombolas, pescadores/as artesanais, dentre outras categorias diversas. Homens e mulheres que denunciam a exploração ilegal de madeira, a mineração empresarial e os garimpos ilegais, a invasão de territórios e terras legalmente demarcadas, os incêndios florestais e a devastação de mata nativa, a poluição de rios, a instalação ilegítima de hidrelétricas e linhas de transmissão de energia e tantas outras irregularidades. Portanto, neste caso, são vítimas de uma violência explicitamente política, visto que os/as perseguidos/as, feridos/as e/ou assassinados/as sofrem intimidações em decorrência do seu pertencimento territorial e comunitário, ou seja, em relação aos seus modos de viver ou de reivindicar os meios de realização de sua própria vida e de seus semelhantes. Parece-nos que, em contraposição a políticas de produção da vida, a ofensiva capitalista vem produzindo necropolíticas de produção desigual da morte na Amazônia. Neste sentido, o trabalho pretende discutir não somente a historicidade de mitos e práticas direcionadas à produção da Amazônia como fronteira, mas também visibilizar a violência política que decorre de tais mitos e práticas, tendo como enfoque aquela que é direcionada a mulheres. Para isso, além de destrincharmos números e elementos da violência no campo a partir do recorte temporal de 2005 a 2019 - tendo como base os cadernos de conflitos no campo da Comissão Pastoral da Terra (CPT) - também optamos por retratar as histórias pessoais de três mulheres inseridas em contextos de lutas coletivas e comunitárias, as quais foram brutalmente assassinadas: Dilma Ferreira Silva, Nilce de Souza Magalhães e Jane Júlia de Oliveira. Como buscamos qualificar neste trabalho, a morte na fronteira amazônica caracteriza-se como morte política e, especificamente, como tentativas de eliminação de formas políticas protagonizadas por mulheres, políticas estas da ordem da reprodução da vida e do comum, aniquiladas por mentalidades de fronteira evidentemente masculinas e proprietárias, que representam a antítese do que sugerem tais lutas e tais mulheres. Neste sentido, as eliminações na fronteira amazônica nos permitem repensar a noção de fronteira enquanto uma condição humana, e não apenas como uma condição espacial da expropriação.Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível SuperiorDesde la colonización, la Amazonía es un receptáculo para proyectos desde “afuera”, que piensan esta región, con sus particularidades naturales y humanas, solo como un depósito de valor, como “reservas territoriales” [aún] no plenamente explotadas por el capital. Como resultado de los regímenes de expropiación consecutivos practicados durante mucho tiempo en la Amazonía, esa es también la región geográfica que presenta los niveles más altos de violencia en el espacio agrario en Brasil, lo que resulta de su calificación, simbólica y material, como “la frontera” interna por excelencia. Las víctimas de estos regímenes violentos suelen ser sujetos que forman parte de colectivos de movimientos sociales, pueblos indígenas, asentamientos rurales, pueblos quilombolas, pescadores artesanales, entre otras diversas categorías. Hombres y mujeres que denuncian la tala ilegal, la minería empresarial y la minería artesanal ilegal, la invasión de territorios y tierras legalmente demarcados, los incendios forestales y la devastación del bosque nativo, la contaminación de los ríos, la instalación ilegítima de represas hidroeléctricas y líneas de transmisión de energía y tantas otras irregularidades. Por tanto, en este caso, son víctimas de una violencia de caráter explícitamente político, ya que los/as perseguidos/as, heridos/as y/o asesinados sufren intimidaciones por su pertenencia territorial y comunitaria, es decir, en relación a sus formas de vivir o de reclamar los medios de realización de su propia vida y la de sus semejantes. Nos parece que, a diferencia de las políticas de producción de vida, la ofensiva capitalista viene produciendo necropolíticas de producción desigual de la muerte en la Amazonía. En este sentido, el trabajo pretende discutir no solo la historicidad de los mitos y prácticas orientadas a la producción de la Amazonía como frontera, sino también visibilizar la violencia política que surge de tales mitos y prácticas, enfocándose en aquella que se dirige a las mujeres. Para tal fin, además de desentrañar números y elementos de violencia en el espacio agrario desde el período de 2005 a 2019 - con base en los cuadernos de conflictos en el campo de la Comisión Pastoral de Tierras (CPT) - también optamos por retratar las historias personales de tres mujeres insertadas en contextos de luchas colectivas y comunitarias, que fueron brutalmente asesinadas: Dilma Ferreira Silva, Nilce de Souza Magalhães y Jane Júlia de Oliveira.Como pretendemos calificar en este trabajo, la muerte en la frontera amazónica se caracteriza como muerte política y, específicamente, como intentos de eliminar formas políticas llevadas a cabo por mujeres, políticas del orden de reproducción de la vida y de lo común, aniquiladas por mentalidades de frontera evidentemente masculinas y propietarias, que representan la antítesis de lo que sugieren tales luchas y mujeres. En este sentido, las eliminaciones en la frontera amazónica permiten repensar la noción de frontera como una condición humana, y no solo como una condición espacial de expropiación.242Cruz, Valter do CarmoPorto-Gonçalves, Carlos WalterMedeiros, Leonilde Servolo deCarvajal, Sofia ZaragocinMalheiro, Bruno Cezar PereiraGómez, Jorge Ramón MontenegroRougemont, Laura dos Santos2023-02-16T19:36:24Z2023-02-16T19:36:24Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfROUGEMONT, Laura dos Santos. À margem da voz: sobre fronteiras e violência política contra mulheres na Amazônia. 2021. 242 f. 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