Das artes da servidão: Camões e o amor do mundo
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2018 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF) |
Texto Completo: | https://app.uff.br/riuff/handle/1/6575 |
Resumo: | Este trabalho consiste na investigação em torno do tema da servidão, tendo como objeto de estudo a obra Os Lusíadas, de Luís de Camões. Servir é palavra plurissignificativa, e, no âmbito da poesia camoniana, é possível lê-la sob, pelo menos, três perspectivas distintas: tratamos de servidão amorosa, poética e sagrada. Estes termos são interdependentes e constituem, passo a passo, um percurso de conhecimento acerca da arte de Camões. No fundo, o que é posto em questão por esta poesia é a intrínseca e paradoxal relação entre o ato de servir e o desejo de libertação. A partir da experiência erótico-amorosa, e recuperando certa dicção cortesã, o sujeito amante é aquele que se permite abandonar-se ao outro. Esta primeira etapa é, n’Os Lusíadas, caracterizada pela recorrente demanda da “desejada parte Oriental”: espaço de alteridade ao qual os portugueses são impelidos por força de Vênus, a deusa romana do Amor. Junto deste movimento, o gesto amoroso implica a inscrição do desejo no corpo do texto, de modo que a escrita se faz processo de busca por “outro valor”. Este valor é, sobretudo, o da própria poesia; o canto do Poeta, portanto, pode ser também entendido como meio de acesso ao encontro do outro, que não deixa de ser o absoluto desconhecido. O amor cantado no poema de Camões é (modernamente entendido) transfiguração poética de experiências concretas, que recusam a abstração idealizante do desejo. Neste sentido, a dimensão sagrada que nasce desta peregrinação resulta da falência de um projeto que supõe a transcendência mítica. O sagrado n’Os Lusíadas há de ser assinalado com a marca de uma queda diabólica. As três servidões que trago à baila para esta pesquisa são, afinal, apenas alguns, dentre os muitos, modos possíveis de encontrar uma legibilidade da poesia camoniana que se fundamente no anseio por dizer da sua atualidade. Por meio de um desejado diálogo intertextual com alguma poesia portuguesa moderna e contemporânea, constituímos também uma metodologia crítica pautada em processos anacrônicos de comparativismo. O interesse nesta abordagem consiste no objetivo de formular uma ética da poesia camoniana, tendo em vista o caráter político inerente ao papel da leitura que a sua própria escrita forja |
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Das artes da servidão: Camões e o amor do mundoFrom the arts of servitude: Camoes and the love of the worldLuís de CamõesServidãoAmorEscrita poéticaSagradoServidãoLinguísticaPoesia, crítica e interpretaçãoLervitudeLovePoetic writingSacredEste trabalho consiste na investigação em torno do tema da servidão, tendo como objeto de estudo a obra Os Lusíadas, de Luís de Camões. Servir é palavra plurissignificativa, e, no âmbito da poesia camoniana, é possível lê-la sob, pelo menos, três perspectivas distintas: tratamos de servidão amorosa, poética e sagrada. Estes termos são interdependentes e constituem, passo a passo, um percurso de conhecimento acerca da arte de Camões. No fundo, o que é posto em questão por esta poesia é a intrínseca e paradoxal relação entre o ato de servir e o desejo de libertação. A partir da experiência erótico-amorosa, e recuperando certa dicção cortesã, o sujeito amante é aquele que se permite abandonar-se ao outro. Esta primeira etapa é, n’Os Lusíadas, caracterizada pela recorrente demanda da “desejada parte Oriental”: espaço de alteridade ao qual os portugueses são impelidos por força de Vênus, a deusa romana do Amor. Junto deste movimento, o gesto amoroso implica a inscrição do desejo no corpo do texto, de modo que a escrita se faz processo de busca por “outro valor”. Este valor é, sobretudo, o da própria poesia; o canto do Poeta, portanto, pode ser também entendido como meio de acesso ao encontro do outro, que não deixa de ser o absoluto desconhecido. O amor cantado no poema de Camões é (modernamente entendido) transfiguração poética de experiências concretas, que recusam a abstração idealizante do desejo. Neste sentido, a dimensão sagrada que nasce desta peregrinação resulta da falência de um projeto que supõe a transcendência mítica. O sagrado n’Os Lusíadas há de ser assinalado com a marca de uma queda diabólica. As três servidões que trago à baila para esta pesquisa são, afinal, apenas alguns, dentre os muitos, modos possíveis de encontrar uma legibilidade da poesia camoniana que se fundamente no anseio por dizer da sua atualidade. Por meio de um desejado diálogo intertextual com alguma poesia portuguesa moderna e contemporânea, constituímos também uma metodologia crítica pautada em processos anacrônicos de comparativismo. O interesse nesta abordagem consiste no objetivo de formular uma ética da poesia camoniana, tendo em vista o caráter político inerente ao papel da leitura que a sua própria escrita forjaCoordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível SuperiorThis thesis consists in investigating the subject of servitude, focusing on Os Lusíadas, by Luís de Camões, as object of study. Serving is a plurissignificant word and, within camonian poetry, it is possible to read it through three distinct perspectives: loving, poetic, and sacred servitude. These terms are interdependent and form a path of knowledge about the art of Camões. Undersurface, what is actually considered is the intrinsic and paradoxical relationship between the act of serving and the desire for liberation. From the erotic-loving experience, and recovering a certain courteous diction, the loving subject is the one who abandons himself into the other. In Os Lusíadas, this first stage is characterized by the recurrent demand of the “desired eastern part”: the space of alterity to which the portuguese are compelled by Venus, the roman goddess of Love. Along with this movement, the loving gesture implies inscripting desire in the body of the text so that writing becomes the searching for “another value”. This value is above all that of poetry itself; the Poet's chant, therefore, can also be understood as means of access to encounter the “other” ̶ which is nothing but the absolute unknown. The love sung in Camões’s poem is modernly understood as a poetic transfiguration of concrete experiences that refuse the idealizing abstraction of desire. In this sense, the sacred dimension that emerges from this pilgrimage results from the project’s failure in assuming a mythical transcendence. Thus, the sacred in Os Lusíadas is indicated by the mark of a diabolical downfall. The three servitudes that I point out in this work are, after all, only a few of the many possible ways of finding a contemporary readability of the Camonian poetry based on the yearning to confirm its actuality. Through an intertextual dialogue with some modern and contemporary Portuguese poetry, I also develop a critical methodology based on anachronistic processes of comparativism. The interest in this approach aims to formulating an ethics of Camonian poetry given its inherent political nature in the role of reading that his own writing forgesMaffei, LuisSilveira, Jorge Fernandes daHue, Sheila MouraGlenadel, PaulaCerdeira, Teresa CristinaSousa, Paulo Ricardo Braz de2018-06-05T14:11:16Z2018-06-05T14:11:16Z2018info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttps://app.uff.br/riuff/handle/1/6575CC-BY-SAinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF)instname:Universidade Federal Fluminense (UFF)instacron:UFF2021-12-21T18:11:51Zoai:app.uff.br:1/6575Repositório InstitucionalPUBhttps://app.uff.br/oai/requestriuff@id.uff.bropendoar:21202024-08-19T10:56:20.559569Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF) - Universidade Federal Fluminense (UFF)false |
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